Sejam bem-vindos ao outro lado do espelho, onde tudo pode acontecer (e acontece).

Wonderlando é um blog sobre textos diversos, descobrimentos e crescimento. A filosofia gira em torno do acaso, misturando fantasia e realidade de dois amigos que se conheceram também por acaso, Alice - que tem um país só seu -, e Yuri - chapeleiro e maluco nas horas vagas.

Leia, comente e volte sempre... Ou faça como a gente e não saia nunca mais.

28 de fevereiro de 2009

Engano


Uma borboleta cinza cruzou nossa distância e desviou sua atenção. Pousou em seu vestido preto de voal como se fosse parte dele. Uma parte viva. Tínhamos acabado de sair de uma festa. Mais uma dessas que eu odeio e você adora. Mas não me importo em te acompanhar, contanto que te veja feliz. Contanto que você venha sorrindo ao meu encontro para dizer com a sua voz rouca o quanto está feliz. E como você estava bonita essa noite, cabelos negros presos num rabo de cavalo, maquiagem escura nos olhos delineando sedução, os lábios cereja combinando com as unhas vinho, com um belo decote e as coxas de fora sem vulgaridade, mas chamando atenção. Impossível te ignorar. Eu te seguro, mas não te mantenho. A borboleta se desprendeu e voou. Assim como você estava prestes a fazer.

Pena sermos de lugares tão diferentes e você não me ver como futuro. Pena tudo ser passageiro e você ter que voltar de onde veio, além de meus sonhos... Meu amor masoquista, que foge do alcance para crer no impossível. Como eu queria ser seu e que você me permitisse saber o que se passa em sua cabeça. Coisas que você nunca conta, sempre tão calada. Enquanto eu... É só o que tenho. Enquanto eu me desdobro em palavras, você nem precisa abrir a boca pra encantar.


Pelo menos escreva para mim como eu faço disciplinadamente. Eu mereço mais do que sua imagem de Afrodite. Mereço seus pensamentos. Depois de tudo que vivemos você simplesmente se vai, assim, sem explicação, como sempre fez? Dessa vez não. Eu quero você exposta a algo que não domina. Quero sua vergonha e te quero agora! Vá embora sabendo disso. Mereço saber o que diz o seu coração.

Então ela chegou bem perto e fechou meus olhos, encostou seu busto ao meu e disse baixinho ao pé do ouvido: "Então ouve seu engano. Ele só diz coisas a você, porque tens minha razão e meu amor. Eu te amo." E ficou.

26 de fevereiro de 2009

Venta

Continuamos de novo. Até quando, nos perguntamos. Sempre as mesmas dúvidas, as mesmas brigas e o mesmo medo. Até quando, nos perguntávamos, lembra? Brincávamos de "vamos durar pouco" e de "se ainda estivermos juntos". Hoje, as brincadeiras voltaram, com outro tom. Antes, tínhamos medo da vulnerabilidade, da transparência, da nudez. O tom de agora é de dor, de promessas que temos medo de cumprir.

Você adora jogar as decisões para mim. Espera respostas, atitudes para que eu livre suas angústias. Não é porque sou coesa para certos assuntos que terei todas as respostas. Na verdade, eu tenho todas as perguntas e todos os medos. Eu que peço ajuda, o que devemos fazer? Minhas ideias se esgotaram de tanto tentar. Minhas soluções furadas para remendar nossas falhas, unir com linha nossas diferenças, costurar o rasgado de volta.

Às vezes, porém, simplesmente não há consertos. Nossas tentativas se mostrarão frustradas. As indecisões me sufocam, já não suporto mais, querido. Por mais que te ame, o barulho da porta entreaberta, batendo com o vento, é insuportável.

25 de fevereiro de 2009

Doce Deletério

O pior veneno é aquele que te agrada. Forçamos um encontro que vinhamos evitando desde a nossa separação. Eu estava casado agora, ela havia se separado do atual "amor". Sempre com esse costume, de "amar" todo mundo. E esse foi um dos motivos de termos nos separado.Ela ama todos, eu não amo ninguém.

Sabia que o nosso reencontro traria boas lembranças, apesar de nosso relacionamento ter sido conturbado. Sabia que se ela tentasse alguma coisa, eu não iria evitar. Sempre fui fiel e leal à minha esposa, mas ela era meu ponto fraco, minha baixa-guarda. Sempre foi. Traidora. Sempre reclamou por firmeza. Gostava mesmo é de um esculacho e de um tapa na fuça. O que também nunca lhe faltou da minha parte. Talvez tenha faltado mais força, mais vontade. Talvez tenha faltado amor.

Na minha visão ela sempre foi mais bonita do que realmente é. E dessa vez a vi como é. Nada de mais. Chegou perto com seu perfume barato e eu me fiz ludibriar. Falamos um papo furado. Eu sabia o que ela queria e estava disposto a dar. No fim das contas, eu também queria.Por tesão ou por vingança.

Nos despedimos umas duas vezes, com desculpas para não soltar os braços. Na terceira eu mesmo a puxo para bem perto e a ouço sussurrar: "Já faz tempo. É estranho". É. Eu já tinha tudo programado. Queria devolver seu veneno que me impregnou durante tanto tempo. Um beijo ou dois. O suficiente para minha vitória.

- Ai, deixa eu ir porque ficando sem-graça.
- Tarde demais. Sem graça.

Se foi para sempre.

21 de fevereiro de 2009

Anoitece



As nuvens são pinceladas de Deus, que mudam a todo instante porque Ele também não se contenta com o trabalho. Elas se desfazem tão rapidamente quanto nós. Nenhuma é igual a outra. Como nós. Eu não acredito Nele, mas e Ele, acredita em Mim?

Daqui eu vejo as pessoas vivendo. Eu vivo. Mas e daí? Consigo avistar um cemitério enquanto o dia ainda me permite ver. Consigo ver a paz invejável dos mortos. É só quando nos é permitido a paz, quando a vida não nos pertence mais.

É na noite que mais enxergo as coisas. Anoitece e os pontinhos mercúrio vão se pintando na enorme tela previsível. As sombras se formam bruscamente, manchando tudo à minha volta e ofuscando minha vista cansada. O cheiro é sempre o mesmo. Tudo é tão monótono que eu não sei explicar. O dia some enquanto eu sinto o ódio me mudar. Choro desesperado sem entender o que está acontecendo, e ninguém percebe o que está acontecendo.

Tudo é tão ruim ou eu que sou chato? Morrer sendo alguém ou no anonimato? Ela disse que não se lembra mais do que é legal fazer sem mim. Eu não me lembro mais o que é legal.

Amanhã será só mais uma noite. Até quando?

16 de fevereiro de 2009

Pareidolia

Na sacada, olhávamos a vista. Você me abraçava e eu pensava em como lidar com a situação. Não conseguia estar presente ali, você também não. Eu pensava em como fazer tudo parar para poder aproveitar e você pensava que nunca mais faria isso. Eu tentava ao máximo fugir deste seu pensar.

Alucinações, ilusões, delírios... não importa o que foi aquilo, me tirou dali, me fez pensar no tanto mais que há. Você nem viu. Não queria ver, estava dando adeus e eu nem percebia. Fiquei ausente e você também não viu minha evasão. Estávamos tão egoístas juntos, presos nos nossos próprios nós. Só fui te perceber quando veio sussurrar. Conversamos assim. Nos percebemos assim, era gostoso ser assim. Ser semi palavras.

Recuei, queria te olhar. Você não deixou.

(Alice Frank 04.04.2008)

***

Somos indivíduos cegos e ausentes
Eu só queria fazer tudo parar
Um abraço vago não nos fazia presente
Presos no nosso próprio nós
Nos tornamos perdidos da gente

Eu queria aproveitar o tudo
Você queria apenas o nunca mais
Eu queria fugir do pensar
Eu queria ir ao fundo
Para você apenas tanto faz

Penso no muito que ainda há
Em tudo que me tira do lugar
Me perco e me encontro em ilusões
Nos tornamos meio em meias palavras
Sinapse em nossos corações

Deu adeus, nem percebi
Você também não me viu, nem quis
Sem me dar chances de entender
Sem saber se fui feliz

Só fui te perceber
Quando veio sussurrar
Era gostoso conversar assim
Recuei, queria te olhar
Você não deixou, e me deixou
Restando apenas a pareidolia do fim

***

Nós. Três anos.

W3!

15 de fevereiro de 2009

Ano 3.

Medo Guardado

as luzes me abraçam a minha volta
as ruas foram tomadas por revolta

e o amor abafado
e o amor jogado

a sombra no fundo do armário
a sombra embaixo da cama
o medo crescendo guardado
dizendo que me ama

(Yuri - 17.01.008)


***

Fui iluminado pelas luzes que me abraçam. A revolta nas ruas é uma endemia na ponta dos pés. Sorrateira, silenciosa, assola as vias públicas. Os amores são abafados e jogados, mal-tratados, sufocados. E ninguém percebe que este é o terreno no qual pisam, que esta é a eterna repetição da vida.

Somente sentem. Sentem medo e o guardam no fundo do armário ou embaixo da cama. Ele é aquela sombra do que um dia se quis, se almejou, se sonhou. Sombra do que se espera, mas apenas sombra. O tal amor mal-cuidado, asfixiado é este medo, este meu medo que também guardo, aqui dentro. Medo que sussurra atormenta resmunga e lamenta que me ama.

Todos amam errado porque têm medo de amar certo. Então amam guardado. Mas, vejam só que sarcástica essa vida: até esse medo ama. E, seguindo toda a sina, clama, mas não é correspondido. Fica, então, escondido.

***

Ele. Eu. Três anos.

12 de fevereiro de 2009

Caravan

Na maioria das vezes, eu nem me lembro do que aconteceu. Mas sei que estes não passaram de meros segundos. Uma fração de tempo tão gostosa, pois se esquece do que houve. Então o vazio volta, e eu percebo que aquele pedaço meu não volta mais.

Fomos amantes por muito tempo, fomos fiéis, presentes, constantes. Eu a amei como ninguém. Era uma formosura... nada dessas magrelas e maquiadas, ela era robusta! Eu conhecia cada pedaço seu. Ela me deixava guiá-la e eu me deixava ser levado por ela. Agora que ela se foi, depois de 26 anos, e eu, aqui, o que faço? Era minha identidade, era minha, amada. Dói tanto olhar para aquele vazio...

Hoje, porém, ela voltou. Com toda sua beleza e formosura, sem arranhões ou rachaduras. Escondeu-se no corredor da morte, fez-se de paisagem. Aqui, não é mais miragem. Vem, amor, deixa eu te dar um abraço apertado. Que saudade!


***
A polícia ligou, ela voltou! Inteira, perfeita!

11 de fevereiro de 2009

Desabafo em 2 tempos - II

E tolices da minha parte, acorde! Acorde, Alice. Tenta e tenta entrar na fortaleza tão bem selada. Por amor ou por querer ser desejada? Descubra! Desista, tempo desprendido com quem não aprecia seu carinho. Pensa em poemas, em canções. Só lhe trazem problemas. Ele tem outras que não são obrigações. São artísticas, são enigmáticas. Você não é mais novidade. Perderá contra sua vontade, para ele é prioridade. No topo, nos espelhos, sempre a se olhar. Egoísmo é o que ele pintou aquele dia. É o que pintará todos os dias, ao ouvir a loteria e ignorar sua magia.

Seja forte, seja brava! Não dê o presente a quem tanto amava. Este presente, de tempo e aniversário, é para outro momento. Talvez outro alguém, mas que lamento! Quando perdi o que conquistei? Tantas bolhas a ultrapassar, tantas palavras no ar, até chegar... aqui? Quando foi que regredi? Destes ovos não lembrava. Onde eu estava?

Está presa, ilhada. Sua mágica é podada. A espontaneidade do amor ele não quer. Só me causa dor. Amarras, gaiolas. Nas minhas asas, darjeeling, o cheiro se espalhava. Não mais, não mais. O amargo voa pelos golpes do debater. O doce some pelo não merecer. Deixo de ser pássaro, deixo de cantar. Se soubesses meus desejos, meu carinho. Mas quanta grosseria um pássaro que não canta passaria antes de cessar vida? O tempo se esvai. E tudo dói, cutuca, machuca. Faz de mim fantoche, boneca.

Pare de perder seu tempo! O “lorde” é muito requisitado, não há espaço para seus caprichos. Muitas linhas perdidas, palavras passantes. Cortázar é mais interessante. Mistérios e sombras são mais bonitas. Você, não laço, só fita. Ele não me trança, não me transa. Tudo é pedido, suplicado. Trata-te como súdita num reino que não tem. Enquanto ele ganha 2 dinheiros na loteria, te perde por inteiro no “mar sem fim” que ele divide com outrem. A baleia se foi, é isso? Não canta, não chora aquele belo lamento. Cadáver gordo a boiar. Forte não? O machucar também é. O ferir, deixar, abandonar. Amou-te tanto quando foi de fita ao laço nos olhos de outros rapazes. Amou-te tanto quando ele desejou. Mas creio, querida, você sobrou. A cama é de solteiro, oh, velha metáfora sincera.

Que desejo de prolongar o desabafo, o choro, o desespero, a angústia. O segredo, ah, esse continua. Quinta feira, seu aniversário, meu presente. Por mim, por mim! Seja forte, tenha porte. Sou vira-lata, sou chata. Apaixonada. Raça ruim. Trate-me bem, coloque-se de lado, ouça o meu lado! Entenda meu lado! Estou ao seu lado. Mas por outro lado... quero ir para o outro lado. Não, quero estar ao seu lado. Mas só chove, e a chuva agora machuca. Pareço chuva, fui na chuva. Não esqueço, pois desculpas mereço e não promessas de remorso. Nada muda, vista turva. És burra.

Páginas e páginas de angústia. De medo. Acorde, acorde! Me acode, nos seja, me veja! Não quero te dar minha surpresa, minha magia, meu amor, se não sei onde irá pôr. Na estante, no pó, vou ficar só. Fingir não é sentir, é ferir. Não a ti, mas a mim. Fingir não ter o que cantar no seu dia é fantasia, é mentira. Sou leão, leal, sincera a mim. Espera. Mereça, não se esqueça.

10 de fevereiro de 2009

Desabafo em 2 tempos - I

Obrigações! Obrigações!
Fugirei das pedições!
Não ouço mais seus lamentos e frivolidades
Pode falar, mas nada escuto da minha parte
Há coisa que não mais me cabe
Que não minhas vontades

Vá agora, é a sua hora!
Não te quero mais, vá embora
O momento é de pintar
A arte está a me chamar
Estou surdo ao seu chorar

A chuva caía, mas que dia!
Raio e trovão
Quebro seu coração
Mas quero pintar!
Mas quero cantar!
Tenho um plano a me guiar!

Desculpe meu jeito
Sabe que não penso direito
Muito mais deve ser feito
Prometo

***
Nada muda, nada se altera
Já estou ficando velha
Mas ainda burra e cega
Por ficar nesta eterna espera

O Valor do Momento


Os lábios se moviam com cumplicidade complacente
Entre nossos pensamentos e corpos não havia censura
Segredos eram trocados timidamente
Encontrava com destreza essa beleza pura
Bruta e rara

As estrelas guiavam-me à tua boca
E se perdiam no brilho dos teus olhos
O único a nos encontrar é o frio
Que tranquilamente passeia pelo local
E nos faz companhia
Nos aproximando mais e mais
Pela escadaria escura e vazia

Gostaria que essa noite não tivesse acabado
Que os galos não cantassem tão alto
Que o sol não tivesse raiado
Nos entregamos até o tempo gritar
Avisando a luz de um novo dia
Nos despedimos pela última vez
Deixando ao léu a companhia

Pude sentir novamente
O que a muito não sentia
A beleza do renascimento
Que só deixa saudade

Que torna rara a intimidade
O valor de um momento











°ºUtopia BlueZoo - Simplesmente Issoº°

9 de fevereiro de 2009

Ian

Tomou os comprimidos sem saber se estava evitando a Morte ou encurtando o caminho para seu encontro. A solidão faz coisas inacreditáveis. Já não sabia o que esperar da vida, muito menos da Morte. Desesperançoso, matou aquela velha garrafa de Domecq que enfeitava a estante há anos.

Queria ter sido dançarino, mas sua condição não lhe permitia. Queria ganhar mais tempo na juventude que lhe faltou. Queria algo que a vida não lhe deu, e nem ele a si mesmo. Queria a vida, mas sua ansiedade por viver acabou pondo um ponto final na sua história de poucas linhas. Correu para a gaveta de remédios. Gardenal, Valproato, Carbamazepina. Antigos e crentes dizem ser coisa do Diabo, ele até acreditava nisso as vezes. Hoje não crê.

Sentia os efeitos do que seria só mais uma dança, não o suficiente para ter os holofotes mirados para sua atenção. Não havia luz em sua performance. A vida estava difícil. A Morte também.

Caiu no chão com o corpo tremendo e se debateu por inteiro. Passos complexos muito bem ensaiados ao longo da vida. Olhos em órbita, salivando sangue por ter mordido um naco da língua... Tudo em perfeita harmonia. Epilepsia é dança. Seu sonho estava realizado, mas sem palmas ao final do espetáculo. Fim.


"It's getting faster,
moving faster now,
it's getting out of hand
On the tenth floor,
down the backstairs
into no-man's land
Lights are flashing,
cars are crashing,
getting frequent now
I've got the spirit,
lose the feeling,
let it out somehow"


Disorder (Joy Division)

5 de fevereiro de 2009

As dores de não se ter um pôr-do-sol

Céline,


I finally found you. I’ve been looking for you since you got into that train. Seeing you going by just didn’t kill me because I was a young guy, full of hopes that we’d meet again – 6 months from then, in Viena. Did you show up? I must confess I didn’t. I was afraid you had forgotten all about me and I would have ended up broken hearted – again. That train had already done much damage.

How I remember that day. Your smell, the way your hair moved in the wind, the graceful gestures of your hands. Your tiny eyes. I can’t forget how beautiful you were... so beautiful, that just your presence in the seat across mine in that train made me smile.

Where are you now? What are you doing? I wonder those things everyday. I’m afraid I’m getting stuck in the past. Something that is so meaningful to me, but to you could have been just an adventure. Was it?

I hope you are good. And happy. Do you remember me? That stranger with a pick up line that won you... for at least one day. Do you remember the fortune teller? And what about the poet? Oh, another smell I can’t forget is the grass of the park, where we made love. I couldn’t believe that was happening at that time... now, I believe in it so strongly.

You must think I’m this dork american that can’t forget an one night stand. For you, it was just that, wasn’t it? Is that why you didn’t show up in Viena? Oh, yes. I lied. I did go. During those 6 months, all I could see were the wrinkles from your smile. I was there, waiting to meet those wrinkles again, kiss them. But you weren’t there. I guess something urgent came up, it must have happened something incompatible with our meeting.

I wrote a book, did you know? I toured in Europe because of it. Did you know? It was about that day... not the one where you stood me up, no. About the day you jumped off the train with me. I guess you are not blaming your husband for the lousy marriage, since you did get off the train to see if you were missing out on anything... do you think you missed out on something? Maybe not, once there was no Céline in Viena months later... do you think you missed out on something then? I wish you are happy, but, at the same time, I want you to have missed.

Well, back to my book, I wrote it to you. To find you somehow. I went to Europe to see you in one of my book signings, there, in the background, standing out of the crowd. Did you come to any of those? If so, why did you hide from me?

I have dreams of you. I see you, in the train, and you go by, and you go by, and you go by. And I’m here, still. In another dream, you are preagnant, naked, lying in bed next to me and I kiss your ankles and your belly. Oh, where did you go, Céline?

I can’t wonder anymore. What if we had exchanged phone numbers? Why didn’t we do that?! I was young and stupid... we didn’t even exchanged addresses... so now I spend my time writing letters and mailing them to random adresses. I hope luck will get by my side one day and hand you this letter. Just like it handed me you in that train.

Céline, I love you.


Jesse

3 de fevereiro de 2009

Esmalte

Talvez dessa vez tenha exagerado. Talvez, só um pouquinho. Viu o sangue escorrer pela cruz rasgada em seus punhos. Uma em cada um. Olhou encantada para a tristeza. Ela não olhou de volta.

Tinha sempre as unhas pintadas de vermelho. Mantinha sempre uma postura vermelha. Seu suor era sangue que escorria por suas carnes e veias. Epiderme e derme - com sorte hipoderme -, abertas ao novo mundo. Descobertas para novas descobertas. De fora pra dentro, bem fundo. Para enfim, ter mais um triste fim. Cicatrizar. Enrijecer. Somar. Perder.

Suas unhas de sangue. Sangue esmalte. Que escorre e passeia sem noção do perigo.
Unhas que cortam fazendo arte. Nas lâminas que o coração suplica abrigo.

Se vai, como faremos?
Se foi. Como iremos.






"Queria saber que, se o desespero ficasse insuportável, eu podia machucar meu corpo. Testei formatos de corte, até o de um coração machucado, para saber se doía como um verdadeiro coração dói. E fiquei feliz ao descobrir que não"*


*. Trecho de "Geração Prozac", de Elizabeth Wurtzel.

Não bonsai, mas ainda vegetal

As pessoas não são como plantas, um dia li. "Nenhum ser humano será bonsai" era o título. Na época, me encantei, achei bárbaro, correto, coerente. Contra os hospitais psiquiátricos, onde impera a lei: "aqui não se pode crescer". Abaixo as salas de aula assim, os relacionamentos assim, os clubes, governos, empresas, igrejas!! Ahhhhhhhhh, deixa eu crescer!!!!!!

Hoje, porém, digo: somos plantas. Pelo menos nos relacionamentos, penso. Se você decide ter uma planta, você a coloca num vaso, acha um lugar que ela goste, e? Deixa-a lá. De vez em quando, você lembra-se de regá-la. De vez em quando esquece, mas os céus dão uma ajuda e chove. Ou ela mesma, a planta, aguenta um tempo a mais com sede. Mas um dia ela não terá mais forças para se enganar e morrerá. Então, quando seu cuidador decidir "ah, hoje quero regar as plantas" ele vai lá e a encontra seca.

Algumas pessoas têm dificuldade de lidar com o fato de que têm responsabilidades, pressões e expectativas depositadas nelas, sempre. Sempre, de todos, sempre. "Não quero ser sua muleta. Você não é minha muleta, não uso muletas, tenho pernas. Está cansada? Sim, estou. Descanse em mim. Descansar em você? Sim. Quer ser meu apoio agora, mas não pode escolher a hora".

Eu não sou um peso tão grande a ser carregado, uma responsabilidade além da conta. Sou só uma planta, tenho sede. Faça um suco para mim, sim?