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Wonderlando é um blog sobre textos diversos, descobrimentos e crescimento. A filosofia gira em torno do acaso, misturando fantasia e realidade de dois amigos que se conheceram também por acaso, Alice - que tem um país só seu -, e Yuri - chapeleiro e maluco nas horas vagas.

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6 de julho de 2010

Super-heroi


Eu não tenho nome fresco, nem sou tão inteligente quanto seu super-heroi. Talvez nem beije tão bem ou tenha a pegada tão boa quanto ele. Seus cabelos devem ser bem mais macios e de um enrolado bem mais organizado; e seu sorriso mais sincero com aqueles dentes brancos, completando o conjunto da obra na pele bronzeada e com olhar idealista de vigilante. Enquanto eu nem sequer tenho uma capa. Hahaha, como pode, eu não ter uma capa...?! [a minha é um mero pano amarrado.]

Eu sei que você não me admira como ele, não conversa comigo o que conversa com ele, mas te entendo, não tem motivos pra isso. É difícil, não tenho armas ou forças ou superinteligência para competir. Eu te entendo como deve ser fácil cair em seus braços e se deixar levar pelas conversas moles sobre seus outros herois. Ele também já vem de uma linhagem de herois, seu pai, o professor Xavier. Eu não moro sozinho num apartamento legal no centro da metrópole - moro em lugar nenhum cheio de gente e que não me pertence de nenhuma forma; e se for preso pelo inimigo, será por tráfico, por roubo, homicídio, qualquer besteira que não importa, não vai ser o seu orgulho de cárcere ideológico. Ele é tão charmoso, bonito e fala tão bem... E eu não tenho nem uma identidade secreta. Merda, preciso urgente de uma dessas.

Eu até gostaria de ser seu Superman, ter uma roupa bacana, estudar seus aliados e fazer parte da Liga da Justiça. Já tentei, mas falhei, falharam comigo. Acho que estou mais pra anti-heroi. No fundo, sei que estou mais pra alguém que não acredita em nada disso, que não faz parte de grupos, não tem superpoderes nem superinteligência - porque eu não consigo, não sei, tá bom? Mas eu gosto de fingir que gosto de ser assim, um outkast fora-da-lei, um lobo solitário autodidata. Mesmo perdendo coisas importantes, mesmo tendo que ser eu mesmo, só isso, um gênero comum de uma espécie decadente. Mesmo sendo um pedaço do que você disse ser perfeito.

Talvez eu seja um pedaço de kryptonita, uma bem lapidada, daquelas que parecem pedras bonitas, mas que não significam nada. Talvez essa pedra seja só vidro, que você insiste em jogar no chão só pra recolher os cacos com lágrimas de desculpa enquanto eu morro em silêncio sem salvar o dia.

De super eu não tenho nada, amor.
Tinha você.

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