Disfarcei meu choro tímido de poucas lágrimas nas cores dos panos que cobriam minhas vergonhas e me protegia do frio logo da manhãzinha. Faz sol aqui, está um dia bonito até. Queria te visitar, mas não vai ser possível, agora sou adulto e tenho responsabilidades que me impedem. Mas só hoje, logo menos te levarei flores e um sorrisinho salgado.
Foi só quando peguei meu primeiro copo de café pela manhã que percebi que agora somos desconhecidos. Eu mudei e mudei e estou mudando, sim, porque estou vivo neste plano. E você, eu me dei conta que, na verdade, não te conheço. Te conheço assim como você me conhecia, com olhos de criança. E como seria eternamente grato se pudesse conversar com você um pouco agora, saber quem somos como indivíduos. Se não me acompanha e não sabe de mim, tenho tanta coisa pra contar, tantas alegrias e tristezas de uma vida inteira – porque, sabe, eu não gosto da vida, não mesmo, mas a aproveito muito bem, vivo.
Gostaria tanto de saber como você está.
Falta filtro no meu pó.
Falta água no café,
vida breve
num gole.
glup!
Falta filtro no meu pó.
Falta água no café,
vida breve
num gole.
glup!
Antes, como você sabe, eu ficava na mesa imitando meu avô mergulhando coisas no café-com-leite enquanto você corria com todo o trabalho para servi-lo enquanto ele ficava sentado - rotina praticamente religiosa. Hoje, gosto de tomar café sozinho, sempre preto, puro.
Às vezes me lembro de tudo e parece que não dissolve.
5 comentários:
...and if you hear me talking on the wind, you've got to understand
we must remain, perfect strangers...
me fez pensar nessa música.
gostei, me identifiquei com o texto em algum momento...
besos, seu carente
Que bom que em alguns momentos conseguimos ficar na ponta dos pés e colocar o nariz para fora para respirar melhor. bj
eu gosto dos textos mais reais, mais compreensíveis pra mim.
esse me arrancou uns arrepios e uma vontade contida de chorar. acho que foi toda essa tristeza delicada e calma. essa sinceridade pura.
Você me emociona.
"Hoje, gosto de tomar café sozinho, sempre preto, puro.
Às vezes me lembro de tudo e parece que não dissolve."
Ler de novo, um ano após, e sob novas perspectivas.
Gosto desse texto.
Bjs,
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