Sejam bem-vindos ao outro lado do espelho, onde tudo pode acontecer (e acontece).

Wonderlando é um blog sobre textos diversos, descobrimentos e crescimento. A filosofia gira em torno do acaso, misturando fantasia e realidade de dois amigos que se conheceram também por acaso, Alice - que tem um país só seu -, e Yuri - chapeleiro e maluco nas horas vagas.

Leia, comente e volte sempre... Ou faça como a gente e não saia nunca mais.

25 de junho de 2010

Yuri

Há anos, o nome Yuri continua aparecendo significativamente para mim. Fora todos os 4 Yuris marcantes na minha vida, tenho certeza que ainda vou casar com um Yuri, ou vou ter um filho Yuri ou, muito mais provável, um cão Yuri. E outro Iuri, e outro Iury, e outro Yury...

O primeiro, amigo do meu irmão, lindo, cobiçado no colégio, usava tiara (época de Cauá Reymond em Malhação), veio dormir em casa. E depois, ah, ele me cumprimentava no colégio... com a mão na cintura ainda! Isso significava muito naquela época, hoje, nem tanto. Paixão platônica e só.

O segundo caiu perdido na minha classe, loiro, dentes um pouco tortos, nariz grande, cabeludo, uma graça. Todas as meninas gostavam dele também. Virou meu melhor amigo e meu primeiro amor. Com ele descobri o valor da amizade masculina - coisa que eu nunca mais vou dispensar. Ele nunca me olhou com os olhos que eu secretamente queria, mas publicamente negava. Às vezes, bem raramente, sinto o cheiro do perfume que usava e lembro com um grande carinho dele e da nossa aliada caneta bic verde.

O terceiro eu odiava. Mesmo. Cara tosco, metido, com cabelo cacheado como o primeiro e dentes tortos como o segundo, se achava o gostoso e mano do rap. Por meses o odiei. Até que fomos apresentados e nem sei como já dividíamos um blog. Ele me encantou de tal forma que me apaixonei. Platonicamente, como nos dois anteriores, ele também nunca me olhou com aqueles olhos. Até que eu cresci e virei mulher. Então, me viu. Um pouco tarde, mas assim foi melhor, melhor amigo, isso foi, isso é, isso continua firme. Com muito amor.

O quarto, desconhecido, barbudo, misterioso, dentes um pouco tortos também, ficou só me observando, tímido. Fui me apresentar e, quando ouvi o nome Yuri, soltei um incontrolável "Ah, não! Jura?". Como podia? Sou um imã de Yuris. Enfim. Yuri, o quarto, se tornou. E se mantém me mostrando outros "Ah, não! Jura?" - coisas maravilhosas que eu não acreditava que podiam existir, mas que existem.

Meus Yuris me fizeram e me fazem muito feliz. Nome abençoado.

***
Se você se chama Yuri e ainda não me conhece, entre em contato! Seja você também parte desta história de amores! Mande um email para: alice.frank@gmail.com
(Sujeito a número de vagas)

24 de junho de 2010

Knife Party

Luzes. Escuridão. Luzes. Escuridão. E assim permaneceu, como se eu estivesse abrindo e fechando os olhos a todo instante, mesmo eles estando intactos, vidrados em lembranças longes dali. Secando e lacrimejando, abertos em memórias, distante do agora.

Alguém me procura, passa a mão em meus cabelos e me beija. “Você está lindo hoje, Kiddo”. Obrigado. Continuo parado. O rosto amigo some na escuridão. Aparece na luz. Some na escuridão. Como todas as outras. A música é boa pelo menos, penso tentando me enganar pra me alegrar naquele instante.

Vejo mais rostos conhecidos, me cumprimentam, sorrio de volta. Sou querido no meio de pessoas também queridas. Dou um gole no perfume dentro do copo. Mais um pouco pra dentro do corpo. Eu gostaria de estar ali, mas minha cabeça está em outro lugar. Flutuo pelo ambiente em busca de diversão ou algo que mate a saudade ou baqueie meus anseios. Talvez alguma insanidade pra alimentar meu espírito inquieto, inconstante, insano. Mas estou são. Sóbrio, me resta beber. E eu odeio beber.

Aqui todos são anímicos. Alguns são doces, e me alimentam com seus venenos. Então eu fico voando e divagando pra sempre nesse espaço. Meu peito bate conforme o grave do som, mas a minha real sensação é a de que está tudo parado. Olho direto nos olhos do clarão, ele me devolve a negritude da ausência. A luz brilha no escuro, e a escuridão nunca vai entender isso.

Cambaleio dançante até o banheiro. Não sou um homem sério, tampouco sou feliz. Gargalho com amigos no caminho, mas há um vazio tão grande dentro de mim que me completa - adoro uma ironia. Não estava ali e não estava em nenhum outro lugar. Meu pensamento só quedava no que havia perdido, talvez para sempre. Luzes me lembravam seu olhar, e na escuridão, eu a via caminhar nua em minha direção com os ossos brilhando, como um espírito em raio-x que aparece em meu sonhar. Ilusão.

Me misturo ao vômito e mijo daquele lavabo e marco lembranças em minha carne. O sangue começa a sair pelo espaço que concedo. Escorre pelos meus braços, escorre pelo meu peito, escorre pelas minhas pernas. Tenho algo dentro de mim, enfim. Algo para me tornar vivo, uma tentativa falha pra tentar não pensar, me distrair. Tem algo maligno dentro de mim que não me permite ser além do que não sou. E não se esvai com o sangue.

Minha cor vai pingando naquele banheiro. De repente, o lugar parou de altenar entre luz e escuridão e prevaleceu somente um. De repente, eu fui levantar e caí. Acho que bebi demais, acho que estou sangrando demais. Acho que vou ficar por aqui.

Ela é minha festa particular. "I’m the new king. I taste the queen"

Oh, decadência, pegue sua faca e me beije.










---
Dedico este texto à minha irmã, Teta Gorda, que também considera a música que leva o mesmo nome do título fantástica, porém não é adepta da prática. =)

21 de junho de 2010

Histórias de Dormir [Segredos do Mar]

- Conta uma história pra eu dormir?
- Ah Yu, eu não sei. Conta você.
- Ahhh eu?
- É.
- Hm... Não consigo pensar em nada agora.
- Consegue sim. Vou te dar três palavras e você vai contando.
- Tá.
- Praia, céu e peixes.
- Hm... Beleza, vou tentar.

Primeira noite: Segredos do Mar

Quis sentir os vidros em seus pés. Moídos, os cacos se misturavam a outras coisas misturadas a outras que formavam cacos que se misturavam a seus pés. Segredos partidos na areia. Areia que nos olhos são sonhos, nos pés, caminhos.

Quanto mais afundava nos vidros, mais entrava naquele deserto que aos poucos se tornava praia. Mais ela fazia parte de mim e eu dela. Olhei o Sol no topo, não estava calor, não era verão, mas brilhava imponente sem se importar. Ele brincava com as sombras de tudo, só pra se distrair, matar o tempo. Elas dançavam a minha volta fazendo um convite que recusei.

Percebi então que o mar não tem sombra, só um lado sombrio. Apreensivo, pus um pé, depois outro. Não sabia dizer se a água estava quente ou gelada, com ondas agitadas ou cansadas. Adentrei hipnotizado, como se a própria Iara ou Iemanjá tivessem aparecido e me feito o convite. Quando vi, só estava com a cabeça pra fora, então me deixei afundar.

Percebi que as estrelas que caiam do céu iam parar ali, no fundo do mar. E a luz do Sol não alcançava os mistérios reservados a poucos. Lá havia um enorme vazio, como na superfície, só que tudo era em câmera lenta. A semelhança fazia com que tudo fosse parecido e a tristeza tomava conta de mim aos poucos, fazendo meu humor combinar com o azul frio do mar.

Foi aí que, cansado de olhar tanto pra baixo, olhei pra cima. Vi uma luz lá do alto, os peixes flutuavam no céu.

16 de junho de 2010

Diamond Eyes p3 [Fim dos Mundos]

Não queria ir devagar, queria levá-la para casa. Queria poder sonhar novamente, encontrá-la novamente só para ouvir o que tem a dizer. Não havia língua em sua boca, sua pele cansada, marcada e frágil indicava a doença. Seu olhar, esperança.

Pálido, doente, fraco. Ela reapareceu e sentou ao seu lado. Estendeu a mão e lhe ofereceu um cigarro, um cigarro mágico. Lá estava ela, completa com suas roupas de couro, pele indígena e cabelos negros e desgrenhados, como se nunca havia partido. Ela também não podia falar. Estava ali, no limite do além, e se bastavam.

O pegou pela mão e aconselhou com um pedaço de papel surrado: “Embrulhe seu coração, você talvez vai precisar dele”.

“Venha pra fora e inspire a vida, relaxe os ombros e deixe-me entrar”. É um jogo que eles gostavam de brincar. Ele ainda precisava resolver as coisas no mundo exterior, além do fim. Esse foi o conselho dela pra ele, que finalmente entendeu, amadureceu e se fortaleceu para as batalhas seguintes no mundo que dói.

Permaneceram ali. Os olhos de diamantes dela diziam saudade de um futuro incerto, os dele indicavam medo de ter que voltar, acordar e enfrentar tudo de novo, de uma forma dolorida. Porque procurar a dona do diabo não era o mal, pois não se sentia ferido, não havia conseqüências inseguras. Não mais. Ele se sentia o próprio demônio em seu braço.

Ele jamais esqueceria. Ela também, e sentiu que o perdia pra ele mesmo.

Até o fim dos mundos.

14 de junho de 2010

Diamond Eyes p2 [Caminhos Perdidos]

As memórias são filmes sem ilha de edição.
Ideias rondam os homens
que falam línguas que parecem sem razão.
Ele ainda estava perdido,
Sua amante prometia retornar,
Mas ele havia esquecido.
Ela mentiu.

Por mil dias ele andou sem parar, se arrastando pelas noites de seus olhos. Nunca mais viu luzes cintilarem tão forte, com tanta precisão. Não sabia seu nome, nem ninguém a conhecia no fim do mundo onde ela o havia mandado.

“Foi muito bom estar com você aqui”, os demônios repetiam retorcendo a voz dela em sua cabeça. Ele nunca estava cansado, mas perdido, sem saber se realmente desejava voltar ao mundo desperto. Seus passos infinitos não rendiam. Confuso, contou e ouviu histórias sobre mulheres piratas e amazonas, xamãs que dominavam a língua dos homens e os fazia escravos da liberdade. Não se falava em realidade ali, não havia motivo para definições. Só histórias.

A sentia por perto, em outros planos, em outros seres, em tudo ali. Ela o mandara para seu mundo para que ele pudesse mandá-la para o dele. No meio da jornada se questionou e se perdeu confuso.

Havia dúvidas sobre quem salvar. “Eu vou encontrar um caminho, vou confundi-los, eu acho que consigo. Vou salvar sua vida”, ele dizia. Quem corria para resgatar uma alma perdida agora precisava ser salvo. “Você é quem precisa ser salvo”, a voz dela batia forte dentro dele. Ele nunca mais a viu. Ela prometeu.

Ele não dormia.

Nunca mais sonhou.

12 de junho de 2010

Diamond Eyes p1 [Pesadelo]

Para o topo. Foi seu objetivo: sair daquele lugar desconhecido e subterrâneo. Quando chegou à superfície, havia se esquecido de tudo que vivera, até que percebeu um orvalho num chão de cristais, combinava com os diamond eyes. Havia esquecido, então lembrou de alguma coisa.

Seu paradeiro de tempo perdido. Uma garota, se lembrava de uma garota com um diabo tatuado no braço. Um diabo que dizia “siga-me”, e ele como todo mortal, seguiu sem opções. Como se nega um pedido do diabo?

“Quando os caixões balançarem e as agulhas quebrarem...”, cantavam os demônios em sua cabeça. A garota com aqueles olhos brilhantes se aproximou de seu ouvido e sussurrou: “você é o meu sonho, mas eu sou pesadelo. O seu pesadelo mais bonito”. Raspou arranhando seus dentes afiados por seu pescoço. Ele a segurou e a beijou. Ela disse não. Saiu do sonhar para tomar vida. Ele quis ir junto, ela lhe deu a mão. Partiram para o mundo desperto numa jornada infinita.

Tomou o comando só porque podia. Não era culpa dela ele se meter na perdição do espaço. Ele apenas seguia seus olhos que faiscavam como estrelas cadentes numa galáxia escura. Isso o deixava insano. Ela fazia pose com suas bela roupa de couro, caras e bocas e charmes como quem montava a cena de um filme ou uma história em quadrinhos, porque sabia que estava no controle.

O abraçou confortavelmente, repousou a boca em seu queixo, sorriu, mas não o quis. Então foi pesadelo. O mandou em direção ao fim do mundo com uma simples risada, mas sem o beijo da morte. O pior castigo de um homem é ir parar nos braços de uma paixão sem poder morrer.






“My gift to the world outside
Its ok, I’m alright”.


---
Vivi, sonhei, acordei, ouvi e escrevi o Diamond Eyes em três partes: Pesadelo, Caminhos Perdidos e Fim dos Mundos.
É isso aí minha gente, finalmente um desejo antigo realizado: o Wonderlando está de cara nova!

Ainda não está totalmente pronto, mas digam o que acharam nos comentários.

6 de junho de 2010

The End

A música vai tomando conta do meu quarto. Canto alguns trechos involuntariamente, deixo tomar conta de mim. Ouço algumas vozes. Paro a música assustado. Ninguém. Lá fora está frio e aqui dentro, quente. Muito quente. Se abro a janela, o frio toma conta, se pego um cobertor ou uma blusa, calor.

Uma mulher apareceu. Não era minha mãe, minha irmã ou minha amante. Ou qualquer uma do passado ou de minhas lembranças. Antes que eu pudesse arrepiar assustado, ela se vai. Me deixa um recado que não compreendo.

Pego uma carta recente e leio seu triste lamento. Só mais um lamento, entre tantos já feitos. Brinco com o fogo para ver se aqueço suas letras frias. Só mais um lamento.

[esse texto eu fiz em 3 de fevereiro de 2010, às 18h35. eu fiz o fim, que é o parágrafo a seguir, antes do meio. Daí, nessa bela tarde de 6 de junho de 2010, exatamente às 14h29, eu fiz um texto pra chamar de The End e havia me esquecido deste, com o mesmo nome. Portanto não o terminarei. Ele é isso. Eu também. Um texto que chama The End, que no final diz ter um final inexistente, e na verdade, não tem o meio, mas tem fim. (sem querer) Eu ri.]

Eu sou esse maldito que se aquece, fortalece, adormece e se alimenta do fim. A ouroboros que se consome de forma infinita, a lemniscata, o universo conquistado.

Um final inexistente.
E não feliz.

The End

“Você tem algo com final feliz?”
“Você tem algo contra final feliz?”
“Você tem final?”
“Você é o fim”.

Quando a gente chegou ao fim, eu o quis primeiro quando ela quis antes de mim. São palavras que não se encontram em letras destacadas que não significam. As lembranças na porta branca rodeiam pensamentos de outrora.

No céu laranja, tons sobre tons de azul, roxo e lilás guiavam um navio de cristal, que se refletia na pista de vidro abaixo de nós. Pisávamos no inferno quando parecia paraíso. Até o espelho começar a trincar.

Dizem que é um novo começo. O fim vem antes do começo quando o relógio está do avesso e nos permite voltar. Enquanto ela faria tudo igual, eu, tudo e todo diferente. Uma peça de um quebra-cabeça inexistente questionando o que é o bem e o mal. Quem fez assim ser isso?

Eu entrei num ônibus azul cheio de crianças insanas. Todos os adultos não-insanos me olhavam com seus olhos rochosos como se eu fosse um nóia qualquer ou um ladrãozinho barato. Como se eu tivesse algo a dizer, abri minha boca seca e quebrada. Nada.

A música que tocava nos fones soava como uma velha viagem ruim que eu era obrigado a ouvir. Jim não parava de me enlouquecer. Jim e ela. E todos que me encaravam com suas almas vazias.


Eu tenho vários finais. Tive muitos felizes. Não tenho nada contra finais. O irônico é que o fim nunca vai ter fim. Mas só enquanto ele existir. Eu queria acabar por aqui. Queria que tudo acabasse agora.

...

Não consigo me concentrar em nada. Perdi o final do filme, do livro, do texto... Só não perdi o nosso final.

O fim é meu único amigo.
Enquanto eu me fodo,
enquanto chegamos. Fim.