Sejam bem-vindos ao outro lado do espelho, onde tudo pode acontecer (e acontece).

Wonderlando é um blog sobre textos diversos, descobrimentos e crescimento. A filosofia gira em torno do acaso, misturando fantasia e realidade de dois amigos que se conheceram também por acaso, Alice - que tem um país só seu -, e Yuri - chapeleiro e maluco nas horas vagas.

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13 de agosto de 2007

10 & 10

As Dores da Morte


Há tempos não chorava por você. Me senti culpado algumas vezes por isso. Ontem foi ruim. Dia dos Pais com reunião de família a gente é obrigado a ser feliz. Eu estava bem, até ouvir seu nome. Então corri para derreter no meu quarto. Sozinho. O suco de meu coração espremido escorria de meus olhos. Desejei estar no seu colo, nos seus braços, no seu cheiro, no seu calor. Mas estava sozinho.




12 de agosto, 1997. 10 anos atrás, tanta coisa mudou. E minha vida se divide aqui, bem neste ponto. 20 anos, 10 e 10. Ahh, minha mãe, tem sido tão difícil tomar banho sozinho, não ter ninguém para me olhar na rua ou avisar o carro, não restou paciência, tampouco Os Trapalhões na TV. Não há mais beijos nos machucados, ninguém para me acudir do tombo, nem colo nenhum para me mimar com canções de ninar. Seu cheiro foi substituído por poluição.




Eu não desejei ter esses pés grandes, esses calos, muito menos esses pêlos que me julgam um homem. Um homem que não cabe mais no seu colo. Ora, que besteira estou dizendo! Sei muito bem que caberia seus três filhos, minha irmã e eu no seu colo, porque ele é do tamanho do seu coração. E mesmo que fosse machucar, você não se importava, porque era pra gente.




Percebi, que mal a conhecia, mal sei da sua história ou das suas preferências. Não deu tempo. Dá um desconto, vai! Quando somos crianças não conhecemos o tempo. Nem a morte. Lembro quando a Pantera morreu. Vocês disseram que ela tinha ido para a oficina do meu avô. Por que levaram ela para a oficina se ela era minha companhia no quintal? Eu ia até lá e não a via para brincar comigo. E Você, também foi pra lá? Eu já era grande demais para acreditar na oficina.




Meu amor está soterrado com o que sobrou de você, com o que sobrou dele. E, na festa de ontem, fomos obrigados a sorrir, a nos divertir. Eu não consegui dizer nada a meu pai a nao ser um pedido de desculpas escrito num cartão. Ele também não me agradeceu os presentes. Todos nos olhávamos tentando disfarçar e fingir que você não morreu. Todos nós jogávamos um punhado de terra para tentar te esquecer. Mas ao mesmo tempo tirávamos dois, e cavávamos desesperadamente quando ninguém estava olhando.




Eu te Amo, Railda. E prometi dar seu nome ao meu primeiro carro. Acho que vai demorar um pouco. Talvez não dê tempo de ter um. Sei que você não se importa.

2 comentários:

Yuri Kiddo disse...

a hora do post foi total coincidência!!!! =o

Alice disse...

vai ver foi ela te dando um oi