Sejam bem-vindos ao outro lado do espelho, onde tudo pode acontecer (e acontece).

Wonderlando é um blog sobre textos diversos, descobrimentos e crescimento. A filosofia gira em torno do acaso, misturando fantasia e realidade de dois amigos que se conheceram também por acaso, Alice - que tem um país só seu -, e Yuri - chapeleiro e maluco nas horas vagas.

Leia, comente e volte sempre... Ou faça como a gente e não saia nunca mais.

30 de março de 2009

Flor de Una

Era exatamente o que eu precisava sem saber, um novo jardim fazer florescer.

Depois daquele beijo, o cheiro forte dos seus cabelos de cipó me agarravam e enfeitiçavam me fazendo ficar. Os flertes em seus olhos me olhando de lado me diziam querendo calar:
- Tu és malandro...
- Mas com você eu nunca fui
- Mas eu gosto.
- Então é só o que eu sou.

Era o que eu precisava, um novo jardim para me acolher, uma nova espécie para eu colher. Peculiar, de pétala delicada que se mistura às demais facilmente, mas que não é igual a nenhuma. Escondia seu veneno em sua aparência atraente. Una.

Seu corpo é a relva da noite, minha campina de sonhos caóticos, flutua em tambores e sons de alegria. Me sorri com malícia e aprovação, me dá seus lábios carnudos cheios de curvas e desejos. Faz desta noite todos os meus dias. Me dá teu coração.
E me beija.

Me agarra em teu corpo quente. Me domina.

Depois daquele beijo eu sabia. Gemia pedindo, dizendo que mordo forte. Mansinha delícia de se ver. Sorrio porque sei que é verdade, que é pura maldade, que só quero vê-la gemer.

Cantamos a gente, dançamos em nome da orgia e promiscuidade. Bebemos do vinho dos impuros e nos misturamos às salivas dos deuses. Nós éramos convidados especiais e flutuávamos sem vaidades. Haveria outros encontros, mas nos despedimos como se nunca mais.

A rego e a fortaleço, cresço com mais uma flor em meu jardim sem endereço. Durmo sem me preocupar o que sou para você, mas sim, o que tu és pra mim.

27 de março de 2009

II em I

Identidade

- Você tá falando isso porque você não sabe de nada! Olha pra mim, em pleno fim de semana quando eu poderia estar fazendo qualquer outra coisa com alguém, eu fico aqui o dia inteiro vendo filme, lendo e escrevendo! Você não percebe que eu me isolei?, e que eu me isolei porque eu não suporto mais ninguém. Eu não me identifico com ninguém, mãe, você sabe o que é isso?

Foi no meio dessa briga que eu percebi o quanto eu dispensei todo tipo de companhia, e o quanto minha solidão era ignorada. E foi só quando eu gritei todas as coisas sem pensar foi que eu percebi. Quem estava falando aquelas palavras tão esclarecedoras? Quem dentro de mim percebia mais que eu? O quanto dessa voz eu devo ouvir?

Eu só gosto de gente morta, cheguei a essa conclusão. Poucos são os vivos que me satisfazem, poucos são estes que eu homenagearia. Será o meu desprezo à vida ou à humanidade, que me fez chegar a esse ponto?

Reza Vela

Vi um brilho no fundo do quintal, escondido atrás de uns tijolos, em cima da pia. Era uma vela num prato com açúcar e um copo do lado. Fiquei observando atentamente aquela chama dançando a dança do vento. Não sei o porquê, mas sabia que aquela vela estava acesa por mim. Era por minha alma perdida, e ali ela se encontrara. Eu vi o meu passado naquele fogo, mas não quis ver, e assoprei. Assoprei forte. Ela bambeou e se firmou no pavio. Molhei a ponta dos dedos e tentei apagar direto do pavio. Me queimei e ela se manteve. Tentei assoprar mais forte, até quase perder o ar. Ela desequilibrou no pavio, mas não caiu, e me olhou com deboche. Certo, já entendi.

Lugar Perfeito

ela não enxerga sua beleza
e tenta fugir
num mundo sujo e nojento
ela se importa
quando tudo é tão cinzento
Nina insiste em sorrir

é que nada parece valer a pena salvar
eu não posso deixá-la escapar
de meus dedos
é que nada parece valer a pena salvar
eu não posso vê-la deslizar
em seus medos

eu não vou deixar você cair
eu não vou deixar você sumir
e cair no esquecimento
quando tudo é tão cinzento

Nina não enxerga a maldade
no coração de quem passa
ela diz querer uma história sem fim
se eu pudesse me consertar eu faria
mas é tarde demais pra mim

nós acharemos o lugar perfeito
onde a gente possa correr e se esconder
nós construiremos um muro
e deixaremos eles do outro lado

nós acharemos o lugar perfeito
onde a gente possa correr e se esconder
nós construiremos um muro
e deixaremos eles do outro lado
mas eles vão bater
e bater e bater...


_

|deep side of the aquarium|BZ=

25 de março de 2009

O Beijo Branco do Apocalipse

Sentia falta de ar enquanto o céu escurecia num eclipse total do Sol. Num piscar de olhos a Terra se tornara um enorme deserto noturno enquanto eu caminhava sem direção a procura de vida. A vida dos outros e a minha, que já nem tinha.

Vi uma sombra distante e imaginei se estava delirando. O calor não estava mais lá e meu corpo cansado tropegava nas areias frias. Era Ela, deusa de meus sonhos, imaculada com um vestido todo branco, meio transparente, sem nada por baixo. A vi distante, e cada vez mais perto, tão nítida quanto o dia. Ela era tão distante. Uma camélia rosa bem clarinha enfeitava seus longos cabelos negros, exalando um perfume de inverno. Sorria e cantarolava ao meu redor embriagada e tomada de felicidade. Fazia nevar e se misturava àquela areia branca. Era a vida que sobrara.

Eu estava tonto e a falta de ar era mais presente. Uma ansiedade tomava conta de mim fazendo meu coração palpitar sem parar. Achei que era minha hora. O único momento que não queria partir e lá estava, eu, jovem e moribundo no meio do fim do mundo. Era Ela. Minha amante, minha assassina. Era Ela quem tomava meu pulmão trancando meus brônquios e apertava meu cérebro fazendo meu nariz e ouvidos sangrarem. Ela era minha sombra interna, o Apocalipse.

Meu corpo caiu seco e distorcido como uma árvore morta enfraquecida pelo frio, e afundou na areia. A tempestade de neve não fazia mais diferença naquela escuridão, agora eu podia ver tudo e entender tudo. Não é tão ruim assim, não sentia mais o pesar do mundo às minhas costas.

Ela me enxergava como se nada tivesse acontecido e me tomou em seu corpo, a única coisa que exalava calor ali. Abraçados, pude ver o início do universo em seus olhos e aquilo me hipnotizou de tal forma que eu nunca me senti melhor na vida (ou na morte). Encostamos o nariz e a testa enquanto a Terra se desfazia, ela molhou os lábios e me disse com malícia e raiva: - Lúcifer mandou um beijo. – Deu um sorriso de canto de boca com um olhar que dizia “você perdeu e eu ganhei”, e suas mãos se tornaram garras pontudas prendendo o que havia sobrado de mim. Mas eu estava tão maravilhado que não estava tentando fugir, eu só queria aquilo. Durante a minha vida inteira eu só queria seus lábios e seu corpo e sua voz infinita desde o nosso primeiro encontro. Me beijou espalhando sua saliva preta dentro de mim, me mostrando todo o terror que pudesse existir, depois me empurrou direto para o Inferno!

24 de março de 2009

Meu vestido

Queria que não me beijasse somente quando bêbado. Na verdade, queria que só me batesse quando bêbado. Mas não se pode ter tudo, não é isso que dizem por aí?

Nos nossos longos momentos de silêncio, temo usar indevidamente minhas palavras, para não quebrar a nossa harmonia do instante. Ficamos tão bem juntos no silêncio. Admiro seus traços de longe, evito interferir no seu ambiente. Evito ser percebida. Gosto de ser uma sombra, um fantasma.

Se me nota, te assusto. Desculpe o caos, você me paga igual. Desordenadamente, pune-me por estar ali percebida. Aturo sua fúria e busco minhas próprias saídas. Penso no Havaí e de como deve ser gostoso ficar na praia comendo frutas. Ou lembro-me do dia em que brinquei com os coelhos da minha tia e um deles me mordeu. Fiquei tão assustada na época, mas com o tempo entendi aquela ser sua natureza.

Hoje, sei os modos, seus modos. Nos nossos silêncios, gosto às vezes de me aventurar numa brincadeira de luta e cócegas. Assim que de vez em quando justifico meus machucados para os outros... e frequentemente para mim. Mas este é um momento tão feliz, pois me toca com delicadeza e imagino que suas mordidas, na realidade, foram beijos que você arriscou a dar. Então você percebe que sorri e se afasta brutalmente, iniciando outro ciclo de réplicas e desapegos.

Queria ter escrito mais ambiguidades, para que, neste texto, não ficasse claro quem sou eu ou para que nos mesclássemos nos pronomes e verbos. Fundidos, poderia então te odiar com a liberdade com que me odeio.

23 de março de 2009

Humpty Dumpty Love Song

Canto minha canção, estraçalhado neste chão, sonhando com você, a unir-me novamente com suas mãos. Pois todos os homens do rei, do ministro ao ferreiro, e até mesmo seus mais hábeis guerreiros não conseguiram juntar meus pedaços. Todos os médicos e matemáticos da região também falharam a impedir que se partisse em dois meu coração.

Por isso preciso de você.

A pensar que tudo isso se sucedeu a uma ingênua premonição, que parecia uma trova em minha cabeça. Decidi seguir aquelas suspeitas, na esperança de encontrar algo real. Cavalguei por reinos desconhecidos, em longas noites e exaustivos dias. Até que, sob a lua nova, ela entrou, sem fazer alardes, na minha tenda.

Ainda assim, preciso de você, somente de você.

Ela era linda. Era tudo perfeito, do jeito mais perfeito que poderia ser. Mas algo deveria ceder – eu deveria saber, nada é assim plenamente formoso. Ah, ela me fez tão feliz... ela me arruinou.

Num dia como hoje, com o mesmo sol escaldante, esperava ela voltar. Mantive meus olhos nos nossos cavalos, como um cavalheiro para sua donzela, enquanto ela dormia nos estábulos com todos os cavaleiros.

Sobre a terra, meus pedaços arruinados. Nunca mais serei o mesmo. Preciso de você, somente de você, que possui a cura para remendar meus rasgos. Não há nada que eu possa fazer. Apaixonei-me por você. Dar-te-ei meu coração.

Só queria que você não fosse ela.

***

The Humpty Dumpty Love Song

21 de março de 2009

Ana Rosa

Tudo que foi dito no passado ficou. Mas as emoções passaram como um filme que assistimos, nos emocionamos e depois esquecemos. Eu nunca mais te vi como prometi, você nunca mais ligou, como prometeu. Parou de correr atrás, agora corre na frente. E eu, sem conseguir te alcançar, parei de correr.

Mas te vejo as vezes misturada na multidão de um show, na fila do metrô ou no meio dos transeuntes de São Paulo. Você não me vê, e eu nunca consigo chegar até você. Nossos passos se cruzam, porém não se encontram. Até aqui.

Deixo o bilhete velho e amassado naquela estação de metrô de todo dia, porque um dia...

Minha bela Ana Rosa,

Peço por favor não vá embora. Eu sei que te abandonei e que fui egoísta, mas te peço, por favor, não pague na mesma moeda. Pode ser a nossa vez, nossa última vez, como já tivemos e eu achei que não a veria nunca mais. (E assim era pra ser)

Este bilhete é pra dizer tudo que sabe que não digo, e que se faz necessário ao nosso encontro. Porque sei que, talvez não hoje ou amanhã te encontrarei, mas virei aqui todos os dias até que este bilhete esteja em suas mãos, e você nas minhas...


20 de março de 2009

Savory


Alguém se apaixonou. Sigo com meu arco-e-flecha pelas pradarias a procura de corpos. Quero te encontrar em meio à guerra de sexo, em meio às orgias de soldados solitários e carnívoros em busca apenas de corpos para devorar. Eu costumava comandar essa guerra, quando a tinha a meu lado. Mas a cicatriz da minha flechada já se fechou, e agora, você é de todos.

Você se esconde atrás de picas duras e gigantescas, mas eu te acho e atiro. Você acha que eu sou um
Cuckold qualquer? Estes são fracos e doentes, eu sou muito mais, SUA PUTA! Eu vou atirar em cada um que te experimentar, eu vou acabar com seu desejo e destruir seus sonhos. Não existe uma palavra para o que eu quero fazer com você.

Procuras um novo amor em caminhos promíscuos. Ou não há mais o que procurar e se entrega porque está cega e sem fé.
Não poderás nunca desvencilhar daquilo que tanto anseia entregando seu corpo a outros e outros. Sei que queres a mim, mas me negas quando a ti pertenço.

Eu sou o Cupido e não pertenço a ninguém, mas me tens tanto quanto eu a ti.
Devia não ter tido piedade com o âmbar de água amarga. Eu afundei uma flecha em meu peito por você. Mas agora estou mirando em sua cabeça, para quando cair eu comer seu coração.

Se não minha, não serás de mais ninguém.

16 de março de 2009

Cinzas


Precisava de um inimigo para completar minha vida. Um diferente, cansei de me enfrentar e perder sempre. É isso. Genial! Como não havia pensado nisso antes? Como não havia pensado em preencher essa lacuna odiosa e vazia com inimizades? Sempre quis ser querido, mas isso contradiz com minha natureza solitária e mesquinha. Agora tudo se encaixa em perfeito sentido. Cansei de ser meu próprio inimigo.

Ele é menor e aparentemente mais fraco. O escolhi porque sei que vou perder, mas todos nós perdemos. Sempre perdemos. O aponto para mim e procuro em vão o gatilho. Essa arma não precisa de balas. !FOGO!

Agora ele vai ser meu melhor amigo. Eu ganho todas as batalhas, mas no fim, todos nós sabemos que a guerra é dele. Ele é meu melhor amigo porque sabe a hora de ir embora, e se vai numa fumaça misteriosa, deixando sempre um pouco de si em mim. Ele me salva de mim mesmo.

Me mata aos poucos, mas quem não mata?

Agrada só para não ser sozinho. É tão triste, meu melhor inimigo...
Ele só antecipa meu anseio. No final, somos só cinzas.


Dias vão, dias vem, uns em vão, outros nem
Quem saberá a cura do meu coração senão eu?
Não creio em santos e poetas
Perguntei tanto e ninguém nunca respondeu
Melhor é dar razão a quem perdoa
Melhor é dar perdão a quem perdeu
(Zeca Baleiro) - Cigarro




15 de março de 2009

Evento Nuclear (Pelo o quê irei chorar)

Pelo o quê irei chorar
Senão pelo acabou
Senão por quem tu és
Senão pelo quem sou

Acabaram-se as falas
Tive que reconhecer
Nos perdemos sem palavras
No roteiro não dizia
Que assim devia ser

Saiu do palco
arrancando o personagem
De pessoa mais importante
Destilado como álcool
Vez ou outra retorna
Pessoa mais impotente
Vez ou outra retorna
Pessoa mais imponente

O final do luto é uma bomba
Não rende uma mísera arte
É coisa crua que dói,
que nos divide em partes

Gasta minha tinta e força
Destrói minha crença
Que se põe como amor
Mas é só indiferença

Agora é só um estranho com privilégios
Fazendo uma participação especial
Porque sabemos que no final,
É só um evento nuclear
E tudo se evapora em minutos

Pelo o quê irei chorar?

14 de março de 2009

He loved you

"E é a hora, é a hora. Todo o amor deve morrer. Você deve se lembrar dos sinais e nunca chorar".

Sim, é a hora. O amor deve morrer. Veja os sinais e não chore mais.
O amor deve morrer, pois é a hora. Não se esqueça dos sinais, e não chore.
Nunca mais chore, é a hora. O amor deve morrer, não esqueça os sinais.
Olhe os sinais, é o momento, o amor deve morrer. Não, não chore.
Não se esqueça dos sinais vistos, das lágrimas derramadas. É a hora: o amor deve morrer.
O amor deve morrer. Os sinais indicam que é a hora. Choro, não mais.
Nunca mais chorar! É a hora! Perceba os sinais: o amor deve morrer.
"Acho que é a hora... o amor deve morrer. Não se esqueça dos sinais, o amor deve morrer. Por favor, não chore mais".

É a hora... eu devo me lembrar dos sinais. O amor deve morrer, mas não devo chorar por isso.



Chorarei pelo o que então?

13 de março de 2009

Dica prática

Nunca beba café e chupe um Halls preto. O saco do Diabo deve ter o mesmo gosto!

Coisas Frágeis

Entrei naquele enlatado lotado. Um corpo feminino e esguio se prendeu ao meu. Olhei de canto de olho e, sem dar muita atenção, voltei às palavras frágeis de um livro.

As pessoas vêm e vão sem direção, até pombos parecem ter mais propósito que elas. Às vezes eu gostaria que fossem aves nobres, que tivessem mais propriedade. Solitárias e inquietas, as pessoas aguardam ansiosamente dentro do vagão. Olhando para o nada inquietante e vago - será que é por isso que se chama vagão, porque provoca essa sensação de grande vazio?... Desabilitando olhares, tornando-os devolutos e inóspitos, como os corações dos mais realistas... um vagão!

Aguardam o sinal para debandar e se esparramar pelo espaço, esbarrando em tudo. Eu sempre desvio das pessoas, não por educação, mas porque eu tenho nojo.

Lá estava ela, bem na minha frente, de cabelos louros metricamente bagunçados, de pele cheirosa e um decote maravilhoso. Suas mãos detalhadas cheias de anéis me apontavam expontaneamente sua boca carnuda levemente ressecada - Ahh, como eu queria molhá-la com a minha boca para vê-la de perto olhando assustada para mim. Suas unhas compridas diziam "não chegue perto, eu sou perigosa", mas sua real força era indefesa.
Seus olhos cerrados me identificavam, e pareceu que eu a conhecia como se toda manhã tivesse essa mesma visão. - Abra os olhos, querida, pensei alto, - Vamos, abra os olhos - ela nem se mexeu.

- Qualé, você quer que eu grite, aqui no meio dessas pessoas? - Ela gungunou, se ajeitou, mas nada. Meus gentis pedidos mentais fracassaram.

Alguns muitos olhares se voltaram a mim, nenhum que eu queria. E também, eu já estava perdido demais pra me perder em outro olhar. O que eu quero ela não me permitia.

Li desatento mais algumas páginas, mas sem tirar os olhos daquela. Estávamos quase no ponto final de nossa viagem, ela seria forçada a acordar e me enxergar. Abra os olhos, eu estou pronto.

Abriu os olhos mirando o chão. Não quis chamar atenção nem demonstrar meu estado alterado. Deixei-a reconhecer o lugar para depois me conhecer. Tateou o que suas mãos alcançavam, até que me tocou, e eu me deixei tocar. Suas pálpebras não se abriram, mas ela me enxergou como eu sou. Exatamente como eu sou, eu pude sentir. Ajudei-a a sair do vagão, ela não disse muita coisa a não ser que "podia se virar sozinha a partir dali, obrigada". E eu?, eu não podia me virar sozinho a partir dali.

Se perdeu sem esbarrar em ninguém, enquanto eu era engolido pela multidão sem nunca tê-la olhado nos olhos.

As pessoas se mostram fortes, mas não passam de coisas frágeis. Coisas frágeis colecionáveis. Ela foi mais uma para minha coleção.



*Esse conto eu fiz em outubro ou novembro do ano passado. Foi um recomeço. Logo quando eu parei de postar aqui no Wonder em setembro, eu também parei de escrever.
O conto tem um final alternativo, mas acabei perdendo em algum caderno no meio de um monte de outros textos.
=P
Aí quando eu achar eu posto.

9 de março de 2009

Retorno de Darjeeling

Meu estômago está tão pequeno. Eu posso sentir o medo o envolvendo, comprimindo e apertando. O mesmo medo que, de fora, mediu o espaço para crescer, descrente deste ser tão amplo. E ele permanece inconsciente de que já está dentro. Do meu estômago, digo, fazendo nascer borboletas com sua sombra. A mesma que se nega existir, mantendo-se somente sombra, mas que me aceita perseguir.

Redige, então, a trilha sonora do momento. Sons desconexos que despertam as borboletas fora de hora. O frio terrível causado percorre meu corpo e elas, ao baterem as asas freneticamente, espalham os cheiros azedos das memórias amarguradas. Sinto repulsa por este cheiro, que elicia lembranças partilhadas num passado sem retorno.

Quando isso acontece, as palavras vêm a mim. Fico presa nas analogias e metáforas que não vão nunca se igualar ao meu medo do fim. São frases escondeirijo, pois todos veem que é mais fácil falar do estômago do que do coração.

***

Oposto a Viagem a Darjeeling

8 de março de 2009

Asilo Magdalena

No centro da Terra do meu coração eu havia chegado. Cinzas do que um dia foi chama acesa de esperança, que dançava ao som de minhas fúrias. Meu medo dominando meu corpo que responde com dores. Meus músculos doem, meu estômago dói, meu peito dói, minha cabeça... cinzas.

Enfermo llegue, y para componerme ando de vago. Me perguntava como isso era possível, eu estava vivendo outras e outras vidas e todas haviam falhado. Eu havia fracassado. Eu me tornei alguém que eu odeio só pra fugir de quem eu odiava ser. Quando eu cheguei no Céu eu desejei o Inferno. En el infierno me duermo, porque el infierno es la unica verdad en mi vida... Há de ser da minha Natureza. Há de ser meu fardo a carregar. Há de ser minha vida.

O escuro me mantém e eu enxergo muito bem. Allan se calava toda vez que entrava alguém. E toda vez eu o condenava. Cuando yo te vi en la lluvia me prometiste tu sangre. Yo no me quedo... Na minha vida. Eu carrego uma navalha para afundar em minhas dores e manchá-las com meu ódio. Mas nunca o feri... Não me dê tua obediência, senão te mostro minha pele de lobo, débil e cheia de fome. Estrella de la mañana, Samael te persigo a ti. Y si me quemo sin alas, ademas me muero por ti. Morro por ti.

¿Pero que pasa contigo?



Encontrei Allan no caminho para o Sol. Pela primeira vez estávamos em lados opostos. Eu parecia um meteoro flamejante e raivoso indo bruscamente em direção ao centro da Terra, ele mais parecia Estrella de la Mañana na forma de um lobo albino de brilho ofuscante e olhos negros. Onipotente e ausente como de costume. ...Como ves aquí el desoye ya empezó...

Ele via meu rastro de dor por toda a atmosfera, eu via todo seu caminho desconexo e decifrava sem muitos esforços o que ninguém conseguia. Allan era único, e por ser único, não precisava de mim. Eu precisava dele. E ficava me perguntando se eu era único. ... Sofoco poco a poco todos...

Passou. E eu fiquei. Por que eu não poderia (não) ser o lobo dentro de mim, voando em direção ao Sol? Por que eu não podia ser um Okami igual Allan? Ele era meu Salvador, eu mal conseguia me salvar. Ele também falhou, e caiu comigo. Dizem que melhores amigos te tiram do buraco, e não que se afundam com você. Allan não era melhor nada, mas está fazendo pezinho pra me tirar de lá.

En que sentido sopla, no crees en na. Cada día que pasa te veo peor, te me estas poniendo como un tenedor, pica que pica y pica, y al final no enganchas na! ...
Minha cabeça anda tão confusa. Tudo parece tão perplexo. Enquanto eu lhe pergunto que pasa, Allan me responde “¿Pero que pasa contigo?”.

5 de março de 2009

Parto

Persigo planos, processos, passos, promessas. Procuro pensamentos, palavras, paladares. Palpito previsões, palpito pulsações. Penso: passado permanente, presente passageiro. Períodos problemáticos, plurais, polimorfos. Pulamos procurando polpas, poderes, perdões. Paixões perpétuas pertinentes.

Pane perigosa. Pane plena. Paranóias panorâmicas perante. Palavras possessivas permutam poemas, poesia. Perfeito para, pensei. Provocará performances. Planos perdidos. Pelos pedregulhos perdi. Pelos provérbios pratiquei persuasões. Perversão, presente pegado.

Pesar. Pisou pelo pássaro, planando para pirar. Penou, pássaro, penou! Penas, plumas, piruetas! Pêlo? Pena. Pareci pássaro, passado, porque pinguei. Pingente plástico, pelo percebido. Pechincha, pelego. Passei pela peneira, pepita, pirita. Pesquise: pirita.

Pertencida pelo passado. Pioneiro, pêssego. Primeiro. Pequena/pesado. Pêsames, pesadelos, pintados pela parede. Pelo papel, pelo pulsar periódico.

Posição possessiva, pelo passarinho. Pode? Pouco, pouco perdão, pouca permissão, poli-pensar. Passe, próximo!, pede. Pude perceber pelas palavras postadas pela pessoa perversa. Pessoas, plural, pregou pessoas, prendeu pessoas, perdeu pessoa. Perdi. Precisa pensar: pela paixão, pela possibilidade? Primeiro pedido??? Prefiro parar.

Pare! Palhaço! Pretende planos, permanece por pequenos pedidos podres. Perde panorama. Pretextos, pretextos... promessas...

Partido.

***

Peça para podermos pelo par. Pede?

4 de março de 2009

Minute of Decay

Eu perdi. Confesso. Perdi. Embaixo das nuvens negras que se formavam e tapavam o Sol, percebi que eu estou cansado e desgastado demais para querer que o mundo dê meia volta à decadência. Ele me fez jogar seu jogo, ou talvez seja o destino a desgraça da humanidade (ambíguo assim mesmo). Eu estou caminhando em direção ao subsolo pra tentar sentir alguma coisa quando alguém me pisar. Muitos dizem que é ruim ser sozinho. Ruim mesmo é ser solo.

Apaguei meu nome e os vestígios do meu passado. O ódio se encarregou de fazer o mesmo pelo meu futuro. Não sobrou muito para amar, e hoje estou cansado demais para odiar. O presente é vazio e não se pode tocar. Não tem cura para isso que está me matando. O minuto que nasce a cada sessenta segundos morre a cada minuto. Eu olho pra frente e vejo um mundo morto, então eu acho que eu também estou.