parte V
Que inferno! Não inferno-inferno, foi maneira terrestre de dizer. Mas que lugar sem fim, sem ninguém. Tá, fui injusta e exagerada, claro. Tenho meus amigos que me acompanham e minha família querida. Só que quando a gente morre, os últimos sentimentos não mudam, infelizmente. Sabe aquela teórica perspectiva que ganhamos quando de longe vemos ou não mais dentro estamos? Então, não existe. Você é responsável por si mesmo e por seu conhecimento. Corra atrás, disse-me Deus. As coisas não ficam claras no depois. Ficam iguais. E eu nem sei se Deus existe mesmo...
Mas segui o seu conselho. Vivi com rancores e remorsos minha vida viva, agora quero ser leve com sempre desejei. Eu tinha que encontrá-lo, meu querido em terra, minha tristeza em morte. Não foi uma surpresa e muito menos uma alegria. Mas fingir sentir o abraço dele não é a mesma coisa. Então eu andava dispersa a sua procura.
Mas segui o seu conselho. Vivi com rancores e remorsos minha vida viva, agora quero ser leve com sempre desejei. Eu tinha que encontrá-lo, meu querido em terra, minha tristeza em morte. Não foi uma surpresa e muito menos uma alegria. Mas fingir sentir o abraço dele não é a mesma coisa. Então eu andava dispersa a sua procura.
Yuri: Lice?
Ahhh, seu famoso “Lice”. Sorrio por dentro
Alice: Eu tava te procurando.
Yuri: E eu te esperando. Mas como que você sabia que eu tava aqui, se fui eu que te matei?
Ele se levanta
Alice: Eu te matei também, esqueceu?
Ele ainda esquece tudo
Yuri: Ahhh [longa pausa]. É verdade.
Alice: Você não vem aqui me abraçar e pedir desculpas?
Ele me abraça. Que bom... há quanto tempo queria senti-lo de novo
Yuri: Minhas desculpas estão nos comprimidos que tomei... por sua causa.
Alice: Você acha que essas “desculpas” são suficientes por tudo que você fez comigo?
Aquilo saiu sem intenção. Acho que eu ainda estava chateada com ele. Ele se incomodou tanto com o que eu disse... colocou a mão na cabeça e deu uns giros. Ele pára e fica de frente pra mim, me olhando nos olhos
Yuri: É verdade. Desculpa, só queria que... na verdade, eu te matei de forma egoísta queria mostrar as chances que você tinha, mas quem acabou tirando elas de você fui eu. Minha vida acabou ali.
Como se saber que a vida dele ter acabado ali fosse me fazer sentir melhor. Não queria que tivesse acabado
Alice: Você tinha tantas outras maneiras de fazer isso... por que assim? O que eu fiz pra gente terminar assim, onde eu falhei com você?
Yuri: Você não fez nada Lice... você foi perfeita. Nem sei porquê fiz isso, você era uma das minhas melhores amigas, minha companheira. Na verdade, acho que fiquei maluco, mas quando morri tudo voltou a fazer sentido.
Ele abaixa a cabeça. Senti sua sinceridade. Melhor abraçar ele
Alice: Eu imaginei... mas precisava perguntar.
Yuri: Hm [Depois de um tempo] Senti sua falta.
Alice: Eu também. Que bom que você tá aqui.
Ele sorri
Yuri: E aí, o que cê tem feito?
Depois de tudo que passamos, é isso que ele quer saber?
Alice: Você não quer saber por que eu te matei?
Yuri: Não, acho que já tá bem claro.
Odeio quando ele fala com desdém... mas pelo menos me deu o alívio de saber que ter dado os comprimidos a ele foi o melhor, mesmo não sendo o melhor pra mim
Alice: É porque eu sou clara nas minhas ações e você não é. Daí eu fico com minhas dúvidas e sem nunca te entender.
Yuri: É, eu também não me entendo. Na verdade não entendia.
Alice: Então, se entende agora, me explica.
Nossa, eu falei isso com tanta raiva... não queria que tivesse saído assim
Yuri: Nossa Lice, quanto rancor. E com toda razão.
Que cínico
Alice: Mas o que você esperava de mim?
Yuri: Esperava que você nunca mais fosse olhar na minha cara. Eu tinha medo de te encontrar por aqui, mesmo te procurando sempre. Tinha medo que você me rejeitasse, por isso fiz o que fiz antes que isso acontecesse.
Alice: É, eu devia te odiar mesmo. Mas não consigo...
Ele me interrompe com um baixo “que bom”, mas ignoro, porque ele não tem esse direito
Alice continua: ... Apesar de tudo, eu te entendo. Sei porquê fez tudo, mas eu precisava ouvir de você. Você nunca me fala nada, queria que você admitisse e se colocasse no meu lugar.
Yuri: Eu nunca achei que merecesse atenção e amizade por causa disso.
Como assim?! Que egocêntrico
Alice: Mas as pessoas sempre gostaram de você, como você pode pensar isso?
Yuri: As pessoas gostam do mais fácil, do que diverte por alguns minutos. As pessoas não gostam de nada. Eu como pessoa também não gosto de nada e eu como eu não gosto de ninguém.
Infelizmente, eu sei. É triste achar que ele realmente nunca gostou de ninguém
Alice: Eu gosto de você.
Yuri: Nhaaa
Agora ele quer fazer graça
Alice: Mas eu não tenho porquê. Você se matar é por culpa e não por gostar.
Yuri: Também, mas eu gostava de você. Quer dizer, gosto.
Alice: Uhum.
Eu não acreditei
Yuri: E agora, o que vamos fazer?
Por que que ele não se importa se eu estou chateada com ele ou não? Por que ele me ignora e tenta ser normal, como se nada tivesse acontecido? Eu preciso falar isso
Alice: E você já muda de assunto e nem liga pro que eu tô sentindo... se to puta com você ou não.
Yuri: Lógico que ligo Lice...
Alice interrompe: Claro que não! Se você ligasse, você não ia... ahhhh (para e pensa) você não ia fugir e se esconder.
Eu tô tão cansada de não te entender, meu querido
Yuri: Lice, mesmo depois de morto, isso não vai mudar e nossa discussão não vai chegar a lugar nenhum. A gente chegou até aqui. Não tá bom?
Alice: Bom?! Isso é bom?!
Yuri: Não, não! Eu falei errado! Eu quis dizer que já não basta onde estamos? Brigar agora não vai adiantar.
Eu não quero brigar, não estou brigando. Estou falando tudo que deixei de falar por medo de perder ele. E, Alice, não me vá chorar
Alice: Tá vendo como você não liga se eu tô puta com você ou não? Se eu to chateada, magoada...
Ele é a última pessoa que eu queria estar magoada com. Mas ele não faz nada para que eu não mais esteja
Yuri: Eu sei Lice, e você tem razão. Mas eu passei essa eternidade arrependido. Já te pedi desculpas...
Alice: A questão não é essa. Você não faz nada...
Ele me interrompe. Ele nunca me interrompe
Yuri interrompe: Eu já pedi desculpas e fui sincero. Me arrependi de verdade.
Como ele pode achar que eu duvido disso?
Alice: Eu sei que você foi sincero, eu não duvido. Eu só queria não estar mais triste. Queria que você conversasse comigo...
Eu sempre só quis que ele conversasse comigo. Ele abaixa a cabeça, olha pro chão e fica quieto. Eu lhe falo em pensamento mais todas as coisas que ainda não tinha coragem pra falar, afinal ele ainda me intimida. Acho que a gente nunca vai mudar
(SILÊNCIO)
Yuri: Tudo bem. Não tem mais motivos pra não contar as coisas. Já estamos mortos mesmo!
Hãn?!
Alice: Então me conta o que sempre quis contar mas nunca disse.
Yuri: Ew, vai com calma, eu não sei como fazer isso ainda...
Desculpa
Silêncio.
Yuri: E aí, o que a gente vai fazer agora?
Alice: Eu trouxe um dado.
Eu sorrio. E ele me sorri de volta.
[Foi o melhor. Eu repetia, foi o melhor.
O melhor, sim, foi. Repetindo... foi o melhor.
Eu dizia de novo, o melhor. Foi o melhor.
De novo. Melhor assim, repito. Repito.
Melhor. Assim foi, melhor. Foi...
... agora eu sei]
Um comentário:
O seu tb tá fodástico, querida!!
Vc e o YU arrasam (tanto vivos qnt mortos haha)!
Beijo pros dois
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