Sejam bem-vindos ao outro lado do espelho, onde tudo pode acontecer (e acontece).

Wonderlando é um blog sobre textos diversos, descobrimentos e crescimento. A filosofia gira em torno do acaso, misturando fantasia e realidade de dois amigos que se conheceram também por acaso, Alice - que tem um país só seu -, e Yuri - chapeleiro e maluco nas horas vagas.

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10 de setembro de 2011

Eu me perdi na madrugada




“É com cê agá”, beleza, pode deixar. Anotei seu nome e parece que foi logo depois disso que tudo começou a acontecer. Cheguei em casa com um nome borrado no punho e uma jura de morte. Ainda não dormi. A cabeça está a milhão por não ter entendido ao certo o que rolou, eu estava tão chapado que nem senti todo aquele sangue grudado escorrido na minha cara, foi só quando olhei no espelho que.

Minha mina fingiu que não me viu e o beijou. O cara que estava de mãos dadas com ela fez questão. Chegou todo Colgate, cumprimentou a roda, me abraçou, atuou carinho de quem eu tenho com íntimos. Palavrões, empurrões e gritaria vieram logo em seguida da minha parte. Eu não estava na minha quebrada, no meu rolê ou com meus camaradas; e ele só estava com a (minha) mina que, apática, fingiu quem nem aí.  Eu não existi. Então foda-se!

Era uma reunião de negócios para definir os próximos passos. Balada dos cães no centro de São Paulo, nem sei que horas eram no relógio da igreja que me avisava que já era tarde demais. Me despedi da rapeize sabendo que a partir daquele momento eu estava vulnerável e passível. Chamei a branquinha Cêagá para sairmos dali, ela era oquei, então demos uns tiros, ela puxou outra amiga e foi nessa hora.

Lá no bar eu ainda estava tentando me acalmar da fuga. Aquela treta nos cães foi merecida, mas eu nunca consigo me controlar, eu não sei parar. A gritaria, choro e desespero começaram quando o cara caiu no chão com o pescoço mole parecendo galinha esperando o corte final para deixar o sangue escorrer e depois virar uma bela refeição para os carnívoros. A misericórdia da situação foi uma garota anunciando “ele está morto” enquanto todos olhavam pra mim e eu já havia começado a correr quando.

Aquela cerveja nem cabia mais naquela mesa, nem as risadas, nem os telefonemas com as cobranças dos compromissos da madrugada. Um mendigo louco pedia dinheiro e ninguém tinha. Eu tinha, Ceagá tinha e amiga tinha, mas ninguém tinha. Com algo pontiagudo que deve ter sido faca quando D. Pedro II fodia as nativas e escravas nessa terra tupi, ele tentou.

As garotas foram companhia e me passaram um pano na expectativa de aumentar meu tempo útil de vida, mesmo não me conhecendo. Ao mesmo tempo, as salvei de alguma forma. A troca uniu a noite e fez sentido ali. Mas ali. Seu nome estava marcado em mim e isso significava absolutamente.

Fiz sozinho o caminho de volta pra casa, um passo atrás do outro. Ecos de passos atrás de outros passos atrás dos meus passos num tempo cada vez mais sincronizado e próximo. Aquele cara galinha não estava tão sozinho assim, afinal. 

2 comentários:

Alice disse...

gostei das interrupções, fiquei esperando mais, fiquei triste que tinham poucas

gostei do ter sem ter, nunca ninguém tem sempre tendo mesmo assim

Yuri Kiddo disse...

tem um outro texto que tem bastante interrupções.

não temos nada nem ninguém - nem controle ou amor algum.

gostei que comentou, fazia tempo que não opinava.