É amargo de sentir na boca, repulsivo de fazer careta. Cheiro fétido de carne. Cães, pássaros, homens, mulheres, crianças, ratos. Na morte, somos todos iguais. Fedemos iguais.
Quando eu volto, faço o mesmo caminho. Há outros caminhos, mas repito para sentir aquele cheiro e tentar decifrar de onde vem. Dos céus, das matas ao redor do asfalto ou de algum cativeiro improvisado que teve um final ruim.
Os dias se passam e a podridão é cada vez mais evidente, cada vez maior e mais longa. Não está mais somente na estrada, aos poucos domina por toda parte.
Vem comigo,
vai comigo,
semprecom
igo.
E nisso tudo eu fiquei pensando que se eu morresse, gostaria que houvesse uma forma de morrer em flores, em campos perdidos e virgens de flores. Mas não há fuga quando a própria natureza fede.
Debaixo do meu nariz está o cheiro toda vez que eu cheiro. Cheiro que passa a me perseguir mais que eu a ele. Me segue até o trabalho, meu quarto, no busão... Não sai no banho, nem quando eu durmo. Nos meu sonho, o cheiro de corpo morto é tudo que já perdi e deixei estragar mas não consigo deixar ir. Cérebro morto. Mal cheiro que se mistura comigo, como se fosse meu, como se fosse eu.
Um corpo vencido. Me venceu.
3 comentários:
temumcaramortodebaixodasuajanela. que mal estar. que texto maldito. ..
no dia seguinte, alguém deu sua vida pra ficar fedendo na porta... coincidentemente, isso rende outro texto!
Eu gostei do final demais.
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