Assistia os diferentes tons de cinza das nuvens em um céu que
não anoitecia, uma noite que não chegava. Feito eu, que só tem começo, que não
tem fim, mas que também não é. Voltei quando ouvi o Trent Reznor pedindo pra alguém ajudá-lo, que ele estava se
afogando, que sozinho ele não conseguiria. Eu também tenho achado que não. Se
eu perder o presente, não sobra nada. Se não tem agora, não tem eu pra ser.
Me olhei. Vermelho como há muito tempo, como deixei que não
fosse mais, e agora aqui. Vermelho. Que meu coração expele e me afoga, engole
meus gritos e pedidos por socorro, me afunda. Comigo. Sozinho. Pra dentro de
mim.
A solidão me ataca, me domina, me desarma, me acompanha, não
me deixa, mesmo quando. Minha sombra é duas, porque ela reflete a minha escuridão e não
é miragem, me toma, me doma, me amedronta, a ponto de. Ligo pra qualquer um, só
pra me ouvir dizer, besteiras qualquer. No violão, um pós-rock minimalista –
pra não dizer infantil, de duas cordas. Pra não dizer ruim. É só o que eu sei
fazer nessas horas. [Ser ruim]. Nas outras horas que foram, naquelas lá que
ainda virão... E mais naquelas e naquelas...
Vou até a janela. Assopro pra ver se me misturo, pra ver se consigo
ir junto com a fumaça, cinza como as nuvens, que vão sem reclamar. Na noite,
ainda não há a escuridão que o inverno prolonga, mas há o frio, agora eu. A
curva do céu está no vão, assim, eu também fui.
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