Sejam bem-vindos ao outro lado do espelho, onde tudo pode acontecer (e acontece).

Wonderlando é um blog sobre textos diversos, descobrimentos e crescimento. A filosofia gira em torno do acaso, misturando fantasia e realidade de dois amigos que se conheceram também por acaso, Alice - que tem um país só seu -, e Yuri - chapeleiro e maluco nas horas vagas.

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21 de fevereiro de 2011

Estragado

Todo dia ao ir trabalhar passo por uma estrada. Todo dia eu sinto um cheiro. Cheiro de morte... Não! Morte não! Morte tem cheiro doce de mulher, cheiro que acalanta as dores, dá prazer e conforto de flor.

É amargo de sentir na boca, repulsivo de fazer careta. Cheiro fétido de carne. Cães, pássaros, homens, mulheres, crianças, ratos. Na morte, somos todos iguais. Fedemos iguais.

Quando eu volto, faço o mesmo caminho. Há outros caminhos, mas repito para sentir aquele cheiro e tentar decifrar de onde vem. Dos céus, das matas ao redor do asfalto ou de algum cativeiro improvisado que teve um final ruim.

Os dias se passam e a podridão é cada vez mais evidente, cada vez maior e mais longa. Não está mais somente na estrada, aos poucos domina por toda parte.

Vem comigo,
vai comigo,
sempre
com
igo.

E nisso tudo eu fiquei pensando que se eu morresse, gostaria que houvesse uma forma de morrer em flores, em campos perdidos e virgens de flores. Mas não há fuga quando a própria natureza fede.

Debaixo do meu nariz está o cheiro toda vez que eu cheiro. Cheiro que passa a me perseguir mais que eu a ele. Me segue até o trabalho, meu quarto, no busão... Não sai no banho, nem quando eu durmo. Nos meu sonho, o cheiro de corpo morto é tudo que já perdi e deixei estragar mas não consigo deixar ir. Cérebro morto. Mal cheiro que se mistura comigo, como se fosse meu, como se fosse eu.

Um corpo vencido. Me venceu.

3 comentários:

MaJu disse...

temumcaramortodebaixodasuajanela. que mal estar. que texto maldito. ..

Yuri Kiddo disse...

no dia seguinte, alguém deu sua vida pra ficar fedendo na porta... coincidentemente, isso rende outro texto!

Anônimo disse...

Eu gostei do final demais.