Quando a gente decidia ser criança de novo e brincar de pega-pega ou de lutinha, você não costumava me machucar como machuca agora. Seus tapas de faz-de-conta hoje são aqueles mesmos tapas de antes, mas que eram seguidos de “ah, desculpa, amor, não era pra ser forte, desculpa!” e um saco de gelo, na mesma hora. Beijos e beijos para sarar o “sem-querer”. “Ah, nem foi forte, para de frescura” é o que me acostumei a ouvir.
Quando a gente decidia ser adulto e brincar de pega-pega, você não costumava me machucar como machuca agora. Tudo se tornou selvagem, bruto, cru. As palavras safadas ditas, que tanto me excitavam, são xulas e nojentas, porque é só isso que você diz. Mesmo quando não quero, o seu “pegar firme” que me deixava no clima são estas marcas roxas nos meus braços.
Quando a gente decidia brincar de ciuminho, você não costumava me machucar como machuca agora. As pequenas insinuações para atiçar geram ameaças severas e temerosas. Sua voz grave é grito quando não volto para casa antes de escurecer ou sem dar prévias explicações. “Você não sabe que é perigoso?! Você pode ser roubada, podem te bater, podem te estuprar!”.
Saiba que quando eu decidir sair de casa com minha mala e eu encontrar um assaltante, vou dizer que não tenho dinheiro, pois meu marido tirava dinheiro da minha carteira de noite, e até mesmo das minhas economias escondidas. Então, por não ter dinheiro que roubar, ele decidir me bater, vou mostrar os hematomas pelo meu corpo e dizer que meu marido também já fazia isso. Então, ao ver partes do meu corpo descobertas, ele decidir me possuir, vou pedir para que finja ter carinho. Ele fingiu. E eu gozei. Nunca mais nos separamos.
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