Sejam bem-vindos ao outro lado do espelho, onde tudo pode acontecer (e acontece).

Wonderlando é um blog sobre textos diversos, descobrimentos e crescimento. A filosofia gira em torno do acaso, misturando fantasia e realidade de dois amigos que se conheceram também por acaso, Alice - que tem um país só seu -, e Yuri - chapeleiro e maluco nas horas vagas.

Leia, comente e volte sempre... Ou faça como a gente e não saia nunca mais.

21 de agosto de 2007

Death to Birth




Essa idéia não sai de meus pensamentos. Essa idéia de escrever meu testamento. Deveria ser nossa primeira redação na escola. Deveria ser nossa primeira conversa. Nossa primeira cerveja e nosso primeiro beijo. A morte também tem seus desejos.
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Deixo minhas músicas a quem quiser se abusar. Deixo que todos a escutem e que se aproveitem delas assim como eu o fiz. Assim como elas fizeram comigo. Meus livros, minha bíblia, espalharia entre amigos. Cada amigo teria o livro que menos parecesse com ele, e mais comigo. Para que tentasse me entender através daquilo. Para que fosse um pouco mais de mim na minha ausência.
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À Alice Frank dedico meus poemas, minhas dores, meu peso. Triste fardo, minha amiga, eu sei. Mas você saberá como lidar com isso. Lutará para que eu esteja nas vitrines das livrarias megastore enquanto eu sempre me esforcei pra te fazer feliz. Dedico nossas diferenças e meus dados. Dedico a ti, o acaso.
À sua mãe, dedicaria meu kyle* de pelúcia, já que ela me conheceu com uma camiseta do South Park, e me presenteou com uma aranha roxa que tenho tanto carinho e que faz companhia ao Ganhoto, um gafanhoto que pula que ganhei da Sônia, mãe do Diego. Mulher que queria ter me aproximado mais, conversado mais, e que tenho um enorme carinho. Ela ficaria com minhas outras pelúcias. E eu ficaria enfeitando suas estantes. Seus instantes. Como outras mães que gostaria de ter feito o mesmo. Bel, mãe da Laíz. Deixo minha admiração, meu tesão, minha puberdade em suas mãos. Para a Laíz, devolveria todas as coisas dela que estão "emprestadas". Nunca as devolvi. Que bela oportunidade.
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Cada parte de mim espalhada por aí. Cada segredo revelado, e tantos outros selando meu caixão. Minhas roupas eu quero que doem. Doem todas a quem tiver frio. A quem precisará mais do que eu precisei. Que elas tenham meu cheiro e que andem abraçadas a meu eu.
Meus órgãos que se aproveitem. Que vivam de mim. Não quero que sobre nada. Não fui mais que nada para sobrar. É só carne. É só comida. É só adubo. Mas meu coração não. Este amaldiçoado queimará comigo na fornalha. Quero ser cremado. E que minha cinzas sejam jogadas em São Paulo. Centro que guarda inspiração, avenida Paulista que me direciona, que me apaixona, Diadema e Saúde que tenho como berço, Santana dos meus amores...
Também tenho mais uma exigência. Quero um velório. E que seja de dois dias, no mínimo. Um dos meus medos é voltar à vida. Mas isso é segredo.
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Minha caixa de lembranças, ahhh quantas boas lembranças... Quero que fique junto a meu corpo, para que leiam e se lambuzem com nossas bobagens. Todos estamos lá. Todos foram especiais de alguma forma. Deixo minhas piadas e nossas risadas para todos vocês, meus amigos, meus queridos.
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À Nina e Vans deixo uma cerveja bem gelada e um maço de cigarros. A "cerveja encantada" que nunca bebemos. Pronto. Resolvido. Acho que vocês vão querer beber agora. Deixo também nossas conversas de madrugada, nossa diversão infantil. Nossa depressão.
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Minha vó que fique com o pouco dinheiro que me resta no bolso; que fique com meus abraços mais sinceros e carinhosos; deixo a você, meu amor, meu crescimento. E para o Neel, nossa que difícil hein "linguiça"?! Deixo meus filmes?! Deixo meu agradecimento por seu meu irmão mais velho?! É, gostaria de deixar algo representativo. Já sei, deixo minha infância. Ela é sua, leva! Você foi muito importante pra mim, meu irmão.
À meu outro "tio-irmão" Sérgio, deixo minha confiança, por ele sempre ter confiado em mim e me passado isso de forma tão simples, tão automática. Deixo também pra você, meu amigo, meus carrinhos. 'Cê sabe... Carros!
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Meus filmes que a _____ os tenha. Foi com ela que vivi as grandes cenas de amor, de suspense, de comédia, de drama. Um ótimo filme daria nossa história. E que final injusto e infeliz, como todo bom drama.
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Adrian fica com minha paciência. Não, só isso não, muito pouca. Deixo a minha liberdade. Deixo meus perfumes para que possa dormir sempre comigo. Deixo meu carinho que afaga seu rosto. Limpa suas lágrimas. Deixo meu abraço e meu ouvido sempre que precisar.
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Nax, ô Nax... Deixo meu tigrão, minha mochila e nossas boas lembranças dentro dela. Deixo a você meu carinho enorme e minha coleção do KoRn.
Fel, quero que fique com alguns livros e alguns cds a sua escolha. Acredito muito em você, seu muleque!
Micha, minha Twin. Deixo minha criatividade. Quem melhor pra deixar, né?! Deixo nossos passinhos de dança super-originais que causavam inveja. Ah, minha amiga, me faz tanta falta...
Gabriel, quero que fique com meu tênis e minhas bolas de basquete, com nossas idéias ridículas e nosso tempo perdido no ócio do vídeo-game; Cinthia, minha lapiseira favorita. Porque ela sempre me ouvia e gostava do que eu escrevia. Pris, tudo que tinha para te dar eu lhe dei em vida. Amor, compreensão, amizade, carinho, tempo, paciência, presentes... Acho que não foi o suficiente. Diego, fique com as caretas, as nossas mais ridículas. Kdinhu, deixo toda a maconha do mundo para fumar em minha homenagem. Seria legal por um pouco das minhas cinzas misturada num banza e fumar. Pensem nisso, eu gostaria.
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Meus pais que fiquem com minhas fotos, minha vida. Meu velório. Que leiam meus diários e minhas poesias e meus textos. Que descubram que eu sempre fui sincero mas que eles não conseguiram conviver com isso. Não conseguiram acreditar [aceitar, seria melhor].
Não sei mais o que deixar. Nem sei se tenho mais para deixar. Deixo o ar. Deixo a vida para quem viver melhor. Deixo que minhas loucuras e meus desejos se espalhem a cada respirar. Deixo meu sangue para celar essa carta e por um ponto final a tudo.
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"Às vezes eu penso que o mundo todinho foi feito de mim.
E que eu nunca vou morrer."
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*personagem do South Park

3 comentários:

Yuri Kiddo disse...

quando comecei, temi não ter o que escrever.

Alice disse...

temo começar e não ter nada a deixar

Daiany Maia disse...

"E eu ficaria enfeitando suas estantes. Seus instantes."
Preciso dizer que isso é lindo?