Sejam bem-vindos ao outro lado do espelho, onde tudo pode acontecer (e acontece).

Wonderlando é um blog sobre textos diversos, descobrimentos e crescimento. A filosofia gira em torno do acaso, misturando fantasia e realidade de dois amigos que se conheceram também por acaso, Alice - que tem um país só seu -, e Yuri - chapeleiro e maluco nas horas vagas.

Leia, comente e volte sempre... Ou faça como a gente e não saia nunca mais.

30 de março de 2011

Zumbis do Espaço

Paramos a nave num campo abandonado, uma praça da noite. Lá costumava ser mal frequentado. A causa do medo da madrugada é o caminho das pedras, de homens zumbis. Mas estava deserta. Descemos para cumprir a missão. Chamamos atenção e estamos completamente vulneráveis, sem armas ou itens para escambo ou oferenda, a não ser nossas ferramentas para outros portais. Primeiro aparece um nativo, ergue a bandeira branca em sinal de paz. Troca meias palavras e vai embora.

Sentamos para explorar melhor as experiências sensoriais. Luzes vindas do céu iluminavam árvores distorcidas a nossa frente. Elas falavam entre si uma língua que não entendemos. Anotamos em nossos diários que a única coisa que cai para cima é o que nasce da terra. As luzes são outras naves espaciais que não pousam nunca, ficam camperando, vigiando, enquanto fazemos nosso serviço. Aposto que trabalham para o governo.

A escassez da vida é pertinente nesse campo. Até eles chegarem, os zumbis da pedra. Um se aproxima, cumprimenta, senta ao nosso lado. Outro senta um pouco mais atrás, nos emboscando. Não falam nada com nada, nós também não estamos tão bem. As árvores nos olham com pesar enquanto mais quatro sombras chegam cada vez mais perto. Nos entreolhamos e pensamos “fodeu grandão”. Eles se aproximam e ficam ao nosso lado, conversando, de bobeira, zumbis empedrados são assim.

Eles nos encaravam de igual para igual.
Igual para igual, semelhantes. Eu é quem nunca tinha percebido.




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sobre um caso verídico de uma experiência com usuários de crack em uma praça qualquer.

25 de março de 2011

Não me escreva

Oi Alice, tudo bem?

Eu estou te mandando esse email porque estou com um certo medo esses dias... de que você tome decisões, bem, não sei...

A questão é que, com poucas palavras, qualquer coisa pode acabar, desde brincadeiras até sonhos. Coisas que até um pequeno post it pode destruir assim, de repente, e tudo se foi.

Alice, saiba que eu te amo... eu sinto como se você sempre esquecesse isso e todo dia eu tenho que te lembrar, toda hora. Até parece que faz de propósito.

Por favor, Alice, eu te peço... você sabe que sempre tive medo das suas ideias. Você é capaz de muita coisa, e é sempre tão sincera que às vezes dói. Muitas vezes dói, na verdade.

Mas sabe... eu andei pensando e parei de deixar as coisas de lado. Comecei a pensar jeitos de te enfrentar, porque não é certo só você ter a razão porque eu não sei me explicar ou pensar rápido. Você acha mil defeitos em mim, mas eu posso te dar mil outros pra você me suportar.

Alice, por favor, me dê só mais uma semana... nesse tempo a gente descobre outro jeito. Só não me escreva aquele email, aquela carta ou aquele post it, tá? Porque eu não vou aguentar.

Te amo (todo dia e toda hora).

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Alice, não me escreva aquela carta de amor.

existência

Ops,









faltou um D
no título.










22 de março de 2011

SINos

ouço os sinos. sigo o som às cegas, sem saber. você. sombra que emite luz passa por mim, quero você. agora. não sei mais, foi-se sem dizer, fiquei sem saber. procuro, sigo o som, sigo o sim. onde posso ir, por quem tocam os sinos? minhas pernas correm sozinhas, comigo em cima. quero você. em cima de mim. surdo surdo surdo. grito sem ouvir. sinos sinos sinos. som de todos os lugares. tento acordar sem a certeza de que estou dormindo. domingo, é domingo, isso. por isso os sinos, dia de missa. não, não tão tarde. esse alarde é outra coisa. é gemido da madrugada, sinos que tocam. você é minha igreja, a ti sou devoto. te acho. sou a cruz. me ajoelho em teu sexo, beijo, te toco. o sino balanço, as vozes cantam. a ti sou devoto.


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escrito há exatos 18 meses. postando agora só pra manter essa linha sensual que as meninas gostam.

16 de março de 2011

Shelter

Eu encontrei conforto em seu túmulo. Não foi a primeira vez que me abandonou, então tudo bem, já acostumei. Não dói mais, estou anestesiada com suas idas e vindas, seus adeus sem despedida e de suas voltas agressivas.

Agora que se foi de verdade, posso respirar tranquila e te abraçar, dar o amor que você ignorou e tanto fugiu. Como é difícil amar poeta, que hora ama, hora odeia... Me usa só para escrever. Agora quem é herdeira da caneta sou eu.

Talvez eu tenha dito e feito coisas erradas para sua natureza. Conduzi como pude, com carinho de quem te quer, de quem acaba de ganhar algo que queria muito mas ainda não aprendeu a mexer. Não deu tempo.

Eu queria acender as luzes e te ver na minha frente, abrir os olhos na minha cama e te enxergar na horizontal. Mas o que mais sinto falta é do peso do abraço e da força que teu coração batia em mim. Sempre ajudando a doer um pouco menos, às vezes um pouco mais.

Ainda quero me afogar quando você se vai sem ter me ensinado como respirar com sua sensibilidade. Ainda me encaro em todas as imagens nos espelhos que te refletem, só assim você pode ver como eu me sinto também - pelo menos é o que eu acredito. Tente me enxergar através da distância, eu sei que nem todos são tão belos de perto, mas eu só... Nem sei, deixa pra lá.

... Não se pode ter tudo, pelo menos assim tenho você.

12 de março de 2011

Suspiro

Toque meu coração e me avise quando ele parar. Me dê um sinal quando eu tiver partido e minha sombra não tiver mais aparência. Pode ser que eu não perceba, pode ser que seja isso agora e eu não saiba.

Sopre em meus ouvidos o caminho, eu nunca soube decidir. Diga que vai ficar tudo bem, não é o que todos costumam dizer? Não sei sobre as roupas que sobram no armário, nem se os bilhetes que espalhei com meus últimos pensamentos ficarão pelo tempo. Quis um pedaço do que resta, porque ao que interessa é solução. Joguei fora as palavras e desejei nada. Todo sonho é ilusão.

Eu a vi tão perto, e agora está distante. Ela foi até o horizonte e eu nunca aprendi a nadar direito. Eu achei melhor ignorar e seguir adiante. Ela se tornou fumaça e ficou tão triste, tristinha... Enquanto eu suspirava minhas palavras, meu testamento.

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.janeiro de 2009.

8 de março de 2011

Carnaval [ou Prelúdio para dias cinzentos]

Começo a cair lentamente em direção ao asfalto pensando "merda, de novo?!". A rua estava vazia, parece que as pessoas não tem aonde ir. Está sempre vazia quando as lojas estão fechadas.

O espelho girava no ar me mostrando o passado e o presente. Confetes e serpentinas choviam de dentro da minha roupa fazendo uma tempestade psicodélica. Era sangue, mais sangue que vazava. Quando minha cabeça bateu no asfalto eu só pensava no que poderia ser real. Não tinha ninguém comigo, isso era real. Mas e a música e aquela zona alegórica toda?

De tanto pensar, pensei que não estivesse ali. Eu imaginava muito menos. Nem tanto, nem tudo. Folias, drogas, sexo. Tudo por baixo de fantasias, ilusões de felicidade. Eu não tive nada além de brigas, bebidas, visitas a outros lugares da minha mente, distância e solidão.

O espelho girou no ar até cair e se partir inteiro. Logo os restos foram recolhidos e o feriado acabou, anunciando não só um dia de cinzas.

5 de março de 2011

Espectadora de mim - Segundo Ato

(Qualquer lugar)

Tâmara

Estou com algum cheiro particular hoje, para esta inspiração tão profunda?

Homem

Não... na verdade, você está cheirando como sempre.

Tâmara

Eu tenho cheiro de quê??

Homem

Nada, cheiro de nada.

Tâmara

Nossa, tão incomparável assim?

Homem

É estranho, mas você não tem cheiro de nada. Sempre te cheiro procurando um cheiro de alguma coisa, mas nunca encontro nada. Nada nos cabelos, nos abraços, nem nas minhas roupas depois de uns amassos nervosos. Nem nas toalhas que te empresto, nem na minha camiseta que você usa pra dormir. Nem no travesseiro.

Tâmara

(Nervosa) Quer dizer que quando diz que estou cheirosa, é apenas o Dove, o Elsève ou o Armani?

Homem

Agora você está exagerando.

Tâmara

(Mais nervosa) Então eu tenho cheiro de água. De nada, água. Nem de terra molhada. Nem de chuva. Não é aquela brisa antes da tempestade. Mas só água. É isso? E eu tenho gosto de água também, sem gosto?

Homem

Você mata minha sede. Um oásis na areia.

Tâmara

Nhóóóóó.

(Foco na frente, entra A)

A

Mulher é isso. Idiota. Acredita em qualquer merda. Ainda mais quando na fase Tâmara de ser. Tâmara é domada facilmente com elogios piegas no início de todas as relações. Um domador experiente sabe lidar muito bem com este animal selvagem. Mas um homem de pouco tato...


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Na onda dos cheiros.