Sejam bem-vindos ao outro lado do espelho, onde tudo pode acontecer (e acontece).

Wonderlando é um blog sobre textos diversos, descobrimentos e crescimento. A filosofia gira em torno do acaso, misturando fantasia e realidade de dois amigos que se conheceram também por acaso, Alice - que tem um país só seu -, e Yuri - chapeleiro e maluco nas horas vagas.

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28 de outubro de 2007

Transfiguração / Butterfly Caught




Para sobreviver é preciso morrer todos os dias. Eu me repeti isso durante esses 21 anos. 41, quem diria? Talvez quase todo mundo, menos eu. Mas só eu me conhecia.



Eu achei que não fosse chegar até aqui. Na verdade, não cheguei. Me trouxeram pra cá. Abraços e empurrões me fizeram até aqui. Estudei algumas coisas interessantes, fiz muitas delas. Nem todas que desejava, nem todas eu desejava. Não queria estar aqui nem nenhum outro lugar. Mas estou. O mundo me castigou e não sofri um acidente, os remédios não funcionaram, as doenças foram curadas e as drogas não foram o suficiente. E aqui estou. Minha fase autodestrutiva acabou. Não há mais espaços para drogas ou coisas do tipo. Cobri o corpo com cicatrizes e tatuagens. Não me arrependo. Talvez seja esse o problema. Continuo fumando, continuo errando nas mesmas coisas. Foda-se. Eu não queria estar aqui.

Estou conservado, como as salsichas que quase comi num reencontro ao passado. Me sinto bem com meu corpo. Nunca mais joguei basquete. Me traí. Isso eu continuo fazendo com certa frequência. Não tive filhos. Talvez tenha tido, mas não quis saber. Pisei em todos meus amores assim como eles (não) mereciam. Nós? Ainda somos amigos. Você foi o pouco que sobrou do meu passado. Após o meu regresso, eu não quis saber de ninguém. Ninguém quis mais saber de mim. Aquela clínica só ajudou a trazer mais problemas e, sinto em dizer, mas -

Agradeci quando minha mãe morreu. Chorei como achei que não choraria, e agradeci como achei que não agradeceria. Que seja feliz como não foi em vida. Demorei pra voltar a escrever. Acertei onde Schopenhauer insistiu em errar. Onde eu sempre errarei. E envelheço como ele. Eu piorei. Muito. Mas convivo melhor com as situações. Minha fase "aborrescente" não passou. Minhas músicas são as do passado. Agora sou quadrado, e meus filmes, antigos. Clássicos merecidos.

Dizem que o passado é sempre nossa melhor época. Mas eu perdi quase tudo e minhas felicidades são inventadas. Disseram que isso não é evolução. Eu evoluí sim. Minha transfiguração.

3 comentários:

Yuri Kiddo disse...

Tive uma vida boa pra caralho. Desde muleque. Qual o problema então? O que é isso? O-que-é-is-so?

Alice disse...

espere muitos abraços, empurrões e quero-saber-de-você




o que é, o que é

Milla disse...

"Para sobreviver é preciso morrer todos os dias"

É exatamente o que tenho em mente, mas quase todos discordam de mim e me acham pessimista(dãr novidade).

Esse texto parece um testemunho sabe?
Tipo: Vim sem ser chamado, fiz o que não devia e vou embora quando quiser.

O que eu mais gosto nos seus textos é que eles sempre mostram sentimentos e atitudes que muitos não tem coragem de mostrar.

E lá vamos nós morrendo um pouquinho por dia.

Beijo