Foi estranho e incomum. Eu estava dormindo, cansada e feliz das conversas que tive no dia anterior. Pulei da cama, levantei. Ele também. Fiz meu café-da-manhã, minhas torradas pularam da torradeira. Ele também. Beijei minha mãe, dei tchau e fui para o ônibus, corri para não perdê-lo. Ele também. O caminho todo fui pensando nas grandes oportunidades que o dia me guardava. Nas minhas esperanças e possíveis felicidades. Tanta, mas tanta esperança. Ele também, mas uma bem diferente da minha. Havia chegado ao ponto, pulei do ônibus. Ele também. Recebi a mensagem, corri para ver o que estava havendo. Vi pessoas conversando, portas fechando, olhares estranhos. Sim, ele tinha mesmo pulado.
E pulou para se perder no mundo. Sua vida se perdeu na boca dos universitários egoístas. Porque trânsito não é legal para ser tomado em vão. Porque os minutos gastos no ponto de ônibus não compensam uma vida de sofrimento. Pois a vida não era a sua vida.
Ah meu umbigo, como se no mundo só existisse eu e ele. O burro ainda podia ter arruinado a vida de alguém, que perigo, meu Deus! A igreja do lado desmente, espero eu. Se não ela, eu. Onde foi parar o garoto? Ninguém liga para ele, eu noto. Apenas para o evento, o show, não é? O dia sem aula. Alguém se importa com sua manhã? Com o peso de seus passos na subida da rampa? Com o peso em suas costas? Ninguém quer saber se ele acordou e pensou “hoje, minha vida acaba hoje”. Será que dormiu? Ou será que vagou pelo mundo procurando carros para manchar?
As bocas maldosas perdem o humano. O humano perde o humano. E os dedos apontam, o local é visitado e vejo risos. E eu choro. Eu choro. Eu choro. Porque podia ser eu, você. Mas não!! Foi ele. Foi ele. E ele foi. Não, ninguém mais, mas ele. Ele.
***
E tem tantas coisas mais presas no meu peito.
3 comentários:
...toda razão, lice. Toda emoção. Lice. u.u
E ele, como está?
vc acabou nao me contando o final da história também.
te escrevo hj!
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