Sejam bem-vindos ao outro lado do espelho, onde tudo pode acontecer (e acontece).

Wonderlando é um blog sobre textos diversos, descobrimentos e crescimento. A filosofia gira em torno do acaso, misturando fantasia e realidade de dois amigos que se conheceram também por acaso, Alice - que tem um país só seu -, e Yuri - chapeleiro e maluco nas horas vagas.

Leia, comente e volte sempre... Ou faça como a gente e não saia nunca mais.

27 de setembro de 2006

Dyin' to Live

Uma senhora entra no ônibus ajudada por um rapaz. Ela se senta e conversa como ainda existe bondade em alguns jovens. Ela é muito esperançosa, logo entenderá o porquê. Começa a desabafar sobre como perdeu sua perna esquerda que até então eu não havia percebido sua deficiência. Um ônibus da Cometa [ela frisou várias vezes a marca da companhia] a caminho do Rio de Janeiro, no carnaval, três anos atrás, sofreu um acidente e o motor começou a pegar fogo. Ela, assistindo aquilo desesperada resolveu pular a janela estilhaçada do ônibus em movimento. Foi aí que sua perna foi decepada pelo vidro e logo em seguida o ônibus capotou matando todo mundo - TODO MUNDO - ela dizia em voz alta. Pude sentir paixão, fé e orgulho em sua voz... tudo assim, ao mesmo tempo. Ela disse que tomou a decisão certa e que Deus sabe o que faz. Comentei o quão grata ela deve ter se sentido em dar uma perna à vida. E antes que pudesse terminar o raciocínio ela me interrompeu já contando outra história ainda mais inacreditável: Mais ou menos um ano atrás ela estava numa lotação indo para Mauá, se não me engano, e o motorista estava dirigindo irresponsavelmente até capotar. Novamente, ela foi a única sobrevivente. "SAIU ATÉ NO JORNAL" ela falava em voz alta empolgada. As duas histórias sairam no jornal. Os bombeiros chegaram cortando a van para tirar os corpos mortos e ela estava embaixo de tudo sem conseguir pedir por socorros porque se afogava no lago de sangue que havia se formado. Ela se arrepia e quase chora, e, logo depois, se justifica sentindo-se culpada pelo arrepio dizendo que só quem esteve lá... só quem esteve lá...
Eu fiquei maravilhado com aquilo tudo e disse que ela tinha um corpo fechado, um santo forte, qualquer coisa. "foi Deus meu filho, Deus sabe o que faz. Tenho amor a vida e escolhi viver porque amo."

Nesse caso não considero que ela tinha opções porque o instinto nos salva a vida automaticamente, sem nos deixar escolher morrer por acidente. Invejei a vontade daquele senhora de viver.
Gostaria de ter feito por mim o que você gostaria de fazer por você, de ter escolhido ser menos eu também, tentar seguir uma vida normal... hauhauhauhua brincadeira, falei por falar. Gosto de ser assim, por mais incrível e sádico que pareça. Às vezes tenho vontade mesmo de mudar e ser normal, mas me arrependeria e estaria no mesmo lugar que estou. Será que realmente temos esse poder de escolha então? E Deus? Concordei com você e comigo, como você mesma diz... nunca percebemos o acaso. Sábia Alice.



"I'm dyin to love dyin to play
Dyin to get out of here
I'm dyin to live"
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Será que realmente precisamos perder para valorizar?

14 de setembro de 2006

E todas as opções se mostraram uma só

Não sei se acredito em escolhas. O que realmente podemos escolher? Se tivermos dois caminhos e “escolhemos” um deles, o outro não existe, pois não foi seguido. Você é o que é agora, não o que poderia ter sido. O seu “poderia ter sido” não está aqui pra te confrontar, gritando: “Olha aqui, seu idiota, onde você poderia estar. Chora pelo que está perdendo”. Isso não vai acontecer, apenas na sua cabeça, se você deixar. O problema é esta questão fazer tão parte da nossa cultura, é algo tão intrínseco que não conseguimos nos desfazer do nosso outro eu: o eu que poderíamos ter sido.

O acaso é tudo que há. Aconteceu assim, realizou-se dessa maneira e não das outras milhões de formas que haviam no momento. E se tivesse sido diferente? Você não seria quem é. Mas, Lice, essa é a minha intenção: voltar uma escolha para não ter mais essa tristeza que eu carrego.

Talvez a patética seja eu. A muda, a quieta, a sem vontades, sonhos ou desejos. A que é simplesmente levada pelo vento, batendo em todos os obstáculos presentes, colecionando as dores. Talvez a ridícula seja eu, passiva, sem poder de escolha. Nunca escolhi nada na vida, nunca vi outro caminho. E se tivesse visto, não teria seguido. Meu medo de viver me domina.

Porém, acredito em escolhas inconscientes. As situações são apresentadas a nós e reagimos de determinada maneira, pensando ou não. Se, em algum ponto na minha vida “decidi” me importar, gostaria de ter olhado pro lado e visto o caminho que todos os outros estavam seguindo. Ninguém se importa, ninguém se desgasta, ninguém se estressa por pequenas [até mesmo grandes] coisas. Queria ser leve... “Push me down, I don’t care, I’m as light as air”.

Então acho que, no fundo, preferia ser igual a todo mundo, a ser a estranha que sou.

11 de setembro de 2006

Yesterday Was A Lie



Temos momentos na vida em que devemos fazer escolhas difíceis; dificílimas até, se me permite o exagero não tanto exagerado. Estou assim. Percebi que sempre estive assim, pra mim toda decisão é difícil, todo passo à frente é complicado, toda esperança é inexistente... toda luz é cega. Ando carregando meu pesado passado por tanto tempo que já desisti de seguir em frente. Sempre que tive que decidir entre um caminho à esquerda ou um à direita, eu estava tão exausto ou tão revoltado, que resolvia ir reto.
Dessa vez tenho a mesma opção, eu posso escolher a direita, posso escolher a esquerda ou posso simplesmente seguir minha tristeza indo reto, carregando sozinho minhas maldições. Já fui reto algumas vezes e penso que devo bater de frente com minha covardia disfarçada e escolher de vez algum lugar pra ir, algo a fazer, um sonho a realizar. Mas como sonhar com um futuro se nem sequer dormir podemos? Arrancaram à força nosso direito de fé e sonhos. Isso é tão devastador que eu não me importo.

Viver é desenhar sem borracha, provavelmente você já deve ter ouvido essa frase genial. Não temos como voltar atrás de nada que fizemos, que falamos, que escrevemos; escolher é benefício para poucos, mas às vezes concluo que é castigo por sermos covardes.

Se pudesse voltar atrás em alguma escolha, qual seria?

1 de setembro de 2006

"You’ll be a beautiful confusion"


Sei que às vezes parece que eu não entendo as pessoas,
mas ainda sim as vejo em seus galhos solitários.