Sejam bem-vindos ao outro lado do espelho, onde tudo pode acontecer (e acontece).

Wonderlando é um blog sobre textos diversos, descobrimentos e crescimento. A filosofia gira em torno do acaso, misturando fantasia e realidade de dois amigos que se conheceram também por acaso, Alice - que tem um país só seu -, e Yuri - chapeleiro e maluco nas horas vagas.

Leia, comente e volte sempre... Ou faça como a gente e não saia nunca mais.

25 de fevereiro de 2011

Smells like teen spirit

Deita aqui e deixa eu te acalentar, sentir tua cabeça pesando contra o meu peito e afundando meu nariz no seu cabelo avelã com cheiro de mel. Como se fosse abelha, me faço sumir e me acabo dentro de você, brinco com palavras no pé do teu ouvido, mordo seu brinco de pérola só pra dar arrepio e um cheiro no cangote. Cheiro doce de baunilha misturado ao seu desodorante adolescente vagabundo.

Mesmo assim, o perfume do espírito jovem me faz enxergar você só de calcinha e sutiã contra luz encoberta de partículas muito finas de matérias suspensas no ar. Fecho os olhos e sinto tua boca de hortelã que demonstra expectativas de segundo encontro. Em seus seios cândidos, o cheiro de quem nunca foi tocado – mas eu sei que não sou o primeiro e tampouco devo ser o último. No teu umbigo um segredo que eu prefiro guardar... Mais embaixo...

O rastro do aroma persiste pelo corpo inteiro, tiro as suas meias de algodão e lá estão, imperfeitamente perfeitos. Delicadamente beijo cada dedo para sentir o gosto delicioso do seu cansaço. Deixe-me morrer em seus cheiros de garotinha e viver aqui pra sempre nessa juventude.

Calcinha café em pele doce de leite. O sabor da tua carne no meu nariz, tua virgindade peluda querendo me cheirar dá água na boca. Molhada, também com água na boca, me quer feito mulher. Feito criança, eu adoro me lambuzar e ter seu cheiro só pra mim.

A batalha termina em sangue, mas o cheiro é de sexo!

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Leia o primeiro texto da série sobre cheiros aqui no Wonder, Estragado.

21 de fevereiro de 2011

Estragado

Todo dia ao ir trabalhar passo por uma estrada. Todo dia eu sinto um cheiro. Cheiro de morte... Não! Morte não! Morte tem cheiro doce de mulher, cheiro que acalanta as dores, dá prazer e conforto de flor.

É amargo de sentir na boca, repulsivo de fazer careta. Cheiro fétido de carne. Cães, pássaros, homens, mulheres, crianças, ratos. Na morte, somos todos iguais. Fedemos iguais.

Quando eu volto, faço o mesmo caminho. Há outros caminhos, mas repito para sentir aquele cheiro e tentar decifrar de onde vem. Dos céus, das matas ao redor do asfalto ou de algum cativeiro improvisado que teve um final ruim.

Os dias se passam e a podridão é cada vez mais evidente, cada vez maior e mais longa. Não está mais somente na estrada, aos poucos domina por toda parte.

Vem comigo,
vai comigo,
sempre
com
igo.

E nisso tudo eu fiquei pensando que se eu morresse, gostaria que houvesse uma forma de morrer em flores, em campos perdidos e virgens de flores. Mas não há fuga quando a própria natureza fede.

Debaixo do meu nariz está o cheiro toda vez que eu cheiro. Cheiro que passa a me perseguir mais que eu a ele. Me segue até o trabalho, meu quarto, no busão... Não sai no banho, nem quando eu durmo. Nos meu sonho, o cheiro de corpo morto é tudo que já perdi e deixei estragar mas não consigo deixar ir. Cérebro morto. Mal cheiro que se mistura comigo, como se fosse meu, como se fosse eu.

Um corpo vencido. Me venceu.

16 de fevereiro de 2011

5.

É bom voltar.
Não retroceder. 5.

Tenho muito a discutir, tenho tantas palavras prontas para serem usadas. Vamos dividir, ou melhor, somar sem nos subtrair. Quantas ideias para acontecer.

É bom voltar.
Não retroceder. 5.

Tanta poeira em sentimentos velhos que residem no baú secreto de lembranças. Encontrei de novo caído atrás da estante. Te encontrei nas mudanças.

Te vi ainda ali, porque ainda está aqui.
É bom voltar.
Mesmo temente ao retrocesso. 5.

A melhor Alice - 5 anos

Calavera, tive dificuldades [de tempo e de escolha].

Entre favoritos, como Companheiro, Pareidolias, Desabafo em 2 tempos - II e Espectadora de mim, escolho este de junho de 2009, que é atemporal, inteligentíssimo, inocente, surpreendente e melancólico [não nesta ordem]:

Meu coração é na esquerda

domyp wir rdypi frdçpvsfs ´sts s fotroys

´rtfo ,ri vpts~sp

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sabe quando a gente digita rápido, sem olhar para a tela ou teclado e só depois percebe que está tudo errado, pois estava digitando uma tecla além para a direita?

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Ao Wonder o que é de Wonder, então toma! 5 anos pra nós, parabéns!!!
[será que no Wonder se conta idade igual de cachorro?]

15 de fevereiro de 2011

O melhor Yuri - 5 anos

Para o 5º ano do Wonder, escolho o melhor do meu parceiro.
Este texto é de março de 2008.

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Where Do You Go To (My Lovely)

O telefone toca. Acordo. Ele toca diferente. Eu acordei diferente, e posso dizer exatamente quem é do outro lado da linha. Mesmo que tenhamos ficado muito tempo sem nos falar. Sua voz ainda soa claramente limpa e doce em meus ouvidos.

- Alô?!

Neuilly Park Hotel, 23, rue Madeleine Michelis. É para onde ela está indo. Exatamente onde eu estou. Paris nunca pareceu tão bela. Tão bela e injusta.

Termino de escrever uma baboseira ou outra em rascunhos mais perdidos que eu, coloco uma música e vou tomar banho. Não sabia quanto tempo fazia que não tomava um banho. Minha barba também não está apresentável. Já não sabia quanto tempo fazia que eu não saia na janela. O cheiro da França nunca tinha sido tão suave.

A campainhia avisa que só a porta nos separa.
- Feliz Natal - ela esparrama as palavras que dividem atenção com os gestos de suas mãos. E o mesmo sorriso de antes.
- Você fez luzes no cabelo.
- Estou aqui. Gostou do presente? - Meu presente... Meu passado. Gostava do meu presente sem ela. Mas dela eu gosto muito mais.
- Não vai me convidar para entrar? - Ela já estava entrando, e sabia que não precisava de convite algum. Na verdade, ela nunca havia saído.

Um abraço. Nós ainda encaixamos perfeitamente. É como se tocasse sua pele baunilha sob suas roupas, como seu eu fosse seu próprio cheiro. Sentia seu coração inseguro como se sussurrasse segredos com o meu pedindo abrigo em mim. Aqueles segundo pareciam eternos. E se pudesse, diria sim.

Cigarros. Nunca mais havia fumado desde que ela foi embora. E lá estávamos.

- Que flores lindas!
- É. É mostarda. Você sempre duvidou delas.
- São lindas.
Você é linda.

Nos beijamos exilando a tensão que nos cercava. Ela passava segurança, mas suas mãos não. Suas mãos suavam pelo meu corpo enquanto eu a despia e a cercava de dentes. Uma marca de cigarro que antes não tinha. Um olhar triste que eu não conhecia. Ela respirava em cima de mim.

- Você não deveria ter me encontrado.
- Você não deveria ter vindo para um lugar tão óbvio.
- Talvez no fundo eu quisesse...
- Pensei que fosse ficar em Champs-Élysées¹. Combina com você.
- Pensei em ficar lá. Mas combina com você.
- Sabia que iria te encontrar por aqui.
- Viva la résistance!

Uma longa pausa. Um longo beijo. Ela diz o óbvio:
- Eu vou embora.
- Pra onde?
- Pra longe.
- Eu acho que também vou. Alemanha ou Amsterdã, ainda não sei... Fiquei tempo demais aqui.
- A Alemanha engorda. E vai te partir o coração.
- Mais do que você eu acho que não.

Ela levanta. Pego três flores de mostarda e coloco em seus cabelos. Ela fica perfeitamente bela vestida só com flores. Como Paris. Eu não queria deixar a França, e não queria deixá-la. Mas que escolhas eu tenho? Ela sabe porquê estou aqui, que escolhas eu tenho?...

Silêncio.

- Quer ver a visão que eu tenho de Paris? - Ela concorda com a cabeça. Pego em sua mão e caminho em direção à sacada. Então, no meio do caminho, coloco-a em frente a um espelho e a abraço por trás. Dançamos a noite inteira. A última de várias outras últimas.

***

Acho este texto lindíssimo, inspirador. Um lado seu que aprecio sempre.

Parabéns, Wonder!