Sejam bem-vindos ao outro lado do espelho, onde tudo pode acontecer (e acontece).

Wonderlando é um blog sobre textos diversos, descobrimentos e crescimento. A filosofia gira em torno do acaso, misturando fantasia e realidade de dois amigos que se conheceram também por acaso, Alice - que tem um país só seu -, e Yuri - chapeleiro e maluco nas horas vagas.

Leia, comente e volte sempre... Ou faça como a gente e não saia nunca mais.

25 de julho de 2008

Nada como antes

Enquanto para você as coisas voltaram a fazer sentido, para mim estava tudo mudado. Havia tempos que isso já estava certo, mas só cara a cara percebemos claramente o quanto se tranformou.
Eu mudei. Mudei muito. Reli minhas palavras... de quem eram aquelas palavras? Não me reconheci nelas, como mente criadora. Nem ao menos lembrava-me de tê-las escrito. São muito bonitas, tocantes, mas de outra pessoa que não está aqui. Se isso é bom ou ruim, não sei.
Por outro lado, você, nada mudou. É o mesmo em cada linha. Parecia que eu lia o mesmo texto, toda hora. Só em momentos, você saía da sua caixa, brilhava um pouco mais, porque tentava algo diferente. Mas ainda sim... era você do começo ao fim. Uma identidade... mas até que ponto isso é bom ou ruim, de novo, não sei.
Brrrrrr!

23 de julho de 2008

The Taste of Life

Eu olhava marcas novas no tecido cada vez mais velho. Vinte e uma marcas feitas sem precisão na única pretensão de excomungar o mal. Tudo começou no metrô, quando vi minha alma saltar de meu corpo, pegar um trem com destino ao lado oposto (a propósito, ela deve ter levado minha carne também, porque eu me tornei tão inóspito e cinzento quanto São Paulo - mas não tão grande - e ninguém mais me percebe.)

Corro a minha procura. Me encontro mas não me olho nos olhos. Sigo distante. Sigo pegadas nas paredes e teto, a gravidade é ignorada, ela pouco importa. Erroneamente deparo com o espectro de alguém prestes a morrer, como um espelho, e o gosto de doppelgänger¹ me arrepia os pêlos. A matéria é ignorada. Ela e eu. Eu, eu.

Todos temos nossa metade má. Eu me perdi em qual lado fica a minha, e machuco uma metade na esperança de afastar o mal. Eu não sei se a força que corta é a que exila ou a que produz a maldade. Se eu pudesse matar o mundo inteiro, eu faria, mas estou ocupado demais tentando acabar comigo mesmo. Eu sangro o gosto da vida. Eu bebo e me engasgo. Eu não sei em quem atirar. Eu só tenho uma bala e é hora de escolher. Eu ou eu, em um dos lados eu acerto. Enfim, viverei uma metade em paz.

"Nele o homem e o lobo não caminhavam juntos, nem sequer se ajudavam mutuamente, mas permaneciam em contínua e mortal inimizade e um vivia apenas para causar dano ao outro, e quando há dois inimigos mortais num mesmo sangue e na mesma alma, então a vida é uma desgraça."²






¹. Entidade do folclore alemão que se assemelha a um fantasma, mas trata-se de um espectro que é o duplo de alguma pessoa ainda viva. Diz-se que se alguém encontrar seu próprio doppelgänger, morrerá em breve. O termo também é usado como sinônimo de "sósia", geralmente com alguma conotação maligna.

². Trecho de O Lobo da Estepe, de Herman Hesse.
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Nota: Eu demorei pra postar este texto aqui no Wonder porque... porque... na verdade nem eu sei bem o motivo. Eu só queria ele mais completo, mais exato, mais lapidado. Mas é exatamente isso que é, não consegui mudar muita coisa, não sei se foi incapacidade ou se não há o que mexer. [sempre há].
Quem quiser ler o original, sinta-se à vontade no Susi.

17 de julho de 2008

Passenger

Descobri a origem de minha morte. Pisava com força no pedal, uma força alimentada pela raiva. O barulho do motor era meu último grito. Meu último grito de dor. Doze meses se passaram desde então.

Eu gostaria de não ser assim, mas não consigo, não é justo comigo. Se eu pudesse, eu destruia tudo, mas não posso, não seria justo com os outros (?). Então destruo aquilo que me cabe por direito.

Você continua sendo minha passageira, temerosa, acolhedora, egocêntrica... Fazendo tudo sumir, fazendo meu medo ir embora. A adrenalina na qual você me coloca é orgásmica, e sou seu discípulo. Mato aquilo que me cabe por direito. E você, você me mata sem ver a dor causada.

Um freio de mão puxado. Aonde estão todos? Eu não fazia idéia do que estava acontecendo nem da onde eu estava. O retrovisor só mostra o passado, mas agora ele estava amassado na frente do volante refletindo meu pânico. Minha passageira havia me abandonado, lembro que chovia muito, eu não estava correndo, eu não havia feito nada de errado... Cadê você?

O carro estava destruído, mas nada a não ser um soco na cabeça me atingira. Ela havia me protegido. Me protegeu dela mesma, de meu amor. Mas agora estou sozinho.

Gritando frases sem sentido, desmaiando,chorando confusões... uma luz vermelha que acende e apaga. Ela me abandonara, e nunca mais morri.


Doze meses se passaram desde então.

14 de julho de 2008

Sleep in Sanity / Só.


O que me deixa triste eu não consigo explicar agora. Fantasmas rondam minha cama numa falsa companhia. Eu não sei o que está errado com meu coração, não sei o que eu fiz... A hora de cair ainda não chegou, mas já rastejo febril entre espíritos. E morro só.

Estou num túnel que bifurca em vários outros túneis destinados à escuridão. O caminho a percorrer não importa, o destino que desenhar me será cruel. Eu não sei o que está errado com meu coração. Quando descobrir, ele já terá partido. Eu já terei partido-ido. O escuro é sólido e tem um gosto amargo, invade minha boca, entra pelos meus ouvidos e dentro dos meus olhos - me fazendo ver nada mais do que costumava enxergar.

Vozes que não consigo identificar de onde vêm e o que dizem ecoam em toda ausência. Ouço algumas teclas de piano, fazendo uma canção lenta e dolorida, reconhecível. Mas eu sei que é só coisa da minha cabeça. Toda esperança evapora de meus poros, me deixando deitado em minha cama com meus espíritos fazendo ronda. Continuo rastejando e morrendo só.

11 de julho de 2008

Come On, Come On Now Touch Me, Babe.

Toda vez que vê um gordão, Allan surta. Ele sente um desejo impulsivo de bater em sua bunda gigantesca ou apertar suas tetas, como se o gordão fosse a Pamela Anderson.


- Vai lá Allan, pega a Pamela de jeito, pega!



Nada o impede, então o apoio. Os gordos e as gordas fingem que não, mas adoooooram!

7 de julho de 2008

Muzak e o Vácuo do Espaço Infinito Acoplado

Sigo em passos curtos na estrada umidecida pela chuva e dourada pelas luzes amarelas da madrugada. Me entorpeço, esqueço meu coração, frágil badulaque¹. Ando com ele nas mãos e rio ironicamente: "Tanta gente querendo entrar e ele aqui, dando sopa na minha mão". Percebo que só está fora porque eu estou sozinho; que não tem fechadura em meu peito2, podem ter um molho de chaves, morrerão do lado de fora. Assim como tantos outros, que os ossos jazidam na porta. Eu m3smo desconfio que me tranquei pra fora e não consigo mais entrar.

4ndo sem direção por caminhos que não fazem sentido ou questão. Minha alma dorme num velho porão empoeirado. Um anjo acorda à minha espera para me castigar. Minha fé secou e eu não pedi perdão. O que o deixou mais nervoso foi por não me impressionar com suas asas e áurea, por não me sentir melhor com sua presença.

Sigo ouvindo a musiquinha de elevador. Tenho nas mãos um coração maior que tudo. Nem tudo é meu, e quem sou eu, além de tudo? Nem tudo é bom... Meu coração é um porão empoeirado, o vácuo do espaço infinito acoplado.

Sentado, o anjo espera seis dias por minha redenção. O 5om da morte se espalha pelos meus ouvidos. Nunca mais deixei aquele porão. E o muzak segue soando imperceptível para os menos sensíveis. 6.




[No sétimo dia, descansamos.]

















*Muzak é uma expressão utilizada para se referir a música de elevador ou música de espera ambiental. Muitas vezes usa-se o termo no sentido pejorativo ao referir-se a música sem conteúdo ou que causa aborrecimento.

**Este texto foi feito sob inspiração das músicas Muzak - Zeca Baleiro e Count to Six and Die - Marilyn Manson.

4 de julho de 2008

Sinestesia

Um gusano tenta me mastigar, mas o mastigo primeiro, então os astecas aparecem para mais uma viagem. Flutuo dentro de uma garrafa de mezcal. Me deparo sozinho olhando pra cima. Me vejo gigante olhando pra baixo me vendo lá dentro, pequenininho, perdidinho...

Eu vi os olhos furiosos de Pandora dentro dos meus, dentro de meu aquário. Peixes saiam de minhas lágrimas e voavam fazendo certo esforço. Por que estava chorando tanto? Tinha tanto medo mas estava tão confortável no calor da boca daquele vulcão prestes a explodir. Sou as cinzas do arco-íris, renasço das cores do fogo da Fênix. Um mergulho para provar que vai ficar tudo bem.

E vai ficar tudo bem. Vivendo assim sentindo tudo tarde demais, nadando com meus peixes pela ordem das ondas surdas da lava e das lágrimas. Misturando tudo até eu me tornar rocha por inteiro, não só mais o coração. Vai ficar tudo bem...


...Eu continuo me enganando.

1 de julho de 2008

!Vendido!


o que cega é a luz
é prédio que tampa
cor que seduz
caneta que estampa
o colorido
do preto e do branco
seria tão mais bonito
se fôssemos santos
e usássemos mantos
mas tudo é defeito
e não tem jeito
não é mais fibra
o que bate no peito
é silicone
não há mais conversa
é só headphone
se prenda em você
não olhe pro lado
se não tem o que dizer
fique calado

é tanta coisa
minha cabeça não guenta
essa paixão violenta
levanta e se senta
não terminei de falar
fica quietinho
senão vou gritar
mais do que estou
já estou rouco
mais do que sou

louco!
estou ficando louco!

é muita briga
e violência
não tem união
é só intriga
estupro à inocência
as igrejas só crescem
vendendo falsas crenças
e esperança
e o pobre continua
fazendo criança
fazendo criança
e mais criança
que cresce bandida
e não tem o que comer
marginalizada pela vida
só vai se foder!

o problema não é sexo
sexo é bom
e maravilhoso
o problema é a superpopulação
rapaz, segura esse gozo!

é tanta regra
não há quem nega
regra pra tudo
um absurdo
não pode fumar
não pode transar
não pode falar
não pode poder
e também não poder
obrigado a votar
democracia?? ha-ha
não posso ser eu
tenho que ser você
o que eu compro é meu
eu não entendo o porquê
o governo ainda me cobra
eu tenho que pagar pra ter

regra dos nove
regra dos três
regra do mundo
e de portugûes
é muito trânsito
e carro batido
qual o problema de vocês?
somos todos fudidos
tudo é dinheiro
paga-se até
para ir ao banheiro
trabalho doze
deveria ser seis
precisando é comigo
eu vendo até o freguês
eu sou um vendido

dou-lhe uma
fique antes que eu suma
dou-lhe duas
Vamos, fique comigo
dou-lhe três
vendido!