Sejam bem-vindos ao outro lado do espelho, onde tudo pode acontecer (e acontece).

Wonderlando é um blog sobre textos diversos, descobrimentos e crescimento. A filosofia gira em torno do acaso, misturando fantasia e realidade de dois amigos que se conheceram também por acaso, Alice - que tem um país só seu -, e Yuri - chapeleiro e maluco nas horas vagas.

Leia, comente e volte sempre... Ou faça como a gente e não saia nunca mais.

31 de dezembro de 2007

2 Thousand & Wait [Y34RZ3R0]

"'2xx7, pior que 2xx6 não fica'. Caaaalma que não quero pagar minha língua. Vou falar menos o que penso também."

Assim acabei com meu 06. E as coisas pareceram melhorar um pouco em relação ao ano passado. Porque o ano passado, puta-que-pariu, foi como foi. 07 realmente não poderia ser pior, e foi ruim, não pior.

Algo que ninguém sabe sobre mim, é que eu reparo e conto tudo que fiz por último no ano e tudo que fiz primeiro no novo ano que segue. A minha última ida ao banheiro, minhas últimas palavras, meu primeiro arroto do ano, o primeiro abraço... Eu fecho os olhos numa última coisa na virada, e quando o ano se renova, eu abro os olhos e nada é como foi. O estranho disso foi meu último sonho do ano. Essa noite sonhei com uma pessoa que não conheço, a não ser por saber o que seus olhos significam; e sonhei que havia matado um parente, enterrado e guardado seu coração. Um sonho a ser contado em outro post, quem sabe.

É uma data especial que, diferente do natal, julgo necessária. É um feriado de renovação, de mudança e esperança. Um novo começo. Assim espero meu ano zero8. Um ano de renovação. Será um ano curto, menos sólido quanto esse que se encerra, mas eu gosto disso... De altos e baixos. Com certeza será um ano de mudanças. Talvez bruscas, como eu não gostaria que fosse. Porque o que se solidificou em 07, eu gostaria de manter (faculdade, amigos, namorada...), e de uma hora pra outra, eu posso perder tudo de uma vez. E não me lembro da última vez que quis manter alguma coisa.










ps: E menos funk carioca, por favor! =/

29 de dezembro de 2007

Bubbly

Seus altos e baixos cabem bem no meu ano. Um início de grande perda, uma triste perda, e um fim com um grande ganho. Um estranho ganho. E no entre, um sobe e desce que me deixou tonta e desorientada.

Fui deixada por ela, fui achada por eles, fui deixada por ela, fui achada por eles, fui deixada por eles, fui achada por eles, fui deixada por eles (não imaginei possível...) e agora achada por ele. Isso cansa. Odeio ser deixada, ainda mais por razões estúpidas como as que presentearam meu ano. Mas é ótimo ser achada... uma descoberta.

Estou sem vontade de nomear e citar. Seriam muitas pontuações desnecessárias para apreender meu ano repleto de acontecimentos. E este estranho fim está me desorientando mais do que as mudanças repentinas ao longo de 2007. Os sentimentos que tenho fogem para um lugar dentro de mim no qual as minhas palavras não alcançam. Então, fico sem ter o que dizer. E acho que tudo bem, mesmo não estando acostumada com esta falta de precisão e objetividade.

Pequenas manchas de sangue pintam esta página do meu caderno, com uma discreta frase ao final. Ah, mas essa frase é só pra mim.

***

Fui tolerante, mas não aceitei ou tive paciência. Bom, antes realizar uma meta que nenhuma.



Para 2008, eu quero aprender. Com.

28 de dezembro de 2007

post200:

- Não é uma idéia que eu queira, mas é uma idéia legal.

Alice dá um olhar de paisagem do tipo "okay".

- Há quanto tempo a gente tá decidindo?
- Talvez desde o post 100.
- ...E isso já faz algum tempo.

Alice concorda com a cabeça e faz as contas nos dedos. Ela é muito ligada a números e datas. Hipocrisias do garoto 21... Ele precisa aprender a segurar direito na caneta.

- 10 meses. A gente podia ter feito um filho com este tempo.
- Ainda bem que ficou só no texto mesmo. E até agora não faço idéia sobre o que falar. Estamos na Síndrome de Seinfield.
- Antes fosse Síndrome de Seinfeld (é com um "e" só... sem "i")... Acho que não prestamos para datas festivas, funcionamos melhor por vontade espontânea.
- E o nosso tão preocupado "post 200" vai ser assim? Sobre nada?
- Não é sobre nada... é sobre nossa indecisão. Pais não sabem sempre o que fazer com os filhos quando eles crescem. Por que com a gente deveria ser diferente?
- Credo! Não me compare a um pai. Pais são estranhos.

Alice balança a cabeça de uma velha forma já muita conhecida por Yuri.

- Baioneta!!!
- Quê?
- Tava desde manhã tentando lembrar o nome daquela faquinha que vai na ponta do fuzil. É baioneta.
- Pronto... agora é sobre nada mesmo... Gosto mais da nossa fase pós post 100... Estivemos mais conectados mesmo sem estar explicitamente nos textos.
- Eu estive pensando bastante nisso e acho que também concordo. Crescemos com o Wonder.
- Será que ele vai crescer tanto que um dia explode? Ou vai inflar e voar sem controle... Longe de nossas cabeças e dedos? Aonde você acha que ele iria?
- Pra qualquer lugar, porque é nossa criação e é pra onde iríamos. Agora, rumo ao post 300. É bom não pensarmos em nada.
- Nada parece bom.

11 de dezembro de 2007

A árvore

A cada metro mais, nosso silêncio aumentava. Nossos olhos abriam, as cabeças giravam procurando sinais. Sintomas do tempo. E nada. E nada. Só mais nervosismo. Piadas tentavam diminuir as tensões, mas passavam em branco. Mais rápido, mais rápido. Como se corrêssemos para o hospital com sangramentos e contusões. Um parto complicado, e o oxigênio se acabava.

A estrada de terra nos chacoalha. Os ácidos dos nossos estômagos eram jogados para todos os lados. O que nos espera? Um primeiro sinal, um segundo, um terceiro. Cenas da guerra.

A já estreita estrada estava ainda mais fechada. Galhos e galhos, cortados, jogados nos cantos, aos montes. Carros e curiosos por todos os lados. E nós ainda sem saber como tudo estava. Desci correndo, pulando galhos, desviando, escorregando no barro e vi. Vi as tantas direções que este texto poderia tomar.
*
Papai finalmente conseguiu minha sonhada casa na árvore. Os galhos eram assentos, subíamos, e entrávamos na casa. Porta de folhas, noc, noc. Venha tomar um chá comigo.
*
Chorando ela caiu. Chorava ainda deitada, sangrava, me manchava ao abraçá-la. Perdia sua alma nas torções, nas rachaduras, em cada habitante que a deixava. O caos na floresta. O bichos fugiam para onde podiam, assustados, perdidos, agarrando no que podiam, no que parecia estável. Muitos eu carreguei em meus braços, aceitando as mordidas de temores, compreendia. Estava assutada também. Mas procurei abrigo para eles, afinal, alguém tem que se manter no chão. E também, suas casas tinham se tornado a minha casa. Era minha mínima obrigação prover novo lar.
*
Éramos o pior caso. Viramos ponto turístico. Curiosos pipocavam querendo tirar fotos, simpatizantes. Isso foi... conforto. A gente sempre se sente um pouco melhor quando tem alguém pior que nós, e normalmente tem. Mas nós éramos o pior e fomos acolhidos. Claro, que não por quem queríamos e deveríamos ter sido auxiliados. Burocracia é... vou parar por aqui.
*
O que nos resta é a verdade. Foram 30 metros jogados sobre nós, uma cena impressionante, difícil de acreditar. Água por toda a casa, eu e minha mãe movendo colchões, meu pai na serra elétrica e meu irmão pegando os galhos. Muitos galhos. Na entrada, sobre o telhado, quebrando as telhas, no meio do teto do quarto. Pensamos ser mais que 20 toneladas.

Puxa, 20 toneladas de árvore é muita árvore.

9 de dezembro de 2007

Fake Plastic Trees

A cada mudança de estação, vou para o mesmo campo. E observo atento como as árvores se movem e dançam com o vento. No outono, elas se espalham fazendo uma chuva de folhas grisalhas, deixando os campos mais coloridos. Ocupam a função do céu nublado da época. No inverno elas se encolhem e se juntam para abrigar calor e vida daqueles que também procuram. Na primavera, elas estão todas enfeitadas com seus penduricalhos. Marcando paixões, adocicando as bocas famintas e fazendo sorrir com seus perfumes. E é no verão que elas se rebelam.

Neste mesmo campo, percebo como elas se movem quando ninguém está olhando. É sobre isso que as gralhas conversam quando estão em roda. É assim que elas brigam e matam umas as outras e ficamos sem saber porquê. Eu volto naquele campo e são como areia, as árvores. Movem-se lentamente, sutilmente sem que ninguém perceba. Elas conversam umas com as outras e se seduzem. Mal sabem que eu observo tudo de longe, como se fosse uma formiguinha. E mal nós sabemos que elas nunca estão no mesmo lugar.

Elas estão cada vez mais escassas porque não vêem sentido no ódio dos homens. Logo elas, que são tão esperançosas. E fortes. Elas controlam tudo, e são muito generosas. Deixam que os outros vivos abusem de seus dotes, sem exigir nada além de espaço em troca. Nossas amiguinhas também têm problemas com o ar e precisam de muito para respirar. Mas nada que dêmos por falta. Nada que já não estragamos.

Algo que talvez ninguém saiba sobre árvores é que elas têm medo do vento. Eu também não sabia (mas não sabemos aquilo que não queremos saber, não é mesmo?). E que quando ele uiva mais forte, imponente, elas tremem e se apavoram todas, sem saber direito para onde ir. As mais medrosas correm e se escondem. Logo elas, que são tão orgulhosas... Seu maior medo é de cair. Se caem, não se levantam. E choram tanto, até secarem. Até que outra apareça no lugar. Por isso entendo quando elas saem dos pastos e invadem as casas dos homens.























































Radiohead - Fake plastic trees (acústica)

7 de dezembro de 2007

ossevA

o tempo do relógio finalmente não importa já está decidido é melhor esperar somente me entregar às músicas vozes passos pessoas à espera cansei de lutar contra ela me controlava para não olhar no relógio mas finalmente me entreguei ao platonismo bem-vindo e empolgante

voei longe longe longe sem noção de tempo ou de espaço até que me trouxeram para o mundo de novo

o cego me perguntava os nomes dos ônibus que passavam e eu os contava um por um ele dizendo este não este não serve e aquele também não até que um serviu e ele me deixou

deixou cega como ele onde eu estava sei lá não sabia mais que coisa estranha tudo ao contrário esquerda é direita e eu olhava atordoada à minha volta mil por hora onde estou quem sou eu que porra é essa que se passa socorro

moça me ajuda me ajuda moça moça onde estou o que é isso por que o mundo está contra mim me diz moça por favor me diz eu pra cá indo pra lá estou do avesso me desvira moça

o cego chutou minha bengala e eu caí de cara no chão tirou minha visão o safado abriu meus olhos pro mundo

até que me achei e ri




***

Samuel Beckett - "Como é"

Memento

Caminho sem direção. Não, estou correndo. Correndo sem direção. Olho pra trás, nada. Tenho medo do claro. Estou correndo atrás de alguém. E esse alguém não vai escapar. Ou seria um endereço? Será que estou atrasado? Olho pra cima e me distraio.

O sol queimava meus olhos. Não, era luz. Era suor. O suor queimava meus olhos. E que porra importa o que queima meus olhos? Eu não conseguia ver direito do mesmo jeito. Não perde o foco. Corre e não se distrai. Eu não vejo o motivo do desespero, mas o desespero vê motivos em mim. Olho os números, olho pra trás. Não sinto que esteja indo encontrar alguém. Estou assustado demais pra isso. Mas tem alguém que corre mais que eu na minha frente. Será que estou seguindo ele? Quando dei por mim, estava fugindo.

Se esconde! Vai logo. "Não pense que vai escapar". Droga, ele sabe onde eu estou. Ele quem? Aqui é escuro. Estou sozinho. Mm, o que eu vim fazer aqui? Claro, xixi. Que vontade de mijar. Ahhhh, pronto. Balança, guarda. Olha o relógio. 12h21. Será que estou atrasado? Acho que estava procurando um endereço. Saio do beco e tem um homem parado não tão longe. Eu sigo meu caminho, mas aonde é que estou indo mesmo? O homem me reconhece e anda em minha direção. Será algum amigo? Ele não parece estar bem. "Não pense que vai escapar". Droga, eu não vou escapar. Corre. Corre, mas corre muito, porque ele corre comigo e tem uma arma.

Eu tenho uma arma. É o homem a minha frente quem eu tenho que atirar. Carrega. Um tiro. Dois. Não saiu da minha arma, veio lá de trás. Tem alguém me seguindo. Eu estou fugindo. Eu corro sem direção. Não sei pra onde estou indo, nem quem está me seguindo. O homem a minha frente segue meus passos e some e aparece quando quer. Não entendo nada. Se concentra, vamo lá, respira, não agora, agora não...Vozestelefonesrisadastriiiimmmm hahaha. Luz. "Fudeu". Foi o que deu tempo de pensar. Desmaio.

Acordo. Conheço esse lugar. Esse sofá... Minha casa. Olho pra cima, essa luz... Olho ao redor e lá está o homem sempre a minha frente. Sombra. O homem às minhas costas. E eu.













































[Ao sair, favor apagar as luzes]

4 de dezembro de 2007

Calm Like a Bomb

"O ser humano é estômago e sexo. E tem diante de si uma condenação: terá obrigatoriamente que ser livre. Mas ele mata e se mata com medo de viver. Por isso meus olhos estão cegos. Para não enxergar a alma desses pecadores. Meus ouvidos escutam uma voz que diz: 'Padre, morrer não dói. Morrer não dói!' Estamos todos condenados. Eternamente condenados. Condenados a ser livres."

É uma prisão. Isso... esse respirar. Somo máquinas dentro de jaulas que não necessitam grades. Nós somos nossos próprios limites. Nossas barras de ferro. Ninguém enxerga além. O rádio só toca o que o dinheiro quer que você ouça. Eu não preciso de ninguém me dizendo o que ouvir. Aquelas repetições hipnóticas. A televisão... Deixa pra lá. Só diria o óbvio. E seguimos calados, organizados em fila, nos alimentando de semelhantes, achando que somos melhor que macacos. Guerra, poluição, enchentes, fogo, pânico, alerta vermelho, medo, medo, medo. Só nos encostamos quando trombamos sem querer. "Sem querer". Só nos unimos quando usamos transporte público. É muita gente. Muita comodidade no incômodo.

Ninguém quer ser livre. Quem é livre? Mendigos, Hippies, Tyler... Qual a vantagem? Onde entram os carros caros, as porcarias sonoras, os luxos, o computador? Ninguém quer ser livre. Esquecemos de viver nossas vidas para viver uma Second Life. Suprimos nossos vazios com marcas de coisas que não necessitamos e nem sabemos de onde vêm, e de aparelhos que não sabemos usar.

Os esteriótipos me fazem rir. Mas a risada não consola. É triste. O que um cabelo curto ou uma gravata influencia no seu caráter? Porra nenhuma! Se a minha barba cresce, por que não posso deixá-la crescer comigo? Qual o problema das pessoas? Eu desisto de todos vocês assim como já desisti de mim. E a culpa é nossa. Vivemos nesse aquário comendo carniça. Ninguém subiu pra respirar o ar virgem. Ninguém quis quebrar o vidro. Mas eu estou do lado de fora. E me distancio cada vez mais.


1 de dezembro de 2007

Hunted by a Freak

Encontro minha letra em papéis desconhecidos. Papéis que não foram escritos por mim. Parece que essa paranóia, esses ludíbrios que eu faço comigo mesmo, não vão cessar. Leio e não sei o que eles querem dizer, se é que saberia antes. Números, letras. Números. Palavras sem congruência vomitam de dentro de mim, não só da boca. O corpo fala demais. E com o corpo, essas palavras perdidas se encontram, porque é seu mapa, desconexo.

Parece que essas músicas foram feitas para esses meus momentos. Como se quando as fizessem pensassem realmente em mim. E nesses meus momentos, eu encontro uma paz quase divina. E triste. Isso aqui é raiva. RAIVA. Raiva mesmo, controlada. A pior das raivas, a da enxaqueca. Aquela que invade até meus sonhos e não me deixam dormir. Mas eu não me permito acordar. A raiva que encontra minha paz. E fico lá, divagando em meu Éden. Foi o que sobrou, não foi?

Converso. E falo e falo e falo, bastante. Mas é raro ter alguém ali. E quando dou por mim, volto ao sábio silêncio. É por isso que converso bastante na companhia de quem eu julgo presente. Porque eu só estou cansado de falar sozinho e ninguém me responder. Eu estou cansado de não ter desafios e não sentir emoção nenhuma em nada. Sabe, nada? Absolutamente. Até eu me surpreender com uma de minhas letras num rascunho qualquer. Códigos indecifráveis. Mas eu sou Deus, então eu sei.