O tempo quer me pegar. Eu sei que meu relógio está enganado, ele está definitivamente mentindo pra mim. Ele não pode me fazer de boba. Eu sei sobre suas intenções diabólicas, você não sabe? As horas e os minutos marcados pelos ponteiros estão errados. Bem, adivinhe só: você não pode me fazer acreditar!
Porém eu não sei como fazer o tempo ser real e ser para mim. Tudo o que ele quer fazer é me testar, testar minhas entranhas, meu estresse... tudo através do meu atraso ou do atraso alheio. Nunca alguém está em ponto, porque o tempo não nos permite!
Como posso confiar no meu relógio, esta coisa de metal em meu pulso? Como posso confiar no tempo? Eu juro que um dia vi o ponteiro dos segundos se mover ao contrário. Porém, eu olhei uma segunda vez e ele estava em seu curso costumeiro. Eu pude praticamente ouvi-lo rindo de mim: “há, há, há! Eu te enganei! Em quem vai confiar: na lógica ou em si mesma?”.
Em quem vou confiar?! Eu SEI que é absurda a idéia de que o tempo está mentindo pra mim, de que meu relógio está rindo de mim, de que seus ponteiros estão se movendo ao contrário. É impossível e isso significa que não posso confiar em mim mesma! Meus olhos, minha mente... se eu não acredito nem em mim, como posso acreditar no tempo? Ou mesmo no relógio?
Então, o que sou? Estou certa ou louca? Eu me tornei prejudicada demais a ponto de não crer no que vejo. Eu SEI – mais uma vez eu digo – que o tempo não pode ser tocado! Mas por que raios então eu continuo a desacreditá-lo?
Não, eu tenho a resposta! Em momentos passados, meu relógio havia parado, sua bateria tinha chegado ao fim e o tempo estava todo confuso para mim. Mas para poupar a nova energia, eu o desligo quando está fora de uso, e devo religá-lo e reajustá-lo toda vez em que o desejo usar. E sempre creio que está marcando a hora errada.
Ou posso explicar também relembrando meus momentos de sonambulismo, nos quais eu acreditava piamente o relógio estar marcando determinada hora, quando na realidade era uma hora totalmente diferente. Pronto, tudo explicado através da história ambiental!
Entretanto... como posso eu não acreditar em nenhum relógio, seja de quem for, estando lúcida? Não devo estar lúcida então. Louca estou. Louca sou.
Mas eu confio nos relógios... exceto que às vezes não.
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