Sejam bem-vindos ao outro lado do espelho, onde tudo pode acontecer (e acontece).

Wonderlando é um blog sobre textos diversos, descobrimentos e crescimento. A filosofia gira em torno do acaso, misturando fantasia e realidade de dois amigos que se conheceram também por acaso, Alice - que tem um país só seu -, e Yuri - chapeleiro e maluco nas horas vagas.

Leia, comente e volte sempre... Ou faça como a gente e não saia nunca mais.

31 de dezembro de 2008

Você (Meu Ano Novo)

guarda-chuva quebrado
vela derretida
café gelado
óculos sem grau

sorriso sem dente
flores no asfalto
crente descrente
jaula sem animal

morte sem nome
lápis sem cor
comida sem fome
luz artificial

rádio calado
vida de aborto
inferno sem diabo
pedaço de carne

eu,
quase morto

você,
meu ano novo

Cama de Micróbio

Sempre me considerei uma pessoa humilde, mas nunca fui uma pessoa tolerante, que pede desculpas... 2008 foi isso. Foi uma grande lição de um monte de coisa que acompanha humildade: tolerância, paciência, reconhecimento dos erros e acertos. Incluo acertos nisso tudo porque também não sabia reconhecer um acerto e dizer “caraca, acertei nisso, agora é só fazer sempre assim”, no no no, eu penso muita coisa, menos nessas coisas. E penso em mim somente para analisar ações negativas.

Foi um ano de aprendizado e crescimento, não posso dizer que foi ruim. Foi, mas não mais que os anteriores, e dessa vez, a conclusão do ano não acompanha remorsos, eles foram abatidos durante os dias. Muitos contratempos, muitos. Com amigos, com colegas da faculdade, com o trabalho, com a família, com a ex e a atual namorada, com tudo que me cerca. Mas dessa vez eu senti maturidade pra explodir e remontar as coisas ao meu redor, se não deu certo, é porque estou aprendendo ainda, não sou gênio pô! Mas tentei, olha a novidade!

Retomei velhos conhecidos com novos conhecimentos. Amigos e velhas intrigas que não fazem mais sentido. Deixei meu orgulho de lado, quero que ele e o superego se fodam! Voltei às raízes do que realmente me importa, me conheci e me vi de outras formas. Vacilei, mas não pisei na bola, acho que isso é o mais importante.

Pro ano que vem na sequência, eu quero o que estou desejando pra todo mundo: paz de espírito e equilíbrio. Quero me arriscar mais, e fazer mais, produzir mais, conhecer mais. Experimentar mais e mais, mas sem deixar o que já tenho ou sou pra trás.

O que eu sou eu soul e se eu um dia mudar, é porque já venceu e pode jogar fora.

Agradeço a todos que fizeram isso possível e me ajudaram a superar um ano que era pra ser dos mais difíceis e aterrorizantes da minha vida: Branca, Alice, Gabriel, Nax, Micha, Bininha, Tor, Pupo, Mathio, Perna, Argentino, Nina, Vans, Fel, Tejano, Thaís, Eduardo.

“Cama de micróbio é caixa de papelão” foi a maior lição deste ano. Essa frase fechou o ano num ótimo dia, feliz e ensolarado entre amigos vadios. E fez todo o sentido pra mim, significa exatamente o que já expliquei no decorrer do texto até aqui.


*Cama de micróbio é uma música do Ventania, quem quiser é só pedir que eu passo ou posto aqui.

2008

Meu 2008 está em ruínas.



Para 2009, quero o castelo de volta.

25 de dezembro de 2008

Natau com Nescal

Esse foi diferente. Mais pra frente, com menos gente. Menos família.


Mais falta, mais radical.

23 de dezembro de 2008

Segredo

Todos os cães do mundo são meus, mas eles não sabem disso.
Não sou dona de nenhum, mas são todos meus...



... meus amores.

Passarinho

Não me lembro como começou, e não sei como vai acabar. A única coisa que sei é que a despedida com um tchau (e não um adeus) sempre termina num abraço... Longo e demorado. E nos abraços eu sinto sua sinceridade, porque ela me confia seu corpo franzino e gostoso e se deita sobre mim. E não tento decifra-la, porque está ali quando está ali e basta.

Uma graça e uma delicadeza sem igual, de um sotaque charmoso e sedutor que só os brasilienses têm. Veste cores e detalhes únicos dela, quase clichê. Quase. Toda vez que a vejo me apaixono e me derreto todo - com muita discrição, claro. E quando vai embora, simplesmente vai cantar por aí. E eu vôo.

Não sei o que é, quando chega é ela, quando vai, é ave. Tenta ser peixe, mas é mais, peixe fede. Ela é carinho.

Enquanto muitos passarão, ela passarinho. E voa, voa, voa, voa...

22 de dezembro de 2008

2.2

Todo ano é a mesma coisa, virou tradição. Quem não se vê, nem ao menos se fala durante o ano todo, hoje é o dia de matar as saudades. Algo sempre muda, um cabelo, um jeito de falar, um vício, mas o templo é sempre o mesmo, enfeitado com carinho e aconchego. Sempre que venho pra cá sou recebido com sorrisos e novidades. É uma data especial.

Arrumamos as malas, colocamos tudo o que nos importa dentro: roupas, escova de dentes, desodorante, presentes; e saímos em clima de férias em direção ao lugar. A única regra é rever quem não vemos há tempos, celebrar e dar risada.

Todo fim de ano é isso, ficamos aqui de bobeira, bebendo e comendo a vontade, dando um tchauzinho a mais um ano que passou, no caso, 21 já se passaram. Não é a comemoração de Natal, muito menos Ano Novo, é algo maior e mais importante, um Feliz Aniversário.

Que neste ano você seja muito feliz e realize algumas conquistas (só algumas porque senão nos outros anos não vai ter nada pra realizar e aí a vida vai perder o sentido, você vai se matar e daí ninguém mais vai se reunir e vai ser uma bosta!); que continue sempre com esse espírito jovem e esses piercings sem motivo que daqui um mês você vai enjoar; que eu não tenha que ouvir Rihanna nunca mais... Pelo menos até o próximo encontro.

20 de dezembro de 2008

A Clace Palled Home

Antes eram gritos, e ecoavam pelos corredores do auto-intitulado "lar". Agora já não se ouve quase nada se não prestar atenção. Procure nos cantos, é de lá que vêm os gemidos. O que mata as plantas é o sal das lágrimas. E estamos todos morrendo, como ela(s). As sombras não são nada além de espíritos divagando tão perdidos como qualquer um que eu possa ver. Mas não quero ver ninguém, não quero nada. Queria que tudo fosse embora.


Ela diz exatamente tudo que eu sinto. Mas ela não sabe, e está sentindo agora o que sempre viu em mim e ignorou, fingiu não ser nada. "Não é nada!". Assim, simples, cinicamente acreditando nela mesma. Tem o dobro da minha idade, talvez mais. Nossa diferença é que ela não viveu, enquanto eu luto para não sobreviver. E como pode se abrir tão facilmente daquela maneira? Quase sinto inveja se já não sentisse outras milhões de coisas por ela. Meu pecado é desejar que fosse muda toda vez que grita. Então choraria em cima dela. Queria que ela fosse embora.


Minhas dificuldades aumentaram porque tentam tampar minha visão. Meus olhos que nunca olham o que está, porque a cabeça quer que (a)voe, e o coração. Seu "lar" na verdade nunca existiu, e se existiu, nunca fiz parte dele. Como eu posso chorar por alguém que nunca amei? E ninguém ouve meus pedidos de socorro abafados pelos seus.



...socorro...










...socorro...













...Adeus.

19 de dezembro de 2008

Conversa de Bar


- Analisa comigo: As pessoas reclamam disso e daquilo sobre tudo, já percebeu? Só que não vejo ninguém fazendo nada!
- Ninguém faz nada! É uma acomodação do caramba, pra não falar outra coisa.
- Cara, pega a situação do lixo, por exemplo...
- A situação do lixo é ridícula.
- E outra, já reparou que quem mais reclama é quem mais joga lixo?
- Mas é! Os favelados, por exemplo, entopem a cidade de lixo depois vão na TV reclamar do governo. Pergunta se eu assisto um programa desse? Pra passar nervoso? Nãããão, parei.
- Cara, pobre é o seguinte: vive dizendo que não tem nada, não tem nada e não tem nada. Aí dá uma enchente e falam que perderam TUDO! Como assim?! Hahaha

Os dois gargalham, e logo em seguida, enquanto um acende um cigarro o outro joga uma bituca no chão.

- Ai ai...
- ... É... Demorou muito pra chegar?
- O quê?! Claro que demorei, com esse trânsito! Isso porque eu moro a 5 minutos daqui do bar hein?! E pra estacionar? Não dá, não tem mais espaço nessa cidade do inferno!
- Não tem, tá tudo um "caos caótico". As pessoas deveriam parar de comprar tanto carro, ou então sair daqui. Esses baiano deviam voltar pra terrinha
- ... Maior poluição, o ser humano destruiu tudo já. Dos nordestino nem falo nada... Povinho sem-vergonha, sem cultura, vem aqui só atrapalhar.
Assobio - Ô Cadu, Vê mais uma loirinha bem gelada dessa aqui.
- Rapaz, quero ver pra chegar em casa hoje hehehe.
- Pára, você mora a 5 minutos daqui e eu também moro pertinho, vai acontecer nada não. 'Cê não se garante não?
-Opa, claro que me garanto, tá me tirando? Mas eu tô bem.
- 'Cê tá bem mesmo... bem louco!

Mais gargalhadas.

...

- Ih caramba, olha a banca ali pegando fogo.
- Aonde?
- Ali do outro lado da rua.
- Eita, tinham que aproveitar enquanto o fogo tá pequeno e apagar isso aí...
- ... É, daqui a pouco o fogo espalha e não tem mais jeito.
- E olha aí, ninguém vai fazer nada?!
- "Prucê" vê rapaz, olha o tanto de gente vendo a desgraça e ninguém faz nada.
- Ninguém se mexe... Tô falando cara, esse país é uma merda, ninguém faz nada sobre porra nenhuma.
- Por isso que o Brasil não vai pra frente!
- Por isso.
- É...
- ...Pois é...

...

- Vâmo tomar mais uma?

13 de dezembro de 2008

Deserto Azul

Eu me sinto vazio. Minhas roupas mudaram, os lugares, as companhias, as conversas. Tudo mudou. Mas o vazio permanece aqui, preso no meu tempo, dentro do deserto da ampulheta.

Eu me pergunto “o que é real?”, se tudo é a representação simbólica de mais tudo? Como ser real nesse deserto atemporal? Simbolicamente atemporal apenas. Parece que o tempo não se mexe e que nada é novidade. Até notarmos que já estamos velhos e desgastados pelo mesmo tempo que dizia não passar; corrompidos pelo mesmo mundo que dizia ser bom, sujeitos a uma vida miserável e medíocre que nos fazia promessas açucaradas.

As lembranças parecem ondas salgadas e espumosas. Quando fecho os olhos, sinto o relógio ir parando, lentamente, prolongando o segundo, um tic batendo no tac, ecoando em minha mente... vazia, fazendo tudo girar numa onda lisérgica. Quando abro, pronto, já foi um ano e outro ano e outro e mais outro e mais... Às vezes a cegueira é dádiva, por isso sonhamos de olhos fechados.

A areia corrói e se movimenta. O deserto é alquimista e (se)transforma. Eu permaneço aqui, preso na ampulheta, gritando por socorro enquanto as areias do tempo calam minha garganta. As areias azuis do tempo... Às vezes eu acho que é só um sonho. E se eu acordar, pra onde vou?

Sempre ouvi que os desertos se expandem e caminham. Fico me perguntando o tamanho do meu deserto, se ele é tão maior que eu, e se algum dia ele irá caminhar pra outro lugar.


Só o que está dentro de mim é real. Eu preciso sair da ilusão do Eu.

12 de dezembro de 2008

Fruta Vermelha

Encheu o mar de sangue. Cobriu o azul silencioso com a tormenta de uma voz que sussurra baixinho em meu ouvido esquerdo. Chorou as lágrimas do mar e me banhou, seguindo a tradição de purificar e me dar a bênção.

O fundo do mar é segredo. O tempestuoso tornado é invisível a olhos nus, a não ser que tenhamos coragem de mergulhar bem fundo. E temos. Palavras entre onda e outra me invadiam, calavam a minha boca sem me tocar. Mas não sou impenetrável, não tento ser. Não mais. Mas às vezes acho que meu sangue é óleo. Às vezes tenho certeza.

Veio até mim, quando se forma é uma onda turbulenta que derruba e balança e afoga e agora(?). Agora é raso, é marola... Mas por que ainda engasga e sufoca? Por que a areia é movediça e traiçoeira? Nenhum lugar é terra firme abaixo dos meus pés. Minha cabeça às vezes acha que voa. Muitos ainda atravancam meu caminho. Eles acham que sou passarinho, mas enquanto outros passam, eu rastejo por não ser tão leve e livre. Não passo nem vôo, não fico nem vou. Não era, nem sou.

Sou um pirata do mar de sangue. Da fruta vermelha secreta do mundo, no fundo do oceano, pode escolher um, todos têm, eu nunca me engano. Seu coração é minha bússola, que eu atirei à sorte aos sete mares na esperança de um dia poder reencontrar. É por isso que pouco escrevo sobre você, para não fazer chorar, muito menos fazer sofrer. É difícil, eu sei que é, mas é preciso ter fé. Pirata é malandro mesmo com a instabilidade no pé. Um dia encontro terra firme se assim os deuses quiserem, se minhas pernas permitirem, se minha coragem alcançar... se um dia eu pegar de volta minha guia, aquela fruta vermelha do fundo do mar...

11 de dezembro de 2008

Fundo do Mar

Náufrago de uma vida em paz. Meu germe da destruição já corroeu meus órgãos, corre em minhas veias e alimenta meu coração. Meu espírito nada diz, e minha boca se tornou só um instrumento que consome.

Você foi até o fundo resgatar o resto perdido que sobrou de mim. Eu já estou acostumado com toda essa atmosfera sem gravidade, de sons abafados e estalos nos ouvidos por causa da (de)pressão, mas você não. E se afogou junto comigo.

Não vê que sou pesado demais? Eu sou só uma vibração sem sentido. Anda, solta minha mão e nade até a luz da superfície. Vai, me deixa aqui, eu não pedi pra sair! Solta a minha mão e nada, porque aqui... nada vai.

10 de dezembro de 2008

Lar Doce Lar

Longe de casa, vendo tudo tão distante, mantendo certa distância. É como me vi por todo esse tempo que fiquei longe (ou simplesmente distante). Precisei correr sem direção e atirar em todos os anjos da salvação. "Me deixem cair, me deixem morrer aqui" eram minhas palavras que feriam mais que qualquer bala perdida. Um Eu perdido.

É estranho nossa primeira "briga".

Mais estranho ainda é eu me reconciliar com mortos. Mortos que eu matei e que ressucitei porque me foi dado o direito. Um direito divino e sem preço.

Eternamente grato a nossa primeira "briga" ainda mal-resolvida, mas melhor esclarecida.

Eternamente grato por poder voltar no tempo e arrumar os erros.

Eu só queria vocês por perto de novo. Às vezes é bom ter alguém pra nos ouvir gritar por socorro. Assim como também é bom socorrer. Agora que tudo foi perdoado, podemos esquecer. Me ouvi dizer sinto muito e obrigado da parte sincera que eu não conseguia encontrar e agora encontrei, pois estava nos seus braços e não vou mais soltar. Você já sabia, e agora eu sei.

Lar doce lar, o Wonder me faz muita falta, assim como tudo nele contido. Eu quero voltar, mas quero que você esteja aqui comigo. Tentei outros lugares, mas só me perdi dentro da minha ilusão. Quero voltar, quero tudo como antes, senão não faz mais sentido.

9 de dezembro de 2008

Hora Marcada para o Chá


Não conseguia me lembrar que horas eram. Tenho relógios espalhados pela casa inteira, cada um com um horário diferente e insignificante. Era quase hora do chá, que desastre, não tinha nada preparado. Tudo combinado, mas nada preparado, ultrajante!


Corre daqui, põe a água para ferver, saiam da frente, tenho que correr. Falava sozinho minhas besteiras e me perdia no meio dos caminhos da palma da minha própria mão... Novidade!... Torradas? Torradas, torradas, tem aqui em algum lugar, em algum armário. - Cuidado! - eu gritei lá da sala, e todas panelas e tuppewares caíram sobre mim. Como é difícil tampar uma tupperware, tão difícil quanto escrever seu nome.

Forma untada, massa pronta, torta no forno. Eu não sei fazer torta, não, eu não. Não mesmo. Mas a Rainha de Copas tem uma mão boa, ah sim, ela tem sim, ela tem.

"A Rainha de Copas fez uma torta certo dia de verão.
O Valete de Copas roubou as tortas sem nenhuma hesitação...".

Até que foi rápido, mas olha essa bagunça! O bule estava apitando e eu não tinha separado, sequer escolhido, as ervas ou flores ou raízes. Hmm, qual seria, qual seria...? Darjeeling? Não, muito íntimo e pesado. Jasmim? Nah, muito romântico. Um chá amarelo imperial talvez? Já sei, massala chai, perfeito! Com noz moscada ou canela?

Toc toc.

"É tarde. É tarde!" gritou o Coelho. Saia da minha frente, anda, me deixe passar. "Você está atrasado". Droga, já chegou. Quero dizer, ótimo. Mesa quase pronta, xícaras, torta, torradas que foram substituídas por bolachas amanteigadas. Corre aqui, limpa ali. Vai, enfia essas coisas em qualquer lugar, temos visita, o que vão pensar se virem bagunça? Que não são bem-vindos, depois de tanto tempo...

Toc Toc.

Calmaí Allan, já vai, já vai. Me ajeito, tomo jeito, compostura de quem está esperando quase no tédio. Abro a porta e... Oh, é você? Nãonão, estava esperando sim. TE esperando. É que tudo estava tão corrido, tão turbulento, não sabia qual torta, que chá servir, não encontrava as torradas (malditas torradas!), me perdia e me encontrava aqui dentro. Mas você está aqui. Não te esperava agora, não, agora não, mas não teria vindo em melhor hora.

E agora estou mais calmo.

3 de dezembro de 2008

Mariposa

Eu acabo de matar um inseto. Estou me sentindo horrível. Beirando o lacrimejar. Ele não era um inseto malvado, daqueles que destróem as casas, aqueles cupins malditos. Nem um inseto que pica, que perturba o sono. Tão pouco aquele que você mata e faz barulho, ou sai meleca de dentro. E também não era os de banheiro, cujas larvas vivem no chuveiro.

Eu matei ele e ele ficou aqui sofrendo. Mexendo algumas das patas, as antenas também se moviam. E foi só quando coloquei meu terrível dedo sobre ele que percebi meu erro: ele era macio. Ele estava confuso, perturbado, voava e caía antes do dedo maldito. Sofreu e eu decidi acabar com isso, uma maldade basta, não podia deixá-lo sofrer mais. Ele grudou no meu dedo. Grudou no dedo assassino e não na mesa! Não saía do meu dedo, ficou lá, morto...

Agora tem um cadáver no meu quarto, atrás da mesa. Só uma quina pra tirá-lo do dedo criminoso. Ah, pobre maripozinha... gosto tanto de mariposas. Estou tão triste. Acho que vou chorar.

TOC, toc, tem alguém aí?

Eu não gosto de mudança, sou medrosa, não arrisco nada pra não mudar o que eu já estou tão bem acostumada com. Maaaaaaaaaaaaaaaaas, ah!, mas esse ano estranho, me virou do avesso. Meu cérebro ficou pequeno e meu coração grande.

Por isso brigamos. Mesmo estando meu coração inflado por outras razões, nada a ver conosco, não deixou de ser inflado pra minha vida como um todo. Tudo doeu mais, ficou maior do que era. Foi ruim, machucou, não me importei, ignorei, lembrava sempre e senti saudades. Credo.

Péssimo eu só mudar quando os outros mudam. Eu não brigo com os outros, mas faço de tudo para que os outros briguem comigo, para daí eu poder brigar mesmo. E não me acalmo (pelo menos não mostro que me acalmei), até que os outros se acalmem.

Eu estou calma, e você?