Sejam bem-vindos ao outro lado do espelho, onde tudo pode acontecer (e acontece).

Wonderlando é um blog sobre textos diversos, descobrimentos e crescimento. A filosofia gira em torno do acaso, misturando fantasia e realidade de dois amigos que se conheceram também por acaso, Alice - que tem um país só seu -, e Yuri - chapeleiro e maluco nas horas vagas.

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4 de maio de 2010

Cegueira

Ando descalço no escuro da madrugada. Sinto a água gelada no piso esfriando minha espinha, fazendo meus pelos levantarem. A cada passo, uma adaga faz uma nova cicatriz. O labirinto que eu fiz em mim não tem saída, mas mostra exatamente onde dói.

Vejo os Cavaleiros do Apocalipse se aproximando cada vez mais, eu me permito. Guardo tudo pra mim a
sete
chaves, a
sete
palmos, em
sete
pedaços estilhaçados do que restou.

Se eu pudesse escolher, pularia ou dormiria. Por incrível que pareça, nós não escolhemos nada. Nós, os suicidas, não temos escolha. A causa é explícita e a consequência varia de acordo com nossas vidas. A vida brinca com a gente o tempo inteiro. Irônico não?

Viver é um jogo que não permite vencedores.


Parece tão errado,
tudo o que eu penso o dia inteiro.
O tempo inteiro
eu acho que sou tão errado.

Então assisto aos meus acidentes imaginários, os acidentes de carro, as marcas que já não cabem mais mentiras, os medos que assumo aos poucos, meus desejos de violência reprimidos. Minha cara esmagada em algum ferro numa rodovia, meu corpo exprimido no asfalto.

Eu sou
o sangue
que ainda não escorreu.

Quanto mais me abro,
mais me sinto fechado.

Se eu fechar os olhos,
sei que
sentirei
minha falta.
Mas eles abertos não me enxergam mais.

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