Uma gota bem no meio do meu óculos. Corta a vista e me avisa que está na hora de correr ou de me molhar. Fico à espera de outras gotas, mas também quero correr, pra quê escolher se posso ter? Outras gotas me provocam. Dobro a calça na esperança de não molhá-la. Respiro fundo no meio do caos formado na cidade, fecho os olhos, sinto aquele cheiro de chuva no asfalto quente. Minha boca enche de água. Meu cabelo, meus olhos, meu rosto inteiro.
Divago olhando para cima. Quando o céu acinzenta, imagino que eu estou vendo tudo em preto-e-branco. Combina tanto com a cor do asfalto, dos carros, do concreto dos prédios. Combina com a nossa cara estúpida de cidade grande. Deixo as gotas caírem, mergulho em cada uma delas e me multiplico. Quantos Yuris cabem numa chuva?
Divago desviando poças, formando labirinto pelo caminho. Eu vejo meu reflexo no espelho d’água e me impressiono com o monstro do outro lado do portal. Intrigante. Tento entrar, mas despedaço em realidade. Afim de descobrir quantas chuvas cabem em mim, eu corro. Afim de... Sair daqui, fugir de mim, deixar só a chuva molhar. Quem sabe até escorrer, secar, evaporar com ela.
Chuto involuntariamente a água que invade meu pé quente. Vou desesperado para qualquer lado. Os guarda-chuvas dançam à minha volta, as pessoas são os obstáculos que tenho que enfrentar nessa jornada sem destino. Desesperado, sinto o sal na minha boca. Água salgada não vem do céu, mas também molha o rosto, mistura com o suor, com a saliva, com o papel.
Os céus choram por mim, para mim. Pesa meu corpo, mas meu punho se arma contra a tempestade brigando contra as gotas. Lá estava eu, mais uma vez, lá, sem saber onde eu estava.
Um comentário:
muito, muito bom!!!
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