Eu fui um feto expulso morto do útero materno. Meu coração bate em mais uma forma de vingança por algo que ainda não sei por que pago. Divago amarelo pelos cinzas da cidade, inconfortável. Corro com a vida para ver se ela passa mais depressa, para ver se o dia acaba comigo e se, quando eu dormir, faz deste sono eterno.
Me tranco em pânico as chaves de cinco chagas, embaixo das cobertas, amedrontado. Que se passa nessa vida? O que é tudo isso?, e o ar que eu respiro, quem perde e ganha com isso? Às vezes eu choro sufocado sem respostas... Mas às vezes as perguntas são as que mais importam. Finjo me conformar.
Queria o câncer dessa dor embaixo do mamilo esquerdo. Queria o meu destino prometido há 21 anos atrás, quando tudo estava definido. Agora é só névoa e desilusão. Eu sempre fui um desajustado, mas a cada dia que passa, eu sinto que eu era menos do que agora. E me sinto menos agora. Um Natimorto.
O Natimorto tem sorte porque vive uma vida inteira intra-uterina. Sorte é pular a vida no mundo, essa fase estúpida. Tem gente que morre quando nasce, enquanto outras vivem até a velhice, mas já morreram.
“Podemos nós olhar a morte de frente; mas sabendo como alguns de nós o sabem hoje, o que é a vida humana, quem poderia sem estremecer olhar de frente a hora do seu nascimento?” – Thomas De Quincey
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