“É com cê agá”, beleza, pode deixar. Anotei
seu nome e parece que foi logo depois disso que tudo começou a acontecer. Cheguei
em casa com um nome borrado no punho e uma jura de morte. Ainda não dormi. A
cabeça está a milhão por não ter entendido ao certo o que rolou, eu estava tão
chapado que nem senti todo aquele sangue grudado escorrido na minha cara, foi
só quando olhei no espelho que.
Minha mina fingiu que não me
viu e o beijou. O cara que estava de mãos dadas com ela fez questão. Chegou todo
Colgate, cumprimentou a roda, me abraçou, atuou carinho de quem eu tenho com
íntimos. Palavrões, empurrões e gritaria vieram logo em seguida da minha parte.
Eu não estava na minha quebrada, no meu rolê ou com meus camaradas; e ele só
estava com a (minha) mina que, apática, fingiu quem nem aí. Eu não existi. Então foda-se!
Era uma reunião de negócios para
definir os próximos passos. Balada dos cães no centro de São Paulo, nem sei que
horas eram no relógio da igreja que me avisava que já era tarde demais. Me despedi
da rapeize sabendo que a partir daquele momento eu estava vulnerável e passível.
Chamei a branquinha Cêagá para sairmos dali, ela era oquei, então demos uns
tiros, ela puxou outra amiga e foi nessa hora.
Lá no bar eu ainda estava
tentando me acalmar da fuga. Aquela treta nos cães foi merecida, mas eu nunca
consigo me controlar, eu não sei parar. A gritaria, choro e desespero começaram
quando o cara caiu no chão com o pescoço mole parecendo galinha esperando o
corte final para deixar o sangue escorrer e depois virar uma bela refeição para
os carnívoros. A misericórdia da situação foi uma garota anunciando “ele está
morto” enquanto todos olhavam pra mim e eu já havia começado a correr quando.
Aquela cerveja nem cabia mais
naquela mesa, nem as risadas, nem os telefonemas com as cobranças dos
compromissos da madrugada. Um mendigo louco pedia dinheiro e ninguém tinha. Eu tinha,
Ceagá tinha e amiga tinha, mas ninguém tinha. Com algo pontiagudo que deve ter
sido faca quando D. Pedro II fodia as nativas e escravas nessa terra tupi, ele
tentou.
As garotas foram companhia e
me passaram um pano na expectativa de aumentar meu tempo útil de vida, mesmo
não me conhecendo. Ao mesmo tempo, as salvei de alguma forma. A troca uniu a
noite e fez sentido ali. Mas ali. Seu nome estava marcado em mim e isso significava absolutamente.
Fiz sozinho o caminho de volta
pra casa, um passo atrás do outro. Ecos de passos atrás de outros passos atrás
dos meus passos num tempo cada vez mais sincronizado e próximo. Aquele cara
galinha não estava tão sozinho assim, afinal.
2 comentários:
gostei das interrupções, fiquei esperando mais, fiquei triste que tinham poucas
gostei do ter sem ter, nunca ninguém tem sempre tendo mesmo assim
tem um outro texto que tem bastante interrupções.
não temos nada nem ninguém - nem controle ou amor algum.
gostei que comentou, fazia tempo que não opinava.
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