Sejam bem-vindos ao outro lado do espelho, onde tudo pode acontecer (e acontece).

Wonderlando é um blog sobre textos diversos, descobrimentos e crescimento. A filosofia gira em torno do acaso, misturando fantasia e realidade de dois amigos que se conheceram também por acaso, Alice - que tem um país só seu -, e Yuri - chapeleiro e maluco nas horas vagas.

Leia, comente e volte sempre... Ou faça como a gente e não saia nunca mais.

26 de junho de 2011

These days of confusão




Dias de confusão
Se estendem
Além do seu são.
Compreensão
Que se faz necessária conforme as horas passam,
Lentamente.

Porém não

– alegam que ele está doente.
- Ainda?
- Não, dessa vez é da cabeça, ele está pior –
Ouvia as conversas pelas finas paredes a seu redor.

Há muito tempo não sentia
O sol de uma forma harmoniosa.
Saiu depois de muitos dias
Trancado em casa,
Andando naqueles mesmos metros
Quadrados,
Vivendo um mundo
Quadrado,
Se comunicando
Quadrado,
Apenas com os dedos no
Teclado.

Movimentos atrofiados,
Língua atrofiada. Andou
Em direção a nada,
Encontrou desencontros enquanto

Sentado

Esperava

Na velha escada.
Todas as mudanças em seu caminho,
Desejando se veria novas estradas.

Usou o tempo
Para pensar sobre o que costuma
Esquecer.

Amou.
Ela dizia
- Vou onde você estiver.
- Eu não sei onde estou.
Não vai arriscar outro tão logo.

Seu reflexo era a companhia em
Não tão raros monólogos.
Conversava sozinho sobre tudo o que inexistia,
Pensando haver multidão.

Assim usou
E foi usado
Pelos dias
Que vieram,
Que já vão,
Que seguem
Sem direção

Ele que mal dormia,
Agora passa horas deitado,
Olhando para cima, pedindo
Para deixar recado.
Parou de sonhar para viver
Sem querer ser
A realidade das madrugadas que o acordavam
Dizendo que alguém voava sob efeito de
Ácido.

Ou que se cortava no quarto
Ao lado.

Não o confronte com falhas,
Ainda está quente
O sangue na navalha.

- Canalha!

E aqueles que ainda acreditavam,
Perguntavam
Por onde anda sua mente aflita
– Não minta, como você está?
– Tudo bem.

Grita.

Não fala com quase ninguém.
– Como assim ninguém?
– É isso aí, meu bem...
Maluquinho de dar pena. - Não chega perto que envenena.

Fobia
Enjoo
Dia após
Dia
Nunca pede por
Socorro.

Dói a garganta
E o coração
Os amigos cansam,
Não mais dançam
Estão com medo
De viver a vida que ele canta
Nos acordes de seu violão.

Assim usou
E foi usado
Pelos dias
Que vieram,
Que já vão,
Que seguem
Sem direção

Dias de confusão.

24 de junho de 2011

Triste demais para título




Passou mal e acordou tendo que correr para o banheiro para expelir o que não lhe fazia bem. Enjoado, misturou café em sua boca recém-aberta depois de longas horas de sono e silêncio – para lavar o veludo da manhã, tirar o rachado da alma e tentar despertar os longos dias que se seguem sem razão.

O dia já nasce fracassado quando o Sol queima ao invés de aquecer seu espírito gelado e iluminar retinas desesperançosas. Olhou as ligações perdidas em seu celular e não quis se arrepender de ter ido dormir cedo depois de tantos remédios diluídos em poesias ruins.

As lâminas permaneceram na gaveta, mas suas lágrimas se espalharam na roupa e sibilaram no chão como de costume. A vantagem é que lágrima não é vermelha e some conforme o tempo a esquece. O tempo é impiedoso e racional demais para dar atenção. Ele não, então permaneceu ali mais um pouco... Respirando o ar venenoso daquela casa, ar que o pulmão não consegue filtrar.

Não consegue parar os arrepios, tampouco aquecer as mãos frias no caderninho. Não consegue parar de ouvir e sentir presenças e passos que não deixam pegadas. Segredos que não são seus, mas que guarda como se fossem por não ter certeza. Seus medos estão cada vez mais concretos.

Sem conseguir, decidiu escrever.

21 de junho de 2011

Eriatarka

Saiu do quarto e antes que pudesse terminar as escadas se desembestou a chorar. Ele que nunca havia chorado na frente de ninguém, chorou para as paredes, fotografias, janelas e insetos e vermes invisíveis que havia naquela casa. Desceu parecendo um bebê, chorando e se arrastando pelo chão.

Chão. É um lugar seguro! Do chão a gente não passa, não é mesmo? Se enrolou no tapete e foi chão. Levantou verme, pegou o telefone e apertou os números como se soubesse a quem ligar. O desconhecido atende e te ouve chorar, só chorar... até que desista e te desligue da vida dele. De sua vida. Que coisa feia. Feia é como a coisa vai ficar quando ele pega uma faca na cozinha. Amante.

Amante. É, você sabe – o que ama dores e sabores em adocicadas gotas de sangue saindo dos punhos. Pingou por aí até não ter mais motivo para pingar. Não crendo em nada disso, desfez seus atos para não sujar o jogo de pano de prato, o sofá maldito sofá. Morrer também não vale à pena, no final das contas. Mas a vida pesa conforme as horas diminuem.

Diminuindo,

indo,

iii

sumiu.







They used to have pulses in them
But impulse has made the strong





12 de junho de 2011

[vento na] Rabiola

Meus olhos se fecharam como se nunca mais. Senti o peso do mundo me jogando para baixo do ralo, me misturando com o que preferimos esconder. Aquela sensação de voar em direção ao infinito e desconhecido foi muito mais forte do que na maioria dos dias. A sensação do vento é muito mais frio do que na maioria dos dias. Corta e dura pra sempre. Fez lacrimejar. Senti o caminho gelado se formando até os ouvidos que não ouviriam mais a sua voz pra me dizer. Não aprendi a começar quando se está no fim.

Você sabe dançar, e me ajudava a não embaralhar as pernas para andar sem regredir. Meus passos agora são só dois, e não quatro pés como de costume - só quando me ajoelho porque é o que tenho vontade sem exatamente me questionar a procura de respostas justificativas. Motivos que não.

Meus versos quebrados em meu violão desafinado não te disseram. Faltou sorriso pra me ensinar o caminho. Me faltou pra te guiar... Mesmo sem saber. Te machuquei pra me ferir, é algo que eu.

faço,
embaraço.








Afasto.

Quando se abriram, as lágrimas eram só sujeira que a gente limpa sem nem querer ver. Quando se abriram não enxergaram. Não quiseram ver. Pensei estar do outro lado, porque assim eu quis. Quando tive, perdi. E perdido, não sei mais querer. Descrente, lá fora está tudo bem, porque eu aprendi como se faz quando ninguém.

Minha vontade é de rasgar meu peito e jogar o coração pra bem longe, chorar todas as lágrimas do corpo e pular. Pra sentir voar, o vento a chorar os olhos que negam assistir sua ausência tentando enganar. Quando o colchão não afunda do meu lado porque você é presente de algo que forço passado.

Enquanto tudo acontece, aguardarei que suas forças me ergam. E se nunca mais vier, nunca mais irei. Até partir de vez como rabiola que luta para se desprender do fio e acabar morrendo na calçada.



“Para ficar sozinho é preciso abrir os olhos, segurar firme no que nos manterá desperto e suportar os olhos bem abertos dentro de todos os estragos que o tempo faz. Que o tempo fez. Que o tempo fará.”

10 de junho de 2011

Grizzly


Um momento me abate, depois de outro me tirar a franja dos olhos. Andei por outros e desejei o que já tinha. Voei de volta, outra eu, para o mesmo de antes. Vi tudo que ansiava nas nuvens e, tola, imaginei que o tinha. Esqueci que isso eu não tinha. Então não pousei, despenquei. E vi de novo a visão das nuvens e vi que sonhei. O final não era feliz. Chorei e me desesperei, não sabia onde tinha ido tudo para o que ansiei voltar. E assim, tão rápido quanto as coisas mudam nessa história, meu choro fez tudo ser o que era antes, e fiquei confusa e com medo. Vi novamente o delírio das nuvens, e o final triste agora não era tão triste, tinha esperança ali e o prólogo alegre compensava a incerteza que se seguia. Valia a pena, pensei.

Mas, quase sem pontuação e num só fôlego, a visão se tornou música e o final veio antes do esperado. O meio mais breve não avisou que o impacto do triste fim estava logo ali. Por horas e dias ouvi sem parar a trilha do sonho e tudo ficou azul, triste, com tanto espaço e sem esperança. Fui jogada de um lado para o outro da trama, enquanto piscava, e perdi todo o meio. Não sei mais qual visão tive, se a linda e esperançosa, ou a triste e fatalista.

Sinto, porém, que neste frio, um urso cinzento me abraça e esquenta.


9 de junho de 2011

Lugares

Querida Lígia,

Tenho pensado muito naquilo que conversamos informalmente, jogando conversa fora, sobre ir a lugares que a escrita permite. Lugares que nem sempre queremos ir... Tem um tempo já em que eu me pego desviando de meu Sonhar, lugar em que as respostas aparecem com clareza e me expõe de uma forma na qual me despreparei para encarar. Tenho tido muitos flashbacks e devaneios e deja vus – como quiser chamar – no qual misturo sonho em minha realidade e minha realidade invade o mundo de Morpheus, e isso tem me preocupado muito. Não sei bem dizer por quê, às vezes só acho que estou perdendo.

Sei que fiquei pensativo com a nossa conversa e reflexões sobre escrever. Você pode até estranhar por ter sido uma conversa tão rápida e cotidiana. Eu estranho. Percebi que é por isso que não tenho escrito tanto. Tanto como escrevia, de forma compulsiva, doente, passional. Tenho me boicotado entre pessoas e passeios que me levem a qualquer lugar longe de mim. Longe DAQUELE lugar. Só hoje percebi minha tentativa de fuga, meus atos falhos para não ser.

Tenho buscado estabilidade em minha vida, sempre achei que fosse assim, mas nunca quis que fosse assim e agora que percebi estava tentando algo que. Isso na minha adolescência era coisa de adulto, pros meus pais se preocuparem. Atualmente eu continuo achando que isso é coisa de adulto, mas quem é adulto por aqui? Muito mais importante é - quem é estável por aqui? Desde ontem te procuro, não de forma pessoal, mas do jeito em que meu medo avançou. Aqui.

Nessa busca percebi a fuga. Em nossa conversa percebi que eu concordei com o que disse, mesmo quando discordei sem perceber. E isso tem me tirado as noites de sono, noites de sonho, meus lugares. O escuro pra mim sempre foi curiosidade e agora causa medo, não pelo desconhecido, mas pelo que eu já sei. Antes eu não queria saber de nada, fazia e acontecia e acabou. E agora o que restou para acabar?

Eu quero meus lugares de volta, minha coragem de volta, minha curiosidade de volta. Meus gritos e cantos, meios e fins. E foi numa dessas conversas que a gente não dá nada que vi os falsos labirintos que construí – pra eu não ter fim. Que caiam todos dentro de mim, para que eu possa reconstruir e explorar onde me sinto melhor. Meus lugares instáveis, sem mapa e sem portão. Lugares entre a mente e o coração. Lugares que eu não.



Nos falamos.
yK.