Não sei o que mudou. A força na qual nos amamos é outra, mais forte, mas agora machuca. Quantas vezes evitei sua presença, não quis ouvir seus escândalos que me irritavam e traziam a tona minha paixão pela violência. Porque sempre mantive em segredo essa paixão, que aflorou e dominou a nossa.
Ela foi embora, fiquei sabendo que encontrou um novo amor, “de verdade”, como ela diz. Não entendo onde estava a linha que separava carinho de tapa, puxão de cabelo de cafuné, “eu te amo” de “sua vaca burra”. O que eu sei é que ela gostava. Ô se gostava quando eu a chamava de minha cachorra, minha puta. Ela gemia e até pedia mais. Até os nomes carinhosos do sexo irem parar no meio do supermercado, na fila do banco, no barzinho com as suas amigas. Até a violência que cultivávamos com tanto esmero ir parar na mesa de jantar, na sala, de volta na nossa cama, mas dessa vez cheia de ódio, mágoas, corações feridos, olhos roxos e hematomas. “Ela caiu da escada. Vive se machucando, essa desastrada”.
Ela mereceu, é só o que posso dizer. Nada posso fazer se sou mais forte e ela me provocava. Vaca. Vadia. Viada. Às vezes brincávamos de lutinha, às vezes eu acertava sem querer seu narizinho. Me arrependia de chegar a lacrimejar os olhos por ver o meu amor ferido. Às vezes brincávamos de lutinha, quando você colocava aquele vestidinho roxo, que antes era sexy, e tornou-se vulgar, deixando tudo a mostra. Ela bem gostava de um monte de homem olhando suas carnes, admirando a mercadoria que adorariam consumir. E quem disse que nunca me traiu? Pra ela aprender o lugar dela.
Nunca quis machucar, apenas fazer sentir o que sinto quando me magoa. Eu só me preocupava quando voltava sozinha a noite, quando saia para dançar com suas amigas ou quando algum “amigo” aparecia – convenhamos, homem não é confiável, amigo de mulher é viado, porra!
A bebida é culpa dela. Eu ter perdido o emprego é culpa dela. Eu ter me envolvido com outra mulher e passado HPV pra ela, é culpa dela! Porque eu sempre fiz de tudo por essa vagabunda. Tapa de amor não dói, ela mesma dizia. TAPA DE AMOR NÃO DÓI,
gritou sozinho com as mãos formigando, machucadas de tanto bater no nada, acertando tudo. Não havia ninguém para ganhar seus carinhos. Manteve a postura diante dos outros. Logo encontraria outra que acreditaria em seus tapas de amor.
- Tapa de amor não dói, sua mentirosa.
Resposta a Tapas.
xxx
Para o 4º aniversário do nosso filho, Wonderlando, resolvemos escolher um texto e respondê-lo como se fôssemos a pessoa para qual o texto foi escrito. O resultado foi isso. Eu sempre crio uma imagem ou ilustração legal, mas dessa vez estou sem um computador decente, então é isso que temos pra hoje. =)
Um comentário:
Ham, tá ai o cara falando então.
Legal como não dá mesmo pra dizer o que ou quem é certo ou errado...
Idéia muito bem vinda !
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