Sejam bem-vindos ao outro lado do espelho, onde tudo pode acontecer (e acontece).

Wonderlando é um blog sobre textos diversos, descobrimentos e crescimento. A filosofia gira em torno do acaso, misturando fantasia e realidade de dois amigos que se conheceram também por acaso, Alice - que tem um país só seu -, e Yuri - chapeleiro e maluco nas horas vagas.

Leia, comente e volte sempre... Ou faça como a gente e não saia nunca mais.
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11 de setembro de 2014

Out of season

Não sei se ela te amava. Gostaria de dizer que sim, sei que te faria feliz, mas juro que não sei. Ela era diferente, demonstrava as coisas de outra forma. Pode ter sido amor, pode ter sido carinho, pode não ter sido nada disso, só a convivência, usando as táticas do dia-a-dia. Pediu sinceridade, não foi? Sei que você a amou por muitos e muitos anos, sua devoção sempre ficou clara, nas ações e nas palavras. Importa mesmo se ela te amou de volta? Agora, que ela já se foi? Acho que você nunca vai saber a verdade, ninguém vai saber. Nem ela saberia, se perguntassem, tenho certeza. No começo, acho que sim, foi difícil, você exigia muito dela, mas aprendeu com seus jeitos e sua independência. Confesso que se alguém sabe lidar com pessoas solitárias, você é uma que me vem à mente. Não sei como você faz, eu não conseguiria. Talvez ela tenha reconhecido isso... ela fez suas concessões, no final. Aposto que não foi fácil pra ela, não que tivesse muita escolha, pois dependia de você, mas acredito que ela apreciou o carinho – pode até ter repensado atitudes do passado. Você precisa acreditar também no que os outros dizem, no que viram. Seus braços eram claramente os preferidos dela. Nem tudo que você sente é a realidade, sabia? Por vezes você pode se ver preso numa teia de pensamentos derivados de detalhes e esquece de olhar o todo. Sei que os outros não importam agora, que cada amor é um,  mas você tem amor agora. Cada um ama de um jeito. Veja hoje a companhia que você tem, tem coisa melhor? Não era isso que você sempre sentiu falta? Agora encontrou. O amor se transforma, ressurge, reaparece, sempre. Porque metade depende de você. A outra metade acho que é sorte. Você sempre teve sorte nesse quesito. Talvez agora seja diferente, mas por enquanto não está sendo. Não sei mais o que te dizer. Sua questão, sua dúvida, seus medos... queria poder ajudar mais. A queda no outono, a morte, o frio do inverno, o abandono, não podem deixar que você não perceba os frutos da primavera. Eles virão. Sim, é só algo que falamos, como a resposta automática para o “tudo bem?”. Mas pode ser verdade, não pode? Porque as coisas acontecem... enquanto isso, estarei aqui. Não sou o chão que te amparou no outono, nem fui alguém para te abraçar e aquecer no inverno. Muito menos sou as flores e frutos da primavera. Mas posso ser a esperança do verão.

***

26 de junho de 2014

Tuti

“Recordação, nostalgia, saudades do passado, do que se foi”. Para mim, saudade é futuro do nunca mais: nunca mais um beijo, nunca mais um abraço, um colo, uma foto. Não tenho saudade do que tive, tenho saudade do que eu nunca mais terei... ela nos meus aniversários, ela me chamando, ela no meu casamento. Não quero o passado de volta, só quero ela, envelhecendo comigo, me ensinando a viver bem, a ter paciência, amor e carinho.


Ela mudou o rumo da minha vida. Choro todos os dias pensando em tudo que vou deixar de aprender agora que ela se foi. Dezoito anos nunca seriam suficientes, nem 100, para sentir tudo o que o relacionamento entre eu e ela poderia ser. Se sua presença moldou quem eu sou, sua ausência também moldará. Tento não ter medo desse futuro, já que tudo no meu passado com ela é doce. Então acho que tudo tocado por ela será igualmente doce. Mas eu seria mais forte com ela ao meu lado, é difícil confiar que o que tenho dentro de mim bastará.



27 de março de 2013

Eu costumava rir dos meus Yuris, mas hoje eu vou chorar

Irônico.

Eu achava graça de como Yuris cruzavam meu caminho, um tanto vazio, com alegria. Meu primeiro amor, meu melhor amigo e meu grande amor. Agora, só des-graça. A felicidade de um, o terceiro, encobria qualquer pesar passado. Até o presente pesar também.

Um dia, achei o nome abençoado. Não tenho mais certeza. Quando a gente repensa, com olhos cheios d'água, os remendos do passado não parecem tão bem feitos assim. Não chega a ser uma ferida reaberta, mais uma constatação de negligência, da realidade que se passou. De certa forma, não deixa de ser uma versão da realidade.

Fui apaixonada por todos e todos me quebraram o coração.

Meu primeiro amor nunca me notou. Foi um grande amigo, talvez nem tão grande quanto o que eu considerava. Um Yuri que se foi numa adolescência solitária que, apesar de resolvida como adulta, sempre será um período problemático.

Meu melhor amigo tinha muito carinho por mim. Mas a gente nem sempre resiste às pressões de afastamento da vida e de opiniões. Brigamos algumas vezes, que me machucaram muito, não quis mais vê-lo ou falar com ele, por um bom tempo. Mas o carinho existe, ainda bem.

Meu grande amor foi o que todo grande amor é. Logo, a marca que deixa quando vai embora é grande igual. Às vezes eu penso que o buraco que ficou é tão grande que deixa de ser buraco e vira o todo, como se o resto que ficou não bastasse pra se sustentar. Um erro, claro. Mas...

Beckett disse que abandonar não é só ir embora, mas deixar o outro partir também. Ele não foi o primeiro a me deixar partir, mas em outras épocas e outras pessoas, eu conseguia cantar que estava indo para sempre e nada mudaria meus sentimentos. Mas acreditava em outros "para sempre" com meus Yuris.

Alice não é nome de princesa, mas de uma garota que sonha e se perde. Não tem para sempre na minha história, só um "acorda, Alice".

20 de fevereiro de 2013

Blue Valentines



Eu sinto a falta. Eu me esgoelava louca para todos que metade de mim tinha sido arrancada e todos diziam que bobinha, não sabe nada da vida. Daí os todos dizem meses depois que é normal eu sentir essa falta, já que metade de mim parou de existir. Então os todos dizem que papel amassado não volta a ser o mesmo e que a tpm é uma medida de tempo, não tomarás decisões nesta data.


A gente faz nossas vidas com os outros e vamos deixando pedaços pelo caminho. Pedacinhos ou não, pra buscar depois... ou não. Os todos dizem que têm coisas que vão ser inacabadas para todo o tempo do sempre e que a gente aprende a viver com isso. De repente os todos gritam “gol”, mas isso não era pra mim, só ouvi no meio de todo o resto.
 
Tem coisas que não são pra mim. Mas a gente vive mesmo assim.

10 de junho de 2011

Grizzly


Um momento me abate, depois de outro me tirar a franja dos olhos. Andei por outros e desejei o que já tinha. Voei de volta, outra eu, para o mesmo de antes. Vi tudo que ansiava nas nuvens e, tola, imaginei que o tinha. Esqueci que isso eu não tinha. Então não pousei, despenquei. E vi de novo a visão das nuvens e vi que sonhei. O final não era feliz. Chorei e me desesperei, não sabia onde tinha ido tudo para o que ansiei voltar. E assim, tão rápido quanto as coisas mudam nessa história, meu choro fez tudo ser o que era antes, e fiquei confusa e com medo. Vi novamente o delírio das nuvens, e o final triste agora não era tão triste, tinha esperança ali e o prólogo alegre compensava a incerteza que se seguia. Valia a pena, pensei.

Mas, quase sem pontuação e num só fôlego, a visão se tornou música e o final veio antes do esperado. O meio mais breve não avisou que o impacto do triste fim estava logo ali. Por horas e dias ouvi sem parar a trilha do sonho e tudo ficou azul, triste, com tanto espaço e sem esperança. Fui jogada de um lado para o outro da trama, enquanto piscava, e perdi todo o meio. Não sei mais qual visão tive, se a linda e esperançosa, ou a triste e fatalista.

Sinto, porém, que neste frio, um urso cinzento me abraça e esquenta.


25 de março de 2011

Não me escreva

Oi Alice, tudo bem?

Eu estou te mandando esse email porque estou com um certo medo esses dias... de que você tome decisões, bem, não sei...

A questão é que, com poucas palavras, qualquer coisa pode acabar, desde brincadeiras até sonhos. Coisas que até um pequeno post it pode destruir assim, de repente, e tudo se foi.

Alice, saiba que eu te amo... eu sinto como se você sempre esquecesse isso e todo dia eu tenho que te lembrar, toda hora. Até parece que faz de propósito.

Por favor, Alice, eu te peço... você sabe que sempre tive medo das suas ideias. Você é capaz de muita coisa, e é sempre tão sincera que às vezes dói. Muitas vezes dói, na verdade.

Mas sabe... eu andei pensando e parei de deixar as coisas de lado. Comecei a pensar jeitos de te enfrentar, porque não é certo só você ter a razão porque eu não sei me explicar ou pensar rápido. Você acha mil defeitos em mim, mas eu posso te dar mil outros pra você me suportar.

Alice, por favor, me dê só mais uma semana... nesse tempo a gente descobre outro jeito. Só não me escreva aquele email, aquela carta ou aquele post it, tá? Porque eu não vou aguentar.

Te amo (todo dia e toda hora).

***

Alice, não me escreva aquela carta de amor.

5 de março de 2011

Espectadora de mim - Segundo Ato

(Qualquer lugar)

Tâmara

Estou com algum cheiro particular hoje, para esta inspiração tão profunda?

Homem

Não... na verdade, você está cheirando como sempre.

Tâmara

Eu tenho cheiro de quê??

Homem

Nada, cheiro de nada.

Tâmara

Nossa, tão incomparável assim?

Homem

É estranho, mas você não tem cheiro de nada. Sempre te cheiro procurando um cheiro de alguma coisa, mas nunca encontro nada. Nada nos cabelos, nos abraços, nem nas minhas roupas depois de uns amassos nervosos. Nem nas toalhas que te empresto, nem na minha camiseta que você usa pra dormir. Nem no travesseiro.

Tâmara

(Nervosa) Quer dizer que quando diz que estou cheirosa, é apenas o Dove, o Elsève ou o Armani?

Homem

Agora você está exagerando.

Tâmara

(Mais nervosa) Então eu tenho cheiro de água. De nada, água. Nem de terra molhada. Nem de chuva. Não é aquela brisa antes da tempestade. Mas só água. É isso? E eu tenho gosto de água também, sem gosto?

Homem

Você mata minha sede. Um oásis na areia.

Tâmara

Nhóóóóó.

(Foco na frente, entra A)

A

Mulher é isso. Idiota. Acredita em qualquer merda. Ainda mais quando na fase Tâmara de ser. Tâmara é domada facilmente com elogios piegas no início de todas as relações. Um domador experiente sabe lidar muito bem com este animal selvagem. Mas um homem de pouco tato...


***

Na onda dos cheiros.

16 de fevereiro de 2011

A melhor Alice - 5 anos

Calavera, tive dificuldades [de tempo e de escolha].

Entre favoritos, como Companheiro, Pareidolias, Desabafo em 2 tempos - II e Espectadora de mim, escolho este de junho de 2009, que é atemporal, inteligentíssimo, inocente, surpreendente e melancólico [não nesta ordem]:

Meu coração é na esquerda

domyp wir rdypi frdçpvsfs ´sts s fotroys

´rtfo ,ri vpts~sp

***

sabe quando a gente digita rápido, sem olhar para a tela ou teclado e só depois percebe que está tudo errado, pois estava digitando uma tecla além para a direita?

---------------------------------

Ao Wonder o que é de Wonder, então toma! 5 anos pra nós, parabéns!!!
[será que no Wonder se conta idade igual de cachorro?]

15 de fevereiro de 2011

O melhor Yuri - 5 anos

Para o 5º ano do Wonder, escolho o melhor do meu parceiro.
Este texto é de março de 2008.

***

Where Do You Go To (My Lovely)

O telefone toca. Acordo. Ele toca diferente. Eu acordei diferente, e posso dizer exatamente quem é do outro lado da linha. Mesmo que tenhamos ficado muito tempo sem nos falar. Sua voz ainda soa claramente limpa e doce em meus ouvidos.

- Alô?!

Neuilly Park Hotel, 23, rue Madeleine Michelis. É para onde ela está indo. Exatamente onde eu estou. Paris nunca pareceu tão bela. Tão bela e injusta.

Termino de escrever uma baboseira ou outra em rascunhos mais perdidos que eu, coloco uma música e vou tomar banho. Não sabia quanto tempo fazia que não tomava um banho. Minha barba também não está apresentável. Já não sabia quanto tempo fazia que eu não saia na janela. O cheiro da França nunca tinha sido tão suave.

A campainhia avisa que só a porta nos separa.
- Feliz Natal - ela esparrama as palavras que dividem atenção com os gestos de suas mãos. E o mesmo sorriso de antes.
- Você fez luzes no cabelo.
- Estou aqui. Gostou do presente? - Meu presente... Meu passado. Gostava do meu presente sem ela. Mas dela eu gosto muito mais.
- Não vai me convidar para entrar? - Ela já estava entrando, e sabia que não precisava de convite algum. Na verdade, ela nunca havia saído.

Um abraço. Nós ainda encaixamos perfeitamente. É como se tocasse sua pele baunilha sob suas roupas, como seu eu fosse seu próprio cheiro. Sentia seu coração inseguro como se sussurrasse segredos com o meu pedindo abrigo em mim. Aqueles segundo pareciam eternos. E se pudesse, diria sim.

Cigarros. Nunca mais havia fumado desde que ela foi embora. E lá estávamos.

- Que flores lindas!
- É. É mostarda. Você sempre duvidou delas.
- São lindas.
Você é linda.

Nos beijamos exilando a tensão que nos cercava. Ela passava segurança, mas suas mãos não. Suas mãos suavam pelo meu corpo enquanto eu a despia e a cercava de dentes. Uma marca de cigarro que antes não tinha. Um olhar triste que eu não conhecia. Ela respirava em cima de mim.

- Você não deveria ter me encontrado.
- Você não deveria ter vindo para um lugar tão óbvio.
- Talvez no fundo eu quisesse...
- Pensei que fosse ficar em Champs-Élysées¹. Combina com você.
- Pensei em ficar lá. Mas combina com você.
- Sabia que iria te encontrar por aqui.
- Viva la résistance!

Uma longa pausa. Um longo beijo. Ela diz o óbvio:
- Eu vou embora.
- Pra onde?
- Pra longe.
- Eu acho que também vou. Alemanha ou Amsterdã, ainda não sei... Fiquei tempo demais aqui.
- A Alemanha engorda. E vai te partir o coração.
- Mais do que você eu acho que não.

Ela levanta. Pego três flores de mostarda e coloco em seus cabelos. Ela fica perfeitamente bela vestida só com flores. Como Paris. Eu não queria deixar a França, e não queria deixá-la. Mas que escolhas eu tenho? Ela sabe porquê estou aqui, que escolhas eu tenho?...

Silêncio.

- Quer ver a visão que eu tenho de Paris? - Ela concorda com a cabeça. Pego em sua mão e caminho em direção à sacada. Então, no meio do caminho, coloco-a em frente a um espelho e a abraço por trás. Dançamos a noite inteira. A última de várias outras últimas.

***

Acho este texto lindíssimo, inspirador. Um lado seu que aprecio sempre.

Parabéns, Wonder!

31 de dezembro de 2010

Novidades

Este foi o ano das novidades. O final de 2009 já anunciou que tudo seria diferente dali em diante e decidi mergulhar de cabeça em deixar essa parte de mim dar as caras frequentemente. Tudo foi meio estranho no final do ano passado, mas me mudou de tal forma que comecei 2010 apostando em coisas novas. E fiz: mais de 365 novidades em 365 dias!

Parece muito, mas aprendi duas coisas com essa aventura: 1) que eu era uma pessoa muito privada da vida! e 2) que não ligamos para as pequenas coisas novas que fazemos todos os dias. Por exemplo: eu nunca tinha andado de shorts no ônibus, ou comido uma ameixa ou pintado minhas unhas. São coisas banais, que ninguém acredita que eu nunca tinha feito antes. Mas também fiz coisas como ir à casa de novas pessoas, ir a novos lugares, experimentar coisas... tudo possível no dia-a-dia. Fiz, claro, coisas inusitadas também, sendo a mais estranha ter ido a uma casa de swing. Em 2011, pretendo continuar com minhas novidades.

Este ano, porém, teve outras novidades. “Conheci uma pessoa”, é a peça na qual eu opero o som. Ela ainda está em cartaz. Não parecia muito boa quando comecei a fazer, mas aprendi a rir com ela e gostar muito de seus detalhes – e odiá-los também. Sempre temos maus dias, mas me divirto com ela. Em 2011, continuarei amando fazê-la.

Além disso, meu irmão foi para a Inglaterra. É estranho não o ter comigo sempre. Mas o Skype ajuda e ele está gostando muito. Em 2011, vou visitá-lo, estou ansiosa.

Uma amiga está grávida. Serei tia de um menininho. Em 2011, espero gostar mais de crianças.

A faculdade acabou. Eu me formei. Sou psicóloga. E agora? Acho que vou fazer um curso de adestramento para, um dia, trabalhar para o bem estar canino. Não há nada que eu ame mais que cães. Em 2011, farei isso dar certo.

E, se minha calcinha do ano novo passado funcionou, desse ano há de funcionar de novo! Para dar continuidade à minha fase amarela, vou de amarelo e trarei dinheiro! Mas quero também ter coragem para fazer dar certo meus sonhos.

22 de outubro de 2010

Sobre um suéter

Cantava.

“I want to have fun, I want to shine like the Sun, I want to be the one that you want to see, I want to knit you a sweater, want to write you a love letter, I want to make you feel better, I want to make you feel free”. Faltava o suéter. Aceitei o desafio e coloquei-me a aprender como fazer um. Comecei pela cor, lógico, o que eu já sabia. Azul-royal, já que ele, bobo, me disse que essa era a sua cor. Ri da surpresa na resposta sobre a cor favorita, pois não bastava ser “azul é a cor que mais gosto”, nem o já estranho “azul-royal é minha favorita". Tinha que ser “azul-royal é a minha cor”... havia perguntado a predileção, não sua destinação cósmica de cor! Ele riu comigo.

Então, aprendi o resto. Mas logo percebi o tempo que isto me tomaria. Não seriam dias, nem semanas. Seriam meses e meses... um grande investimento. Suspirei. Decidi ir em frente.

Escolhi com cuidado a linha, o tipo de costura e fiz um planejamento de onde queria estar ao final de cada mês. Ele, só observava... deixou todas as decisões para mim – mesmo sendo o suéter para ele.

No início, funcionei como de costume: dediquei-me e trabalhei muito. Nenhuma trança sequer fora de ritmo. Porém, os dias passaram.

Num desses, ele me perguntou como poderia sair com o suéter no tempo, de chuva e vento. Mas como! Mal começado e já com essas perguntas... pressionava-me para uma data de entrega e cogitava a possibilidade de expor meu lindo presente a tais condições perversas. Como poderia imaginar isso em tão pouco tempo de costura? Não me entendeu. Ficou em silêncio na beirada da cama... aposto que imaginando ser aquela época do mês. Dormi enfurecida, enquanto ele me olhava. Não devia.

Acordei. Triste. A vontade de tecer o suéter se foi e eu queria ir junto. Esses detalhes significavam muito, delatam como somos e predizem o futuro. E não gostei do que vi. Decidi ir e fui. Ele nem se mexeu. Mas devia.

Foi a primeira vez que deixei nosso canto. Não encostei mais no suéter. Senti a falta dele, mas ele não veio me buscar. Minha dor aumentava e decidi dar mais uma chance e ignorar os efeitos dos detalhes. Voltei. Assim, de repente. Agora que ele ia pensar mesmo que o que se passou foi a época do mês. Mas não foi.

Surpreso, levantou-se depressa para observar-me novamente tecendo o suéter no meu colo. Eu sorria, pois a saudade era tanta e senti-me boba por ter-lhe deixado. Remendei as linhas que tinha deixado fora do planejado e dormimos juntos.

O inverno chegou. E a vontade de partir também. Os detalhes voltaram para confirmar o futuro de meses atrás. Ele me fazia querer partir, a linha, a agulha, os remendos... tudo. Fazia tudo como um bobo, inclusive silenciar-se na beira da cama. Acabamos dormindo, sem palavras, sem respostas, sem decisões, sem nos tocar.

Acordei e fui. Ventava e estava frio, mas não me importei. Deixei meu lindo suéter para trás... aos pedaços e inacabado. Ele ficaria no frio o restante do inverno, assim como me deixou quando este começou. E em silêncio continuaria, na beirada da cama, imaginando como resolver nossos detalhes. Imaginando o suéter acabado, imaginando ser do meu agrado. Imaginando chorar ao não me ver. Imaginando buscar-me. Mas ele me deixou partir.

“Do you see how you hurt me, baby, so I hurt you too. And we both get so blue...”

Cantava.

28 de setembro de 2010

Companheiro

Contente cheguei com colegas. Clube caótico, concorrido. Cruzei com conquistador certeiro. Criteriosa como costume, contrariamente convenceu-me. Curiosa, convidei-o com coragem, convoquei-o com cada cara charmosa. Cego... cortou-me com costas!

Cadê?!

Cá! Cantando com colegas, comigo conjuntamente. Chantageei-o com curtas cobertas cobrindo coxas, caindo cuidadosamente com chão. Chato, cessou contato!

Caramba... cadê?!

Contando cada canto, consegui calar comigo carnais chances.

Choque! Cá, compartilhando comigo calorosa calmaria. Como conseguir? Comecei criando contato: caminhei casualmente cabisbaixa. Cruzamos com compostura... corei! Cravei cobiça carnal. Cabe comportar-me com classe convincente, cedendo caras com chances concretas.

Cruzamos, correspondeu-me claramente com cara convidativa.

Calma... chama-me!

Calma... convide-me!

Calma... conquiste-me!

Canalha! Chega, cansei!

Cerco-o com corpo, cicio cínica charada “cansei, camundongo”. Cortês, comigo concorda. Concedo chance conquistadora... contesta-me “cual ceu cigno?”.

COMO?!?!!?!?!

Conquistou... como compreender?

10 de setembro de 2010

Como eu quero*

De repente solta um “fica quietinha aí” sem nem perceber que pegou pesado na brincadeira. Não quero que fale assim comigo. Muito menos que pegue seu violão pra tocar duas notas de cada música que conhece. Assim você não vai me conquistar. Eu quero você tocando uma música inteira pra mim, sob minha janela, com cara de mistério. Sem piada boba, eu quero você sério.

Sabe o que vou fazer? Vou te passar a tinta. Tirar-te deste rascunho borrado por outras, vou te transformar em arte final. Longe de mim, nada dá certo pra você. Deixa eu te ensinar como ser bem melhor. Isso já estava decidido desde o início, não há como fugir. Você entrou sabendo da cilada, que seria cada um por si, menos você, que será sempre por mim.

Eu quero você como eu quero. Cara de mistério, sempre sério...

***

* Kid Abelha - "Como eu quero"
** Kid Abelha, que nem gosto, mais uma vez de fundo dos meus relaciona-mentos.

31 de agosto de 2010

Imagino

Imagino que se fosse honesto comigo, eu não ficaria tentada a olhar suas coisas na sua ausência. Fazia-o antes por curiosidade, para conhecer o que ainda não havia dividido comigo, descobrir seus hábitos secretos e suas organizações. E, claro, porque era proibido.

Imagino tantas coisas sobre você. E tudo que te envolve quero que me envolva também. E tudo que me envolve, quero que saiba. E tudo que tenho, quero que seja em parte seu também, pois o que é solitariamente secreto perde o gosto. Mesmo que não ativamente presente, seria um pouco nosso, se ao menos soubesse.

Imaginei na festa tomar posse da guitarra abandonada na pausa, atrever-me a ser ridícula e cantar para você a música que havia escrito. Mas não sou sem-vergonha, sou imaginativa apenas. E, no mais, meu medo agora de fazer tudo errado é demasiado grande para tentativas como tal. A frustração virou degustação.

Imagino ser surpreendida, ser preenchida ao menos uma vez nas expectativas que crio na minha cabeça.

Imagino nossas discussões terminando. Chegando a um entendimento que perdurasse além do momento, chegasse a um ponto final. Sem mais continuações, exclamações ou interrogações.

Imagino suas cartas, suas promessas realizadas. Imagino os tesouros ali contidos para por tanto tempo privar-me delas, suas palavras. Imagino todas as coisas que não me diz, as coisas boas, os charmes há tanto deixados de lado.

Imagino o que elas ganham de você. Por que elas têm os seus sorrisos e eu os silêncios pesados? As mensagens sem retorno?

Imagino o que fiz para tudo estar assim e o que deixei de fazer. Imagino o que mais tentar e chego sempre ao vazio. Esperar é doloroso, perdoar também. Mas ter que escolher entre estes é ainda mais sofrido.

Imagino o que pensa agora. Não, esta não é mais uma. Faço isso para me desarmar das dores. E tentar sofrer menos sozinha. Imaginei que minhas palavras, ditas ou escritas, fossem te tocar. Imaginei que meu chorar não fosse mais te irritar, mas apenas mostrar o quanto tudo pesa para mim também e de como você é importante o suficiente para eu aturar essa Alice que eu tanto desgosto para que você faça a Alice, que aqui se esconde por medo, reaparecer.

Ouvi Tom Waits e imaginei que tivesse sido você quem escreveu tais versos para mim.

E, entre tantos imaginar, percebo que vivo um relacionamento platônico nos momentos em que me convém.
(22.03.09)

25 de junho de 2010

Yuri

Há anos, o nome Yuri continua aparecendo significativamente para mim. Fora todos os 4 Yuris marcantes na minha vida, tenho certeza que ainda vou casar com um Yuri, ou vou ter um filho Yuri ou, muito mais provável, um cão Yuri. E outro Iuri, e outro Iury, e outro Yury...

O primeiro, amigo do meu irmão, lindo, cobiçado no colégio, usava tiara (época de Cauá Reymond em Malhação), veio dormir em casa. E depois, ah, ele me cumprimentava no colégio... com a mão na cintura ainda! Isso significava muito naquela época, hoje, nem tanto. Paixão platônica e só.

O segundo caiu perdido na minha classe, loiro, dentes um pouco tortos, nariz grande, cabeludo, uma graça. Todas as meninas gostavam dele também. Virou meu melhor amigo e meu primeiro amor. Com ele descobri o valor da amizade masculina - coisa que eu nunca mais vou dispensar. Ele nunca me olhou com os olhos que eu secretamente queria, mas publicamente negava. Às vezes, bem raramente, sinto o cheiro do perfume que usava e lembro com um grande carinho dele e da nossa aliada caneta bic verde.

O terceiro eu odiava. Mesmo. Cara tosco, metido, com cabelo cacheado como o primeiro e dentes tortos como o segundo, se achava o gostoso e mano do rap. Por meses o odiei. Até que fomos apresentados e nem sei como já dividíamos um blog. Ele me encantou de tal forma que me apaixonei. Platonicamente, como nos dois anteriores, ele também nunca me olhou com aqueles olhos. Até que eu cresci e virei mulher. Então, me viu. Um pouco tarde, mas assim foi melhor, melhor amigo, isso foi, isso é, isso continua firme. Com muito amor.

O quarto, desconhecido, barbudo, misterioso, dentes um pouco tortos também, ficou só me observando, tímido. Fui me apresentar e, quando ouvi o nome Yuri, soltei um incontrolável "Ah, não! Jura?". Como podia? Sou um imã de Yuris. Enfim. Yuri, o quarto, se tornou. E se mantém me mostrando outros "Ah, não! Jura?" - coisas maravilhosas que eu não acreditava que podiam existir, mas que existem.

Meus Yuris me fizeram e me fazem muito feliz. Nome abençoado.

***
Se você se chama Yuri e ainda não me conhece, entre em contato! Seja você também parte desta história de amores! Mande um email para: alice.frank@gmail.com
(Sujeito a número de vagas)

19 de maio de 2010

Sobre cabelos

Quando passaram a mão em meus cabelos, me perguntaram se você dedicava horas a afagá-los. Parei por segundos e viajei a uma cena, não aquela em que você me incentivava a cortar meu cabelo curto, cheio de personalidade, mas a outra cena. De tão infeliz que foi e de tão envergonhada que me sinto por isso ter acontecido, não vou dizer mais nada. Só que, quando essa digressão terminou, virei para os que me perguntaram com olhos chorosos e disse “não”.

***

Então, chega a meu conhecimento um tal devaneio. Não sonho, mas aquelas experiências sensoriais semioníricas. Seguem segundos de apreensão sobre o conteúdo. Será que quero saber, será que consigo aguentar, o que será? Como uma eterna curiosa, nunca direi não. Então, peço que me conte. E descubro que a dúvida paira dos dois lados: não sabe se eu devo saber também. Mas me conta e me alegra. Digo novamente sobre a timidez que tenho nestes contextos, algo que você ainda não vê. Dirá que não se importa, verá minha vulnerabilidade inicial.

Pensou que passava a mão no meu cabelo.

***

No banho, pedi que lavasse meu cabelo, só por preguiça e porque você é mais alto. Fechei meus olhos para que não me cegasse com a espuma. Embaixo do chuveiro, senti a água escorrendo e tapando meus ouvidos. Então me lembrei da minha mãe lavando meus cabelos quando eu era pequena e senti seus toques suaves, retirando o shampoo de todos os fios, até dos mais escondidos. Quando terminou e quis ser adulto, pedi um segundo para aproveitar minha infância, nunca havia me recordado disso.

E foi neste dia que cantei “All I Want” de Joni Mitchell e disse como ela falava sobre mim. Você significou uma parte da música que ainda não fazia sentido... agora só falta eu aprender a tricotar um sweater.

19 de abril de 2010

Taking these broken wings and learning to fly

É horrível sentir que se deve ao passado. É uma dívida que não se pode nunca pagar, uma dívida eterna, que me tem sido sempre lembrada e cobrada por você. Isso porque quem de fato deve algo é você. Me deve tanto... mas tanto. Porém, eu já havia feito minhas pazes com isso. Seria uma ferida constante, mas que me ensinou onde não colocar o dedo pra não me machucar. Então tudo bem. Não, seria tudo bem se ficasse por isso. Se seu arrependimento bastasse pra manter essa minha visão, se seu carinho por mim bastasse para eu saber que tudo não foi perda de tempo, se sua preocupação comigo bastasse para eu saber que não fui uma idiota. Mas seu arrependimento, seu carinho e sua preocupação são pesados julgamentos sobre quem eu sou agora, quem é essa Alice, cuja vida você não acompanha mais. E sente-se no direito de reclamar, de se chatear, de criticar uma Alice que você dispensou. Eu fico tão magoada por ouvir suas insanidades que não fazem sentido algum para mim. Mas acho que está claro que são tentativas de não me soltar. Sendo que tudo o que você quer são memórias e isso você já tem. Não posso te dar mais nada do que pede, ou você aceita o que eu dou ou me deixe sozinha, sem cobranças.

Se sou seu passarinho, sabe que odeio gaiolas. Não me protegerá assim. Seu momento de proteção já foi e você falhou. Se me deixou ir num dia chuvoso, me deixe ir quando está sol para mim. É justo comigo, não acha?

19 de março de 2010

Primeira tentativa

Nunca havia visto você chorar. Você já me viu tantas vezes... naquele mesmo dia, eu chorava e você olhava. Suas reações ambivalentes são duas: ou me manda parar de chorar, com sua estupidez oculta num falso “por favor”, ou me abraça, atordoado pela dor afligida sem visão de reparo. Sinto que seus instrumentos são escassos. Grosseria ou um mero amparo físico. Suas palavras frágeis não dão conta do momento. Sobre sua falta de sensibilidade, choro mais; sobre sua falta de outras ações de consolo, tento me acalmar para te acalmar. Sei o quanto desesperado você fica quando me fere.

Então por que fere?

Sem respota, coube a mim pontuar a sentença: vi, claramente, seu desespero, ainda coberto pela indiferença do “tanto faz”. Segurou meus pertences como certeza da minha estadia. Veja bem: há o concreto e a ideação. Poderia me pôr em cativeiro, mas eu não mudaria de ideia. Tentei uma saída algumas vezes mais e desisti sentada na cama, a chorar baixinho. Naquele momento, não poderia ter nada do que queria.

Entre grosserias e brutalidades, desatei a desistir. Chorei para expelir-te de mim. De dentro pra fora. Ao meu lado, me abraçou. Tentava tirar-te de dentro de mim e você lá, tentando se colar dentro novamente.

Tempo se passa, as posições se alteram. Frente a frente, evito seu olhar para chorar comigo mesma. Em território inimigo, nos escondemos como podemos. Você, também, conversa consigo mesmo. E chora. Desconfiada, observo para ver o quão real é, será que é teatro? Ao ver seus lábios vermelhos tremerem, reconheço tal fenômeno, sentido por dentro. Segura o choro, afinal, é isso que os homens fazem. Suas lágrimas escorrem, sem olhar para mim.

Em busca da verdade dita, questiono “por que chora?”. Ouço um discurso sobre minha ausência. Percebo que você senti-la-ia mais do que o inverso. Se é assim, te abraço.

Se você não quer me perder, por que tenta?
(09.03.09)

14 de março de 2010

Adeus, Rambo

Rambo era um cão inteiro preto, forte e simpático. O dono das terras. Todos o obedeciam, era o chefe da matilha. Mandava os outros cães correrem, voltarem, latirem ou ficarem quietos. E, como um bom chefe, era o mais esperto. Sabia pular a sacada e ficar na varanda, pois tinha direitos, era o mais velho de lá. Bastava uma virada de rosto e Rambo entrava e se sentava num tapete ou numa cadeira.

Com o passar dos anos, Rambo foi envelhecendo. Já não corria com os outros, mas ainda comandava a matilha. Em seu lar, era o único com uma casinha, na qual se lia "RAMBO".

Nestes últimos anos, Rambo estava velho e doente. Saía pouco de casa, latia pouco, andava com dificuldade. Fedia. Fedia muito, tinha problemas de pele. Mas quando viu um de nós, encostava seu pesado e cansado corpo no nosso, pedindo carinho.

Soube hoje que ele estava muito mal. Uivava muito de dor. Até que não se ouviu mais seus uivos. Quando foi-se verificar o que aconteceu, Rambo estava na represa. Acredito que ele viveu tudo o que quis e decidiu seu fim.


15 de fevereiro de 2010

4.

Para o futuro, promessas de mais. Quanta coisa boa por aqui. Vejo livros, vários deles, cheios de ideias expostas e furtivas por trás de um milhão de caracteres.

Eu sempre me impressiono por mais um ano.
Eu sempre me emociono com cada texto. Toda vez que eu leio.

Porque é tudo verdadeiro.

Obrigado Lice, pessoas que me inspiram (escritores, pensadores, amigos filósofos e não-filósofos, musas) e a todos que leem e principalmente, que comentam - só sinto vontade de explorar e escrever mais.

4.

***


Desde o começo, sinto uma empolgação estranha por aqui. Cada texto meu é feito com desejo e carinho. Eu cresci aqui. De verdade. Minhas melhores partes estão aqui, meu melhor olhar, minhas melhores ideias, meu melhor amigo.


Eu amo esse lugar e tudo que há nele. Nossa amizade de iguais 4 anos já me é tão longa que nem ao menos me lembro ao certo como deixei de te odiar e decidimos criar esse local. Mas lembro que nosso nome veio dos meus longos dedos tocando errado o teclado.


Aprendemos e crescemos com nossos erros.