Sejam bem-vindos ao outro lado do espelho, onde tudo pode acontecer (e acontece).

Wonderlando é um blog sobre textos diversos, descobrimentos e crescimento. A filosofia gira em torno do acaso, misturando fantasia e realidade de dois amigos que se conheceram também por acaso, Alice - que tem um país só seu -, e Yuri - chapeleiro e maluco nas horas vagas.

Leia, comente e volte sempre... Ou faça como a gente e não saia nunca mais.

19 de outubro de 2009

Quanto tempo dura uma caneta?

Meu estômago está tão grande. A angústia das indecisões e a vontade de não fazer nada a não ser ver tv fazem dos meus dias inúteis blocos de tempo passados em casa... comendo. Há dois anos a situação estava completamente invertida. A novidade da sua vinda era tão grande que meu nervosismo por ser vista me impedia de comer. Perdi muitos quilos por sua causa, naquela época. Depois, descobri o prazer de ter alguém para dividir momentos e coisas gostosas. Inclusive comida. Retomei os vários quilos perdidos e ganhei outros novos.

Dividimos muitas coisas mais. Músicas e sons, passeios e momentos inusitados. Inusitado é tudo aquilo que não se espera, mas que de repente aparece. Como você, o estranho adorador de harpas e vozes esganiçadas (espero que não tenha sido por isso que você se apaixonou por mim).

Aprendi muito sobre o inusitado com você, sobre primeiras vezes e novidades. Penso que deveria ter comprado aquela caneta que o vendedor de rua nos ofereceu na primeira vez em que nos vimos. Você ficou todo contrangido por ele ter percebido que você já estava apaixonadinho por mim. Será que a caneta teria durado mais que nós? Acho que não. Nós duramos um bom tempo.

Seremos uma boa lembrança.

***

Enquanto o fim não se concretiza, dou-me a liberdade de explorar minha criação literária.

13 de outubro de 2009

Silêncio Vagaroso

“Fiz minha casa no teu cangote. Não há neste mundo quem me bote pra sair daqui”, tocava ao fundo enquanto repetia a letra como se fosse uma poesia de minha autoria inspirada em você. Ali, à minha frente, sorrindo vagarosamente, combinando com a noite sem pressa.

Meus sentidos eram todos para te sentir. Abraço, beijo, cheiro, toco e ouço tudo que tem a dizer [n]aquela noite. Mas dizemos tudo em silêncio. Lambo teu pescoço e mordo tua orelha, faço graça te lembrando quando disse que queria ser teu brinco só para ficar sempre pendurado em seu lóbulo e ouvir os segredos que te contam – ou os que você mesma se conta.

Sentados na cama, debruçados na janela, olhando o céu, ouvindo Céu, iluminados apenas pela noite e pelo azul da tela do computador. A paisagem são árvores que não conseguimos ver de onde vem, mas podemos enxergar sua grandeza dividindo atenção com as estrelas. Iluminadas por uma luz branca vindo de baixo, elas parecem uma pintura, uma tela a óleo bem delicada. E ficamos imaginando se aquilo não era um quadro gigante que nós estávamos pintando. E uma hora olhei para trás, porque imaginei sermos a pintura de alguém.

Noite quente, a Lua ajudou. O mar de lençóis que cobria a gente ficou jogado, misturado com as roupas pelo quarto. Céu gemia de um lado, nós bem baixinho do outro, só pra gente. Sua pele brilhava de suor, o meu escorria pelo corpo, pingava em teu peito. Beijos molhados, demorados, apaixonados. Sua delicadeza era encantadora. Cúmplices, atravessamos o estar, éramos um único ser. Unos. E vagarosamente, fizemos amor.

Deitados por um tempo, sorrindo de um ou outro pensamento que não precisamos dizer, já sabemos. O vento lá fora fazia das folhas das árvores o barulho do mar, fechei os olhos para imaginar. Você. Sem dizer, só sentindo um ao outro respirar, o corpo indo e voltando o mesmo ar, o mesmo corpo. Eu respirando você, você em mim. “Como pode, no silêncio, tudo se explicar?!”

11 de outubro de 2009

Alienígena Terrestre

Posso dizer que mexo com arte,
mas artista eu não sou.
Posso dizer que escrevo,
mas eu não sou escritor.

Faço um miojo como ninguém,
mas não sei cozinhar.

Canto porque tenho vontade,
não porque sei cantar.


Posso dizer que trabalho,
mas qual é a minha profissão?
Posso dizer que sou bom no que faço,
mas não faço de coração.

Posso dizer que faço experiências,
mas não sou cientista.

Posso dizer
e dizer
e dizer.

Se quiser,
até faço uma lista.

Penso muito na vida,
mas só sei filosofar.
Não gosto de viver,

mas não quer dizer que vou me matar.




Faço as coisas por fazer,
não por amor.

Nunca o amor.

Faço por falta de opção,
não porque dou valor.




O que sou, então?
Senão cada pedaço de alguma coisa e alguém
.
Um pouquinho de tudo,
e ao mesmo tempo, ninguém.


















Um alienígena terrestre, que faz parte
Ao





mesmo

tempo









que
















parte

8 de outubro de 2009

Por dentro

Odeio aquelas pessoas que criam uma intimidade rápida com você e te fazem sentir a melhor amiga que essas pessoas têm.

Mas elas só enganam meu coração de criança, insegura, que nunca teve uma melhor amiga só pra si.

7 de outubro de 2009

Inércia


Prólogo. Pego o ônibus, vou.
Volto.
Pego o carro, vou.
Volto.
Pego o ônibus, um ir, e depois mais um pra voltar.
Espero.
Mais um ônibus, um metrô, quilômetros a pé. Isso tudo antes da chuva. Enquanto eu chovia. Depois volto de tudo para casa. Vinte reais de transporte, dez de álcool, quinze horas de viagem.
Não saí do lugar.




Chuva. Noite de chuva.
"Vai chover".
Combinei às 19h com o Lourenço, vou atrasar, como nunca atraso. Passeio por calçadas desconhecidas, ruelas de paralelepípedos.
Não me importo.
Foi um dia ruim, foi péssimo.
Olho para ele, minha voz quase sai antes da dele.
Baixinho, "oi yuri".

Não dormi nada.
Fiquei pensando, peguei o livro molhado, folheei sem ler nada, pensei mais um pouco. Assisti um filme ridículo de terror, deletei logo em seguida.
Hm, tenho tempo. Tenho tanta coisa pra fazer e tenho tempo.
Faço nada.
Faço pensar.
Queria fazer amor. Olho para minha mão e é o único amor ali.
Faço nada.
Só pensar.

Que dia horrível foi. E qual não é?
Quis me rebater. re-bater. baterbater.
Fiz nada.
Só chorar, por tudo. Um choro que eu nem me lembrava mais que estava aqui, guardado, escondido no escuro, ou no claro. Claro. Qual choro eu não seguro para não me sentir mais seguro? O dos outros, pensei.
Pensei.

Tomei a maior chuva, molhei tudo. Trinta e quatro reais de letras borradas. Estou todo sujo, sujei tudo. Com minha companhia, fui repreendido de palavras.
Corri e corri querendo fugir do que eu nem sei mais.
Chuva.
Começou sendo chuva.

Madrugo esperando o dia, feito o dia esperando a noite acabar.
Ninguém me espera.
O Sol vem chegando com o aviso "it's you now, champs". O Sol também fala inglês, claro, senão vem outro astro mais qualificado e toma o lugar dele.
Pensei.
Vejo o dia nascer, não queria mais nada.
Só ver o dia nascer e mais nada.
Até ele morrer.
Até eu.
Até.



Posfácio. Hoje. A hora que eu levantei o céu estava lindo. Tinha até um motivo para erguer a cabeça. Agora está horrível, depois me perguntam porque só olho para o chão.
Mas não é culpa do céu.
Na moto, frio. Gotas escondem parcialmente o meu destino. Com a viseira ninguém pode me ver. Qualquer coisa é a chuva, choveu dentro. Choveu fora.
Pensar.
Lembrei do que me falaram. "Queria que você falhasse".
Pessoas queridas falam.
Eu fal(h)o.

Eu penso.
Fiquei pensando.
Minha vez. Agora é a minha vez.
Faço nada.
Só pensar.
Minha vez. Agora é a minha vez.
Fui certeiro no poste.
Não aconteceu nada de grave com o corpo.

Espero que estejam felizes.
Pensei.
Meus monstros. Aqueles desenhos que eu não sei desenhar.
Me pergunto a todo instante aonde eu fui parar.
Não saí do lugar.