- o que é isso que não para de doer?
Depois que eu aprendi a sumir, meu mundo passou a crescer mais depressa, tapando o sol feito eclipse. Meus prazeres são dores, desde sempre, mas nem sempre as minhas dores são prazeres. Foi quando descobri que não dá pra carregar a infância por muito tempo, porque quem não consegue não deixa... E esse “quem” é plural demais.
- o quê?
- isso – encheu os pulmões de ar.
Quantos anos já se passaram, mesmo, até o fim? Ali em seu
mundo as alegrias e tristezas não se diferem, e vê crescer cada vez mais o
próprio planeta. Enfim, tudo é mórfico, não? Até o fim!
Depois que eu aprendi a sumir, meu mundo passou a crescer mais depressa, tapando o sol feito eclipse. Meus prazeres são dores, desde sempre, mas nem sempre as minhas dores são prazeres. Foi quando descobri que não dá pra carregar a infância por muito tempo, porque quem não consegue não deixa... E esse “quem” é plural demais.
Aí me “descobri” homem.
Sou um homem doente, descrente, incoerente... E só não se
sentiu assim quem ainda não se descobriu. Porém não me trato, não quero saber
de aparências, crenças ou curas, apesar de respeitá-las devidamente. Não me
trato e esse é meu único trato, não quero saber, enfrento, encaro e assumo,
porque aprendi a desaparecer feito espírito que você acha que viu. No meio da
pista me dissipo no som e viro fumaça, sem saber ao certo pra onde ir, só não
ali. Tem quem queira tentar prender, mas nem aqui eu estou. Nem aqui eu estou
faz tempo.
Depois que destruíram boa parte do sóbrio, tive que mudar daí,
vim pra cá. Cá não há ar que resista àquilo que chamam de Paraíso aí. Quando
tudo parece firme, quando o sorriso libera paixão e as vozes se calam, quando
as estruturas se rompem devolvendo a vida. Mas não, aqui não. Aqui meu
desespero é vão e percebido no momento em que a agulha pula a canção e risca a
história toda. e risca a história toda e risca a história toda pula a canção e
risca a história toda ausência.
Aquela que mais cresce em mim é a que me destroi na forma mais
sincera. Meu planeta é maior que eu, maior que o nosso todo junto. Nada pelo
sentido, tudo sem direção. Pelo instante da raiva que eu tenho de toda minha
dor que segue com a razão. Às vezes eu queria sentir de menos, porque o sinto
muito é mais que eu. A colisão é inevitável.
Me chamem de louco ou de verme – não importam as
classificações e conotações, só me deixem terminar esse texto antes de
começarem –, eu sei que minha única fé é crer que nenhuma verdade é verdadeira
e que o nascimento da tragédia é derradeiro.
Eu não me trato puramente porque tenho raiva. Eu tenho raiva
da minha dor. E se me dói, que me doa ainda mais!
2 comentários:
"Não me trato e esse é meu único trato, não quero saber, enfrento, encaro e assumo"
porque há que se ter carinho pelos próprios defeitos, nem tudo se trata, mesmo que destrata.
nem tudo é defeito. mas se é, tem uns que não tem jeito.
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