Sejam bem-vindos ao outro lado do espelho, onde tudo pode acontecer (e acontece).

Wonderlando é um blog sobre textos diversos, descobrimentos e crescimento. A filosofia gira em torno do acaso, misturando fantasia e realidade de dois amigos que se conheceram também por acaso, Alice - que tem um país só seu -, e Yuri - chapeleiro e maluco nas horas vagas.

Leia, comente e volte sempre... Ou faça como a gente e não saia nunca mais.

30 de abril de 2007

Memórias Inventadas

Lembro do meu primeiro sorriso falso. Foi aqui no hotel Mercure Santo André, o lugar dos sorrisos inventados.
Meus músculos pareciam ter dado câimbra no pescoço de tanto que a pele puxava. Minhas sobrancelhas se contraiam uma querendo encontrar a outra enquanto meus olhos arregalavam-se. Minha boca esticava horizontalmente mostrando meus dentes amarelos e tortos. Podia até sentir uma gota de suor escorrer. [Receita: vá até seu espelho, realize a proposta e chore, porque o resultado é de arrepiar]
Me senti péssimo. Me senti culpado e então conversei baixinho comigo mesmo para não repetir uma vulgaridade dessas novamente:

- , Yu. Que que tá acontecendo cara?
- Não sei, porra, não sei.
- Você tem que se dar uma chance.
- É... eu sei.
- Que história é essa, cara, de sorrir assim sem vontade? Não é assim que funciona um sorriso.
- Por aqui é assim mesmo. Somo obrigados a imaginar que estamos no meio de um pique-nique cercado de amigos. Mas esses amigos só querem sua comida, depois vão embora sem nem se despedir. Filhos-da-puta!
- Mas olha essa sua cara. Você parece um diabo com essa careta ridícula.
- É um sorriso!
- ahUHAuaHUAhuaHUa! Isto é um sorriso. Mais que isso, é uma risada. Percebeu a diferença?! Cara, quando foi que você esqueceu isso? Não te conheço mais.
- Mas você sabe, eu não sou assim, não consigo.
- Por isso eu ainda estou com você, parceiro. Exatamente por isso.

Lembro do meu primeiro sorriso falso. Você se lembra do seu?
Ao longo dos anos, só o que pareço é estar sempre assim, sorrindo em vão. E era tão fácil... tão automático. A risada e o sorriso sincero estão caros e em falta no mercado. Que medo.

Às vezes invento tantas histórias, tantas lembranças que já perdi o que realmente aconteceu. E imagino ter sido feliz ontem. Sempre ontem. Mas ontem eu estava no meu quarto, chorando...

21 de abril de 2007

I'm glad we found each other




"I'm glad you're my friend" - Sam Brown





"No princípio era o Acaso. Todas as coisas foram feitas pelo Acaso, e sem ele nada do que foi feito se fez". - O Homem dos Dados


"Grande parte do que começa como arbitrário torna-se essencial". - O Drama da Vida Cotidiana


Somos mais um fruto da arbitrariedade, do Acaso.

14 de abril de 2007

And just yesterday...


> Onde está o Guido?! Esqueci o Guido! Tudo bem, de manhã eu trago ele de volta.
> Que lugar é esse? Estou sozinho, neste lugar estranho, longe dos meus costumes e conhecidos. Não tenho como voltar, fui deixado para trás, como uma coisa irrelevante e supérflua!
> Desculpe-me, Guido. Não foi minha intenção esquecê-lo.
> Mas esqueceu.
> Esqueci, desculpa! Logo de manhã te terei mais uma vez comigo, em seu devido lugar, onde o mundo lhe é familiar. Onde tudo é seguro, onde todos te conhecem e te confortam.
> Sim, mas até a manhã serão longas horas, longos momentos de medo e solidão. O que farão comigo? Estou com medo, fui abandonado, esquecido!
> Seria irracional de minha parte voltar para te buscar! A manhã logo chegará e te verei de novo. Aproveite e faça novos amigos, descubra novas coisas. Uma aventura!
> Aventura? Aventuras se dividem com alguém ou, quando são solitárias, são intencionais! Uma aventura acidental só inspira medo. Venha me buscar, tire-me daqui, por favor! Por que me abandonou?
> Não te abandonei! Esqueci simplesmente! Tenho muitas coisas na minha vida acontecendo agora, muitas tarefas, não consigo pensar em tudo!
> Pensa só no que lhe é importante agora, entendo.
> Sim... digo, não! Você é muito importante, foi um lapso! Nunca faria isso intencionalmente!
> Com intenção ou não, fez! Causou-me dor!
> Perdão!

E chorando foi buscar Guido. No encontro, um longo abraço e um real pedido de desculpas.
De manhã, ela conta para sua mãe o ocorrido. A mãe, surpresa com os fatos e a imaginação da filha, discute.

> Não vê que Guido é exatamente como você? Não percebe que ele é uma projeção de você? É você que tem medo de abandono e de esquecimento, de situações novas, medo de mudança! Não percebe?
> Percebo...
> É você que chora, você que lamenta a solidão.
> Guido não chora?
> Ele não é real! É um peixe de pelúcia, um mero objeto de sua afeição. Não tem vida!
> Mas ele fala comigo...


Ele sempre fala comigo.

2 de abril de 2007

Special K

I could say you're the best
I make you feel less alone
together we could dispense the rest
you're flesh, I'm bone
the one who ain't left
yet

if I were a prayer
for you, Alice, I would pray
I could say you're my layer
you help my pain
go away

I make you feel less - alone
even me being less and alone
you´re Clyde, going high
on my way down, I'm Bone

drowning in my tears
and knives
lock into my fears
I'm not alive
in this darkness
you're a piece of light
I'm your damn
rabbit