Será que precisamos ter para valorizar?
O problema não é perder e só então ver o quanto aquilo era essencial na vida. A questão é a necessidade do homem em possuir todas as coisas, como objetos de coleção, raros ou não, especiais ou não. Tudo pelo ordinário prazer de “ter”, pelo mesquinho título de detentor e a suposta máscara de controlador.
As infindas tentativas de nos tornarmos os Senhores dos Fantoches nos levam à solidão. No fim, como saber se nossas relações foram construídas a dois, conquistadas ou forçadas por nós? Como saber se elas são de nossa possessão ou se são porque somos privilegiados e merecedores da tal convivência?
Desse modo possuidor, perdemos nosso valor. Somos coisificados e coisificamos as pessoas ao nosso redor. Pois só é possível ter uma coisa. O resto é uma relação de reciprocidade, não de possessão. Esta relação pode então ser correspondida pelo outro. No entanto, isso não se pode exigir de ninguém ou obrigar alguém a fazer isso, se não, recai-se novamente no relacionamento coisificado.
Só assim é possível perder algo. Considerando a relação uma reciprocidade, nunca se perde, ela apenas muda e se torna necessária uma adaptação das pessoas. Não se perde, não se ganha. As situações se alteram, mas continuam lá, diferentes, doloridas ou coloridas.
Quanto à valorização dessas relações, cabe-se pensar, uma vez que elas não desaparecem e somente se transformam, teria sido ela valorizada quando causava o bem? Em caso negativo, é impossível exigir agora uma volta ao estágio anterior. Deve-se se manter ciente no momento vivido, porque não se vive o passado ou o futuro. Quem perdeu e valorizou apenas depois não mereceu a relação, não estava presente.
Porém as mudanças são feitas por nós. As presentes relações podem melhorar e ser valorizadas no agora, para que não sejam perdidas no futuro. Quando valorizamos alguém não a tornamos um objeto e não a perdemos, mas mudamos o modo como nos relacionamos com ela. E aprendemos com o novo.
Mas o ser humano é cego, é ausente para os outros e para sua própria vida. É óbvio que precisam perder para valorizar, é óbvio que precisam possuir para se sentirem humanos, é lógico que precisam ser possuídos para se sentirem amados. E é por causa dessa possessão que perdemos os outros e os outros nos perdem.
Somos os detentores do nada.
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Usei uma matéria que tive essa semana para chegar nessas conclusões. Interessante.
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Conte-me suas serendipities*.
*serendipity (inglês) : faculdade de fazer, acidentalmente, descobertas felizes e inesperadas.
2 comentários:
você não é apenas um artigo que mantenho para mim.
você é querido.
oi linda, nunca comentei aqui, né?acho que eu preciso de calma e ler com calma tudo o que voce escreveu aqui..amei o significado de serendipity, onde vc viu essa palavra??
te amo e amo td ajuda e td o que vc escreve pra mim!!!vc eh demais!
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