Sejam bem-vindos ao outro lado do espelho, onde tudo pode acontecer (e acontece).

Wonderlando é um blog sobre textos diversos, descobrimentos e crescimento. A filosofia gira em torno do acaso, misturando fantasia e realidade de dois amigos que se conheceram também por acaso, Alice - que tem um país só seu -, e Yuri - chapeleiro e maluco nas horas vagas.

Leia, comente e volte sempre... Ou faça como a gente e não saia nunca mais.

26 de outubro de 2006

As esquecidas verdades

Quero saber a verdade, quero falar a verdade, tenho medo da verdade, tenho medo de mudar. Mas isso tem que parar, se esse medo não for vencido, quem será derrotada serei eu. O meu legado será minha carcaça e não minhas atitudes ou as marcas que deixei, mesmo que não tenham sido em pessoas.

Por isso, vamos relembrar o nosso antigo trato. Minha proposta do Acaso aparentemente não suscitou o objetivo desejado, incomodou não só a você, mas a mim também. Muito provavelmente por razões distintas, um dia a serem compartilhadas, quem sabe. No entanto, a idéia anterior ainda não foi realizada, as nossas verdades não foram confrontadas e minha vergonha não foi derrubada. Creio que é momento de retomarmos a bela idéia e decidir os limites de sua forma.

Hoje algo me foi clarificado. Quanto se pode saber pelo que não é dito, realmente entendi o porquê. Porém, o não explicitado não é o mesmo que inexistente ou inacessível. Tudo que não sabemos nós preenchemos com fantasias e ilusões, que dizem muito sobre nós. São importantes essas fantasias, as histórias que criamos para manter a esperança nas pessoas, elas vão incrementar nosso interesse, nossa curiosidade. São essenciais para o vínculo. E muito se pode saber sobre outros e nós mesmos a partir do que é projetado, imaginado e sonhado pelos outros.

Sei que é difícil conceber essas coisas, é um automatismo que temos, algo tão natural, complicado de identificar. Então, pensei em começar por aqui, pelo que projetamos sobre o outro, o imaginado sobre o obscuro e desconhecido.

O que acha desse caminho? Para onde será que ele nos levará?

6 de outubro de 2006

O vazio falha-nos a completude

Será que precisamos ter para valorizar?

O problema não é perder e só então ver o quanto aquilo era essencial na vida. A questão é a necessidade do homem em possuir todas as coisas, como objetos de coleção, raros ou não, especiais ou não. Tudo pelo ordinário prazer de “ter”, pelo mesquinho título de detentor e a suposta máscara de controlador.

As infindas tentativas de nos tornarmos os Senhores dos Fantoches nos levam à solidão. No fim, como saber se nossas relações foram construídas a dois, conquistadas ou forçadas por nós? Como saber se elas são de nossa possessão ou se são porque somos privilegiados e merecedores da tal convivência?

Desse modo possuidor, perdemos nosso valor. Somos coisificados e coisificamos as pessoas ao nosso redor. Pois só é possível ter uma coisa. O resto é uma relação de reciprocidade, não de possessão. Esta relação pode então ser correspondida pelo outro. No entanto, isso não se pode exigir de ninguém ou obrigar alguém a fazer isso, se não, recai-se novamente no relacionamento coisificado.

Só assim é possível perder algo. Considerando a relação uma reciprocidade, nunca se perde, ela apenas muda e se torna necessária uma adaptação das pessoas. Não se perde, não se ganha. As situações se alteram, mas continuam lá, diferentes, doloridas ou coloridas.

Quanto à valorização dessas relações, cabe-se pensar, uma vez que elas não desaparecem e somente se transformam, teria sido ela valorizada quando causava o bem? Em caso negativo, é impossível exigir agora uma volta ao estágio anterior. Deve-se se manter ciente no momento vivido, porque não se vive o passado ou o futuro. Quem perdeu e valorizou apenas depois não mereceu a relação, não estava presente.

Porém as mudanças são feitas por nós. As presentes relações podem melhorar e ser valorizadas no agora, para que não sejam perdidas no futuro. Quando valorizamos alguém não a tornamos um objeto e não a perdemos, mas mudamos o modo como nos relacionamos com ela. E aprendemos com o novo.

Mas o ser humano é cego, é ausente para os outros e para sua própria vida. É óbvio que precisam perder para valorizar, é óbvio que precisam possuir para se sentirem humanos, é lógico que precisam ser possuídos para se sentirem amados. E é por causa dessa possessão que perdemos os outros e os outros nos perdem.

Somos os detentores do nada.


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Usei uma matéria que tive essa semana para chegar nessas conclusões. Interessante.

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Conte-me suas serendipities*.

*serendipity (inglês) : faculdade de fazer, acidentalmente, descobertas felizes e inesperadas.