Sejam bem-vindos ao outro lado do espelho, onde tudo pode acontecer (e acontece).

Wonderlando é um blog sobre textos diversos, descobrimentos e crescimento. A filosofia gira em torno do acaso, misturando fantasia e realidade de dois amigos que se conheceram também por acaso, Alice - que tem um país só seu -, e Yuri - chapeleiro e maluco nas horas vagas.

Leia, comente e volte sempre... Ou faça como a gente e não saia nunca mais.

9 de maio de 2007

Sorriso verdadeiro é aquele sorrido sozinho





Ah, meu primeiro sorriso falso! Será que foi aquele quando fizeram graça de mim por falar a verdade ou por dar minha sincera opinião? Não, isso foi ontem.

Terá sido naquele dia, junto com todos os meus amigos, quando riam e eu chorava – sem claro, ninguém notar – e, ao ser perguntada “aconteceu alguma coisa?”, um sorriso cheio de lágrimas aparecer? Não, isso também foi ontem.

Foi quando minha avó chegou pra mim e contou mais uma vez aquela coisa bonitinha, que nem lembro de ter feito, há uns 15 anos atrás, me imaginando ainda aquela criança imaculada. Também não... isso aconteceu ontem.

Hm, foi quando conheci certa pessoa e sorri pra agradar outra. Não, eu fiz isso ontem. Mas não foi ontem o dia quando perguntaram se eu gostava de tal coisa e tive que mentir sorrindo? Mas foi ontem mesmo que me perguntaram minha idade... porque, pra mim, o tempo não passa.

Todos sorrisos falsos. Você não viu? Mas foi tão óbvio...

Quem percebe? Só eu. A questão deixa de ser quando foi meu primeiro sorriso falso. Passa a ser se eu me lembro do meu último sorriso verdadeiro.

E quem sempre o vê são os estranhos andando no ônibus ou na rua. Eles viram quando sorri para o vira-lata fedido ou quando lembrei de alguém querido. Aqueles foram sorrisos sem máscaras. Foram sorrisos para mim.

Sorriso verdadeiro é aquele sorrido sozinho.

***

Tive muitos sorrisos falsos, talvez por sorrir sempre.
Mas também tive muitos sorrisos verdadeiros.
E você já viu tantos...

2 de maio de 2007

Meu Gato Preto

"Há qualquer coisa no amor sem egoísmo e abnegado de um animal que atinge diretamente o coração de quem tem tido freqüentes ocasiões de experimentar a amizade mesquinha e a fidelidade frágil do simples Homem", “O Gato Preto” de Edgar Allan Poe. Não há outra frase que transforme meus sentimentos em palavras.
Seriam a amizade mesquinha e a fidelidade frágil erros do homem? Afinal, errar é humano. Mas quem ainda compra essa mentira? “Errar é humano” é só mais uma das milhões de formas que ele tem de se exumar da culpa, se exumar das conseqüências de seus atos. O destino foi criado para que o homem banal não se responsabilize por sua vida. “Há algo guardado para você no futuro, não se preocupe”, “tenha fé que tudo terminará bem”, “Ele tem grandes coisas reservadas para você”. Simples é soltar as mãos e deixar que alguém te guie. Difícil é escolher.
Animais não erram, pois decidem suas ações. Não deixam o destino levá-los até seu futuro. Animais são realmente capazes de amar de maneira abnegada e sem egoísmo, um amor incondicional. É o mais puro, sincero e verdadeiro que há. E é isto que buscamos nos humanos, a capacidade de amar de tal modo; buscamos a animalidade, a perda da consciência e o simples amar por amar.
Foi esta animalidade que me tornou capaz de amar incondicionalmente. Eu a amo não por me amar, mas por ser como é. Ser a vira-lata abandonada, ignorada por ser feia, sem raça, a que nega um carinho, que vira a cara quando um beijo ou uma mão se aproxima. Aquela que é egoísta, anti-social, interesseira e falsa.
Quem haveria de querer um cão assim?
Pois é, eu. Quem ama, ama cada defeito. Até mais que cada qualidade, pois as qualidades são fácies de serem admiradas.
Hoje, vislumbro a possibilidade de perdê-la após curtos 11 anos. Os tumores em suas tetas cresceram e uma cirurgia agora se faz necessária. E ainda assim, amo suas tetas, mesmo com os tumores. Amo se não mais as tiver, amo magra, amo gorda, amo presente ou ausente.
Porém, ainda não estou pronta. Não estou pronta.

***

Amanhã é a cirurgia. Estou com medo.