Não consigo me deitar. O sono não está presente e nem anuncia aproximação. Devo tê-lo afugentado com meus pensamentos inquietantes que chegaram para atordoar o tempo. O presente se embrulha como meu estômago e o passado se embaralha como minha vista seguindo as gotas da chuva na janela. O futuro se embaça como as luzes da rua. Tudo isso, num só segundo de percepção. Antes eu estava tão bem, até ouvi-lo dizer “um último beijo de 39 anos”. Virei indignada, dizendo que nada ia mudar de hoje para amanhã, que isso eram formalidades de calendário. Ele sabia que não era bem assim, mas se fez de desentendido, porque tinha a certeza de como me sentia sobre o crescer. Então, me deixou a sós com a vista da janela, a olhar meu mundo de dentro.
Ainda bem que nunca cultivei a ilusão de que com a idade, a gente se compreende melhor, entende a vida e deixa de ser um militante inconformado. Acho que estou tão desnorteada quanto sempre fui. Ouço e vejo coisas que me mantém assim, sem conformação. Justo eu, toda conformada nas formas e segmentos. Meu passado embaralhado não foi mentira, sou ainda tudo que fui. Mesma estruturação em conflitos diferentes. Mas algo sempre está a se modificar, não posso negar. Só não posso apontar.
Cansei de refletir sobre crescer. Pra quê a introspecção? Chega, já sei muito de mim, basta!, análise em casa também não. Sempre assim, sempre assim. Canso a todos e a mim. O meu mundo continua pesando, muito. O mundo de fora também. Muitas questões para hoje. Muitas penalizações, pare de pensar Alice, e aproveite o mundo! Mas é assim que aproveito o mundo, minha vida, me esquecendo dentro de mim, dentro dos outros, nos olhos, doenças, normalidades e loucuras.
Dou um beijo nos pulguentos espalhados pela casa. Boa noite, boa noite. Deito com ele e sonho. Alguma lembrança de um passado alegre me visita. No dia de amanhã, estarei feliz. Gosto de aniversários, de presentes, de bolo. Amo a presença de quem me marcou e não deixo fugir. Quero abraços antigos, abraços novos, lambidas babadas e surpresas. Quero atravessar a rua fora da faixa segurando sua mão.
Ainda bem que nunca cultivei a ilusão de que com a idade, a gente se compreende melhor, entende a vida e deixa de ser um militante inconformado. Acho que estou tão desnorteada quanto sempre fui. Ouço e vejo coisas que me mantém assim, sem conformação. Justo eu, toda conformada nas formas e segmentos. Meu passado embaralhado não foi mentira, sou ainda tudo que fui. Mesma estruturação em conflitos diferentes. Mas algo sempre está a se modificar, não posso negar. Só não posso apontar.
Cansei de refletir sobre crescer. Pra quê a introspecção? Chega, já sei muito de mim, basta!, análise em casa também não. Sempre assim, sempre assim. Canso a todos e a mim. O meu mundo continua pesando, muito. O mundo de fora também. Muitas questões para hoje. Muitas penalizações, pare de pensar Alice, e aproveite o mundo! Mas é assim que aproveito o mundo, minha vida, me esquecendo dentro de mim, dentro dos outros, nos olhos, doenças, normalidades e loucuras.
Dou um beijo nos pulguentos espalhados pela casa. Boa noite, boa noite. Deito com ele e sonho. Alguma lembrança de um passado alegre me visita. No dia de amanhã, estarei feliz. Gosto de aniversários, de presentes, de bolo. Amo a presença de quem me marcou e não deixo fugir. Quero abraços antigos, abraços novos, lambidas babadas e surpresas. Quero atravessar a rua fora da faixa segurando sua mão.
3 comentários:
"mas enquanto atravessamos ele nos puxa e corre como louco só pra te assustar, só pra te ver brava com um sorriso estampado no seu rosto...e ele sempre consegue!"
que comentário bonito
espero poder atravessar muitas ruas ao seu lado.
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