Quando passaram a mão em meus cabelos, me perguntaram se você dedicava horas a afagá-los. Parei por segundos e viajei a uma cena, não aquela em que você me incentivava a cortar meu cabelo curto, cheio de personalidade, mas a outra cena. De tão infeliz que foi e de tão envergonhada que me sinto por isso ter acontecido, não vou dizer mais nada. Só que, quando essa digressão terminou, virei para os que me perguntaram com olhos chorosos e disse “não”.
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Então, chega a meu conhecimento um tal devaneio. Não sonho, mas aquelas experiências sensoriais semioníricas. Seguem segundos de apreensão sobre o conteúdo. Será que quero saber, será que consigo aguentar, o que será? Como uma eterna curiosa, nunca direi não. Então, peço que me conte. E descubro que a dúvida paira dos dois lados: não sabe se eu devo saber também. Mas me conta e me alegra. Digo novamente sobre a timidez que tenho nestes contextos, algo que você ainda não vê. Dirá que não se importa, verá minha vulnerabilidade inicial.
Pensou que passava a mão no meu cabelo.
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No banho, pedi que lavasse meu cabelo, só por preguiça e porque você é mais alto. Fechei meus olhos para que não me cegasse com a espuma. Embaixo do chuveiro, senti a água escorrendo e tapando meus ouvidos. Então me lembrei da minha mãe lavando meus cabelos quando eu era pequena e senti seus toques suaves, retirando o shampoo de todos os fios, até dos mais escondidos. Quando terminou e quis ser adulto, pedi um segundo para aproveitar minha infância, nunca havia me recordado disso.
E foi neste dia que cantei “All I Want” de Joni Mitchell e disse como ela falava sobre mim. Você significou uma parte da música que ainda não fazia sentido... agora só falta eu aprender a tricotar um sweater.
3 comentários:
você é tocável.
você devia escrever um livro , sério.
"Quando terminou e quis ser adulto, pedi um segundo para aproveitar minha infância, nunca havia me recordado disso."
Demais, sem mais. haha
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