O tic vai. O tac volta e me avisa o tempo perdido. O silêncio estéril, como me irrita. Tic... e fico... tac... aqui... tic... parado... tac... esperando... tic... cavando... tac...
Uma mesa preta envernizada. Eu não quero estar aqui. Cadeiras vazias só destacam mais minha solidão. O céu é de um branco sujo tão tristonho... Ao caminhar vejo todos chorando. O céu branco-sujo agora sou eu. As pessoas passam automáticas, como trem. Ao passaram por mim, todas apontam e riem. Elas o fazem aonde não posso ver. Mas eu sei.
Minha trilha sonora não me permite ouvir nada além. Os dias passam e passam, exatamente como são. E se eu morro na sala dum hospital ou pulo de cima dele, que diferença faz? Não há efeitos colaterais.
Uma mesa preta envernizada. Seu espelho agora é líquido, é óleo.E me sujo. Mergulho e me sujo mais. Porque sou como o céu. Furioso, triste. Explosivo. A fechadura é pêndulo e a chave não entra. Uma, duas, três. Tentativas vagas e ásperas. Preciso abrir. É sempre a última chave, talvez não a última chance. Seus dentes passeiam o corpo e vão. Um quarto, um inteiro. Vai inteira e não acaba.
Me faço parte e parto. Entro pela fechadura e sou mastigado. Acordo do lado de dentro. O que aconteceu? O dentro é fora e não faço parte. Um cavalo me espera para montá-lo. Penso em quantos eu espero que montem em mim. Está tão longe. Acordo do lado de fora. O céu é de um branco sujo tão tristonho... Ao caminhar vejo todos chorando.
Um comentário:
Pesado...pesado demais.
"Os dias passam e passam, exatamente como são. E se eu morro na sala dum hospital ou pulo de cima dele, que diferença faz? Não há efeitos colaterais. "
é..."sem ti, tudo correrá sem ti"
Triste mas não deixa de ser verdadeiro.
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