Sejam bem-vindos ao outro lado do espelho, onde tudo pode acontecer (e acontece).

Wonderlando é um blog sobre textos diversos, descobrimentos e crescimento. A filosofia gira em torno do acaso, misturando fantasia e realidade de dois amigos que se conheceram também por acaso, Alice - que tem um país só seu -, e Yuri - chapeleiro e maluco nas horas vagas.

Leia, comente e volte sempre... Ou faça como a gente e não saia nunca mais.

29 de maio de 2009

...ãO

Eu assisto o cume e a queda de minha salvação. Estou farto de tanta falsa compaixão. Eu poderia dizer que não sinto mais meus pés no chão, mas não pertenço ao céu porque meu espírito é preso a esse monte de carne pesada no qual o centro é a direção.

Não consigo mais desenvolver as ideias e pensamentos, não consigo mais por no papel a reflexão. Vi tanta coisa esses dias, li tanto e experimentei novidades... Mas ainda assim parece tudo em vão.

A malícia não vem só do coração. Engano leigo que acha e se perde em achismos. Há uma malícia da inteligência e da imaginação.

Horrível situação, ter o espírito a fervilhar de ideias, e não poder atravessar a ponte que separa os campos imaginativos do sonho, do das colheitas positivas da ação!




Ação-ão-ão
-ão-ão-ão-ão-ão-ão-ão-ão-ão.

25 de maio de 2009

400_quatrocentos:

400.

Tenho quatrocentas coisas pra fazer. Quatrocentos deveres dos compromissos que fiz. Enquanto isso, 400 planos de vida, de futuro, de prazeres ficam em pausa. Leio 400 textos que não me interessam em nada, ao invés de ler os 400 livros que gostaria. Ou as 400 bobagens de internet, tablóides, futilidades, tolices. Quatrocentas inutilidades para passar o tempo, quatrocentos modos de jogar a cabeça fora.

Eu queria ter 400 dias de folga, 400 dias contíguos de felicidade. Assistir a 400 filmes, 400 episódios seguidos de Friends, Arquivo X, Vídeo Cassetadas ou Beverly Hills 90210. Só porque posso. Ouvir a mesma música do Elliott Smith 400 vezes, ir a 400 shows dos artistas que gosto. Com meus 400 amigos. Ter 400 dias para fazer nada! E fazer o que eu quiser.

Ah, queria comer 400 suspiros, suspirar 400 suspiros amorosos. Ser beijada 400 vezes, beijar 400 beijos. Dividir 400 segredos, ouvir 400 confidências. Rir da mesma piada, 400 vezes, só pelo jeito que você conta. E fazer 400 vezes a mesma coisa para lembrar das outras 400 vezes que a gente já fez essa coisa e seus 400 detalhes que a cada vez mudam.

Queria ter 400 chances de começar de novo. Poder ser perdoada 400 vezes por falhas ingênuas, erros sem intenção. Queria poder desculpar 400 vezes alguém que me diga uma desculpa sincera. Ter 400 possibilidades de dar certo, e ter coragem de usá-las! Ser 400 vezes mais flexível, mais amável e menos amarga. Ser 400 vezes mais talentosa, criativa, especial.

Imagine ter 400 fotos dos nossos dias felizes! Das 400 festas com os 400 amigos, das 400 vezes que passamos ridículo em grupo, que jogamos jogos e dançamos. Imagine lembrar os 400 flertes que já recebi... e as vezes que flertei. Queria sentir 400 vezes de novo aquele frio na barriga, as velhas borboletas. Quatrocentas borboletas voando no meu estômago... e depois disso, amar 400 vezes mais a cada dia, 400 dias de paixão com meu amor. Ter 400 paixões, 400 amantes, amores. Ou melhor: apaixonar-me 400 vezes pela mesma pessoa. Acordar amando a mesma pessoa por 400 dias, e sorrir 400 sorrisos por ser amada profundamente de volta e assim ser feliz! Passar 400 dias sendo piegas.

Queria ter 400 reais, 400 mil reais! Queria poder realizar meus 400 sonhos, queria ter 400 sonhos! Ter 400 cachorros que fizessem meus olhos brilharem 400 vezes. Ser feliz por 400 anos... ter 400 momentos maravilhosos, memoráveis. Mesmo que ruins, memoráveis. Queria um amor que daqui a 400 anos ainda lembrasse. Eu queria ser lembrada daqui 400 anos.



“Se quatrocentos anos após minha morte a terra me perguntasse se, enfim, já te esqueci, responderia que ainda não”. Um dos nossos 400 segredos.


Quatrocentos.

Quatrocentos dias sem te ver, lembrando outros quatrocentos com você. Saudade de quatrocentas pessoas que nunca mais vi, quatrocentos abraços dados, quatrocentas risadas que nunca mais dei. Queria ter tempo para mais quatrocentos anos, mas desejo no máximo quatrocentos minutos. Queria voltar quatrocentos dias, quando tudo estava ruim e eu achava que não podia piorar.

Queria amar quatrocentas vezes. Imagine quatrocentos prazeres com quatrocentos quereres e quatrocentos orgasmos num só. Caraca! Quatrocentas mulheres para satisfazer minhas quatrocentas vontades. Quatrocentas músicas. Pouco, quero mais quatrocentas e mais e mais e mais. Quatrocentas frases e palavras que devia ter dito e quatrocentas que devia ter calado. Com quatrocentos beijos e cheiros é onde quero estar sempre, mas tenho mais quatrocentos lugares para visitar, quatrocentas pessoas para conhecer, quatrocentos “olás” e “adeuses” para dar.

Queria a ira de quatrocentas tempestades e ser o mestre das torrenciais, ter a energia de quatrocentos raios e a melancolia de quatrocentos anjos caídos. Queria ser o dono do mar e ter um exército de quatrocentos peixes e a força de quatrocentas ondas devastando as terras. Queria a beleza de quatrocentos arco-íris, o brilho de quatrocentas estrelas, a eternidade de quatrocentas páginas, a paz de quatrocentas nuvens e a felicidade que só quatrocentos sorrisos podem causar.

Meu cabelo tem quatrocentos nós enrolando mais ainda minha cabeça que pensa sempre mais de quatrocentos pensamentos por minuto. Queria mais quatrocentas drogas e viagens psicotrópicas e letárgicas em mais quatrocentos sonhos sem dormir. Quanto tempo tem quatrocentos minutos? Queria quatrocentos dias para nada e mais quatrocentos para tudo. Enxugar quatrocentas lágrimas que fiz chorar para fazer quatrocentas bocas sorrirem.

Queria ter coragem para apagar os quatrocentos textos até aqui, mas aí seria covardia. Então que se façam mais quatrocentos posts até durar. Até brigarmos quatrocentas vezes e nos encontrarmos em quatrocentos lugares diferentes para se desculpar. Queria mais quatrocentas histórias e mais quatrocentas cartas de baralho para enfrentar. Mais quatrocentas flores porque as outras quatrocentas morreram em minha mão porque não entreguei. E que os trezentos de Esparta fossem quatrocentos, só para eu poder citar aqui.

Às vezes esqueço quatrocentas vezes as mesmas coisas. Quatrocentos, queria lembrar e tentar esquecer o Zero. Queria ser lembrado por mais quatrocentos anos e lembrar meus quatrocentos anos. Esquecer o Zero. Quatrocentos grãos de areia em meus olhos me trazem quatrocentos sonhos diferentes. Queria quatrocentas chances de realizá-los. Daqui pra trás, quatrocentos passos dados marcados em nosso caminho. Para frente só cabe a nós.

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Imagine 400 comentários para este texto.

23 de maio de 2009

Ný Batterí


Escrevo essas linhas e as costuro em minha pele. Grampeio arames farpados em minha boca sangrenta. Estou trancafiado numa jaula enterrada no fundo do mar Morto. Homens nus me espancam até minhas pilhas ficarem fracas. Então o libertador me carrega e estou pronto para outra. Entre aspas.

Perdi o tempo, o jeito, a fala. Só não babo porque o monstrinho dentro de mim fica me lembrando “suga essa saliva, seu porco imundo”. Daí eu sugo. Mhhe hmer-oe, tentei dizer arrependimento. Não saiu. Pago pelo que eu fiz, mas me liberte depois, eu imploro.
Allan me acorda apontando cavalos. Me mostra o passado através da janela, tempos atrás onde cavalgamos. Quando éramos dominantes e destruíamos tudo. Inclusive corações amantes.

Eu não digo nada, porque o arame continua em minha boca, rasgando uma velha ferida curada. A ferrugem de meus machucados tornou-se minha alma. Prefiro me desligar, não me carreguem nunca mais.


Aftur Með Gaddavír
Í Kjaftinum Sem Rífur Upp Gamalt Gróið Sár
Er Orðinn Ryðguð Sál

Rafmagnið Búið

Mig Langar Að Skera

Og Rista Sjálfan Mig Á Hol

En Þori Það Ekki
Frekar
Slekk Ég Á Mér


Aleinn Á Ný

Riscado_-How to Desappear Completely_Quebrado


Eu não estou aqui. Aquele ali não sou eu. Eu vou onde eu quero e faço o que eu acho certo. Aquele ali não sou eu. Me assisto apagado cometendo os mesmos erros como um disco riscado que repete o mesmo som. Vai até um ponto e volta ao mesmo ponto. Vai até um ponto e volta ao mesmo ponto. Vai até um ponto e volta ao mesmo ponto.
Caminha, evolui, regride subitamente. A vida não é sobre isso, afinal?


O terror confunde meu cérebro e faz doer os ossos. Me sinto um idiota em pensar que alguém me enxerga, porque eu não estou aqui. Eu faço de tudo, mas eu não estou aqui. Nada disso está acontecendo. Minha voz é uma mensagem chata repetida que todos se cansaram. E esqueceram.

Não posso culpar Allan, porque ele também sou eu, e aquele ali não sou eu. Eu atravesso portas, ando embaixo do mar e nado pelo ar. Eu não estou aqui, isso não pode estar acontecendo. Logo eu vou ter partido e estará tudo acabado.
E ninguém terá se importado.
Onde estarei...



Vai até um ponto e volta ao mesmo ponto.
riscado




Vejo o futuro que já aconteceu. Várias e várias vezes. Riscado e quebrado.

13 de maio de 2009

It Never Entered my Mind (Sinnerman)


vermelho.
Tudo vermelho, quando acordei. Tudo do jeito que eu havia deixado, mas eu não havia mexido em nada ali, nem era meu lugar. Pedaços de livros, pensamentos espalhados e cartas rasgadas era só o que me havia restado. Uma sala de tacos soltos e empoeirados que eu brinco as vezes, uma janela para eu olhar para dentro e fumar uns cigarros amassados largados pelos cantos, uma vitrola Phillips 460 caindo aos pedaços tocando “A change is gonna come”, de Sam Cook.

"It's been too hard living, but I'm afraid to die".
Conseguia ver sua morte como se fosse a própria Bertha Franklin.


Azul.
Conforme andava a sala ia aumentando e os tacos flutuavam a ponto de me enganar que era o fundo do mar, a ponto de não enxergar o final escuro daquele salão agora de um azul tristonho. A janela virara um espelho que não me refletia, só mais da mesma sala, não importa quantas vezes eu entrasse, dava sempre no mesmo lugar. Aquele espaço morto e frio. A vitrola era só os berros e sussurros de Nina e Billie; saxofones de Charlie Parker, Coltrane, George Coleman; o piano de Hancock, os trompetes de Armstrong e do cortante e insano Miles Davis.

“Não toque o que está lá, e sim, o que não está”.

As paredes eram todas rabiscadas de frases. E quando dei por mim, eu também estava todo rabiscado. E elas mudavam de acordo com o meu temperamento. Minha voz não saía, mas minhas letras tomavam forma aonde fosse. A única sonante era a música que vinha de todos os lugares, não mais da vitrola, que estava desligada. Não havia tomadas ou portas em meu vazio.

Preto.
A parte escura era uma floresta morta de árvores carecas e galhos retorcidos, um cemitério abandonado, de lápides partidas pelos chãos com fotos de todos que já magoara. Mas a terra pulsava. Andava pisando em ossos de animais enquanto via minha pele derretendo e se misturando a carne, que escorria de meus ossos sem eu nada poder fazer. O som dos ossos se partindo aos meus pés era ensurdecedor. A única vida era um bode que me encarava como se identificasse em mim, até eu abraçar sua cabeça e fazê-la explodir em meus braços. Sujo, sozinho e cansado, me vi aos prantos com meus favoritos do jazz, me perguntando como posso pensar tanto em algo que nunca entrou na minha mente, mas que foi direto para o coração?

Eu nunca consegui morrer porque já estava morto.





*Aqui jazz, uma homenagem aos jazzistas e uma viagem interna (...) porque o mundo me cansa e eu desencanei dele e de mim. Esse texto, em especial, gostaria de saber sobre o que vocês, leitores, imaginaram ao ler. Gostaria que comentassem, mesmo que não se identifiquem.

11 de maio de 2009

cachorro magro




A dança das sombras feitas de luzes de mercúrio me guia em noites silenciosas. Eu não danço, cambaleio. Pelo meio da rua desejando medir forças com um carro ou o revólver de um lunático qualquer. Qualquer um que me salve. Olho para cima e vejo um céu escarlate morto e nebuloso. O que sou eu, senão resto de restos caídos, esquecidos. Retalhos de pele, carne e osso.

Luzes turvas me guiam ao esquecimento. Finalmente eu não sou ninguém, o efeito sem causa completo, que grita sem ter o que dizer, que age sem propósito, que morre sem viver. O barulho dos meus pés no asfalto úmido é ignorado pela melancolia que a solidão traz. Eu ainda lembro o gosto de suas lágrimas, mesmo querendo esquecer e tentando evitar. Vejo um rastro de sangue no meu passado. Cortei o pé.

Eu estou começando a me assustar. Eu quero algo que não posso ter. Eu quero algo da vida que ela não pode oferecer. O meu desejo não tem nome nem direção. O meu desejo... Nem eu sei. Folhas secas fazem meu leito, não sei se deito ou se me entrego. Faço das pedras travesseiro, mastigo o asfalto na esperança de quebrar meus dentes, tortos e amarelos. crack. Meu castigo merecido.

Rendo-me ao cansaço de mais escolhas miseráveis. Meus dedos das mãos sangram porque é meu martírio. Meu corpo não reage, meu corpo treme. Padeço minhas tristezas em lágrimas de madrugada. O que antes era escondido, retraído, cheio de vergonhas, agora é para que todos possam ver, sem horário. Meu desespero e perdição em traços marcados pela ignorância. Uma matilha não me convém, mas ser só.

O que sou eu, senão resto de restos caídos, esquecidos. Retalhos de pele, carne e osso. Resto de restos, retalhos de sobras, fermentando a mais pura ignorância e mediocridade patética que um homem pode ser.

6 de maio de 2009

Não me acorde se não for para sonhar


Gosto de acordar e olhar um teto diferente toda vez que abro os olhos. Durmo em diversos lugares na tentativa de sentir o teto e decifrar o que ele me diz, o que disse o dia anterior, como eu fui parar ali e o que me espera. Por mais desconforto que o leito possa oferecer, eu me sinto muito melhor. E acordo bem. Acordo.

Meu quarto não é meu, isso sempre foi bem claro. Minha cama tampouco, mesmo ela tendo meu cheiro e meus pêlos. Ela já tem o meu formato e já deitei de todas as formas possíveis. Não há nada mais para ver ali, não sonho nela. Quero outras camas, sofás, colchões, chãos. Quero mais chances e tetos de concreto e descobertos. Quero lugares e motivos pra sonhar.


Fecho os olhos e deixo minha imaginação percorrer quantos lugares ela quiser. Confio mais nela do que na realidade que dizem ser real. O meu corpo segue porque ele é o que menos manda aqui. Minha mente está onde meu corpo não. Esse é o meu mais novo pensamento matinal. Minha mente está onde meu corpo não. Mas quando eu abro os olhos e não reconheço onde estou encontro o equilíbrio do yin yang.


Isso vale a pena pra mim. Se não for pra sonhar, não me acorde por favor.

3 de maio de 2009

Independence day happened the last time I saw Richard

Eu me tranquei no meu quarto (duas-portas-um-casaco-e-uma-almofada) para chorar, alto. Passei cinco dias tendo que prender isso, essa dor, esse desespero de incapacidade e perdição. Estou perdida. Nada do que faço surge efeito, nada rebate, nada bate. E eu escrevo sempre as mesmas merdas, dos mesmos jeitos, sem efeitos. Se você é efeito sem causa, sou causa em efeito. Sou a mariposa nas últimas, debatendo-se num canto obscuro da sala, envolvendo-me nos novelos de pó acumulados no esquecimento. E me debato e debato e me machuco sem sair do lugar. Sem mais vôo a alçar. Um pássaro com ambas as asas partidas. E dói tanto.

Nada do que tento me tira da beira do esquecimento.

Às vezes sinto que este lugar não é meu.

Gosto tanto de dar vida às lágrimas e deixá-las salgar meu rosto inchado.

ps. "It's gonna happen soon but not today", "Only a dark cocoon before I get my gorgeous wings and I fly away... only a phase, these dark cafe days".

1 de maio de 2009

Dores Póstumas em Vidas Perdidas




Rasguei meu corpo na tentativa de conter a adrenalina.
A drenar,
...a drenar...
Foi sem pensar,
sem pesar,
sempre sem.
Sem pre ou pré.

Só pós.
Pós-tumo.
Amo-te. Amor a mor.
A morte do Pai, oh pai.

Nem dói. Na hora é bom, mas me assustei com a violência que eu não tive controle.
Não contive.
Controle.
Em-contro-le. Encontro-lhe em sangue.
Sangue sem-pre.

Minha Mãe tem um dispositivo que diznegativo
para tudo que eu digo. Ela diz ter pena de mim. Logo de mim? Mas ela tem razão, eu sou o
azarão.
Sabe de meus feitos.
Sabe de meus defeitos.
Sabe de meus efeitos,
sem causa.
E eu não sei o que há de errado. Olho no umbigo.
Um bigo nessa terra sem porteira
(e sem porteiro, sem ponteiro)
é o que sou, Mamãe, mama.
Troco uma mamãe por duas mamas.
Fácil fá-cio.
Troco muito mais. Troco a idéia, a Déia e a ceia. Palavras e poesias baratas escritas em papel de pão.
Papel de coração.
Amassado. Amas sado?
Bom saber.


Essa no meu peito também é para os vivos. Especialmente para os vivos. Mortos. Morto-vivos. Pelas vidas perdidas que se perderam em si. Isso inclui vocês, todos vocês. Todos Nós.
Um brinde a nós...