Duas luas cor de mel em noite quente o observavam... Os olhos de Brisa da Noite. Seu cabelo era mata que os dedos trilhavam e se enroscavam para morder. Selvagem, corria entre árvores e prédios, sabendo exatamente onde pisar nos espaços entre raízes e sapatos.
Quando corre, não faz vento. Quando se move, nem a sombra a acompanha, vai embora e volta sem que se deixe perceber. Seu corpo marcado de flores se camufla em relvas psicotrópicas. E no acalanto do tempo, se multiplica nos minutos para fazer valer as horas.
E no acalanto das horas, se multiplica nos espaços entre milésimos para fazer valer o tempo.
Sempre há um caçador a espreita, observando a beleza com que dança seus passos, dos desenhos nas sombras de seus movimentos, do cantar do pássaro que a devia vida e sempre a acompanha. Ela também o acompanha com um sopro de vento suave que ecoava musicalmente por toda aquela Urbália.
Dizem que não é difícil caçá-la – mas eu nunca vi ninguém. Ouvi por aí que ela é quem escolhe e vai atrás da presa. Se alimenta de brisa e sentimento, não da razão de um caçador limitado. E foi exatamente por isso que aquele que observava no parágrafo anterior virou observado. Tão inocente, indefeso com aquela arma na mão sem querer atirar, sem pretensões ou grandes ambições. Não caçava nada, mas gostava de se perder pela primeira vez ali e sentir o lugar, e quando o sentiu... Brisa da Noite.
Felina, se transformava em onça quando bem entendia, se misturava na natureza e não havia quem a encontrasse – a não ser pelo seu cheiro afrodisíaco e delicado que faz os olhos se fecharem para intensificar mais os sentidos.
Cheiro de mulher.
Cada vez mais forte.
a dança,
o cheiro,
a sombra,
o cabelo,
o transe,
a transa,
tudo.
toda,
em
movimento.
Ela então finalmente surgiu – sabendo que já o tinha – maior do que os prédios, com as presas de fora, um sorriso. Por um instante o caçador se assustou e seu instinto fez suar músculos tensos. Recuou sem saber para onde ir. Depois pensou se teria realmente que correr.
Cerrou as pálpebras encantado com a dona, com seu cheiro, seu pêlo... Hipnotizado, ficou estático esperando ser devorado, encarando o coelho em seu olhar felino penetrante de luas. Seu próprio reflexo. Tsuki-no-Usagi.
Noite em preta e branca... A brisa.
Virou onça com pele de céu e pintas de estrelas. Misturou.
O lambeu.
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*Brisa da Noite é mórfica e atemporal. Escreverei mais sobre ela aqui, ela é muitas e toda. Espero que gostem.*
Um comentário:
"Ouvi por aí que ela é quem escolhe e vai atrás da presa. Se alimenta de brisa e sentimento, não da razão de um caçador limitado."
Isso é lindo! Esse texto captou bem o feminino... com aquela essência de MULHER que se revela quando quer.
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