Sejam bem-vindos ao outro lado do espelho, onde tudo pode acontecer (e acontece).

Wonderlando é um blog sobre textos diversos, descobrimentos e crescimento. A filosofia gira em torno do acaso, misturando fantasia e realidade de dois amigos que se conheceram também por acaso, Alice - que tem um país só seu -, e Yuri - chapeleiro e maluco nas horas vagas.

Leia, comente e volte sempre... Ou faça como a gente e não saia nunca mais.

26 de junho de 2009

Quando

Amanhã eu não sei. Vou sair para caminhar, tentar viver um pouco. Fazer a barba, tomar um banho, parar com os picos. Me limpar. Mas algo sempre me faz voltar, a última é sempre a exceção, e nunca a última. Às vezes tudo isso cansa e eu queria só ser como todo mundo, mas todo mundo tem seus venenos, seus remedinhos... Aí fico no zero a zero pensando em como são idiotas essas pessoas. Todas elas.

Nunca enxergo o amanhã, e me perco em épocas não vividas, com pessoas desconhecidas, em histórias esquecidas e clichês dignos de ensaio. Amanhã eu não sei.


Hoje... O que eu fiz hoje nem me lembro, eu acordo sempre como se nada tivesse acontecido nunca na minha vida. Me mantenho em pé com dolofina e sinto minha carne desgrudar do corpo com morfina, aí consigo relaxar e sentir o gozo escorrer. Eu não posso passar por isso de novo. Todo dia um dia. Eu não aguento mais. E nunca voo. Ops, nunca vou, quero dizer. Eu só enxergo futuro até o Sol se por, esperando que ele não renasça.


Ontem eu estava tão gelado que achei que tinha morrido mas me recusado a sair do corpo. Vi minha alma presa em mim. Enxergava tudo em dois mundos, uma hora estava aqui, e em outra, em um lugar que eu não conheço. Então vomitei o almoço e depois o jantei. Dormi aonde me colocaram para dormir e aí sim, quando acordei, vi que não estava nada resolvido, que tudo estava no mesmo lugar e eu, que já deveria ter partido, ainda estava lá.

24 de junho de 2009

Paliativos [Leave a Scar]

O céu laranja anunciava o fim de uma tarde cansativa. Carregava meu corpo marcado cada vez mais pela minha violência pelas ruas mais pobres da cidade. Sem rumo, olhava sem direção. Senti alguém tocando meus ombros. Eram minhas próprias mãos. Sem rumo, olhava sem direção.

A velha doença que eu tanto disfarço e tento ignorar, muitas vezes é mais forte do que eu. Me amarra com cintas de couro e me faz ser sua putinha. Ou simplesmente é tão sutil que me entristece só em colorir o céu, fazer baixar o Sol, sussurrar ventos uivantes e gelados me fazendo encolher. Abaixo a cabeça e desmaio imaginando ser meu travesseiro a guia da calçada.
Não digo nada, só minhas vozes. Nunca falo, de nada vale minhas palavras solitárias, que tento moldar em meus lábios, que morrem num suspiro. Suo sangue e faço meu próprio apocalipse.

Eu sempre arranco a casca e deixo sangrar, e nunca sei por quê. Eu sempre choro e faço todos chorarem a minha volta, e nunca sei por quê. Até perceber que é por minha causa. O que não mata deixa cicatriz.




"Eu me sentia tão indefeso, desarmado na mesma impotência lânguida para enfrentar (ou esforçar-me para isso) a dificuldade à minha frente, como a maioria de nós já se sentiu em sonhos de infância, quando se deita sem lutar diante de um leão poderoso. Senti que a situação era desesperada; e passivamente aquiesci na aparente confissão disseminada por todas as aparências - que na realidade eu não tinha paliativos a oferecer¹".

E somente espalhava feridas incuráveis em almas desavisadas.




¹. Thomas De Quincey

21 de junho de 2009

Afecção


Vejo luzes que nunca estão e confundo sempre claridade e escuridão. Luzes negras são sempre perfeitas e me atraem para as mais belas e prazerosas viagens. Entro no fogo e explodo meus pavores. Sem que ninguém saiba, descarrego e grito tudo que não digo.

Ando mais triste que um café gelado, mais solitário que o último cigarro, mais neurastênico que Schopenhauer. Intangível pelas belezas, sou eu cambaleando pela eternidade punitória. Um inseto atraído pela luz, caindo trêmulo pelo breu ininterrupto em direção ao meu próprio vazio decadente.

Questiono o que me tornou tão distante e só, a afecção que me tornou parte morta de algo que já morreu. Não é dor, mas sofrimento. Não é a sombra devoradora, mas pura desolação. Poderia ser propósito, mas era ódio. Imaginei ser a tristeza que partia, mas era a escuridão instalada e duradoura.

A luz brilha na escuridão. E a escuridão nunca vai entender isso.

17 de junho de 2009

Even Deeper


Hoje eu acordei para me encontrar em outro lugar. Os rastros de minhas pegadas me levam para onde eu fugi. Parece que tudo que eu ouvi pode ser verdade. E você me conhece (bom, você acha que me conhece), sabe como eu sou, sempre me despedindo com adeus. Às vezes não me falta nada, mas ainda assim eu sinto falta.

Você sabe o quão longe esse caminho vai e o quão danificado eu estou. Quando eu acho que estou superando e chegando a superfície, eu percebo que só estou afundando cada vez mais. Eu não consigo soltar as lâminas que fincam cada vez mais densas. E tudo vai esmaecendo e escurecendo lentamente em direção ao fundo. Eu tenho que olhar para cima para ver o Inferno.

Em um sonho eu sou um eu diferente e você é perfeita. Encaixamos perfeitamente. E pela única vez na minha vida eu me sinto completo. Mas ainda assim eu tento arruinar tudo. São as vozes que eu ouço, que dizem para destruir, são elas que me convidam e pedem para eu me retirar.

O que me importa foi embora. Nada é vontade e não desejo. Todas as mãos que carregavam esperança estão atadas. E eu continuo afundando nesse caminho em direção a cidade fantasma, às ruínas de meus pensamentos. Eu não vou quebrar porque não há mais o quê. Eu não posso dar as costas, só ficar aqui, pisando em pegadas erradas, por caminhos tortos, regredindo...

16 de junho de 2009

Deep




A palidez escancara meus olhos me mostrando os destroços. Tenho um grande buraco negro no lugar do coração me engolindo por dentro. Um dia ele irá me fazer desaparecer, como uma lembrança gostosa que esquecemos sem querer, e serei aquela vaga sensação de algo que conhecemos mas não conseguimos saber o que é.


Sinto-me como num lugar perdido no espaço, um lixo cósmico flutuante. Algo incomoda como uma coceira dentro da pele e me diz que algum lugar longe daqui é o meu lugar. Eu não me importo qual, só queria sair daqui, queria que me tirassem daqui. Alguém que afastasse esses sonhos e me mostrasse que há amanhã. Mas minha única companhia é meu outro eu, minha única diversão é ver as minhas personalidades duelando atenção e distorcendo toda a realidade.


Se eu pudesse sentir todos os pregos e agulhas, todas as farpas e queimaduras, talvez eu pudesse juntar as partes quebradas e ter certeza de que a vida tenha mais a oferecer do que isso. Que ela não seja só isso que ela é. Eu também.
Mas a vida é só. Eu também.

Não há nada que eu reconheça, eu não sei mais do que devo correr nem por que ficar aqui. Hoje eu não sei de mais nada. Eu caio no espaço e não é um sonho, brinco no parapeito até errar propositalmente e flutuar de um lugar bem alto em direção a avenida. O tempo nos sonhos é diferente do tempo da vida, ele é mais lento, mais proveitoso. Meu último pensamento é sobre tudo que eu poderia ter sido. A gente acha que nunca vai acontecer com a gente. Até cair de cara.






posfácio:

Mas ainda será verdade, a minha sanidade, quando eu estiver dentro de você. Com todas as forças que eu puder, com tudo que me restar, dentro de você.

14 de junho de 2009

Meu coração é na esquerda

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***

sabe quando a gente digita rápido, sem olhar para a tela ou teclado e só depois percebe que está tudo errado, pois estava digitando uma tecla além para a direita?

There Will Never Be a Better Time

Não vejo seu rosto na minha mente. Só quando você está presente, aqui. Estranho as promessas que te fiz. Fingi na hora amor, fingi na hora rir. Mas era só tristeza. Ápices de tristeza e prazer, como heroína.

Nunca vai existir melhor época. Nunca vai existir nada melhor. Tudo vai ser sempre isso, esta merda. E não adianta dizer que estou errado, que o Yuri está precipitado.
Vai dizer, solte suas mortas mentiras enquanto eu vomito verdades vivas. Que me matam.

Nunca vai existir época melhor. Eu fico me perguntando se eu pudesse mudar, simplesmente mudar. Mudar tudo. Se eu mudasse meu nome e aprendesse a perdoar. Eu procuro por Deus e me perco no caminho. Eu procuro por você e perco meu lugar. Beijo a todos e todas que cruzam meu caminho. Ponho fogo em tudo que pode queimar.

O amor passa por mim nos lugares errados. O amor passa por mim e eu me perco. Eu quero pegá-los todos como se houvessem. E então não haverá melhor época.

12 de junho de 2009

Olívia (Ontem > Hoje)

Ontem eu te procurei, mas não deu tempo. Pensei em te ligar, mas ficou tarde. Pensei em tanto para lhe dizer, mas sem palavras.

Ontem eu senti falta da sua voz cheia de sono me procurando do lado da cama. De como acordávamos de madrugada para fazer amor, mas bem baixinho – para não acordar os seus pais. Senti falta do seu tempero no macarrão de qualquer coisa que eu adorava, ou das suas tão queridas azeitonas – que você tanto adorava e deixava um gosto horrível na sua boca, mas eu beijava mesmo assim. Oliva.

Foi ontem, ainda me lembro, uma noite de novembro que te fiz chorar. E te jurei de joelhos e abraçado às suas belas coxas que eu nunca mais faria isso. E quantas vezes o fiz... Acabava sempre no colo de seus seios fartos e sinceros que acolhiam minhas burradas com perdão.

Já passou, aquela viagem nas férias para o sítio; aquelas briguinhas bobas que nenhum de nós levava a sério – às vezes você, mas orgulhosa nunca dava o braço a torcer. Às vezes eu, que deixava bem claro na minha estupidez. Mas essas coisas nunca atrapalharam. E logo estávamos sorrindo outra vez.

Tanta coisa mudou de ontem pra hoje, e tantas continuam iguais.
Ontem. te quis ontem com desejo, com querência. Hoje, hoje sou só desespero e carência.

Minha cama vazia
Meu peito vazio
Minha doce Olívia...

11 de junho de 2009

Ouviu-se Falar

Já ouvi falar de amor. Numa tarde de calor, era verão quando fez bater mais forte o coração. Mas esfriou e acabou. Não era amor.

Ouvi falar de amor quando me gemeu “te amo” em cima de mim numa tardinha de outono. Com o passar dos dias, a vadia foi dizer “auau” em outro pau. Folhas secas e o vento gelado me trouxe a solidão me mostrando que não era amor.


O amor veio mesmo numa noite fria de inverno, ahhh amor terno. Me disse que era eterno. Não foi. Amor amor... Foi bonito, perfeito embaixo do cobertor. Só embaixo do cobertor. Não era amor.

Deveria ter vindo num dia florido de primavera, aquele dia estava para amor. Me apresentaram, não nos conhecíamos. Até que durou viu?!, mas era amor de poesia, coisa de boutique, que só dura alguns dias. Faltou, foi tanto faz. Era falso, igual flores de plástico. Não morrem, mas não são reais.


Só ouço falar.

10 de junho de 2009

AmA

Disse-lhe que a amo.
Me ama às avessas, bravejou.
Te amo toda, confessei.
Ama a todas, eu bem sei.
digo-lhe: meu coração a ama.
Odeia. Me ama ao contrário.
Mas quem ama ao contrário continua amando.
Ainda mais se for em Roma.
Cachorro!
Au au!



Me deu a mão.

6 de junho de 2009

(p)ARTE | No meio

Me confundiram com artista. "Ohh, olha o artista". Me gabei.
Depois de um tempo pensar, descobri que artista não sou.
Errei.
Bem em cheio,
Mas eu errei
Bem no meio.

Não faço música, só ouço.
Não sei pintar, mal sei rabiscar.
Não sou poeta, só fracasso.
Não sei atuar, só finjo.
Não sei fotografar, só clico.
Não faço filme, só assisto.
Não executo, só tenho ideias.

Bateu certa frustração.
De artista, eu tenho
só as doenças,
os vícios,
as grandes doses e
sentenças.
Depressão.

Me definia artista
até ontem.
Até ontem
achei que era arte, mas
na verdade,
não sei nem se faço parte.
Essas coisas a gente não escolhe não, nasce sendo
nasce sabendo

mas eu não sei.

Só que agora quero ser
Artista
Nada de capa de revista
Para todo mundo ver
Mas também não quero ser reconhecido só depois de morrer.

Desculpa pra fazer razão
Ser diferente na indiferença
Tem como
?
posso?


Quero ser artista e é só
o que quero ser.
É só o que vale,
Nesse vale que chamam de Terra
Nesse tempo que chamam de vida
E ai de quem discordar!



É hora de acordar
Agora quero minha (p)arte!

4 de junho de 2009

Minimal


Tinha um jeito minimalista. A menina esguia dos cabelos enrolados e de cheiro amargo. Eu não sei ser assim. Se eu sou o fogo que hipnotiza e destrói tudo com beleza, Ela é o estopim.

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Eu não sei fazer síntese ou sintaxe e ao mesmo tempo, ser sintético.
Eu faço canções longas, de sonantes arranjadas e mal feitas, que dizem sem dizer, que toco sem tocar. Escrevo histórias que contam detalhes em frases permitindo paráfrases, poderia escrever muito mais, sim, mas tão menos já não faço sentido. Discursos que me traem, pois digo tão pouco e nada quando digo muito. Não sei simplesmente fazer sentir em poucos verbos. Porque eu tenho um problema com as palavras (ou com sentimentos - Não sinto como quero, e quando sinto, sinto muito.), elas são muitas e eu sou tão pouquinho. E aí descubro meu minimalismo.