(Das palavras não me lembro, mas segue aqui a forma como eu gostaria de ter contado.)
- Que poético.
- É, foi. E eu nem percebi. Queria conseguir lembrar disso depois.
- Você não vai.
- Sua vez.
- Tá.
- Estrela, cobertor, aldeia.
Segunda noite: Segredos do Céu
Era uma vez uma aldeia. Meia-noite, silêncio. Noutro lado do mundo, enquanto os reis articulavam, ela fugiu. O clarão deu notícias de sua chegada.
Ele acordou assustado e correu. Viu uma mulher rodeada pelo nada. Longos cabelos loiros escorriam pelo vestido cor de céu. A levou para casa, ela estava fraca. Inquieto, pensava nela, da onde teria surgido, a quem pertenceria? Tanto quanto ela, estava perdido, não sabia o que fazer por tão frágil criatura. Tentou em vão se aproximar de seu corpo, mas teve medo de quebrar sua pele porcelana.
Depois de um tempo ouviu sussurros vindos dela. Ela dizia “não”. Sua agonia fazia da palavra algo tão triste, como se a morte viesse buscá-la e a recusa fosse a única possibilidade. Mais tarde ele entenderia que a opção nunca foi esta.
Ela o enfeitiçava e ele passou horas a admirá-la, enquanto dormia e reluzia. Mas a luz sumia aos poucos. O desaparecimento o levou até o curandeiro da aldeia, que ouviu atentamente a história da jóia encontrada no meio do nada. A cada palavra o curandeiro desvendava o seguir da carruagem. E com delicadeza desvendou a história da rainha morta, a estrela caída.
“O futuro do céu é incerto, meu filho. A estrela de hoje pode já não existir. Foi assim que ela veio a terra. A antiga rainha cedeu seu espaço e veio à terra dar seu último suspiro. Cadencialmente elas se suicidam. Encontrá-la não foi mero acidente, sua ajuda é necessária. Ela aguarda o resto de céu que a levará, o manto que colocará fim à sua existência.”
E com o cobertor cor de céu ele deixou a casa do curandeiro, pronto para cumprir com sua tarefa e apagar o fogo que insistia em reluzir nos seus cabelos. A jovem rainha dos fios quase brancos. Aquela que quase nada denunciava a idade, não fosse os cabelos.
Ao entrar percebeu o sorriso em seu rosto. Mesmo de olhos fechados ela sabia que ele encontrara o manto. O perfume dos céus invadiu o quarto. Foi com lágrimas no rosto que ele a cobriu, centímetro por centímetro. Despediu-se de cada parte do corpo e eternizou as horas em que passaram junto com um beijo, antes de cobrir seu rosto.
A luz desapareceu. O mundo voltou a ser cinza. Só o céu manteve a cor do seu vestido, que alternava com o brilho de seus cabelos quando o sol resolvia surgir. O feito de sua vida estava feito. A proeza durou algumas horas, mas que outra pessoa se vangloriaria de ter atendido o desejo de uma estrela cadente?
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Se você tem interesse em participar escrevendo um texto, mande-nos um email ou comente aqui mesmo. O próximo desafio é para a Alice, com as palavras: papel, gel e vapor. Daí ela escolhe mais três para o próximo e por aí vai.
A primeira noite você confere AQUI.
Um comentário:
a talita que escolheu essas palavras? ai deos....
mas o texto dela tá ótimo!
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