as luzes me abraçam a minha volta
as ruas foram tomadas por revolta
e o amor abafado
e o amor jogado
a sombra no fundo do armário
a sombra embaixo da cama
o medo crescendo guardado
dizendo que me ama
(Yuri - 17.01.008)
***
Fui iluminado pelas luzes que me abraçam. A revolta nas ruas é uma endemia na ponta dos pés. Sorrateira, silenciosa, assola as vias públicas. Os amores são abafados e jogados, mal-tratados, sufocados. E ninguém percebe que este é o terreno no qual pisam, que esta é a eterna repetição da vida.
Somente sentem. Sentem medo e o guardam no fundo do armário ou embaixo da cama. Ele é aquela sombra do que um dia se quis, se almejou, se sonhou. Sombra do que se espera, mas apenas sombra. O tal amor mal-cuidado, asfixiado é este medo, este meu medo que também guardo, aqui dentro. Medo que sussurra atormenta resmunga e lamenta que me ama.
Todos amam errado porque têm medo de amar certo. Então amam guardado. Mas, vejam só que sarcástica essa vida: até esse medo ama. E, seguindo toda a sina, clama, mas não é correspondido. Fica, então, escondido.
***
Ele. Eu. Três anos.
2 comentários:
Adoro seus poemas curtos, que dizem muito, que surpreendem, que fogem um pouco das suas temáticas mais recorrentes.
Eu adoro esse blog, mas ele parece ser uma coisa tão particular e sagrada que muitas vezes leio, penso em comentar e desisto. Esse texo - e a "versão 2" dele, provavelmente é o meu post favorito. O último parágrafo da "versão" me faz pensar porque a vida crua que a gente vê quando sai de casa e vive não tem o apelo emocional da ficção. Auto preservação demais, para acontecer alguma coisa mais mágica. Me sinto menos só quando leio esse blog. Amo estes textos, mesmo que eles me dêem medo de lembrar demais.
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