Sejam bem-vindos ao outro lado do espelho, onde tudo pode acontecer (e acontece).

Wonderlando é um blog sobre textos diversos, descobrimentos e crescimento. A filosofia gira em torno do acaso, misturando fantasia e realidade de dois amigos que se conheceram também por acaso, Alice - que tem um país só seu -, e Yuri - chapeleiro e maluco nas horas vagas.

Leia, comente e volte sempre... Ou faça como a gente e não saia nunca mais.

31 de dezembro de 2009

Nem título eu sei dar pra dizer sobre 2009

do começo ao fim
neste ano, abandonos.
neste que passou, passe por favor.
o amor é um bônus
mas e toda dor?
na verdade nenhum ano tem fim

aprendi que quem abraça esfaqueia
quem faz amar,
também faz sentir o ódio nos ossos
E a raiva na veia.


- - -
O que você disse sobre meu post, Lice, tem razão. Mas não seguirei e vai isso mesmo. Esse ano não foi perdido, foi horrível, desequilibrado. Foi maravilhoso e um pesadelo - tudo ao mesmo tempo. Não arrisco escrever sobre ele, recuo, não me atrevo, acovardo. E ano que vem, aquele nossa esquema de texto que não vamos divulgar aqui por enquanto, claro! hahaha

Não tenho resoluções nem esperança de nada, voltou a descrença e a falta de tesão em tudo. Então só que 2010 venha melhor, por favór (acentuei só pra rimar - e firmar!).

Meio estranho/falso/verdadeiro

Se a vida seguisse a matemática, tudo seria muito mais fácil. E este final de ano não seria um caos como parece agora. Pois nos últimos anos, final de ano ímpar era bom e final de ano par era ruim. Por este desânimo, desculpem-me o texto cru e sincero.

O pior é que, quando percebi essa falsa regra, as coisas caminhavam para um bom final de ano. Mesmo com o fim terrível e dolorido, eu me sentia feliz, encantada e empolgada como há muito tempo não estava. Mas as coisas logo mudaram e ficaram turvas. Então, eu aprendi que gosto de viver e que tudo bem as coisas mudarem de repente, porque é vida e acaba sendo divertido. Meio estranho, meio falso, meio verdadeiro.

Eu ia me deixar contaminar por este conturbado fim de ano, mas hoje acordei bem. Então, vou refletir. Comecei esse ano num cruzeiro. Eu morro de medo de navios. Mas foi uma experiência formidável. Então, retornei disposta a lutar pelo meu castelo que estava em ruínas. Investi muito nele, muito mesmo. Mas não consegui que ele voltasse a ser o que era e, agora, ele foi desfeito. É muito triste tudo isso, ainda não sei lidar muito bem, estou meio perdida. Sinto saudades, mas também acredito que fiz o meu melhor.

Além disso, este ano encarei pela quarta vez meu maior fracasso e fracassei de novo. Acho que tem certas coisas que a gente simplesmente tem que aceitar. Mas me senti abandonada por que eu mais esperava ajuda e foi aí que tudo veio abaixo.

Na faculdade, porém, fui mais feliz. Encontrei mais amigos, mais apoio e mais discussões com professores bitolados. Descobri potencialidades em mim, o que me deu esperanças.

Gostaria de agradecer meus amigos pelo apoio que me deram quando eu mais precisei. Ajudaram-me nas mais diferentes formas, o que facilitou muito as coisas para mim.

Para 2010... bem, penso em pedir paciência de novo. E calma. Na verdade, agora, eu quero paz e tranqüilidade. Quero ser feliz, sem ter que pensar muito para isso.

JUNKY'S CHRISTMAS

este texto não significa nada. ele significa tudo. este texto, eu demorei tanto pra escrever porque não consigo me recuperar. e acho que quero, dessa vez eu quero. meu natal, divirtam-se:


(close na TV e vai dando zoom out abrindo o plano pra sala. Depois disso deixa rolar a fita, não para hein!) A TV ligada no velho Burroughs com seu sotaque texano detestável. Bem baixinho, só para me acordar. Chia em meu ouvido me fazendo abrir os olhos e perceber que minha cama é feita de vômito. Cheiro o azedo do ar e gorfo. Sinto meus dentes mais sensíveis, minha boca seca, olho minhas mãos. Um pouco de sangue, um pouco de náusea... Que noite. Alguém arrancou a seringa do meu pé, sempre infecciona porque eu sempre esqueço, por isso nem me pico mais no braço. Saí dessa vida, saí dessas loucuras que eu sinto falta às vezes por ser tão autodestrutivo. Voltei porque fui obrigado, porque era isso ou a Morte. Eu queria os dois. (fecha na carta do ceifador no tarô e numa seringa cheia ou vazia, ainda não sei).

Eu rasgo essa pele na esperança de vazar pra fora dela. (produzir cenas de cortes e sangue).

Acordou (abra los ojos, cena de olhos se abrindo e borboletas abrindo as asas). Não dormimos juntos, mas estava ao meu lado, com o cabelo ensebado e os olhos manchados de maquiagem preta. Bom dia. Bom dia. Que dia é hoje, que horas são? Me beijou o rosto e abraçou minha carcaça pálida e ferida, encostando seu corpo quentinho em minhas dores. Agradeceu por estar viva. Agradeceu a mim, na verdade por eu fazê-la se sentir viva. Acabo sendo o salva-vidas. Mas Ela não corria riscos ali. Eu risco.

Foi tudo mentira. Agora me lembro. Acordei e não sabia quem eu era. A sensação de acordar, para mim, é como vir nadando ofegante lá do fundo do mar e poder respirar de novo, só que, na verdade, o anseio é para continuar no fundo. Assustado como sempre acordo, onde estou, que horas são? (relógios, barulho de relógios)Rodeado de pessoas desconhecidas, barulho, aquele cheiro horrível de... de... é familiar, mas desmaio antes de saber. (barulho de eletrocardiograma e coração. Fade out). (sem imagem)Acordei cheio de vômito seco, um odor azedo e uma agulha em meu braço. Outra vez? Não, dessa vez era soro. Não era mentira.

(Kiddo em preto e branco sentado numa pilha de corpos no meio de uma fábrica - trilha)Drogado, ninguém liga pra você, ninguém se importa com você, o melhor a fazer é morrer feito peixe fora d'água, se debatendo sem ar na calçada do hospital. Você, nós, somos o lixo social. O trabalhador é o lixo social, todos somos merda para o Estado. Então FODA-SE, prefiro morrer agonizando numa sarjeta qualquer do que suando a carcaça velha e magra trabalhando doze por sete para um patrão que não dá a mínima pra você, pra sustentar um monte de filho pra eles terem um futuro melhor. HA-HÁ, “um futuro melhor”. (Há tempos quero destruir o Estado).

Overdose. Quem diria, nunca havia tido uma, confesso que me assustei. Na hora eu sabia que ia acontecer, mas eu não conseguia parar, simplesmente.

Não há limite para minha dor.

Manhã cedo de natal. (close na roda da frente girando, depois corta prum plano aberto) Eu estava na moto, louco de tudo, sem capacete com a barba e os cabelos se enroscando com o ar, indo para lugar nenhum, vestido com uma camiseta suja e amarela com a cara do Bob Esponja e uma cueca samba-canção creme com folhas de maconha verde desenhada, descalço com o pé inflamado. A garota agradecida estava na garupa, em pé, apoiada no pézinho da garupa, com um vestido verde cor de grama até um pouco acima dos joelhos, descalça, com os cabelos ralos soltos ao vento e um sorriso de boca fechada muito sincero (roda a câmera em vários ângulos). Ela é muito sincera comigo. Tem a pele tão branca e é tão delicada que deve ser lindo vê-la voar (close de baixo pra cima, pés a cabeça). Eu queria voar. (voo)

Depois de quase cairmos e batermos em tudo a nossa frente, paramos num lugar alto, não muito longe, mas calmo, onde desse para ver as coisas e pensar nelas. Eu nem sabia onde estava, mas nunca sei. Por um breve momento a sobriedade bateu e me pegou desprevenido. Chorei por sentir as dores do meu coração de vidro quebrado espetando tudo dentro do peito. (Meio plano) Descambei o choro, comecei a me bater, chutei a moto. Eu queria por fogo em tudo e me jogar dentro da chama. Ela tentava me segurar, mas eu não conseguia parar. Eu não conseguia parar com as drogas, com a violência, com o sofrimento. Não conseguia parar de pensar. Ela chorou junto e terminamos sentados e abraçados, não conversamos. (fade out). Voltamos pra casa.

(câmera passeia pelo ambiente) Corpos caídos por todo lugar. Quando se está sóbrio aquilo tudo parece ruim. (planos curtos, cortes secos) Roupas jogadas e sujas, vômitos, mijos, sangues, bebidas, colheres, isqueiros, cigarros, vidro, o fedor disso tudo. O som ainda rolava, mas não sabia o que era, parecia Comin’ Back To Me, do Jefferson Airplane – acabou comigo e tive que correr pro banheiro pra ver o quanto mais agüentava chorar.

As pessoas ainda conversavam, eu ainda vivia. Esses grupos junkies mudam muito, isso é que é ruim, eu já não conhecia quase ninguém, e é sempre “o mesmo grupo”. Uns morrem, outros são internados, uns enlouquecem, outros fogem porque estão devendo para alguém. Todo mundo, no geral, está sempre devendo. Mas tem aqueles que não saem do lugar, que não morrem, que não melhoram, que não enlouquecem, que não se internam, que não fogem. Que não.

O mesmo Burroughs na TV. Na noite de véspera de natal (a noite anterior, repassa todo o filme em fastforward) festejamos nossas angústias e dores de mais um ano, a ceia foi preparada com muito carinho (plano de cima): uma mesa pequena, quadrada, azul, cheia de pó, pedra, M, maconha, sintéticos, lisérgicos e improvisados à volonté (cena em PB de um francês de calça preta, camisa listrada, boina, bigode fino e cigarro repetindo à volonté). Para junkies depressivos, nóias e acelerados, todos os gostos. Tinha pai de família, homem de terno, advogada, skatista, vagabundo, hippie, punk, gente normal. Ao ataque no sinal do Anfitrião - que sabe que tem o poder nas mãos e gosta disso - discursa: “Caros amigos, colegas, desconhecidos, é com muito prazer que proporciono este maravilhoso encontro natalino e (bláblábláblá). Sintam-se à vontade” - Mãos por toda a mesa. Conheço o Anfitrião há algum tempo, ele adora ser educado, mas é perceptível seu esforço para sê-lo.

O que eu gosto daqui é que todos têm apelido. Foi aqui que, anos atrás, ganhei o meu... Kiddo. E a agradecida ganhou o dela dessa vez: San, de sã, sóbria – é assim que chamamos quem só altera com álcool. Além do resto do pessoal, Anfitrião (auto-explicativo), Agulha (enfia até água na veia se deixar, mas ninguém deixa... faz mal), Doze (nariz de doze, cheira fundo), Taz (era tamanduá, mas era difícil, daí virou Tam e virou Taz – até porque ele fica tão louco quanto o Tazmania), e por aí vai. Legal né? Mais legal ainda foi depois da ceia. Pink Floyd, Velvet, Doors, Hendrix... Me senti em Woodstock. Mas aqui não era meu lugar, essa gente é lixo, é talento desperdiçado, é escrava do vício, não é isso que queria pra mim, por isso saí. Por isso lutei muito e saí. E neste infeliz natal, pela primeira vez na vida, fiquei tão perdido e fraco que não sabia o que fazer, com quem conversar, aonde ir. Vim parar aqui. Um amigo disse recentemente que só caminhamos em círculos (!); que o que fazemos hoje é atirar um bumerangue (cena do bumerangue voando em câmera lenta), e que quando ele volta, volta mais pesado, mais carregado direto na tua cabeça. Isso fez muito sentido pra mim,

[deletei]. (cena de uma mão teclando o delete).

(A cada "quero esquecer", ele se dá um tiro na cabeça - meio plano pra essa cena... hmm... acho que quero em PB também )Quero esquecer tudo que aconteceu, esquecer que existe esse lugar que me atrai como um ímã, esquecer a vida, este fim de ano de merda, esquecer que existe o amor... E carregar a minha dor até virar cinzas. (Cinzas voando).

Fin.


Junky Christmas. Era isso ou cear miojo em casa.

24 de dezembro de 2009

.final ()

Ponto final.

Começo no fim de mais uma decepção. Mais uma glória rasgada, e mais lágrimas desperdiçadas. O último. Sete significa sorte para alguns... Hahaha, até esqueci aonde ia chegar. Mas é o último. Dramático e perdoável como todos foram, o último.

O natal (assim com letras miúdas mesmo) passou quase despercebido. Teve que pendurar um colar de luzes e um sino dourado como pingente no pescoço do papai noel (assim com letras miúdas mesmo), tunar seu trenó e colocar mais 200rp - renas de potência; e o nariz do Rudolf agora é de xenon. E mesmo assim, eu não o vi.

O espírito de natal estava enrolado num carteado com o diabo, se atrasou todo e esqueceu de alguns lugares. E assim ele embolou com todo o fim de ano. Todos os planos, todas alegrias... As férias viraram castigo. Meu pai (que não é noel) desapareceu. Colocou tudo em seu saco e desapareceu. Levou o sorriso de minha mãe, as lembranças, o amor, e os DVDs (que até agora eu não me conformo). Ora, por que os DVDs? Aposto que ele também é o culpado por estes dias de sol escaldante.

Estávamos infelizes. Mas infelizes como sempre. Agora a tristeza é outra. Não é só minha, e isso é insuportável. Somos todos corpos escorregadios nos esquivando de abraços e carinhos. A atenção vem nas piores formas. Gritos e choros e velas derretidas. Nem a fé é sólida. E cá estamos esperando e tentando um ano novo (assim com letras miúdas mesmo) melhor, um ano novo mais digno e decente. Um ano novo fora daqui.

Não sei o motivo de eu escrever isso agora, eu tinha até outra coisa em mente. Mas essas semanas, o assunto não foi outro. Na televisão só se fala disso, nos jornais, nos amigos e parentes, nos filmes... É só isso.

Eu sinto raiva de todo ano que acaba porque ele nunca acaba bem. E sinto raiva porque se eu o aproveitei bastante, não deveria ter acabado.

Não sei como terminar esse texto, assim como não sei como terminar este ano; assim como não sei como terminar nada na minha vida. Mas ele sabe. E terminou.

Postado no extinto Susi Não Anda Sozinha no final de 2007. Eu continuo sem saber...

22 de dezembro de 2009

Sal

Lágrimas de algo perdido, algo inesperado. Lágrimas de toda hora, toda dor e sofrimento. Lágrimas que simplesmente acontecem, de repente e mais forte do que eu. O que eu sinto é mais forte do que eu. E eu sinto falta do seu sorriso. Luzes coloridas não trazem minha alegria de volta. Sinto o brilho da Lua na minha nuca. E não consigo parar de chorar. Sou um líder derrotado. Ela não consegue me acalmar, me vê doente. Ela é a doença e não consegue parar de chorar. O amor é a maior experiência nessa vida.



[posfácio]
amor.


O cenário é a cidade inteira. Meia luz da Lua, luz e meia das ruas. Ela se via refletida em outros olhos. Não há mais ninguém nesse mundo, só ela e o dono do olhar. Na mesma hora, sem saber de nada mas sentindo tudo, eu fui dormir só para me afogar no ar. E morrer.

Eu não consigo parar de chorar, então paro por aqui de escrever.

Traição

O que é esse pesar tão grande
Que nunca havia sentido
Mesmo em passos errantes
Mesmo gritante no ouvido
Nunca me importei
Nunca havia conhecido
Porque não quero saber se errei
Se estava presente ou havia sumido
Minha confiança sempre foi maior
Em mim e em meus amores proibidos
Até você provar que o amor é vidro
E cortar em seus lábios meu coração
Brechas no caminho são –

Faz engasgar, a traição
Embaça a vista
Ser nada mais que placebo
Ata-me e mate-me, prefiro
Como frágeis somos, agora percebo
Dói como um tiro
Pelas costas, na arma, o amor
Que sangra sem morrer
Um sangue de dor
E um último sorriso
Olho pra trás,
Traidor

27.11.2009

19 de dezembro de 2009

Porque é triste o fim

Os desencontros são os piores encontros que se pode ter. Não me refiro ao encontro no qual uma das partes não aparece, digo o encontro no qual ambas as partes estão presentes não no mesmo presente: desencontro. Vamos marcar um desencontro? Vou de ontem e você de hoje. Não, vou de futuro e você de arrependimento.

Somente nos encontramos em desencontros. Parece-me agora que ficamos tão pouco tempo no mesmo lugar. Na verdade, todos os encontros que tínhamos foram contados. Um, dois, três e o quarto durou horas e horas... dias, meses. Um ano, eu diria. E, então, nos desencontramos. E tudo começou há exatamente um ano. Época terrível, que nem foi eternizada em meus escritos diários, somente em nossas memórias, na esperança de que um dia falhassem. Desde então, tivemos desencontros.

Acho que combinamos lugares diferentes para nos encontrar. E, apesar da briga e do aparente acordo sobre o local de encontro, estávamos em dimensões paralelas. Eu vivia num apaixonamento humilhante e você numa frieza patética. Até que nos encontramos nos desejos de passado... sede da volta aos encontros de dezembro.

É triste ver o fim da nossa história nos desencontros descontrolados ao telefone. Perdemos nossos papéis e não sabemos o que fazer um com o outro. Bem, você eu tenho guardado na minha caixinha. Quando te quero, eu a abro e dou uma espiada para encontrar seu cheiro e desencontrar o presente.

Mar Morno

Uma tesoura grande e pontuda encontrou meu corpo. Terminou em meus pálidos punhos vestindo-me de sangue. Minha veia azul chorava e umedecia a camisa escura de manga comprida. Sentei acuado, repousando meu corpo de guerra vencido, sentindo a desistência e covardia causando mais remorso. É um labirinto sem saída, minha vida. Fugir é covardia, ficar não faz sentido. E tudo causa um remorso e uma culpa incurável.

Comecei sabendo onde estava pisando, mas qualquer coisa seria mais firme que meus passos naquele momento. Foi o que me salvou de tantas coisas e me fodeu em outras. Se eu pudesse voltar atrás, faria tudo outra vez, eu não tinha opção. Deixo para agonizar quando ninguém está vendo. Não divido com ninguém minhas intermitências venenosas mais sérias. Durmo o sono dos condenados quando já é cedo. E a insônia me tira dos sonhos mais quentes. Para mim é sempre tarde porque estou sempre atrasado nesse lance de viver, ainda não me acostumei com a ideia.


Bate primeiro na parte de trás das pernas, depois atrás do pescoço, espalhando uma onda de relaxamento que descola a pele dos ossos, de modo que sinto flutuar sem gravidade num mar morno. Chove quente em mim, e tranquilidade igual a essa só no ventre de minha mãe. Se não fosse a perturbação de sentir a presença de alguém que não está presente. Uma sombra no canto da visão que desaparece toda vez que corro os olhos para ver. Move-se quando eu mexo a cabeça, então nunca a vejo. Causa medo, talvez seja a solução.


Vi a medida da vida em gotas. Experimentei a agonizante privação da doença da droga, e também o prazer do alívio, quando as células sedentas beberam da agulha. Talvez seja só isso e nada de mais. Talvez todo prazer seja alívio. Então chorava mar morno de lágrimas psicodélicas e fermentava meu alimento na colher queimada. Eu não queria, mas me salva. E pelo desespero, ando fazendo qualquer coisa para ser salvo, para tapar os buracos de meus defeitos, medos e inseguranças. Tentando me convencer de que eu sei o que estou fazendo, ou que viver vale a pena.


[EVO] Cidade

A cidade é um labirinto, um monstro faminto de garras sombrias. As ruas são caminhos para todos os lugares e para nenhum deles. Ruas próximas, distantes, frias. Tudo assim ao mesmo tempo, com a mesma veracidade. Visceral. Ando por terra, por baixo dela, no busão, coletivo-condução. Me leva sem destino porque não tenho onde ir. Se não posso lutar, estendo o braço pro primeiro que passar. Posso fugir. Giro, viro, rodopio… Acabo no mesmo lugar.

Em pé ou sentado, vazio ou abarrotado, me leva e me deixo levar – mas R$ 2,50, o que é que há? – É pela sua janela que me vejo refletido no cinza que passa e ainda é cinza, por onde meu olho enxergar, cinza de poluição, até o som. Cidade de tons. Funk, choro, histórias pela metade – às vezes até fazemos parte, quando aquele velhinho simpático e solitário faz companhia a este jovenzinho antipático e solitário. Ele com a vantagem da simpatia e experiência, eu com a vantagem do tempo que me resta. Ou não, bato a testa no vidro, dormi sem querer. Perdi o ponto, o equilíbrio, o conto. Puta que pariu, tô fudido.

Andando parado, às vezes sem itinerário, é onde li grandes autores. Nos transportes mais lotados foi onde conheci grandes amores. Passageiros. Coletivo de gente. Cada um, um diferente. Cada um uma Torre de Babel. Aqui sim eu acredito, não naquela do livro tão bendito. No céu, nem sinal do Sol. Dou o sinal, me despeço de todas as etnias, credos, cheiros. Busão barulhento. Tudo no mesmo lugar, ao mesmo tempo. Um lugar móvel que conta histórias, guarda lembrança, mas não deixa saudade. Todo coletivo é uma cidade.






Texto publicado no Eu Vou de Ônibus. Toda segunda, quarta e sexta-feira (meu dia) tem texto novo. E quem tiver alguma história ou conto sobre coletivo também pode participar, é só entrar lá.

16 de dezembro de 2009

[foto-documentário] Kinetic

Foto-documentário sobre movimento, elementos e energia. Eu e a Lígia Ruy também fizemos em forma de revista impressa - que não estará disponível e que ficou muuuuito mais legal!



11 de dezembro de 2009

[curta-metragem] 70 de Novo

Primeiro e único filme de uma produtora que não rolou.





não usem drogas, crianças.

[curta-metragem] Ao Cubo

Curta metragem que fiz com um pessoal da Metodista pra um concurso de curtas de 1 minuto patrocinado pela Sony.

"Ao Cubo" from Curta 1 Minuto on Vimeo.



Não, não ganhamos. ¬¬

[documentário] Despertar

Documentário que deu trabalho porque é acadêmico.

Nota

Olá queridos leitores (crii-crii-crii).

Enfim, esse semestre foi um semestre de produção. Estive um pouco ausente aqui do nosso querido Wonder por esse motivo, principalmente. Dois curta-metragens, uma revista radiofônica sobre arte, uma revista e um foto-documentário sobre movimento, uma reportagem especial sobre cinema marginal e um mini-documentário! Além da mais nova empreitada, o Eu Vou de Ônibus - toda sexta-feira tem texto meu lá.

Ufa, espero nessas férias que estão por vir poder filmar mais um roteiro pronto já.

Vou postar as produções todas e espero que vocês comentem e sejam críticos.

Valeu ;)

9 de dezembro de 2009

Life in a Glasshouse

Um pequeno som me destrói. É mais um ruído constante, sonante. Segurei meus braços até não senti-los mais e me estapeei como outro alguém. Ecos devolvem minhas palavras distorcidas. Será que é assim que soo?, penso. Não sou levado a sério.

A casa é de vidro e espelhos lisos sem penduricalhos para distrair. E mais uma vez eu estou perdido aqui com meu único amigo. Ele tenta fazer um papel de parede de tom pastel, um marrom apagado que não é bege e é fraco demais para ser marrom. É triste... porque não é nada, combina com a gente. Allan desenha um sorriso na esperança de sorrir. Eu gostaria de estar no papel de parede da casa mais verde para poder enfeitar. Brincar de correr, me esconder e cantar. Mas o conhecimento me destrói. Eu e ele ficamos ali, sentados no chão vazio da casa de vidro. O único cuidado paliativo ali pra ele sou eu – ele pra mim. Esperamos ansiosos pela Morte, ou pelo final de algo que já começou, o fim.

Nos olhamos multiplicados nos reflexos, nus e sem cuidados. Tenho feridas que não se curam porque insisto em arrancar sempre a casquinha. É inconsciente, prazeroso, quando percebo, já foi. Allan mastiga e engole minha pele morta e me devolve seu sangue em troca. Somos nosso próprio alimento, nos consumimos. Em nossa multiplicidade, somos mais, assim como nossos anseios, nossa fome, nosso desejo e desespero. Mas não o desejo mais do que o já tenho. Por ele, digo o mesmo. Claro que eu gostaria de sentar e papear, mas me ouviria e não agüentaria. Desespero.

Um pequeno som me destrói. É mais um ruído constante, sonante. Algo que não consigo controlar. Minhas fraquezas são muito fortes. Ecos devolvem minhas palavras distorcidas e racham as frágeis paredes. Será que é assim que soo? Mais um pouco os cacos se espalham pelo chão, e então mais um estranho erro a cometer. Allan e eu, sozinhos, cada qual em sua solidão. Não nos dizemos, mas ouvimos o pequeno som que nos destrói. Evitamos pela vida. Na casa de vidro. De Espelhos.




*imagem de Adriana Peliano

7 de dezembro de 2009

Melhor regresso

Enquanto nada novo aparece, voltemos a 2007!

outro dia eu acordei
querendo saber como eu estava
quanto mais eu descobria
mais triste eu ficava
se deus existe, quem é ele?
se não existe, quem somos?
o que faremos, o que seremos,
se agora somos, então me diga o que fomos?
quero conhecer mais meu mundo
saber de onde eu vim
às vezes desejo o sono profundo
meu pecado é a ância pelo fim
o ódio cega e me faz perder
a tristeza se materializa, se transforma
cai do meu rosto cria forma
molha o papel e me faz esquecer
da beleza que encontro no céu
que enfeita meus sonhos sem saber
o peso da culpa me impede de olhar
acima dos meus olhos
me impede de voar
não vejo motivo pra nada
tão distante, quero encontrar
o meu lugar

Será que estou sempre errado?
andando sempre na contra-mão?
eu estou vendo olhos negros
quem me mostram solução
se escondem nas minhas sombras
e se perdem na mesma escuridão
não vejo o medo chegar
que por medo, não me encara
não tenho o que perder
porque não vejo motivo pra nada

meu melhor regresso
essa minha inútil deficiência
o auge do meu sucesso
é minha vergonhosa decadência
meu melhor regresso
minha ingênua carência



mas há de chegar
há de chegar pra me salvar
há de chegar pra me levar
me tirar daqui
desse lugar que eu vim parar
onde não há onde se amparar
só cair e cair e cair