Não sei se ela te
amava. Gostaria de dizer que sim, sei que te faria feliz, mas juro que não sei.
Ela era diferente, demonstrava as coisas de outra forma. Pode ter sido amor,
pode ter sido carinho, pode não ter sido nada disso, só a convivência, usando
as táticas do dia-a-dia. Pediu sinceridade, não foi? Sei que você a amou por
muitos e muitos anos, sua devoção sempre ficou clara, nas ações e nas palavras.
Importa mesmo se ela te amou de volta? Agora, que ela já se foi? Acho que você
nunca vai saber a verdade, ninguém vai saber. Nem ela saberia, se perguntassem,
tenho certeza. No começo, acho que sim, foi difícil, você exigia muito dela,
mas aprendeu com seus jeitos e sua independência. Confesso que se alguém sabe
lidar com pessoas solitárias, você é uma que me vem à mente. Não sei como você
faz, eu não conseguiria. Talvez ela tenha reconhecido isso... ela fez suas concessões,
no final. Aposto que não foi fácil pra ela, não que tivesse muita escolha, pois
dependia de você, mas acredito que ela apreciou o carinho – pode até ter
repensado atitudes do passado. Você precisa acreditar também no que os outros
dizem, no que viram. Seus braços eram claramente os preferidos dela. Nem tudo
que você sente é a realidade, sabia? Por vezes você pode se ver preso numa teia
de pensamentos derivados de detalhes e esquece de olhar o todo. Sei que os
outros não importam agora, que cada amor é um,
mas você tem amor agora. Cada um ama de um jeito. Veja hoje a companhia
que você tem, tem coisa melhor? Não era isso que você sempre sentiu falta?
Agora encontrou. O amor se transforma, ressurge, reaparece, sempre. Porque
metade depende de você. A outra metade acho que é sorte. Você sempre teve sorte
nesse quesito. Talvez agora seja diferente, mas por enquanto não está sendo.
Não sei mais o que te dizer. Sua questão, sua dúvida, seus medos... queria
poder ajudar mais. A queda no outono, a morte, o frio do inverno, o abandono,
não podem deixar que você não perceba os frutos da primavera. Eles virão. Sim,
é só algo que falamos, como a resposta automática para o “tudo bem?”. Mas pode
ser verdade, não pode? Porque as coisas acontecem... enquanto isso, estarei aqui.
Não sou o chão que te amparou no outono, nem fui alguém para te abraçar e aquecer
no inverno. Muito menos sou as flores e frutos da primavera. Mas posso ser a
esperança do verão.
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