A cada mudança de estação, vou para o mesmo campo. E observo atento como as árvores se movem e dançam com o vento. No outono, elas se espalham fazendo uma chuva de folhas grisalhas, deixando os campos mais coloridos. Ocupam a função do céu nublado da época. No inverno elas se encolhem e se juntam para abrigar calor e vida daqueles que também procuram. Na primavera, elas estão todas enfeitadas com seus penduricalhos. Marcando paixões, adocicando as bocas famintas e fazendo sorrir com seus perfumes. E é no verão que elas se rebelam.
Neste mesmo campo, percebo como elas se movem quando ninguém está olhando. É sobre isso que as gralhas conversam quando estão em roda. É assim que elas brigam e matam umas as outras e ficamos sem saber porquê. Eu volto naquele campo e são como areia, as árvores. Movem-se lentamente, sutilmente sem que ninguém perceba. Elas conversam umas com as outras e se seduzem. Mal sabem que eu observo tudo de longe, como se fosse uma formiguinha. E mal nós sabemos que elas nunca estão no mesmo lugar.
Elas estão cada vez mais escassas porque não vêem sentido no ódio dos homens. Logo elas, que são tão esperançosas. E fortes. Elas controlam tudo, e são muito generosas. Deixam que os outros vivos abusem de seus dotes, sem exigir nada além de espaço em troca. Nossas amiguinhas também têm problemas com o ar e precisam de muito para respirar. Mas nada que dêmos por falta. Nada que já não estragamos.
Algo que talvez ninguém saiba sobre árvores é que elas têm medo do vento. Eu também não sabia (mas não sabemos aquilo que não queremos saber, não é mesmo?). E que quando ele uiva mais forte, imponente, elas tremem e se apavoram todas, sem saber direito para onde ir. As mais medrosas correm e se escondem. Logo elas, que são tão orgulhosas... Seu maior medo é de cair. Se caem, não se levantam. E choram tanto, até secarem. Até que outra apareça no lugar. Por isso entendo quando elas saem dos pastos e invadem as casas dos homens.
Radiohead - Fake plastic trees (acústica)
Neste mesmo campo, percebo como elas se movem quando ninguém está olhando. É sobre isso que as gralhas conversam quando estão em roda. É assim que elas brigam e matam umas as outras e ficamos sem saber porquê. Eu volto naquele campo e são como areia, as árvores. Movem-se lentamente, sutilmente sem que ninguém perceba. Elas conversam umas com as outras e se seduzem. Mal sabem que eu observo tudo de longe, como se fosse uma formiguinha. E mal nós sabemos que elas nunca estão no mesmo lugar.
Elas estão cada vez mais escassas porque não vêem sentido no ódio dos homens. Logo elas, que são tão esperançosas. E fortes. Elas controlam tudo, e são muito generosas. Deixam que os outros vivos abusem de seus dotes, sem exigir nada além de espaço em troca. Nossas amiguinhas também têm problemas com o ar e precisam de muito para respirar. Mas nada que dêmos por falta. Nada que já não estragamos.
Algo que talvez ninguém saiba sobre árvores é que elas têm medo do vento. Eu também não sabia (mas não sabemos aquilo que não queremos saber, não é mesmo?). E que quando ele uiva mais forte, imponente, elas tremem e se apavoram todas, sem saber direito para onde ir. As mais medrosas correm e se escondem. Logo elas, que são tão orgulhosas... Seu maior medo é de cair. Se caem, não se levantam. E choram tanto, até secarem. Até que outra apareça no lugar. Por isso entendo quando elas saem dos pastos e invadem as casas dos homens.
Radiohead - Fake plastic trees (acústica)
3 comentários:
that´s too sad.
coincidência, viu! deu até medo. rsrsrs
=**
ela procurou abrigo nos braços do homem.
nós cuidávamos bem dela.
eu entendo.
"As árvores crescem sós. E a sós florescem.
Começam por ser nada. Pouco a pouco
se levantam do chão, se alteiam palmo a palmo.
Crescendo deitam ramos, e os ramos outros ramos,
e deles nascem folhas, e as folhas multiplicam-se.
Depois, por entre as folhas, vão-se esboçando as flores,
e então crescem as flores, e as flores produzem frutos,
e os frutos dão sementes,
e as sementes preparam novas árvores.
E tudo sempre a sós, a sós consigo mesmas.
Sem verem, sem ouvirem, sem falarem.
Sós.
De dia e de noite.
Sempre sós.
Os animais são outra coisa.
Contactam-se, penetram-se, trespassam-se,
fazem amor e ódio, e vão à vida
como se nada fosse.
As árvores não.
Solitárias, as árvores,
exauram terra e sol silenciosamente.
Não pensam, não suspiram, não se queixam.
Estendem os braços como se implorassem;
com o vento soltam ais como se suspirassem;
e gemem, mas a queixa não é sua.
Sós, sempre sós.
Nas planícies, nos montes, nas florestas,
a crescer e a florir sem consciência.
Virtude vegetal viver a sós
e entretanto dar flores."
António Gedeão
Não concorda com o texto, mas deu vontade de colocar.
=]
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