Sejam bem-vindos ao outro lado do espelho, onde tudo pode acontecer (e acontece).

Wonderlando é um blog sobre textos diversos, descobrimentos e crescimento. A filosofia gira em torno do acaso, misturando fantasia e realidade de dois amigos que se conheceram também por acaso, Alice - que tem um país só seu -, e Yuri - chapeleiro e maluco nas horas vagas.

Leia, comente e volte sempre... Ou faça como a gente e não saia nunca mais.

31 de outubro de 2007

Prelúdio dos Mortos


Dona Insônia me visita quase todas as noites: "Yu-uu, hora de acordar, gatinho". Ela não tem assunto nenhum, também não tem o que fazer, e adora minha cara cansada e sonolenta. Mas esta noite foi diferente. "Esta noite, meu amor, vai ser diferente". Também não sei de onde ela tirou essa intimidade, humpf.

Acordo sempre achando que estou sonhando. Sonho sempre que estou acordando e, ao acordar, nada é real. Nem nos meus sonhos eu sou bem-sucedido e minhas tentativas não passam de tentativas. Quando acordo, acho que estou dormindo. O mundo me engole. Mas mastiga as 80 vezes como manda o manual saudável da nutrição.

Esta noite vai ser diferente. O dia em que o céu e o inferno se misturam na Terra.





Continua...

29 de outubro de 2007

Motel

Meus desejos mais perversos e indecentes são os sexuais. Não vou ser prepotente em dizer que já vi de tudo porque uma amiga da faculdade me mostrou coisas que jamais achei que existissem e vão além da compreensão. Certo. Mas já vi muita coisa, já vivi muitas experiências legais. Porém nunca fui num motel. É, motel... Tão fácil, tão ali, e nunca fui. Até aquela madrugada.

Era um daqueles bem fuleiros, de beira de estrada. Daqueles que não se tem opção. E lá estava eu, me assustando comigo pelado no teto. Banheira com hidromassagem, hmm... Devo ter pego no mínimo 4 doenças ali dentro. Mas estava tão cansado, exausto. Não resisti. Me arrependi no começo e quase desisti, mas segui firme até o final. Era como se entrasse numa fossa de esgoto, mas depois se acostuma. Até relaxei.

Ao entrar de volta no quarto, me esparramo nu na cama quase redonda (até agora não entendi o formato daquilo). E novamente me encontro encarando a mim mesmo pelado. Que visão do inferno! Me ignoro. Na TV somente um canal trash pornô. Mas o pornô mais sacana e mal feito que eu já vi. Que possa existir! Até vídeos caseiros da Pam, Paris e Meg são melhores que aquela porcaria. Rodei os canais em busca de opções: três canais de igreja, Chaves no SBT, enlatado americano na Globo (Será que eles acham que alguém realmente assiste aquilo?), e o mesmo pornô novamente. É, ok, Chaves.

Pego o cobertor duro e me cubro pra dormir infeliz. Na verdade feliz, estava tão cansado que qualquer motivo de descanso era alegria. Qual o problema daquele cobertor? Ele parece um pedaço enorme de cartolina. Inquieto percebo que ainda estou pelado. Exatamente como eu gostaria de estar se estivesse num lugar limpo. Naquela cama e naquele cobertor misteriosamente duro, devo ter pego mais umas trê ou quatro doenças (chutando baixo) e levantei correndo pra colocar minha cueca afim de enganar aquela achaque.

Pronto. Finalmente, posso dormir. Os espelhos e o Chaves que me perdoem. Dormi apenas uma hora. Já era hora de levantar. Minha primeira vez num motel... Fiquei apenas 1h30, assisti Chaves, certeza que peguei alguma DST (na melhor das hipóteses) e o pior, estava sozinho.

28 de outubro de 2007

Transfiguração / Butterfly Caught




Para sobreviver é preciso morrer todos os dias. Eu me repeti isso durante esses 21 anos. 41, quem diria? Talvez quase todo mundo, menos eu. Mas só eu me conhecia.



Eu achei que não fosse chegar até aqui. Na verdade, não cheguei. Me trouxeram pra cá. Abraços e empurrões me fizeram até aqui. Estudei algumas coisas interessantes, fiz muitas delas. Nem todas que desejava, nem todas eu desejava. Não queria estar aqui nem nenhum outro lugar. Mas estou. O mundo me castigou e não sofri um acidente, os remédios não funcionaram, as doenças foram curadas e as drogas não foram o suficiente. E aqui estou. Minha fase autodestrutiva acabou. Não há mais espaços para drogas ou coisas do tipo. Cobri o corpo com cicatrizes e tatuagens. Não me arrependo. Talvez seja esse o problema. Continuo fumando, continuo errando nas mesmas coisas. Foda-se. Eu não queria estar aqui.

Estou conservado, como as salsichas que quase comi num reencontro ao passado. Me sinto bem com meu corpo. Nunca mais joguei basquete. Me traí. Isso eu continuo fazendo com certa frequência. Não tive filhos. Talvez tenha tido, mas não quis saber. Pisei em todos meus amores assim como eles (não) mereciam. Nós? Ainda somos amigos. Você foi o pouco que sobrou do meu passado. Após o meu regresso, eu não quis saber de ninguém. Ninguém quis mais saber de mim. Aquela clínica só ajudou a trazer mais problemas e, sinto em dizer, mas -

Agradeci quando minha mãe morreu. Chorei como achei que não choraria, e agradeci como achei que não agradeceria. Que seja feliz como não foi em vida. Demorei pra voltar a escrever. Acertei onde Schopenhauer insistiu em errar. Onde eu sempre errarei. E envelheço como ele. Eu piorei. Muito. Mas convivo melhor com as situações. Minha fase "aborrescente" não passou. Minhas músicas são as do passado. Agora sou quadrado, e meus filmes, antigos. Clássicos merecidos.

Dizem que o passado é sempre nossa melhor época. Mas eu perdi quase tudo e minhas felicidades são inventadas. Disseram que isso não é evolução. Eu evoluí sim. Minha transfiguração.

24 de outubro de 2007

But not today, independence day

Não consigo me deitar. O sono não está presente e nem anuncia aproximação. Devo tê-lo afugentado com meus pensamentos inquietantes que chegaram para atordoar o tempo. O presente se embrulha como meu estômago e o passado se embaralha como minha vista seguindo as gotas da chuva na janela. O futuro se embaça como as luzes da rua. Tudo isso, num só segundo de percepção. Antes eu estava tão bem, até ouvi-lo dizer “um último beijo de 39 anos”. Virei indignada, dizendo que nada ia mudar de hoje para amanhã, que isso eram formalidades de calendário. Ele sabia que não era bem assim, mas se fez de desentendido, porque tinha a certeza de como me sentia sobre o crescer. Então, me deixou a sós com a vista da janela, a olhar meu mundo de dentro.

Ainda bem que nunca cultivei a ilusão de que com a idade, a gente se compreende melhor, entende a vida e deixa de ser um militante inconformado. Acho que estou tão desnorteada quanto sempre fui. Ouço e vejo coisas que me mantém assim, sem conformação. Justo eu, toda conformada nas formas e segmentos. Meu passado embaralhado não foi mentira, sou ainda tudo que fui. Mesma estruturação em conflitos diferentes. Mas algo sempre está a se modificar, não posso negar. Só não posso apontar.

Cansei de refletir sobre crescer. Pra quê a introspecção? Chega, já sei muito de mim, basta!, análise em casa também não. Sempre assim, sempre assim. Canso a todos e a mim. O meu mundo continua pesando, muito. O mundo de fora também. Muitas questões para hoje. Muitas penalizações, pare de pensar Alice, e aproveite o mundo! Mas é assim que aproveito o mundo, minha vida, me esquecendo dentro de mim, dentro dos outros, nos olhos, doenças, normalidades e loucuras.

Dou um beijo nos pulguentos espalhados pela casa. Boa noite, boa noite. Deito com ele e sonho. Alguma lembrança de um passado alegre me visita. No dia de amanhã, estarei feliz. Gosto de aniversários, de presentes, de bolo. Amo a presença de quem me marcou e não deixo fugir. Quero abraços antigos, abraços novos, lambidas babadas e surpresas. Quero atravessar a rua fora da faixa segurando sua mão.

21 de outubro de 2007

Jigsaw Falling Into Place



"I never really got there. I just pretended that I had."

In Raibows [reescrito]




Um formigamento. Uma sensação pululante de algo esquecido há muito tempo. Não desconhecido. Mas que me assusta quando acontece. É falta de intimidade. É só isso...


Os dias têm sido fáceis, corriqueiros. Não tropeço mais nos buracos no caminho, tampouco olho pro chão. Se antes olhava pra baixo, agora ando preocupado se vai chover. Flutuo sem precisar desviar de nada. Nem tudo nem todos estão certos. Nem tudo, nem todos. Se antes eu era dominó, agora sou quebra-cabeça. E tudo vai se encaixando.


Essa sensação passeia por todo meu corpo, me deixa um pouco sem jeito, acanhado até. Cubro meu rosto para não me entregar. Cuido para que não faça barulho. É uma sensação tão boa, tão sincera e tão secreta...


Olho meu passado e me arrependo de poucas coisas. E posso crescer sem essa culpa. Tenhos pessoas ótimas a minha volta que querem isso que tanto escondo. Querem o que só divido comigo e só demonstro quando estou sozinho. Arco-íris. Me sinto leve e vôo todas as cores.


O formigamento atinge meus músculos e já não posso mais controlar. Meus dentes querem enxergar, e se batem inquietos dentro da boca. Meus olhos não negam, mesmo que tente esconder. Eles dizem sem precisar dizer. Meu peito não aguenta mais, minha barriga dói junto com meu maxilar.



Essa sensação passeia por todo meu corpo, me deixa um pouco sem jeito, acanhado até. Cubro meu rosto para não me entregar. Foda-se. Que ecoe quarteirões e acordem os cansados e desocupados. Que todos vejam meus olhos brilhando de alegria e que minha boca engula o mundo se for preciso. Que vejam. Que juntem-se a mim e que nos alimentemos. É uma sensação tão boa, tão sincera... Um sorriso.





___________________________________________________
- Doutor, o que significa toda essa euforia e disposição?
- Felicidade, meu jovem.
- Ahhh... E tem cura?


=)

19 de outubro de 2007

Um texto feliz, sim

As palavras soaram tão desconcertantes. Inimagináveis pela minha imaginação, partes somente do meu sempre constante e inevitável platonismo. São integrantes do roteiro perfeito de minha vida, falas que não acredito serem possíveis de sinceridade e, muito menos, de realidade. Mas, ahhh, aconteceu.
.
Do fundo escuro do passado, o qual nem eu mesma recordava, as lembranças de uma época embaçada foram descritas para mim. De repente. Um admirador, um fã, de muitos anos, que persiste em ser um fã. Não sei por que, nem mesmo ele sabe, mas sempre me considerou especial. Fui pensada, diversas vezes.
.
E eu sempre pensei que quando eu ia embora, meus efeitos iam comigo e nada de mim ficava para trás. Nenhuma lembrança, pensamento, palavra, suspiro. Nem mesmo minhas digitais. Mas não, oh não! Quem sabe eu realmente inspire. Ah, que estranho pensamento.
.
Não estou acostumada a ouvir elogios. Nem comentários sobre o que for que eu tenha feito, dito, pensado. Sempre me considerei aquelas pessoas que passam em branco. Talvez não, talvez não. Sou admirada há anos, sou a garota distante que virou tudo, sou chuva.
.
Ah, meu Acaso, não sei como processar estes pensamentos! Parecerei fria e intocável. Mas saibam que estou feliz, mesmerada, estática. Surpresa... confusa. E com um sorriso gigante no meu rosto.

16 de outubro de 2007

Sorte e seqüelas

"Ele está bem, está se recuperando.
Foi uma puta sorte...
Ele não vai ficar com seqüela nenhuma!!"

13 de outubro de 2007

SINATRA [A Dolphin!]



Está realmente calor hoje. Bebo uma Coca-cola quente enquanto almoço de cueca em frente ao cemitério. Enquanto respiro com dificuldade como se estivesse asfixiando num deserto. Alguém está me enforcando, sinto suas mãos. Alguém está me enforcando só pra me ver mudar. Mas é só sangue; meu nariz menstruado e suas lamentações. Meu voyeurismo não incomoda. E afundo numa torrente quente de lágrimas e chuva. E tudo se mistura.

Neste mesmo sábado resumi por MSN minhas noites de fim-de-semana a uma amiga como sendo solitárias, e às vezes na [rua] Augusta. Ela, preocupada porque sabe em parte da minha situação leu e releu "angústia" no lugar de Augusta. Angústia¹. Talvez ela tenha lido certo e quem escreveu errado fui eu. Talvez eu seja o próximo corpo que irão apontar e rir e me culpar pelo trânsito ganho com tempo perdido, pelo corrimão amassado ou pela nova cor do carro.

Naquele chão quente eu me perdi dentro dum arco-íris. Foi nesses olhos desiguais, Lice, minha amiga, que vi as visões escondidas. Aquelas que não querem que vejamos. Mas elas estão lá. Provoquei o ursinho cor-de-rosa que sempre me olha disposto, e estava no meu lugar, no meu fundo-do-mar, meu deserto Blue Zoo.

Essas visões não duraram muito. Mas o suficiente para que me encontrassem. No máximo o tempo de enxergar um golfinho, minha amiga. Um golfinho... [abre os olhos]









¹.
Acepções■
substantivo feminino
1 estreiteza, redução de espaço ou de tempo; carência, falta
2 estado de ansiedade, inquietude; sofrimento, tormento
Ex.: a notícia só fez aumentar-lhe a a. em que vivia
2.1 Rubrica: psicologia.
estado de excitação emocional determinado pela percepção de sinais, por antecipações mais ou menos concretas e realistas, ou por representações gerais de perigo físico ou de ameaça psíquica 2.2 Rubrica: psicologia.
medo sem objeto determinado
2.3 Rubrica: psicanálise.
reação do organismo a uma excitação impossível de ser assimilada, desencadeada pelo bloqueio da consecução da finalidade de uma pulsão (p.ex., a frustração do orgasmo) ou pela ameaça de perda de um objeto investido por uma pulsão (p.ex., a perda de um ser amado)

The Sound of Silver

Violência. Mais violência, eu quero mais. Mais violência. Ver aquelas crianças mortas foi inspirador. Ouvir aqueles gritos abafados e desesesperados de mulheres indefesas foi como uma felação inóspita. Eu estava ali e comandava tudo. Homens com membros gigantes passeavam pelos céus, mulheres com mentes febris me encaravam como deusas, mas eu podia tudo.

Um campo. Cadáveres pendurados em ganchos sangravam e secavam e diminuiam e me faziam maior. O cheiro me fazia vomitar, mas segurava como seguro as lágrimas pra provar que sou Homem, frio e vazio. Para provar pra mim mesmo que eu desejava aquilo tudo e ali queria me esfregar e me lambuzar sem vergonha. Ali eu me pertencia e ali era meu lugar, em meio a sangue, lama e carne.

Era um quadro. Sim, um quadro, desses que se pendura na parede. E tinha muito sangue e tripas. Um boi aberto, totalmente exposto. Tá, não era um quadro desses que se vá pendurar na parede. Mas este estava pendurado. E era gigante, para que pudéssemos apreciar os detalhes dos dedos humanos afundando nas carnes e nos lagos de sangue que se formavam. E eu senti vontade de comer tudo aquilo. E foi exatamente o que eu fiz.

Afundei quadro adentro e lá estava, envolto a moscas e a um fedor repugnante, como eu. Exitei por um breve momento, mas foi irresistível. O desejo dentro de mim, a libido, me rasgavam a pele e queriam explodir. Abri a calça com o membro já pronto para sua missão e mergulhei tripas adentro. Mal sabia que parte da carcaça era aquela, mal sabia eu o que estava fazendo.









































[Babava, batia, arranhava. Eu queria aquela carne dentro de mim, eu queria sê-la. Eu era aquela boi. E o choro já não se segurava mais dentro dos meus olhos. O orgasmo já não se segurava dentro do meu olho. Ajoelhei, e todo sujo de sangue e sexo, agradeci.]

12 de outubro de 2007

Vertigem

Foi estranho e incomum. Eu estava dormindo, cansada e feliz das conversas que tive no dia anterior. Pulei da cama, levantei. Ele também. Fiz meu café-da-manhã, minhas torradas pularam da torradeira. Ele também. Beijei minha mãe, dei tchau e fui para o ônibus, corri para não perdê-lo. Ele também. O caminho todo fui pensando nas grandes oportunidades que o dia me guardava. Nas minhas esperanças e possíveis felicidades. Tanta, mas tanta esperança. Ele também, mas uma bem diferente da minha. Havia chegado ao ponto, pulei do ônibus. Ele também. Recebi a mensagem, corri para ver o que estava havendo. Vi pessoas conversando, portas fechando, olhares estranhos. Sim, ele tinha mesmo pulado.

E pulou para se perder no mundo. Sua vida se perdeu na boca dos universitários egoístas. Porque trânsito não é legal para ser tomado em vão. Porque os minutos gastos no ponto de ônibus não compensam uma vida de sofrimento. Pois a vida não era a sua vida.

Ah meu umbigo, como se no mundo só existisse eu e ele. O burro ainda podia ter arruinado a vida de alguém, que perigo, meu Deus! A igreja do lado desmente, espero eu. Se não ela, eu. Onde foi parar o garoto? Ninguém liga para ele, eu noto. Apenas para o evento, o show, não é? O dia sem aula. Alguém se importa com sua manhã? Com o peso de seus passos na subida da rampa? Com o peso em suas costas? Ninguém quer saber se ele acordou e pensou “hoje, minha vida acaba hoje”. Será que dormiu? Ou será que vagou pelo mundo procurando carros para manchar?

As bocas maldosas perdem o humano. O humano perde o humano. E os dedos apontam, o local é visitado e vejo risos. E eu choro. Eu choro. Eu choro. Porque podia ser eu, você. Mas não!! Foi ele. Foi ele. E ele foi. Não, ninguém mais, mas ele. Ele.

***

E tem tantas coisas mais presas no meu peito.

3 de outubro de 2007

O Longo Vestido Cinza




Estou me perdendo em mim. Já nem lembro como eu era para ficar angustiada por ser como sou. Jogaram meu ponto de vista pela janela. Caiu num bueiro e entupiu o Pinheiros. Fujam pacas, cotias, capivaras [ou veados como diz a placa]! Eu estou poluindo o mundo.

Psicólogos são muitos, amigos são raros. E cá estou eu deixando de ser rara. Como posso? O que mais procurei em outros é o que me falta agora. Dá pra calar a boca e ser você? Ser sincera está custando muito. Ser neutra é um treino. Façamos de cobaias a todos, menos os animais, pois isto é pecado. Don’t test on me, clamava 14-B. Testo em mim então, em você, em todos! O mundo está aí para meu bel-prazer. Rá, abuse-o. E perca-se.

Para um estranho escrevi sobre. Ele me disse que todos somos assim, vamos nos perdendo no que fazemos. Pois, afinal, somos um só, não é? Mas não queria trair minha Alice interna para satisfazer uma Alice que nem adjetivo posso atribuir. Não sei quem é, nem porque faz o que faz. Tenho ética profissional! Ah, achei que seria por amizade. Que inferno, aonde está minha opinião?!

Não, não, cuidado. Não tome decisões por ninguém, meça as palavras, amplie a consciência, faça-os entender, não dê respostas, seja um instrumento, não julgue, não opine, não seja espontânea. Ou seja, mas dentro dos limites da teoria. Force até dobrar, mas não romper. Se romper, comprometeu! Fudeu o sujeito pro futuro inteiro, shame on you! Ugly baby judges you!

Como saber também, se não fui sempre assim? Pouco me recordo, mas elogiada sobre sempre fui. Oh, oh, meu destino! Que acaso de merda, poderia ter me dado as vísceras para salvar o cão atropelado, mas não!!!! Cuide dos estúpidos humanos.

Desculpe se opinião me falta, sobre assuntos que merecem um ombro amigo. Pode chorar, pode. Mas não enxugo lágrimas. Sou cinza.

***

O Sr. Vendaval foi ouvir a Novosom. E dele, roubo as palavras: “ser desagradável e ter nojo da humanidade... eis o bom psicólogo".

1 de outubro de 2007

Oxygen Thief

O pão é duro e esfarela. O queijo está embolorado, assim como aquele corpo no sofá. Mas pouco importa. Tudo aqui em casa venceu. Menos nós. Nós perdemos. Nós Nos perdemos. O ovo tem umas "coisinhas" estranhas, o chocolate virou plástico branco. O danone é ácido, o miojo venceu em fevereiro. 2006. Tem muita comida. Muita invalidez. Tudo venceu. Tudo menos eu.

Minha mãe tem essa mania, de comprar muita comida para pouca fome. Minha mãe tem essa mania, de achar que somos muito. De morrer sem avisar. A casa estava quieta e a comida cada vez mais podre. Mais podre éramos nós que comíamos sem se importar. Uma cara feia, um gole de qualquer coisa, e pronto. Tudo vira merda do mesmo jeito. Eu estou no caminho.

O bolo não estava mais tão bom, estava duro. E xingava por comer aquilo, mas sequer me mexia para preparar outra coisa. Sequer me importava o gosto ruim que tinha. Podia fumar em casa, agora ninguém me incomodava. Minha mãe dormia e dormia, passava dia nem a via. - E daí? Melhor assim - eu dizia. O lixo do banheiro não esvaziava sozinho. Minhas roupas acabaram e o guarda-roupa está vazio. Tudo está no mesmo lugar. Eu também.

Era um sofá, onde encontrei um corpo. O sofá que ela nunca sequer sentou, agora ela jazia. Nossa diferença é que eu respiro.