Sejam bem-vindos ao outro lado do espelho, onde tudo pode acontecer (e acontece).

Wonderlando é um blog sobre textos diversos, descobrimentos e crescimento. A filosofia gira em torno do acaso, misturando fantasia e realidade de dois amigos que se conheceram também por acaso, Alice - que tem um país só seu -, e Yuri - chapeleiro e maluco nas horas vagas.

Leia, comente e volte sempre... Ou faça como a gente e não saia nunca mais.

27 de abril de 2009

Linhas Cruzadas em Caminhos Opostos

Ofereceu-me a única coisa que tinha:

- Eu odeio minha voz, pode pegar pra você!
- Pego sim, mas eu quero o conjunto todo.

Silêncio.

-... Fazer da tua voz o meu soneto, da tua língua a minha fala, da tua boca o meu beijo. Quero você e a tua voz surrando e gritando, me fazendo calar em doces versos de amor.

Ela não quis mais dormir. Avisou que era eu o culpado. Do estribilho enrolado, feito às pressas de forma mais sincera. Completou o vazio, aquela voz sem dona, que eu queria pra mim. Eu desejara tocá-la, mas não, não me era permitido, eu nem sabia quem ela era. Só fazia imaginação e em minhas fantasias, modelava sua sonante na mais bela Vênus.

Disse brincando que me mata se eu morrer. E que adora médicos. Digo que se morro, é por ela, e que se for preciso, faço medicina! Rimos e nos conhecemos. Disse-me tanto em ligações perdidas. Memórias que guardamos aos fios. Histórias contadas a nós, e somente a nós, como prometemos. Segredos e mais. Eu queria mais. Mas nunca me foi permitido. Ela queria minhas idéias, apenas, só que pra mim, ela era o ideal.

Linhas cruzadas em caminhos opostos. E sempre sobrara o som da solidão que me cantava o final de mais uma ligação. Tu-tu-tu-tu-tu-tu-tu...

Pintura íntima

Acho que chegou a hora, amor. Concorda? O momento que há muito imaginei, assim: diante de mim. Entenda minha pressa, antes que tudo se acenda, antes que minha mente volte ao seu lugar, deixando de estar a palpitar. Não diga que estou errada, já não estou seca, agora chove! E pare de contar as horas, sinta meu perfume, a essência das amoras.

O que te interessa nesta madrugada é meu amor clamando minha virada. Já a mim, interessa você, acolhedor. E a nós, novo momento de amor.

Pois largue este artefato para admirar tal fato, nosso fado. Meu olho basta, nosso outono ele espelha. Não me olhe assim, ficarei vermelha. Neste edredom, apenas me abrace... esperando que logo o sono nos lace.

26 de abril de 2009

Pensamentos de um insano, em tédio



Nascemos na mesma fôrma
Somos pegasus sem asas
Somos bastardos sem casas
Mas ninguém nos doma

Somos filhos do Brasil
Da Puta que pariu
Que não nos deixou falha
Nem sequer nos qualificou
Somos todo o resto que sobra
Somos o que faltou



Nascemos em cima do muro
Sem cor e sem face
Sem passsado e futuro
Sem perfeição, credo ou classe

24 de abril de 2009

_semtitulo

As paredes do pensamento latejam incessantemente. Visões distorcidas de realidades e fantasias contornam minha mente. Pesam mais os meus pesares. A verdade, cansei de me perguntar, mas não de querer saber. Cansei de vagar em vão... Vagão. Tudo isso pra dizer que a minha cabeça dói sem parar sem conseguir parar de pensar.

Pode um sonho ser verdade se for sonhado por mais de uma pessoa? E se não é o meu, não quer dizer que estou à toa. Certos ou errados, são todos desequilibrados. Rostos marcados e unhas sujas contam sobre. Bombas e hormônios explodem. Movimentos rítmicos de pés no chão. Confundo a marcha fúnebre com revolução.

Diálogos informais incompreensíveis para os insensíveis. Palavras trocadas, jogadas bruscamente, mas sem ferir. Você sabe como não ferir. Queria eu. Queria eu sumir.

Sairei em busca do caminho pro sumiço, é isso! Essa será minha mais nova aventura, deixarei tudo para trás [Adeus vida dura!] sem medo de me arriscar na penumbra do desconhecido. Eu tenho me reconhecido embora não tenha sido o que realmente quero ser. Responsabilidades, medos, mágoas, incidentes. Quero novos caminhos, só. Não importa se será menos forçado, subida ou descida, estreito ou um pouquinho mais largo. Só quero um rumo. Por isso sumo e assumo o caminho para o sumiço. E, se achar te faço um mapa.

Como se fosse solução. SoluSÃO? Soloucura, isso sim! Mas também cansa brincar de adulto e ser criança. E vice-versa cantar esperança, quando se é tão vazio e morto. Por isso ninguém ouve um pio do que diz o aborto. Começarei tudo de novo. Procurando um novo crer, sem almejos de um mundo melhor, sem companhia, sem latejos. Isolado como sempre soube ser.

21 de abril de 2009

7UD0 é Z3R0.txt

Assisto ao meu último pôr-do-sol
Porque hoje eu vou me afogar
Em vidros de perfume, veneno e formol

Eu sou uma criança paralítica
Que quer explodir de energia
Eu sou a dor contida num lá menor
Sou Tetsuo do Akira
Incontrolável como o fogo sem dó
Sou, sou, sou e só

Hoje faço minhas últimas despedidas
Achei que isso um dia ia passar
Tudo é zero
E só o que passou foi minha vida

Zero é puro, é o começo
Minha contagem é regressiva

Viva, viva,
Minha contagem é regressiva

Tudo é zero
Tudo é neutro e escasso
Eu tento e procuro mas eu nunca acho

Zero de um mais um ano que se foi. Minha nota inocente, achando a vida inteira que mudaria alguém. Não mudei nem a mim mesmo, imagine tanta gente? E que mal tem em ser zero, ser ninguém? Vivi o suficiente, tá bom já, já tá bom. Mais uma tentativa fracassada de não ser um fracassado. Em vão. Que tudo acabe em zero então, já passou da hora. Que tudo acabe agora!

Contagem regressiva
Contagem agressiva
Viva Viva Viva
Até o Z3R0

E se a vida lhe insistir, revide. (Re)vida.

Yonder



Yore, Yuri youthly yearned years, yards, yacks.
Yesterday, Yuri yapped, yelped, yelled.
Yuri yammers.
Yet, you're yellow yeggman.
Yes, you've yummy yolk.


***


















You're just two young yellow ducks.

primeiro.

Porque tudo é azul. E infinito.




"He couldn't believe how easy it was
he put the gun into his face - bang!
(so much blood for such a little hole)
problems [do] have solutions [you know]
a lifetime of fucking things up
fixed in one determined flash
everything's blue in this world
the deepest shade of mushroom blue
all fuzzy spilling out of my head"

20 de abril de 2009

A Morte da Boneca


Já tem um tempo que não me encontro mais com ela. Suas personas não me dizem mais respeito, e até suspeito que nem a ela mesma. Já imaginava de que isso aconteceria, mas sempre quis acreditar que não.

Talvez a sombra do sexto tenha infectado o que era tão certo e organizado até. Talvez tenha sido aquela parte seletiva que vem e sufoca cheia de idolatrias, sem personalidade e autoestima no chão; que devora com anseio e fere imaturamente escolhendo apenas alguns de um todo.
Pode ter sido também a apaticidade de sua parte tocável, oh Susi, que não toca mais nada nem ninguém. Suas lágrimas não comovem mais, nem seu sorriso, muito menos seu coração partido traz pena. Cada vez mais invisível, nem pede por socorro. Não há súplica em sua dor. Foi abandonada e esquecida, mas ninguém tem coragem de dar o ultimato, o golpe fatal com a lâmina mais afiada. Simplesmente é deixada respirar sem membros... Eu tentei ser sua alma, mas não me permitiram. Falhei.

Se não todos os membros agem em conjunto, nenhum funciona direito. Se não todos serem eternos, somente alguns, seja feliz, minha doce boneca de olhos de vidro. Para alguns, alguns menos.

Susi não anda sozinha nem nunca vai andar, mas não caminha mais comigo.

17 de abril de 2009

Lourenço

Foto retirada do wordpress dos Malvados


- Você gosta do meu pai?

- Não sei. Gosto do trabalho dele.

Seguimos até o prédio. Chego à porta do apartamento e dou risada. O número não poderia ser outro: 21. Há um tempo atrás, fiquei tão obcecado pelo número 21 que tive que fazer terapia só para me desapegar e deixar de acreditar na conspiração do universo por conta do 21. Todo esse tempo foi em vão quando me deparei com aquele 21 sujo na porta.

“Senta aí que eu vou passar um café e a gente conversa”. Essa foi a primeira coisa que ele me disse após eu apertar a sua mão, a ferramenta que traduz em desenho e escrita toda a filosofia de seus pensamentos. E a partir desse momento eu me senti parte de um de seus quadrinhos. Eu já conhecia sua rotina, sua casa, sua família através das histórias, mas agora eu estava dentro delas, eu estava fazendo parte delas, e isso parecia mais surreal que qualquer coisa que eu já tinha imaginado.

Não estava ali como jornalista, muito menos como fã ou o super amigo. Pelo menos não era essa a minha intenção. E foram esses cuidados que guiaram nosso papo, sem perguntas jornalísticas e sem tietagem, tenho asco deste último. Queria estar ali como um igual, e foi exatamente como nos tratamos. Claro que eu o admiro e o conheço muito mais do que ele a mim, mas enfim, fomos nós mesmos, naturalmente.

Minha tensão foi passando conforme conversávamos e fui relaxando mais no sofá. Ele assou umas batatas smiley e quando peguei uma, imaginei minha cabeça uma batata smiley, no estilo da bolacha Trakinas. Era como eu estava ali naquele momento, e a batata era um espelho refletindo minha cara! Assistimos Simpsons e ouvi sua risada pela primeira vez. Ele ri. Então eu rio, não pelo episódio que eu já vi pela centésima vez, mas por estar feliz ali.

Três garrafas de café se passaram. Ele já devia estar no quarto cigarro, quis pedir um, mas recuei. Ficamos em silêncio, observando os incontáveis gatos. No começo me incomodou, depois eu achei o máximo aquele silêncio e deixei acontecer por um bom tempo. Tanta coisa quis saber, mas não perguntei, decidi que as coisas iriam acontecer se merecesse outro encontro, e se ele merecesse outro encontro também. E merece.

Estive de fronte com quem impediu meu assassinato. Lá estava ele, o quarentão sem autoestima, franzino e careca, que me trouxe de volta a esperança. Conforme nossas conversas, eu percebi que temos muito mais em comum do que eu podia imaginar. E ele pareceu muito sincero quando conversamos. Sincero e muitas vezes triste, pensativo. Então também fiquei. Perguntei muitas coisas sobre seu passado – meu futuro. Não tive medo. Ele disse que da onde eu estou em diante, nada vai mudar. “Que merda”, pensei alto. Ele concordou. Ali naquela cozinha eu acreditei em destino por ter a oportunidade de assistir o meu futuro em outra pessoa. Morri um pouco ali no banquinho, no meio dos gatos, no meio das smiley, no gole do café frio, na frente dele. Mas estávamos no mesmo nível.

Concordamos e discordamos. Ainda bem que temos nossas diferenças, mas fiquei pensando realmente se aquele cara ali sentado era mesmo Mutarelli ou um de seus personagens. Na verdade fiquei pensando se ele estava me imitando para me agradar, ou se pensou o mesmo de mim. Combinamos de jogar GTA IV na próxima vez - se ela existir, mas não vale matar mendigos nem por fogo no hospital.

- E aí, gostou do meu pai?
- Claro, ele é legal. Teu pai é legal, Chico.



*Dedicado à Lourenço Mutarelli, pessoa na qual eu admiro e respeito muito e que tem muita importância pra mim. Tive a oportunidade de conhecê-lo pessoalmente ontem e foi a tarde mais incrível da minha vida! prontofalei.

16 de abril de 2009

Fita Amarela

Os espíritos de luz não costumam ficar por aqui nessa época de quaresma. Eles costumam ficar em lugares melhores, talvez para não ter que comprar ovos de chocolates caríssimos. É nessa época que o mal se faz deste lado.

Era um ritual para fechar o corpo, onde ela me levou. O lugar era simples, branco e azul, enfeitado com pedras e iluminado principalmente por velas. Cravo, frutas e canelas eram colocados estrategicamente junto a uma planta chamada de tapete de wa xa illah¹. Davam um aroma natural agradável e a posição dos alimentos formava ornamentos que lembravam art nouveau.

Ela tinha saído por alguns instantes e quando voltou estava linda, de vestido branco destacando sua pele morena, com uma rosa branca presa nos cabelos lisos da cor da pele, e a prata em seu braço fazia brilhar sua luz. Feito a flor, eu estava enleado à sua imagem santa e pacificadora.

ÈPA BÀBÁ! [Viva o Pai!], era a saudação que todos gritavam. Daí um por vez pisava nesse “tapete” que fizemos e o caboclo ia dando o passe para proteção. Todos jogavam pipoca também para ajudar no descarrego e faziam a oração de proteção, de São Jorge. Não tinha entendido a pipoca, mas depois descobri que o banho de flores brancas significa a cura de doenças, um dos elementos de Omulú, o orixá que rege a morte, ou o instante da passagem do plano material para o plano espiritual. Um pouco de ebô [canjica] e arroz para Oxalá também fazia parte do cenário. Segundo a mãe de santo, podíamos comer a comida e era bom, porque se alguém nos desejasse algum mal, através de comida a gente estaria livre.

Eu não pertencia àquele lugar, no começo estava inseguro, mas depois me senti confortável e protegido. Ela me trouxera aqui por afirmar que eu era filho de Oxalá e me descreveu. Me senti lisonjeado pela descrição, mas em minha pretensão, me senti o próprio Pai, só para fazer dela minha Yemanjá. Então ela me pegou pelas mãos e amarrou uma fita amarela, me pediu para fazer um desejo, mas como não acredito nessas coisas, dei meu direito ao desejo a ela, para não desperdiçar. Ela pensou uns segundos e deu o primeiro nó. No final, me beijou os punhos e me abraçou. A gente mal se conhecia, mas tudo foi tão íntimo... Fiquei pensando o que ela havia desejado e que jamais me contaria enquanto fazíamos baixinho a oração de São Jorge:

“(...) Eu andarei vestido e armado com as armas de São Jorge para que meus inimigos, tendo pés não me alcancem, tendo mãos não me peguem, tendo olhos não me vejam, e nem em pensamentos eles possam me fazer algum mal. Armas de fogo o meu corpo não alcançarão, facas e lanças se quebrarão sem o meu corpo tocar, cordas e correntes se arrebentarão sem o meu corpo amarrar (...).”

Até que a fita amarela arrebente.



¹. “Queira Deus” em língua árabe.
wa xa illah = oxalá. Voilà!

14 de abril de 2009

Ther_e R 2 c.olo.ur5 1N my H_3Ad


||
||
Duas luzes para lugar nenh1.




1a pra terra, outra para 0 céu. 100.mei0. Cemfim.
^Sem finalidade!_











ç Existem duas cores na minha cabeça,
)eu não sei o que ela me disse. *


&la me disse "Antes que você esqueça"










Já_era(!) tarde demais quando ela me disse




... Porque existem duas cores na minha cabeça_-_-_-_-_-_-_-_-_

# Nada está em seu devido lugar. O arco-íris aponta sem direção entregue aos passos da poluição. Leprechauns em extinção. Há ouro, só não há fim. Não sei se está indo ou chegando, mas não importa pra mim, porque eu olho através dele e vejo mais cores na minha cabeçaporque eu óleo através dele e beijo mais yores na minha cabeça|porque eu colho através dele e almejo mais dores na minha cabeça... Ai, a minha cabeça <<,


~



O OVNI ali no canto? Achei que ninguém tinha reparado! >>

10 de abril de 2009

Horário de Visita

- Você tá com medo? - Ele perguntou apreensivo. Seu amor no hospital e ele lhe apresentando possibilidades de morte. Curioso e insensível.

- Medo?! Medo do quê? - Ela, como sempre, na arte do migué, pois sabia do que ele estava falando.

- ... Sei lá. - Ele também sabia, mas ele tinha medo.

- Eu não tenho medo de nada, meu filho... Quero é sair logo pra encarar a vida.

- E se tiver que encarar a Morte?

- Então eu vou olhar na cara dela e encarar também. Se for minha hora, fazer o quê?! Uma hora a hora chega!

- É. E falando em hora, chegou a minha. Tenho que ir embora, acabou o horário de visita.

- Vai com Deus, meu filho...

- Fica com ele. Melhora logo, hein vó.

- ... Reza pra eu melhorar.

- ...

- 'Cê não reza nada, né?!

- Não, não rezo. - Sussurrou quase arrependido.

Ela fechou os olhos. Ele saiu.

9 de abril de 2009

Horses in My Dreams

Encontrei. Allan estava febril. Embaixo das cobertas. Febril embaixo das cobertas foi onde encontrei Allan. Em seu quarto, sozinho, sorrindo. Olhos fechados. Allan estava sorrindo febril e sozinho em seu quarto. Foi quando eu o encontrei. Olhos fechados.

Não bati na porta, fui entrando. Encontrei. Sintetizadores faziam uma música hipnotizante. Foi onde encontrei Allan, embaixo das cobertas com uma música eletrônica febril, agonizante. Hipnotizante, quero dizer. Sonhava com cavalos, porque podia ouvir o galopar. Allan sorria. Não bati a porta. Já não estava mais sozinho. Foi quando eu o encontrei.

Allan tremia em gozo. Em seu quarto, sozinho, sorrindo, sintetizado. Não abriu seus olhos. Sonhava com cavalos e música eletrônica hipnótica. Pude ouvi-los relinchando. Seu amor indo embora com os cavalos... De olhos fechados nem me viu. Allan estava febril embaixo das cobertas.

Tive pena por estar preso em sonhos, sonhando a liberdade. Tive pena por estar livre em sonhos, enquanto eu estava preso em realidade. Gozava inocentemente. Quis compartilhar o sonho. Fui entrando. Hipnotizado. Foi quando o encontrei. De olhos fechados nem me viu embaixo das cobertas.

A garota estava lá, a minha espera, pronta e aberta para cavalgar. Sintetiza a minha dor. Mas não conseguia enxergar seu rosto. Allan estava febril e sorridente. Sonhava com cavalos, podia ouví-los galopar. Eu estava preso aqui, embaixo das cobertas, sonhando com ela que eu não sei dizer. Allan goza hipnotizado. Ouvi a música e o relinchar dos cavalos. Pena. Foi quando os encontrei.

Como ondas, como o mar, em câmera lenta, andando o mundo inteiro, livres, livres, livres, livres, livres...

Tapas

Quando a gente decidia ser criança de novo e brincar de pega-pega ou de lutinha, você não costumava me machucar como machuca agora. Seus tapas de faz-de-conta hoje são aqueles mesmos tapas de antes, mas que eram seguidos de “ah, desculpa, amor, não era pra ser forte, desculpa!” e um saco de gelo, na mesma hora. Beijos e beijos para sarar o “sem-querer”. “Ah, nem foi forte, para de frescura” é o que me acostumei a ouvir.

Quando a gente decidia ser adulto e brincar de pega-pega, você não costumava me machucar como machuca agora. Tudo se tornou selvagem, bruto, cru. As palavras safadas ditas, que tanto me excitavam, são xulas e nojentas, porque é só isso que você diz. Mesmo quando não quero, o seu “pegar firme” que me deixava no clima são estas marcas roxas nos meus braços.

Quando a gente decidia brincar de ciuminho, você não costumava me machucar como machuca agora. As pequenas insinuações para atiçar geram ameaças severas e temerosas. Sua voz grave é grito quando não volto para casa antes de escurecer ou sem dar prévias explicações. “Você não sabe que é perigoso?! Você pode ser roubada, podem te bater, podem te estuprar!”.

Saiba que quando eu decidir sair de casa com minha mala e eu encontrar um assaltante, vou dizer que não tenho dinheiro, pois meu marido tirava dinheiro da minha carteira de noite, e até mesmo das minhas economias escondidas. Então, por não ter dinheiro que roubar, ele decidir me bater, vou mostrar os hematomas pelo meu corpo e dizer que meu marido também já fazia isso. Então, ao ver partes do meu corpo descobertas, ele decidir me possuir, vou pedir para que finja ter carinho. Ele fingiu. E eu gozei. Nunca mais nos separamos.

Nunca Mais


Sempre acreditei que podia voar. Sonhava achando ser verdade que tocava as estrelas, que habitava planetas... que minha nave espacial era especial. Minha vida inteira num pouso de mentira. Minha fé é brincadeira.

Aonde ninguém foi jamais, eu venho em paz, sou um patrulheiro espacial. Vôo feito pássaro, plano feito avião, voar é só querer, basta crer e voar. Mas lá embaixo eu vi desaparecer.


Nunca mais sentir o vento frio contra o capacete, explorar as galáxias, ser leve novamente. É pesada a gravidade, sempre foi. Sempre foi verdade. Abrir as asas não faz mais sentido. Aprendi que voar eu não vou nunca mais, só cair, sempre cair... com estilo.

"Éééééé
Voar, eu não vou
Nunca mais"

8 de abril de 2009

Natimorto.

Eu fui um feto expulso morto do útero materno. Meu coração bate em mais uma forma de vingança por algo que ainda não sei por que pago. Divago amarelo pelos cinzas da cidade, inconfortável. Corro com a vida para ver se ela passa mais depressa, para ver se o dia acaba comigo e se, quando eu dormir, faz deste sono eterno.

Me tranco em pânico as chaves de cinco chagas, embaixo das cobertas, amedrontado. Que se passa nessa vida? O que é tudo isso?, e o ar que eu respiro, quem perde e ganha com isso? Às vezes eu choro sufocado sem respostas... Mas às vezes as perguntas são as que mais importam. Finjo me conformar.

Queria o câncer dessa dor embaixo do mamilo esquerdo. Queria o meu destino prometido há 21 anos atrás, quando tudo estava definido. Agora é só névoa e desilusão. Eu sempre fui um desajustado, mas a cada dia que passa, eu sinto que eu era menos do que agora. E me sinto menos agora. Um Natimorto.

O Natimorto tem sorte porque vive uma vida inteira intra-uterina. Sorte é pular a vida no mundo, essa fase estúpida. Tem gente que morre quando nasce, enquanto outras vivem até a velhice, mas já morreram.

“Podemos nós olhar a morte de frente; mas sabendo como alguns de nós o sabem hoje, o que é a vida humana, quem poderia sem estremecer olhar de frente a hora do seu nascimento?”Thomas De Quincey

3 de abril de 2009

Conversas das 8h

eu: parece segunda
ela: também acho
eu: nossa, uma mina aqui gravou um cd pra mim!!! =)
ela: hein? Como assim? Cd do que?
eu: Um cd do Interpol [banda na qual eu gosto muito e que ainda esse ano vai lançar álbum novo], oba! Eu nem tinha falado nada que gostava e, pra falar a verdade, nem tenho a cara moderninha inglesinha de Interpol.
ela: humm sei sei... Sabe o que dizem de pessoas que gravam cds/fitas, né?!
eu: não
ela: tão afim de você! ahahaha
eu: quuuuiiii owwwww huhauahuaha
Ela deixou um recado dizendo que se eu gostar posso pegar pra mim... Fiquei tão feliz com o recadinho e o cd que tô pensando em dizer que não conhecia e que gostei muito hahaha
ela: melhor não mentir
eu: claro que não... Não sei mentir... Ia acabar me entregando, daí ia virar aquelas historinhas de amor, e não tô a fim de história de amor agora
ela: ai ai... Ééé história de amor cansa vida
eu: é... Tô fechado pra balanço
ela: ah se feche para histórias apenas, balançar é bom ahahahaha

Depois dessa perfeita conclusão, conversa vai, conversa vem, começamos a falar de sexo e em como podem existir pessoas que ficam anos sem transar e outras que não fazem questão. Chegamos a mais conclusões interessantes:

eu: eu acho que alguns velhos que a gente vê na rua devem ter tipo uns 26, 27 anos, mas q não dão uma boa foda há uns 2 anos, aí murcham e viram maracujás ambulantes disfarçados de idoso.
ela: é meio bizarro. Mas acho que quem vive sem é porque nunca fez com qualidade. Daí acha que é uma merda e que nem é importante. E isso acontece demais com mulher, é o que sempre vejo.
eu: sério? Eu não tenho opinião sobre... acho que, tirando a minha mãe e minha avó Fergie [minha avó parece a Fergie galera], não conheço ninguém assim, declaradamente né?!
ela: É? Eu conheço.... Que diz que não liga pra sexo, que não faz questão, que não gosta... Que prefere carinho a sexo
eu: nossa! É um ser evoluído [ou involuído] de outro planeta!! Você conhece um Alien!
ela: conheço vários... Ah, é foda mesmo.
ela: Aliás, não é!


Conversa de agora a pouco com a Dama Vellocet