Sejam bem-vindos ao outro lado do espelho, onde tudo pode acontecer (e acontece).

Wonderlando é um blog sobre textos diversos, descobrimentos e crescimento. A filosofia gira em torno do acaso, misturando fantasia e realidade de dois amigos que se conheceram também por acaso, Alice - que tem um país só seu -, e Yuri - chapeleiro e maluco nas horas vagas.

Leia, comente e volte sempre... Ou faça como a gente e não saia nunca mais.

27 de janeiro de 2007

Felicidades e muitos anos de vida



Hoje tem gelatina, bolo, vela e desejo. O bolo é pro cão, a gelatina é pros humanos e a vela é pra ser apagada por um sopro canino. Que grande bafo!

Essa tradição já se mantém por 11 anos e é sempre uma delícia. Ela fica tão feliz com as faixas e cartazes, a bateção de palmas, os beijos e abraços e, claro, o pedaço de bolo. Ah, essa é a melhor parte! Seu sorriso é evidente em todas as fotos.

Minha pequena cã adora ser o centro das atenções e aproveita as oportunidades para fazer cara de boa menina e ser acariciada pelo maior número de mãos possível. Toda essa cena finalmente nos leva a agraciá-la com um alimento de lamber os bigodes. Já virou expert nisso: sabe todas as feições e movimentos corporais para o fim desejado.

A Tuti fez a minha felicidade por todos esses anos. Não importa o motivo, ela estaria ligada à razão do meu sorriso de algum modo. Esteve do meu lado para tudo, rir, dançar, brincar, lamber e chorar. Segurei sua patinha em seus momentos de dor e ela amenizou os meus. E somos tão felizes juntas, por mais que eu a irrite, sei que uma coçadinha naquele lugar estratégico que ela não alcança a faz esquecer todas as injúrias de minha parte. Assim como ela me ignora a maior parte do tempo, só dando as caras (ou melhor, o focinho) quando precisa de alguma coisa. Mas sou apaixonada mesmo, relevo suas falhas e fico com seu nariz gelado na minha bochecha.

Sei que o desejo de hoje é dela, mas desejo ter seu cheiro fedido ao meu lado por muitos outros aniversários!

Vida Besta!


=)

Mental Floss


Bolhas de sabão saiam de meus olhos. Me via lá dentro tentando escapar. Chorava desesperado, lágrimas de ácido que caíam e corroíam a superfície de minha carne. Minhas mãos atadas ao espaço não abriam portas, atravessavam espelhos, derretiam o tempo. E derretiam... Meus olhos inquietos encontravam o acaso na busca da resposta, mesmo sem ao menos elaborar a pergunta. Meus cabelos voavam sem vento, que voava sem os cabelos que cresciam como grama dos jardins americanos. As folhas secas grudavam em meu corpo e me enterravam no ar enquanto flutuava pra fora do universo. Quanto mais eu cerrava os punhos, menos galáxias conseguia segurar. Formava nuvens com a fumaça. Formava nuvens e sombras coloridas seguiam meus passos. Minha sombra me acompanha, quando chove, me abandona. A chuva abria portais nas calçadas. Vaginas dentadas criavam túneis úmidos, esguios e sensíveis; ao infinito, ao desconhecido. Embaixo d'água as palavras flutuavam distorcidas e respiravam em câmera lenta. Um rio de prazeres e mágoas. Nosso lar. O outro lado.
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Eu não sentia prazer, eu não sentia dor. Eu não sinto tudo há muito tempo. Eu nada sinto, eu sinto muito. E perdia membros, transfigurava imagens e insetos que se desfaziam de minha carne e ossos. Flores brotavam de meus poros junto de um sorriso. Espinhos dilaceravam meu corpo quase morto e assolavam meu coração aquecido de fé. O medo diminuia de acordo com minha grandeza. O medo crescia de acordo com que me diminuia, meus pesadelos me deixam dormir. Não acordo e acordo e acordo e acordo e acordo...
Eu sou um gigante em busca de pequenas coisas. Vejo mais do que deveria. Bolhas de sabão saiam de meus olhos. Me via lá dentro tentando escapar...
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Did you know all nuns are forty-two, and their eyes are blue?

26 de janeiro de 2007

I miss the comfort in being sad


Semana passada percebi que não há nada mais para fazer a não ser deixar os momentos felizes apenas na lembrança. Estranho como quem não queremos que se vá nos deixa e aquele que não vemos possibilidade de nos deixar também nos deixa. Ou será nós que os deixamos? Claro, quem nunca abandonou alguém?

Eu acredito no amor à primeira vista, mas duvido na longevidade desse amor. Porque estamos presos no momento, no segundo do cruzamento dos olhares, do primeiro oi tímido. O carinho dura enquanto a realidade durar, mas quem pode parar o tempo? O cenário muda e somos obrigados a adaptar. E vêm os caminhos diferentes, ainda tão próximos, mas tão distintos. Praticamente linhas paralelas, sem possibilidade de encontro no futuro.

A encruzilhada ficou para trás, junto com todas as entradas sobre os acontecimentos de nossas vidas que eu escrevia no meu diário e as saídas que tomávamos para fugir da realidade e viver na fantasia... nem que fosse por só um sorriso.

Mas a saudade dos dias, dos amigos, das aulas, das pessoas, dos cheiros, dela, dele, de você, de mim... essa, sempre fica.

24 de janeiro de 2007

Yesterday I Woke up Sucking a Lemon


Ontem eu saí com ela. Como ela me lembra aquela de que sinto tanta falta. Ela tem os olhos dela, mas não me olham igual; ela tem o jeito dela, mas não é pra mim e, sua risada, se parece tanto com a dela... mas é sem-graça. Elas se parecem tanto que eu sinto raiva. Não quero mais vê-la para não ter de lembrar dela. Ela trabalha comigo. Ela está tão longe. Ela está no restaurante. Ela chora por aí e eu não estou por perto. E ontem, quando ela se aproximava e me encostava, eu desviava quase inconscientemente com medo de que ela fosse ela; e quando ela me dirigia a palavra e conversava, a mágoa ensurdecia e só sorria receptivo, porém neutro. Me fazia calado. Não quero magoa-la de novo, mesmo que ela não seja ela. Elas são tão parecidas... Eu não quero mais vê-la. Eu quero tanto vê-la. Eu não quero saber do seu dia. Eu quero ser o dia dela. Elas não me contam nem me assistem, eu não mereço.
Aquela que sinto falta não se parece com ninguém, porque era única. Aquela que sinto falta não vai voltar, porque eu já fui. Porque ela já foi. Eu não sinto falta dela, mas eu sinto sua falta.
Everything in its Right Place.

20 de janeiro de 2007

Você é a filha da Profª Rita?

Minha mãe quer que eu tire fotos da minha vida, das pessoas da minha vida, dos lugares da minha vida. Ela quer que eu sorria nas fotos, que eu faça careta, que eu mostre a língua, mas eu não quero tirar fotos.

Ela se arrepende de não ter gravado eternamente os momentos passados na faculdade, as salas de aula, seus colegas, o ambiente. Entendo isso pois hoje sou eu que vivo na mesma faculdade, nas mesmas salas de aula, pessoas diferentes, claro, mas ainda sim o mesmo ambiente. Ela sente saudade desse tempo, pois nada restou hoje. Pouco se lembra do cotidiano, dos colegas, do que aprendeu, nenhum amigo presente dividiu a mesma época. Creio que ela teme que eu esteja seguindo o mesmo caminho. Creio que estou.

Ela sabe que estou.

E por causa disso, ouço constantemente seus conselhos para melhorar, me enturmar, ser mais leve e tolerante. Seus anos de faculdade são tão obscuros, porque minha mãe pouco se recorda ou talvez não queira recordar. Porém sinto que ela não o deseja para mim. Ela diz que eu ainda tenho conserto.

No entanto, seu medo me é duvidoso por vezes. Ela é feliz, seguiu a carreira que quis, achou amor e teve filhos lindos e maravilhosos! [hahaahah] Por que então teme tanto a semelhança de nossas vidas?

Coisas que não conta, coisas que vejo, coisas que existem, coisas que não entendo. São feridas sentimentais, de vivências emocionais semelhantes, de maneiras de parecer e ser. Mas o seu fardo foi pior, eu sei. E ela tem que viver essa vida duas vezes.

Só espero que meu destino seja tão feliz quanto o dela. Que eu um dia possa sorrir um sorriso tão bonito quanto o da minha mãe. É um sorriso tão lindo...

17 de janeiro de 2007

Vida Besta!

Histórias do Apto. 12

Fotografia
Minha mãe odeia minhas fotos. Elas não tem pose ou formato "padrão". Elas têm línguas e caretas. São muito obscuras e ela só consegue conviver com a obscuridade dela, bloqueando todas as demais. Minha mãe só gosta de tirar fotografia sorrindo em pose familiar. Ela sempre sorri para as fotos com se quisesse guardar na lmbrança a alegria daquele momento que nunca existiu. Ela sorri para que as pessoas olhassem pra ela e visse o quanto ela era feliz e satisfeita. Ela sorri porque é a forma que encontrou para que pudesse ser feliz em algum lugar, nem que seja numa memória inventada. Mentiras que são aceitas porque são melhores que a realidade. Minha mãe não usa drogas, não bebe, odeia cigarro. Às vezes eu penso que ela deveria usar. Seu único vício é procurar em remédios a cura de sua amargura. Assim, ela sorri às câmeras para mostrar o quão perfeito tudo está. Sorri para esconder a realidade e enxergar no futuro, o belo passado que teve e ter saudade de tudo aquilo que não aconteceu. A não ser naqueles breves segundos de sorriso. Minha mãe teve uma vida sofrida, não teve muitos motivos ou tempo pra dar risada. Quase não conversamos, vivemos essa guerra fria onde o acordo de paz é o silêncio. Ela merece seu sorriso, mas está muito desgastada pra correr atrás. Sei porque ela gosta tanto de foto com toda família reunida, abraçada, sorridente. Porque aquele papel eterniza um momento único, raro, passageiro como a luz do flash que ilumina a cena. Minha mãe gosta tanto de fotografia porque elas são coloridas, cores que ela nunca pôde enxergar...
Eu não quero enterrar minha mãe, mas deixo a sugestão de quando acontecer, que coloquem uma foto dela sorrindo. Nunca entendi aquelas poses sérias e mesquinhas em crípitas como se dissessem: "eu sou herói de guerra", "eu morri com uma vida honrosa e com orgulho", quando na verdade ninguém foi nem teve nada disso. Quando ela morrer, sei que vai sorrir através das nuvens, vai se permitir ser leve e exilar todo o medo que a acorrentava nessa casa. Espero poder vê-la sem que ela me perceba, e tirar fotos de uma felicidade sincera.
Talvez minha mãe sorria à todos e sou eu que não percebo ou não mereço. É um sorriso lindo. Um sorriso sincero que ela só me dá quando não pode olhar através dos meus olhos.