Sejam bem-vindos ao outro lado do espelho, onde tudo pode acontecer (e acontece).

Wonderlando é um blog sobre textos diversos, descobrimentos e crescimento. A filosofia gira em torno do acaso, misturando fantasia e realidade de dois amigos que se conheceram também por acaso, Alice - que tem um país só seu -, e Yuri - chapeleiro e maluco nas horas vagas.

Leia, comente e volte sempre... Ou faça como a gente e não saia nunca mais.

11 de dezembro de 2007

A árvore

A cada metro mais, nosso silêncio aumentava. Nossos olhos abriam, as cabeças giravam procurando sinais. Sintomas do tempo. E nada. E nada. Só mais nervosismo. Piadas tentavam diminuir as tensões, mas passavam em branco. Mais rápido, mais rápido. Como se corrêssemos para o hospital com sangramentos e contusões. Um parto complicado, e o oxigênio se acabava.

A estrada de terra nos chacoalha. Os ácidos dos nossos estômagos eram jogados para todos os lados. O que nos espera? Um primeiro sinal, um segundo, um terceiro. Cenas da guerra.

A já estreita estrada estava ainda mais fechada. Galhos e galhos, cortados, jogados nos cantos, aos montes. Carros e curiosos por todos os lados. E nós ainda sem saber como tudo estava. Desci correndo, pulando galhos, desviando, escorregando no barro e vi. Vi as tantas direções que este texto poderia tomar.
*
Papai finalmente conseguiu minha sonhada casa na árvore. Os galhos eram assentos, subíamos, e entrávamos na casa. Porta de folhas, noc, noc. Venha tomar um chá comigo.
*
Chorando ela caiu. Chorava ainda deitada, sangrava, me manchava ao abraçá-la. Perdia sua alma nas torções, nas rachaduras, em cada habitante que a deixava. O caos na floresta. O bichos fugiam para onde podiam, assustados, perdidos, agarrando no que podiam, no que parecia estável. Muitos eu carreguei em meus braços, aceitando as mordidas de temores, compreendia. Estava assutada também. Mas procurei abrigo para eles, afinal, alguém tem que se manter no chão. E também, suas casas tinham se tornado a minha casa. Era minha mínima obrigação prover novo lar.
*
Éramos o pior caso. Viramos ponto turístico. Curiosos pipocavam querendo tirar fotos, simpatizantes. Isso foi... conforto. A gente sempre se sente um pouco melhor quando tem alguém pior que nós, e normalmente tem. Mas nós éramos o pior e fomos acolhidos. Claro, que não por quem queríamos e deveríamos ter sido auxiliados. Burocracia é... vou parar por aqui.
*
O que nos resta é a verdade. Foram 30 metros jogados sobre nós, uma cena impressionante, difícil de acreditar. Água por toda a casa, eu e minha mãe movendo colchões, meu pai na serra elétrica e meu irmão pegando os galhos. Muitos galhos. Na entrada, sobre o telhado, quebrando as telhas, no meio do teto do quarto. Pensamos ser mais que 20 toneladas.

Puxa, 20 toneladas de árvore é muita árvore.

Um comentário:

Milla disse...

Ééé...

Um outro lado de criança.

É bonito porque tem sinceridade senão seria algo triste apenas.

Beijo