Sejam bem-vindos ao outro lado do espelho, onde tudo pode acontecer (e acontece).

Wonderlando é um blog sobre textos diversos, descobrimentos e crescimento. A filosofia gira em torno do acaso, misturando fantasia e realidade de dois amigos que se conheceram também por acaso, Alice - que tem um país só seu -, e Yuri - chapeleiro e maluco nas horas vagas.

Leia, comente e volte sempre... Ou faça como a gente e não saia nunca mais.

31 de agosto de 2007

Alice, tá na hora do seu amiguinho ir embora

parte III


Meu amigo imaginário. Pela falta de convivência, o Yuri sempre foi um amigo imaginário. Quando juntos, eu não era capaz de ser infeliz. Mas quando só, ele, meu amigo, sempre me deixava chorar em seus braços, ou dava-me a mão para atravessar a rua ou era meu ouvinte, quando eu estava secretamente feliz. Meus sorrisos eram todos dele.

O Yu era imperfeitamente ideal. Suas falhas não eram defeitos aos meus olhos, até hoje não sei bem porquê. Sinto não tê-lo visto como realmente era, talvez teríamos sido mais próximos, mais sinceros. Ou talvez eu o teria abandonado tempos atrás. Melhor assim, perfeitamente imperfeito pra mim. Meu amigo imaginário.

Acontecemos tão de repente. Um dia pisquei e ele sempre estava lá, em todos meus momentos. A ele escrevia meus pensamentos, segredos, desejos. E ele me ouvia, compreendia e aceitava. Eu estava acolhida.

Agora, minhas fantasias se perpetuarão. Não posso deixá-lo ir, você já faz parte de mim. Não sentirei mais o calor do seu abraço, mas ainda será meu confidente. Louca ou não, conversarei com você. Ainda tenho tanto a te dizer, tanto a te ouvir. Continuarei tentando te fazer feliz... meu amigo imaginário, meu querido, para sempre.

30 de agosto de 2007

All My Friends Are Dead - 7/8






Eu não achei que seria tão difícil falar sobre você. Esta é uma ocasião especial. Não a que gostaríamos que fosse, mas enfim, especial. Desculpem-me se parecer insensível ou algo do tipo, é que... É que não sou do tipo que fala.



A Alice sempre foi, ... A Alice, nos conhecemos por acaso. Estudamos um ano inteiro juntos e eu não sabia que ela existia e ela me odiava. E não vou mentir. Ela não era feliz. Ela não morreu satisfeita. Ela não morreu feliz. É uma pena dizer isso. Mas falhamos. Sinto que falhei como amigo, assim como falhei com meus outros amigos. Ela amava a família dela. Um amor que me causava inveja. E eu me sentia incrivelmente bem quando ela contava como as coisas aconteciam e davam certo, e como a família dela, vocês, souberam respeita-la e ama-la e estarem sempre presentes.



A Alice era uma pessoa incrível, excêntrica... tão inteligente que as vezes não conseguia acompanhar e falava "calma Lice, tô entendendo nada". Eu sinto tanta falta dela. E sei que não vou conseguir ser melhor porque ela não vai estar aqui comigo pra debater com minhas idéias. Com nossas idéias.



Ela, a Alice, ela... eu não a conhecia assim tão bem. Ela quase não se abria. Conversávamos sobre tudo, menos sobre nós mesmos. Que merda. QUE MERDA. Parecia que não precisava, que não importava porque ficávamos bem quando estávamos juntos. Criamos muito juntos. E eu não consegui ajuda-la em nada. Esse vazio... Esse vazio... eu sei que não vai passar porque, ela levou um pedaço meu. Um pedaço grande.



Tinha tanta coisa mais pra dizer, mas não vou mais. Me desculpem. Alice, me desculpe.

27 de agosto de 2007

Sussurro

parte II
Estava na hora de partir. Não era mais o momento de sorrir ou de conversar. Estar ao meu lado deixou de ser o suficiente. Isso, se algum dia foi. Você não me ouvia mais. Você não queria ser ouvido. Sentávamos em silêncio, nas raras vezes que nos víamos. Minha companhia não era desejada, a de ninguém era. Cada dia mais recluso, eu tentava contato. Depois de tanto tempo, meu coração partia por não escutar sua voz, seus pensamentos.

Mas sim, querido, eu entendo.


Meses passaram e nada de você. Se eu te ligava, você não me atendia. Seus pais estavam cansados de ouvir meus pedidos para falar com você. E nenhuma explicação. Eles sempre me diziam que você não estava bem, que não queria falar com ninguém. Decidi ir à sua casa. Implorei muito para poder entrar. As saudades falaram mais alto, mas não me prepararam para o que veria... nem acreditei. Você estava tão quieto, tão imóvel. Seus pais me contaram que estava cada dia mais silencioso e um dia você simplesmente se calou. Ficava horas sentado, olhando para o nada. Totalmente catatônico, alheio ao mundo e a todos. Alheio a mim. “Sem volta”, ouvi. Controlei meu choque e sentei com você por alguns minutos, mas fiquei com medo e fugi.

Dias passaram e eu entendi. Voltei à sua casa, agora armada com a chave que um dia você me deu, caso eu precisasse. E que hoje preciso tanto. Você estava em seu quarto, como sempre. Parado. Nem notou quando entrei... talvez nem mesmo tivesse me reconhecido. Depois de anos, seu silêncio e indiferença doíam.


Mas sim, querido, eu sei que não é sua culpa.

Seus pais não estavam. Mas mesmo se estivessem, não faria diferença. Você havia se tornado um fantasma para eles, uma sombra desapercebida, sendo que tudo o que você mais queria era atenção.

Mas, querido, pare de bobagens!
Claro que eu ainda me importo.
Você sempre teve meu mais sincero carinho.

Deitamos. O copo estava cheio, as cartelas lacradas.


Ficarei aqui até você adormecer, não estará sozinho.
O quê?
Sim, tudo está organizado, planejado.
Não se preocupe, eu pensei em tudo.
Você sabe que pensei, que é para seu bem.
Você mesmo me pediu, não se lembra?
Ah, você sempre foi muito esquecido.


Eu tinha me feito acreditar que queria minha ajuda. Sussurrando no meu ouvido, você me pediu, docemente.

Não, você está louco? Pare com isso, é sério.
Não!! Não vou ouvir suas tolices.
Não estou ouvindo, la la la la la la.
Mas querido, eu não posso. Não, nem por você.
Eu já disse, você sabe que não sou capaz.
Chantagem emocional não vale.
Mas é claro né... só quero seu bem.


Mas você não entendia nada. Não sabia o que aconteceria ou porquê. Como poderia entender! Estava mudo e indiferente e eu nunca saberei a razão.


Eu podia ter feito tanto por você.
Ter estado mais presente, ter sido mais empática.
Eu estive lá por você? Se não, agora estou.
Sempre foi difícil negar pedidos seus.
E dessa vez, não negarei.
Você está orgulhoso de mim?

Você não me respondia. Nem me olhava quando falava com você, quando encostava em você, quando gritava no seu ouvido... nem mesmo quando chorava nos seus braços. Eu não podia mais te ver assim.

Chorando fiz você tomar. Copo vazio, cartelas rompidas. Você dormiu no meu colo, como um dia sonhei, tão azul... tão azul...



[Foi o melhor. Eu repetia, foi o melhor. O melhor, sim, foi. Repetindo... foi o melhor.
Eu dizia de novo, o melhor. Foi o melhor. De novo. Melhor assim, repito.
Repito. Melhor. Assim foi, melhor. Foi...]

26 de agosto de 2007

Where Did You Sleep Last Night?

Era um dia como outro qualquer. Havíamos nos encontrado como de costume. "Nossa, como você está diferente. Nunca vi essas roupas, nem estes tênis". Estava muito calor, então fomos beber alguma coisa. "De calças Yu? Nesse calor? Você nunca usa calça". Eu já tinha tudo em mente, pobre Alice. Na primeira distração, algo se dissolvia e se misturava junto a seu suco.


"Está muito calor". É. "Acho que não estou me sentindo muito bem". E...? "Pára Yu, eu tô falando sér...". Pronto. Levo-a desmaiada para casa. As pessoas no ônibus olham estranho, "É o calor", um sorriso, e pronto. Chegamos finalmente em sua casa. Eu sei que não haveria ninguém por um booom tempo. As chaves Alice, vamos! Não me atrase. Ah é, você não pode. Deixa comigo. Entro resmungando que tenho que fazer tudo sozinho enquanto te solto no sofá. Ainda bem que você é leve.


Pego algo para beber, te carrego para o porão. Levo um aparelho de som e sua coleção do Nirvana. Ninguém vai gostar de ouvir nossa conversa. Cubro o chão com toalhas, tiro suas roupas e te amarro deixando teu corpo formar um X.
Era isso que tinha na minha mochila e disse que depois eu te mostrava. As luzes. Os interruptores se escondem de mim na sua casa, não é possível. Pronto, achei. Acendo um cigarro e espero você acordar. Estou tão nervoso.


Música. "I wish I was like you. Easily amused. Find my nest of salt. Everything is my fault. I'll take all the blame. Aqua seafoam shame. Sunburn with freezer. Burn. Choking on the ashes of her enemy". Bom-dia flor do dia. Não adianta tentar se soltar e muito menos chorar. E é, você está nua. Como se mulher ouvisse alguma coisa do que dizemos. Enquanto ela está em choque tentando se soltar e vermelha de tanto chorar, eu subo para comer alguma coisa.


Você deve ter muitas perguntas, minha amiga. Eu sei, e vou respondê-las conforme você responde as minhas. Temos muito o que conversar. Você deveria ter aproveitado mais seus dias. Deveria ter sugado mais as pessoas e se aproveitado mais das oportunidades. Você teve tantas. E quase não viveu nenhuma. Uma pena. Uma vida tão boa quanto a sua, numa pessoa tão competente como você, acabar assim? Ora Alice, pare de chorar. Controle-se. Você sempre foi tão controlada.


["I won't move away from here. You won't be afraid of fear. No thought was put into this. Always knew it would come to this. Things have never been so swell. I have never failed to fail. pain. You know you're right."]


Minha real intenção era a de criar um jigsaw e te dar a chance de sair viva disso. Mas não fui capaz de criar nada tão, tão... como se diz... engenhoso. Não era essa a palavra, mas não me lembro agora. Bom, foda-se. E você ainda tenta esconder sua vergonha. Isso é surreal, minha querida. Permita-se, deixe fluir. Sua inspiração e expiração são sempre as últimas agora.


Deito a seu lado enquanto a acalmo. Ela está bem melhor, já aceita melhor a situação. Passeio minhas mãos por seu corpo e ela consente comigo. Por medo, talvez. Por aceitar as coisas como são, não sei. Não sei. Não a conheci o suficiente para dizer o que se passa em sua cabeça numa hora dessas. Acho que nem ela sabia ou se conhecia o suficiente para saber sobre ela mesma. E como vamos saber? Não sei. Encosto em sua virginidade, ela se assusta. Calma, Lice. Não posso deixar você morrer sem conhecer a dádiva do sexo. "Hate me do it and do it again. Waste me, Rape me my friend. Im not the only one."


Está com fome? Não? Hm, não foi tão ruim assim, não é mesmo?! Tá, agora che"EU NÃO MEREÇO TUDO ISSO!". É verdade, minha amiga, você não merece mesmo. E antes de você me interromper, era exatamente o que eu ia dizer. Já chega. Quero suas últimas palavras. Cubro suas doces últimas palavras e cheiros com formol.


Desligo o rádio.


Choro. Choro porque te adoro. E não sei por quê comecei. Mas agora já não tem mais volta. Estou arrependido, e vou ficar sozinho. Mas não tem mais volta. E vou ficar sozinho. Minhas lágrimas são substituídas por sangue. O seu sangue. Abro seu busto na busca do seu coração. Ele não te pertence mais. Arranco seus membros um a um. Braços que se despedem, acenam. Pernas que chutam, joelhos que doem. E assim você morre. E assim você é livre.


Espero você secar, já que não sei costurar. Iria me adiantar muito. Embrulho seus membros em plástico bolha, jornal, toalha, o que tiver. Depois, saco plástico preto. Onde você guarda isso? Eu não trouxe, esqueci. Deveria ter te perguntado antes. Limpo o chão. Te dou um beijo e ali te deixo. Ali você jazida até te encontrarem. Minha amiga, minha doce Alice.


Me despeço cantarolando até a saída. "My girl, my girl, don't lie to me. Tell me where did you sleep last night. In the pines, in the pines. Where the sun don't ever shine. I would shiver the whole night through. My girl, my girl, where will you go..."

22 de agosto de 2007

Minha vida, para trás

sam brown "all we are is dust in the wind"



parte I
Primeiramente, desejo doar. Tudo, tudo o possível, tudo aproveitável. O resto, às cinzas. “It’s better to burn out than to fade away”. Quero ser jogada ao vento, aos patos, do alto do meu balanço. Mas se ainda não morri, se estou em aparelhos ou algo similar, família: faça o que quiser. Vocês me conhecem melhor que ninguém, saberão julgar quando a vez chegar.

Sobre meus pertences materiais, não tenho um inventário. Eram minhas coisas e seus valores muito provavelmente compreendidos apenas por mim. Por isso, deixo tudo para minha mãe, pai e irmão. Mas gostaria que meus queridos e queridas (ou quem se interessasse) pudessem conhecer minhas coisas e descobrir o que de mim deixei nelas. Levem o que quiser. O que não for essencial para minha família.

Apenas desejo que os presentes dados sejam devolvidos aos donos e que as cartas sejam retornadas aos remetentes. Afinal, são de vocês.

E a promessa: Yu, meus escritos, diários, lembranças, recortes, picotes, meu passado, meu presente. É tudo seu. Nunca é tarde demais para conhecer alguém. Queria te dar o melhor de mim, mas não sei se isso foi possível. Sei que tentei. E se não foi possível, agora me entrego por inteira.

Deixo e dedico:
Aos meus amigos de colégio (pessoal mais novo), um obrigado. Vocês me salvaram. Yuri, você mais que todos. Aos meus amigos de colégio (pessoal mais velho), meus companheiros. Fui verdadeira.
À Paty e Fernanda, meus amores. Deixo meu desejo de ser menina.
Nathi, a você dedico minhas safadezas e meu vudu.
À Mari, deixo minha confidência, que tanto te faltou.
À Belisa, meu desejo por amizade.
Ao Yu, meus sorrisos.
Ao pessoal do cursinho, minha maturidade.
À Tor, meu carinho.
À Renata, Isa, Duda, Natalie, Artur, deixo meus dias passados nas aulas, meu conhecimento, minha rebeldia. Minha vontade de estar lá e meu desejo de deixá-los e seguir meu caminho.
À Flávia, meu desejo de ser feliz.
À Tuti, minhas crenças.
Ao meu irmão, minha infância e nossas tantas fantasias. Fui realmente feliz ao seu lado.
Ao meu pai e à minha mãe: meu amor.
*
E a todos deixo meus ouvidos.

21 de agosto de 2007

Death to Birth




Essa idéia não sai de meus pensamentos. Essa idéia de escrever meu testamento. Deveria ser nossa primeira redação na escola. Deveria ser nossa primeira conversa. Nossa primeira cerveja e nosso primeiro beijo. A morte também tem seus desejos.
.
.
Deixo minhas músicas a quem quiser se abusar. Deixo que todos a escutem e que se aproveitem delas assim como eu o fiz. Assim como elas fizeram comigo. Meus livros, minha bíblia, espalharia entre amigos. Cada amigo teria o livro que menos parecesse com ele, e mais comigo. Para que tentasse me entender através daquilo. Para que fosse um pouco mais de mim na minha ausência.
.
.
À Alice Frank dedico meus poemas, minhas dores, meu peso. Triste fardo, minha amiga, eu sei. Mas você saberá como lidar com isso. Lutará para que eu esteja nas vitrines das livrarias megastore enquanto eu sempre me esforcei pra te fazer feliz. Dedico nossas diferenças e meus dados. Dedico a ti, o acaso.
À sua mãe, dedicaria meu kyle* de pelúcia, já que ela me conheceu com uma camiseta do South Park, e me presenteou com uma aranha roxa que tenho tanto carinho e que faz companhia ao Ganhoto, um gafanhoto que pula que ganhei da Sônia, mãe do Diego. Mulher que queria ter me aproximado mais, conversado mais, e que tenho um enorme carinho. Ela ficaria com minhas outras pelúcias. E eu ficaria enfeitando suas estantes. Seus instantes. Como outras mães que gostaria de ter feito o mesmo. Bel, mãe da Laíz. Deixo minha admiração, meu tesão, minha puberdade em suas mãos. Para a Laíz, devolveria todas as coisas dela que estão "emprestadas". Nunca as devolvi. Que bela oportunidade.
.
.
Cada parte de mim espalhada por aí. Cada segredo revelado, e tantos outros selando meu caixão. Minhas roupas eu quero que doem. Doem todas a quem tiver frio. A quem precisará mais do que eu precisei. Que elas tenham meu cheiro e que andem abraçadas a meu eu.
Meus órgãos que se aproveitem. Que vivam de mim. Não quero que sobre nada. Não fui mais que nada para sobrar. É só carne. É só comida. É só adubo. Mas meu coração não. Este amaldiçoado queimará comigo na fornalha. Quero ser cremado. E que minha cinzas sejam jogadas em São Paulo. Centro que guarda inspiração, avenida Paulista que me direciona, que me apaixona, Diadema e Saúde que tenho como berço, Santana dos meus amores...
Também tenho mais uma exigência. Quero um velório. E que seja de dois dias, no mínimo. Um dos meus medos é voltar à vida. Mas isso é segredo.
.
.
Minha caixa de lembranças, ahhh quantas boas lembranças... Quero que fique junto a meu corpo, para que leiam e se lambuzem com nossas bobagens. Todos estamos lá. Todos foram especiais de alguma forma. Deixo minhas piadas e nossas risadas para todos vocês, meus amigos, meus queridos.
.
.
À Nina e Vans deixo uma cerveja bem gelada e um maço de cigarros. A "cerveja encantada" que nunca bebemos. Pronto. Resolvido. Acho que vocês vão querer beber agora. Deixo também nossas conversas de madrugada, nossa diversão infantil. Nossa depressão.
.
.
Minha vó que fique com o pouco dinheiro que me resta no bolso; que fique com meus abraços mais sinceros e carinhosos; deixo a você, meu amor, meu crescimento. E para o Neel, nossa que difícil hein "linguiça"?! Deixo meus filmes?! Deixo meu agradecimento por seu meu irmão mais velho?! É, gostaria de deixar algo representativo. Já sei, deixo minha infância. Ela é sua, leva! Você foi muito importante pra mim, meu irmão.
À meu outro "tio-irmão" Sérgio, deixo minha confiança, por ele sempre ter confiado em mim e me passado isso de forma tão simples, tão automática. Deixo também pra você, meu amigo, meus carrinhos. 'Cê sabe... Carros!
.
.
Meus filmes que a _____ os tenha. Foi com ela que vivi as grandes cenas de amor, de suspense, de comédia, de drama. Um ótimo filme daria nossa história. E que final injusto e infeliz, como todo bom drama.
.
.
Adrian fica com minha paciência. Não, só isso não, muito pouca. Deixo a minha liberdade. Deixo meus perfumes para que possa dormir sempre comigo. Deixo meu carinho que afaga seu rosto. Limpa suas lágrimas. Deixo meu abraço e meu ouvido sempre que precisar.
.
.
Nax, ô Nax... Deixo meu tigrão, minha mochila e nossas boas lembranças dentro dela. Deixo a você meu carinho enorme e minha coleção do KoRn.
Fel, quero que fique com alguns livros e alguns cds a sua escolha. Acredito muito em você, seu muleque!
Micha, minha Twin. Deixo minha criatividade. Quem melhor pra deixar, né?! Deixo nossos passinhos de dança super-originais que causavam inveja. Ah, minha amiga, me faz tanta falta...
Gabriel, quero que fique com meu tênis e minhas bolas de basquete, com nossas idéias ridículas e nosso tempo perdido no ócio do vídeo-game; Cinthia, minha lapiseira favorita. Porque ela sempre me ouvia e gostava do que eu escrevia. Pris, tudo que tinha para te dar eu lhe dei em vida. Amor, compreensão, amizade, carinho, tempo, paciência, presentes... Acho que não foi o suficiente. Diego, fique com as caretas, as nossas mais ridículas. Kdinhu, deixo toda a maconha do mundo para fumar em minha homenagem. Seria legal por um pouco das minhas cinzas misturada num banza e fumar. Pensem nisso, eu gostaria.
.
.
Meus pais que fiquem com minhas fotos, minha vida. Meu velório. Que leiam meus diários e minhas poesias e meus textos. Que descubram que eu sempre fui sincero mas que eles não conseguiram conviver com isso. Não conseguiram acreditar [aceitar, seria melhor].
Não sei mais o que deixar. Nem sei se tenho mais para deixar. Deixo o ar. Deixo a vida para quem viver melhor. Deixo que minhas loucuras e meus desejos se espalhem a cada respirar. Deixo meu sangue para celar essa carta e por um ponto final a tudo.
.
.
"Às vezes eu penso que o mundo todinho foi feito de mim.
E que eu nunca vou morrer."
.
.
.
.
.
*personagem do South Park

15 de agosto de 2007


E foi mais ou menos assim que nos conhecemos... E assim somos.
.
.
.
FELIZ ANIVERSÁRIO
.
.
.
=)
15/08/07

PS:

"Apesar de vivermos em coletivo, somos indivíduos. Cada um representa uma configuração diferente. Não há peças iguais nesse quebra-cabeça. Impossível estabelecer um único padrão de vida para todos. Qualquer um que não seja nós mesmos, que diga o que precisamos, é suspeito. É desnecessário aceitar o que nos impõem. Mesmo que nos ofereçam de forma gentil e açucarada. É desnecessário limitar a nossa relação com o mundo à via de fora pra dentro, em sentido único. Preciso aprender a me ouvir pra te entender. Preciso aprender a sentir pra ser você. Inspiro o que te faz bem, expira o que me faz mal. A sua evolução é também a minha. E quando isso é compreendido a nossa evolução é inevitável. Afinal, apesar de vivermos como indivíduos, somos um coletivo. Eu confio em nós, tudo vai dar certo."
- A Filial -

13 de agosto de 2007

10 & 10

As Dores da Morte


Há tempos não chorava por você. Me senti culpado algumas vezes por isso. Ontem foi ruim. Dia dos Pais com reunião de família a gente é obrigado a ser feliz. Eu estava bem, até ouvir seu nome. Então corri para derreter no meu quarto. Sozinho. O suco de meu coração espremido escorria de meus olhos. Desejei estar no seu colo, nos seus braços, no seu cheiro, no seu calor. Mas estava sozinho.




12 de agosto, 1997. 10 anos atrás, tanta coisa mudou. E minha vida se divide aqui, bem neste ponto. 20 anos, 10 e 10. Ahh, minha mãe, tem sido tão difícil tomar banho sozinho, não ter ninguém para me olhar na rua ou avisar o carro, não restou paciência, tampouco Os Trapalhões na TV. Não há mais beijos nos machucados, ninguém para me acudir do tombo, nem colo nenhum para me mimar com canções de ninar. Seu cheiro foi substituído por poluição.




Eu não desejei ter esses pés grandes, esses calos, muito menos esses pêlos que me julgam um homem. Um homem que não cabe mais no seu colo. Ora, que besteira estou dizendo! Sei muito bem que caberia seus três filhos, minha irmã e eu no seu colo, porque ele é do tamanho do seu coração. E mesmo que fosse machucar, você não se importava, porque era pra gente.




Percebi, que mal a conhecia, mal sei da sua história ou das suas preferências. Não deu tempo. Dá um desconto, vai! Quando somos crianças não conhecemos o tempo. Nem a morte. Lembro quando a Pantera morreu. Vocês disseram que ela tinha ido para a oficina do meu avô. Por que levaram ela para a oficina se ela era minha companhia no quintal? Eu ia até lá e não a via para brincar comigo. E Você, também foi pra lá? Eu já era grande demais para acreditar na oficina.




Meu amor está soterrado com o que sobrou de você, com o que sobrou dele. E, na festa de ontem, fomos obrigados a sorrir, a nos divertir. Eu não consegui dizer nada a meu pai a nao ser um pedido de desculpas escrito num cartão. Ele também não me agradeceu os presentes. Todos nos olhávamos tentando disfarçar e fingir que você não morreu. Todos nós jogávamos um punhado de terra para tentar te esquecer. Mas ao mesmo tempo tirávamos dois, e cavávamos desesperadamente quando ninguém estava olhando.




Eu te Amo, Railda. E prometi dar seu nome ao meu primeiro carro. Acho que vai demorar um pouco. Talvez não dê tempo de ter um. Sei que você não se importa.

5 de agosto de 2007

Foi só [mais] um dia

Estou pensando no que tanto me fez chorar sexta. Sentada no ônibus, voltando daquelas pessoas que em nada combinam comigo, sozinha, eu chorei. Alguma triste frase sussurrada no meu ouvido por Elliott me fez questionar o que é que eu estava fazendo ali. E cada novo verso das músicas trazia aos meus olhos uma nova lágrima, mais salgada que a anterior, mais cheia de dor, percorrendo as imperfeições do meu rosto. Abaixei minha cabeça, limpei a lágrima e olhei ao redor. Várias pessoas de pé e cada uma estava presa dentro de seu próprio mundo. Pessoas feias, reclamando sobre qualquer coisa que as incomodasse no momento. Ninguém me viu chorar. Ninguém olhava para mim, ninguém notou. Ninguém se importou. Então por que impedir uma nova lágrima? Chorei mais e mais.

Pensava em todos os possíveis conflitos do mundo. Chorei por mim e por todos. Chorei por ser invisível. Chorei por ser visível, mas não como realmente sou. Chorei por não conseguir ficar feliz por ser visível; por que tudo tem que ser do jeito que eu quero? Chorei por ser incapaz.

Quando chegou o ponto da minha descida, desci e chorei, alto. Soluçava sem controle. Quando cruzava caminhos com estranhos, eles me olhavam, obrigando-me a ser feliz. Mas eu escorria minha tristeza pela minha face, pelo meu sorriso, e os estranhos desviaram os olhares. Menos um. Este insistiu em encarar os meus olhos molhados e, inconvenientemente, passar uma cantada. É tão difícil distinguir um sorriso de um choro?

E a experiência me diz que as coisas não teriam sido tão diferentes assim em outros ambientes. Mas não pode ser assim. As pessoas estão felizes, quando eu vou parar de chorar? Choro pela mesma coisa há anos: por estar só. É nisso que penso, sempre. E entristeço as pessoas por me achar sozinha, pois não faço juz a elas. Mas se tenho tantos queridos e queridas, por que ainda me sinto tão só?

Mas é tão mais complicado do que isso...

***

Mas isso foi só um dia. É injusto eu chorar quando estou feliz.
E no final das contas, acho que estou feliz, mesmo chorando.

3 de agosto de 2007

The Beautiful People



Queria um cérebro. E queria para dividi-lo com todos os que não tem. Teria que ser um GRANDE cérebro. As pessoas precisam ter razão*.



Precisamos pensar mais. Pensar. Pensar enlouquece, eu sempre pensei nisso. Mas louco é o que vive cego nessa vida achando que viveu bem. Vive bem aquele que ignora a matéria e o real. As pessoas criaram um bloqueio contra o pensamento. Fazer pensar ofende.



Perguntas que não querem dizer mais do que dúvidas, ofendem. Porque ninguém pára para analisar realmente a questão. Não há tempo, o emocional não permite. E o caos se faz entre os homens. A ignorância cria guerra entre os semelhantes.



Eu queria me lembrar mais e pensar mais nos meus atos. Mas não consigo. Vejo só o que me convém, e é horrível. Penso em tudo. Tento, pelo menos. E é horrível. Pensar é maldição. Pensar alimenta a depressão. E quem vai contradizer? Schopenhauer, Nietzsche, Virginia ou Clarisse? Pensar não enlouquece, de maneira alguma. Viver enlouquece. Pensar deprime.
Hoje em dia todo mundo já nasce morto!






Beth Gibbons era a trilha sonora. O ônibus quase lotado permitia que eu enxergasse a maioria dos rostos, e eles, a mim. Rostos tristes que me ignoravam.

Enquanto Beth se desmanchava em meus ouvidos, percebi a morbidez no semblante de uma garota. E como me senti a vontade olhando-a. Parecia tão verdadeira. Me encantava tanta melancolia e sinceridade. Então, me entreguei àquele olhar evasivo, até ela fazer do balançar do ônibus, seu berço. Suas pálpebras fizeram-se cortinas que entregaram a infelicidade para o sonhar. Me revoltava todos aqueles olhares de sonhos corrompidos. Eu sentia tudo aquilo e queria ir embora, queria gritar para todos pararem. Pararem de respirar. Eu vejo seus pensamentos através das janelas da alma. E endureço para me enturmar.
Zumbis. É o que somos. É o que sobrou para ser.


Soa como um velho pirata que desistiu e navega sem direção, só por navegar...










E você, tá pensando em quê?








■ substantivo feminino 1 faculdade de raciocinar, de apreender, de compreender, de ponderar, de julgar; a inteligência Ex.: o homem tem o uso da r. 2 raciocínio que conduz à indução ou dedução de algo Ex.: através da r., apreendemos certas relações obscuras 3 capacidade de avaliar com correção, com discernimento; bom senso, juízo

Mutilation is the Most Sincere Form of Flattery






Corre em minhas veias. Me faz vivo. Isso, essa...



Não importa se dói, desde que me faça vivo. Já nem dói mais. A última lembrança que quero ter é a de que fui[delete]


Luto comigo mesmo na certeza de que irei perder. Monto esse quebra-cabeça de peças infinitas que não consigo resolver. Me desfaço de minhas qualidades como se não as merecesse. A vida fez isso comigo. Eu me fiz isso comigo. E quem dirá o contrário?
Talvez a metade do outro lado do espelho de sangue. Poça formada de dores e raiva. Que bom tê-la de volta, a raiva. Me multiplica, a poça. "Me faz sentir vivo". A raiva.
Mas quem disse isso?




Tudo é névoa. Névoa são lembranças de 5 minutos atrás. De semanas, meses. Mas você se lembra, pois fui eu quem disse, não eu. Não eu. Ecoa crescente em mim o vão. Do abismo, faço meu perdão.